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OS CAMINHOS DA ANÁLISE: A CONSTRUÇÃO DOS NÚCLEOS DE

No documento patriciamariareiscestaro (páginas 109-112)

3 A CONSTITUIÇÃO DE UM CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO

3.3 OS CAMINHOS DA ANÁLISE: A CONSTRUÇÃO DOS NÚCLEOS DE

Para descortinar os dados produzidos do grupo focal, optei por utilizar como procedimento de organização, análise e interpretação, a construção dos núcleos de significação (AGUIAR, W. M. J., 2006; AGUIAR, W. M. J.; OZELLA, 2013; AGUIAR, W. M. J.; SOARES; MACHADO, 2015).

Essa proposta metodológica, baseada na perspectiva histórico-cultural, foi elaborada de forma a instrumentalizar o pesquisador para o processo de apreensão das significações21 constituídas pelos sujeitos diante da realidade com a qual se relacionam (AGUIAR, W. M. J.; SOARES; MACHADO, 2015).

A perspectiva histórico-dialética nos ensina que as palavras ditas são construídas historicamente e fazem parte de um determinado contexto. Segundo Santos (2012), é necessário saber do contexto da enunciação para compreender o que foi dito. É ainda fundamental a apropriação do aspecto interno da linguagem, ou seja, do movimento do pensamento no qual a fala se constitui e ao mesmo tempo é dele constituinte. Nesse caminho, é possível entender que somente a fala, em seu aspecto interno da linguagem, não é capaz de “revelar os sentidos constituídos pelo sujeito na sua relação afetivo-cognitiva com a realidade” (SANTOS, 2012, p. 119). Importante retomar, nesse momento, Vigotski (2008), quando revela que o significado é externo e interno concomitantemente, constituindo uma unidade histórico-dialética do pensamento e da linguagem.

Como síntese do pensamento e da fala, surge a palavra, constituída por um sistema complexo de funções semânticas e psicológicas. Para compreendê-la, é preciso dela se apropriar, considerando as suas condições materiais – objetivas e subjetivas em que ela é produzida (AGUIAR, W. M. J.; SOARES; MACHADO, 2015).

21 Aguiar, Soares e Machado (2015) destacam que a ideia de significação remete à dialética que traduz a relação entre sentidos e significados constituídos pelo sujeito diante da sua realidade.

Sobre a dimensão histórico-dialética dos núcleos de significação, os autores destacam:

Embora a sistematização dos núcleos de significação seja realizada por etapas (levantamento de pré-indicadores, sistematização de indicadores e sistematização propriamente dita dos núcleos de significação), esse processo não deve ser entendido como uma sequência linear. Trata-se de um processo dialético em que o pesquisador não pode deixar de lado alguns princípios, como a totalidade dos elementos objetivos e subjetivos que constituem as significações produzidas pelo sujeito, as contradições que engendram a relação entre as partes e o todo, bem como deve considerar que as significações constituídas pelo sujeito não são produções estáticas, mas que elas se

transformam na atividade da qual o sujeito participa. (AGUIAR, W. M. J.; SOARES;

MACHADO, 2015, p. 63).

Diante desse contexto, pode-se considerar que os núcleos de significação se configuram como um procedimento teórico-metodológico que possibilita a apropriação e compreensão de sentidos e significados construídos pelos participantes mediante a realidade vivida e pesquisada.

As etapas do processo são:

(a) Leitura flutuante e levantamento dos pré-indicadores

(b) Construção dos indicadores/conteúdos temáticos a partir dos pré-indicadores (c) Produção dos núcleos de significação a partir dos indicadores

A partir das leituras e releituras da transcrição do encontro do grupo focal, no caso particular desta pesquisa, fez-se o levantamento dos pré-indicadores. Nesse momento, considerado empírico da pesquisa, destaca-se, como unidade de análise, a palavra com significado. Importante deixar claro que não se trata de qualquer palavra ou de palavras soltas, descontextualizadas e sim a trechos compostos por palavras articuladas que revelam a materialidade histórica do sujeito, constituída por aspectos afetivos e cognitivos da realidade da qual é participante (AGUIAR, W. M. J.; SOARES; MACHADO, 2015).

Geralmente, conforme alertam W. M. J. Aguiar (2006) e W. M. J. Aguiar e Ozella (2013), como os pré-indicadores aparecem em grande número, uma forma de filtrá-los é considerar a relevância e a coerência com o objetivo da pesquisa.

Dando continuidade ao processo de análise, a segunda etapa, identificada acima, se dá pela aglutinação dos pré-indicadores (Apêndice D), partindo dos princípios da similaridade, complementaridade e/ou contraposição. Nesse movimento, há uma redução dos temas principais, buscando a composição dos indicadores e já sinalizando os possíveis núcleos de significação.

A terceira etapa resulta do processo de articulação dos indicadores que originará a organização dos núcleos de significação mediante a sua nomeação, conforme pode ser vista no Apêndice E. Para W. M. J. Aguiar (2006),

os indicadores são fundamentais para que identifiquemos os conteúdos e sua mútua articulação de modo a revelarem e objetivarem a essência dos conteúdos expressos pelo sujeito. Nesse processo de organização dos núcleos de significação – que tem como critério a articulação de conteúdos semelhantes, complementares ou contraditórios –, é possível verificar as transformações e contradições que ocorrem no processo de construção dos sentidos e dos significados, o que possibilitará uma análise mais consistente que nos permita ir além do aparente e considerar tanto as condições subjetivas quanto as contextuais e históricas. (AGUIAR, W. M. J., 2006, p. 230-231).

É esperado, nessa fase, um número reduzido de núcleos, de maneira que não ocorra uma diluição e um retorno aos indicadores. O processo de análise propriamente dito se faz nesse momento, quando há um avanço do aspecto empírico para o interpretativo, apesar de reconhecer que todo o procedimento se consolida num processo construtivo/interpretativo. “Os núcleos resultantes devem expressar os pontos centrais e fundamentais que trazem implicações para o sujeito, que o envolvam emocionalmente, que revelem as suas determinações constitutivas” (AGUIAR, W. M. J., 2006, p. 230-31). Assim, por meio da articulação das etapas e o diálogo com a teoria, o movimento dos núcleos caminha em direção ao concreto pensado, às zonas de sentido.

A partir dos dados produzidos do grupo focal, da leitura flutuante, elaboração de pré-indicadores e indicadores, foi possível construir três núcleos de significação:

(a) Eu nunca ouvi falar de creche no meu curso de graduação, eu nunca ouvi falar de bebê - Formação da professora da creche no curso de Pedagogia;

(b) Quando eu entrei na creche todo mundo me falava assim: ah, você vai trabalhar na creche pra trocar fralda, né? Porque tem muita gente com essa fala. E aí você descobre que não é isso - Saberes e fazeres da professora no cotidiano da creche;

(c) Mas eu sou uma profissional, eu sou uma professora, eu sou uma pedagoga, eu fiz faculdade, eu tô aqui porque eu sei o que eu faço – Condições identitárias e materiais da docência na/da creche.

Este caminho proposto pela construção dos núcleos de significação será delineado no capítulo cinco desta tese ao evidenciar as falas das estudantes-egressas dos cursos de Pedagogia das IES pesquisadas que atuam/atuavam como professoras no contexto da creche.

4 O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS CURRICULARES DAS INSTITUIÇÕES

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