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Entrevista

No documento patriciamariareiscestaro (páginas 102-105)

3 A CONSTITUIÇÃO DE UM CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO

3.2 O CONTORNO DA QUESTÃO DE PESQUISA: A ESCOLHA DOS

3.2.2 Entrevista

Para complementar a análise documental e compor a análise dos dados produzidos no grupo focal, buscando aprofundar o conhecimento referente às contribuições do curso de Pedagogia para a prática profissional dos que educam- cuidam de bebês e crianças de até 3 anos de idade, fiz entrevistas semiestruturadas com as professoras e coordenadoras envolvidas nos contextos dos cursos de Pedagogia. A entrevista, no âmbito da pesquisa qualitativa de cunho histórico-cultural, também é marcada pela dimensão do social. Segundo Freitas (2002),

ela não se reduz a uma troca de perguntas e respostas previamente preparadas, mas é concebida como uma produção de linguagem, portanto, dialógica. Os sentidos são criados na interlocução e dependem da situação experienciada, dos horizontes espaciais ocupados pelo pesquisador e pelo entrevistado. As enunciações acontecidas dependem da situação concreta em que se realizam, da relação que se estabelece entre os interlocutores, depende com quem se fala. (FREITAS, 2002, p. 5).

Na entrevista, é o sujeito que se expressa, mas sua voz carrega o tom de outras vozes, retratando a realidade do seu grupo, gênero, etnia, classe, momento histórico e social. A entrevista dialógica constitui-se como uma relação entre sujeitos, cujo objetivo é compartilhar experiências. Nesse contexto, “pesquisador e pesquisado passam a ser parceiros de uma experiência dialógica conseguindo se transportarem da linguagem interna de sua percepção para a sua expressividade externa, entrelaçando-se por inteiro num processo de mútua compreensão” (FREITAS, 2003, p. 36).

É nesse encontro entre sujeitos que o olhar sobre determinado assunto se amplia e a realidade investigada começa a ser transformada.

Oliveira (2008) apresenta as diversas classificações da entrevista. A estruturada se caracteriza por um conjunto de questões destinado a todos os entrevistados da mesma forma, utilizando as mesmas palavras. Nesse tipo de entrevista, o pesquisador supõe que todos os entrevistados compreenderão as questões da mesma maneira. A entrevista não estruturada ou completamente aberta é constituída de questões não específicas e nem fechadas que servem para orientar a conversa. Pode haver, nessa entrevista, a inclusão de outras perguntas para facilitar a compreensão de determinado assunto. E, por último, a entrevista semiestruturada, no qual o entrevistador dá um tempo para o entrevistado responder as perguntas previamente preparadas. Nesse tipo de entrevista, é permitido adicionar outras questões que se fizerem necessárias para o melhor entendimento do assunto tratado.

Conforme assevera Oliveira (2008), qualquer um dos tipos citados acima pode ser utilizado em uma pesquisa no campo educacional. Entretanto, o autor destaca que,

provavelmente, a entrevista semiestruturada dê uma maior possibilidade de entendimento das questões estudadas nesse ambiente, uma vez que permite não somente a realização de perguntas que são necessárias à pesquisa e não podem ser deixadas de lado, mas também a relativização dessas perguntas, dando liberdade ao entrevistado e a possibilidade de surgir novos questionamentos não previstos pelo pesquisador, o que poderá ocasionar uma melhor compreensão do objeto em questão. (OLIVEIRA, 2008, p. 13).

A conversa baseada em questões elaboradas previamente e tecida de outros questionamentos representa uma possibilidade a mais de obter clareza e exatidão no entendimento final.

No entanto, Duarte (2004) revela que

realizar entrevistas, sobretudo se forem semiestruturadas, abertas, de histórias de vida etc. não é tarefa banal; propiciar situações de contato, ao mesmo tempo formais e informais, de forma a “provocar” um discurso mais ou menos livre, mas que atenda aos objetivos da pesquisa e que seja significativo no contexto investigado e academicamente relevante é uma tarefa bem mais complexa do que parece à primeira vista. (DUARTE, 2004, p. 216).

Nesse sentido, pode-se considerar que a entrevista é um instrumento metodológico que exige planejamento, preparo teórico e habilidade técnica desde a elaboração do roteiro até a análise dos dados.

Como parte do segundo momento da pesquisa, realizei entrevistas com as três coordenadoras dos cursos de Pedagogia das IES pesquisadas