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REFLEXÕES A PARTIR DO LEVANTAMENTO DOS TRABALHOS

No documento patriciamariareiscestaro (páginas 69-73)

1 A FORMAÇÃO DAS PROFESSORAS DA CRECHE: APONTAMENTOS A

1.5 REFLEXÕES A PARTIR DO LEVANTAMENTO DOS TRABALHOS

A educação de bebês e crianças de 0 a 5 anos vem sendo enfatizada em diversas esferas da sociedade, ganhando visibilidade no contexto das políticas públicas e nas produções acadêmicas. No entanto, este ainda é um processo lento, com pouca visibilidade e reconhecimento de sua importância na esfera da produção de conhecimento e na consolidação e garantia das políticas públicas voltadas para essa faixa etária.

Em que pese o fato de haver muitas pesquisas que discutem a formação docente, são poucos os trabalhos que direcionam o seu olhar para a formação de professoras da Educação Infantil. Isso fica evidenciado quando foram analisados, por exemplo, os trabalhos produzidos no GT 8 da Anped, os quais tratam especificamente da formação de professores.

Em se tratando de creche, a situação é ainda mais preocupante. Silva e Pantoni (2009) afirmam a carência de estudos nessa área, apontando que,

[...] apesar da existência de alguns centros nacionais de pesquisa que vêm acumulando conhecimento na área, ainda são poucos os estudos que tratam principalmente das práticas e propostas pedagógicas para essa faixa etária. Essa carência de estudos, por um lado, revela o quanto a educação vem demorando para incorporar a creche como objeto de investigação e, por outro, atesta a necessidade de que o campo evidencie seus saberes construídos a partir da experiência. Ademais, a carência de estudos nos fala também do status que atribuímos às crianças de 0 a 3 anos de idade no país. Essa ausência indica o não reconhecimento dessas crianças como sujeitos de direitos e como atores sociais. (SILVA; PANTONI 2009, p. 8).

Pode-se evidenciar a fragilidade dessas discussões a partir do próprio levantamento das produções aqui abordadas. Em um universo de 48 trabalhos encontrados, apenas 16 são direcionados às especificidades do trabalho no contexto da creche, ou seja, 33,33% do total. E, desses 16, apenas cinco analisam a estrutura curricular dos cursos de Pedagogia,

especificamente no tocante à formação da professora de creche, ou seja, 10,41% do total dos trabalhos se aproximam do meu objeto de investigação, concentrando-se na região sudeste do Brasil. Vejamos no Quadro 9, a seguir, essas informações:

Quadro 9 – Identificação e localização dos trabalhos que focam a análise da estrutura curricular dos cursos de Pedagogia considerando a creche

Base Trabalho Autoras Instituição Ano

Grupeci Formação inicial de professores (as) de Educação Infantil: 0 a 3 anos em debate

Macário et al., UFJF 2016

Capes Uma interpretação à luz da ideologia de discursos sobre o bebê e a creche captados em cursos de Pedagogia da cidade de São Paulo

Secanechia PUC/SP 2011

Capes Necessidades formativas de professores de crianças de zero a três anos de idade

Cordão PUC/Campinas 2013 Capes Aguçando o olhar para compreender a

criança na creche: contribuições à formação de estudantes de Pedagogia,

Vitória UFP 2013

Capes Cursos de Pedagogia e a formação do Professor de creche

Lizardo Universidade Presbiteriana Mackenzie

2017

Fonte: Elaborado pela autora

Da mesma forma que a discussão da temática desta pesquisa está encontrando um espaço maior na região sudeste, encontrou-se, a partir do levantamento bibliográfico acerca da formação docente da Educação Infantil, uma concentração de trabalhos nessa região, com um total de 19 trabalhos (39,60%), seguida da região sul, com a produção de 14 (29,16%); nordeste, com 7 (14,58%); centro-oeste, com o total de 7 também (14,58%) e norte, com 1 (2,08%).

O que posso refletir a partir da leitura das produções acadêmicas encontradas é que, de modo geral, aquelas que discutem a estrutura curricular dos cursos de Pedagogia evidenciam que há um movimento na direção do reconhecimento da especificidade da educação de crianças pequenas, principalmente após o estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (BRASIL, 2006b). Considerando que boa parte das professoras (15,3%) que atuam na Educação Infantil ainda não têm a formação em nível magistério e superior (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2014), pode-se considerar um avanço a responsabilidade atribuída aos cursos de Pedagogia, pelas DCNCP (BRASIL, 2006b), no que diz respeito à obrigatoriedade dessa formação para a primeira etapa da Educação Básica. Todavia, são enfatizadas muitas

insuficiências, lacunas e precariedade nessa proposta de formação inicial, geradas, possivelmente, pelas muitas atribuições a(ao) pedagoga(o), o que impede de a matriz curricular contemplar todas as áreas e suas necessidades em pouco tempo de formação.

Apesar da inclusão de algumas disciplinas que contemplam conhecimentos para a atuação na Educação Infantil, muitos estudos indicam que ainda é incipiente a quantidade de disciplinas específicas, além do fato de que, geralmente, a ênfase dos conteúdos dessas disciplinas recai na pré-escola, ficando a creche alijada desse processo formativo. A constituição histórica da creche, associada ao atendimento assistencialista, bem como a função das profissionais que nela atuam, influenciam no não-reconhecimento da creche como etapa da Educação Básica nos cursos de Pedagogia (CAMPOS, M. M., 2018; KRAMER, 2006).

Outra observação importante a respeito dessa lacuna no processo de formação, revelada a partir da análise dos trabalhos, é que os componentes curriculares dedicados aos estudos da infância e Educação Infantil, além de reduzidos, apresentam-se insuficientes em relação às possibilidades de construção e aprofundamento de conhecimentos junto às (aos) estudantes sobre infância, bebê, criança, educação, cuidado, brincadeiras, interações, proposta pedagógica, dentre outros, que são extremamente necessários a uma prática significativa no contexto das instituições de Educação Infantil.

Com relação aos campos disciplinares que compõem a estrutura curricular do curso de Pedagogia, percebe-se, a partir dos trabalhos abordados, uma falta de diálogo entre eles, o que revela a não contribuição de reflexões sobre a educação dos bebês e das crianças pequenas e as proposições para o trabalho pedagógico nas creches e pré-escolas. Há também uma desconsideração da criança histórica, social, que produz e se constrói imersa na cultura pelas disciplinas que discutem os fundamentos gerais da educação e as metodologias nas diversas áreas do conhecimento.

Percebe-se, ainda, a estrutura tradicional do currículo, baseada em fundamentos, metodologia e prática, o que tende a manter a dicotomia entre teoria e prática. Essa “tradicional” falta de articulação teoria-prática é vista como a principal lacuna nos cursos de formação docente. A indissociabilidade desses aspectos precisa estar presente em todas as disciplinas do curso de Pedagogia, não apenas no estágio. É fundamental buscar um trabalho coletivo dos formadores, de aproximação de seus discursos teóricos com a prática, das especificidades da docência com a realidade educativa, de forma que possam contribuir de maneira significativa para a atuação dos pedagogos no cotidiano da instituição de EI. O estágio, concebido como elemento curricular obrigatório para a formação docente precisa assumir o papel de possibilitar a discussão, a reflexão e a construção de uma série de saberes em relação aos bebês e às crianças

pequenas e aos contextos das instituições de Educação Infantil. A partir daí, é possível vislumbrar de fato, uma contribuição para a constituição de professoras dessa etapa da educação.

É constatada também nos estudos a prioridade do Ensino Fundamental na formação dos cursos de Pedagogia, exercendo a influência de um modelo escolar na formação do profissional da EI e gerando, consequentemente, a presença de práticas de escolarização nas instituições de EI nas situações descritas nas pesquisas.

Em relação à situação inadequada e restrita da formação das professoras de bebês e crianças pequenas nos cursos de Pedagogia, algumas pesquisadoras apontam a necessidade da consolidação da Pedagogia da Infância ou da Educação Infantil (ROCHA, 1999). Essa área ou subárea de pesquisas no interior da Pedagogia tem como objeto de preocupação, particularmente, os processos educativos que envolvem os bebês e as crianças. Outras sugerem uma formação mais específica para os (as) estudantes que desejarem atuar na Educação Infantil, após o curso de Pedagogia.

Sobre a formação específica das professoras da creche, os trabalhos indicam que há necessidade da presença de conhecimentos teóricos e metodológicos específicos da faixa etária, considerando a relevância das ações dialógicas do educar-cuidar nos currículos dos cursos de formação. Sugerem um olhar mais atento ao currículo e às disciplinas de desenvolvimento de bebês e crianças pequenas, propondo pensar em uma formação que promova condições de atuação em creche, particularmente no berçário.

Considero que a revisão bibliográfica se constituiu como um importante recurso para esta pesquisa, tendo em vista a relevância da reflexão/problematização dos saberes/fazeres necessários para as práticas de educação-cuidado de bebês e crianças pequenas em contextos educacionais coletivos. Além de situar o tema quanto ao que já foi produzido em termos de pesquisas acadêmicas, a leitura e a análise dos trabalhos possibilitaram a ampliação de referenciais teóricos para a promoção do diálogo com o presente estudo.

Diante desse contexto, interessa-me compreender como estão sendo delineadas as estruturas curriculares dos cursos presenciais de Pedagogia das Instituições de Ensino Superior privadas no que se refere à formação de professoras que atuam e/ou vão atuar no cotidiano das creches do município de Juiz de Fora.

2 MUITAS HISTÓRIAS, POLÍTICAS PÚBLICAS E CONCEPÇÕES... SOBRE A

No documento patriciamariareiscestaro (páginas 69-73)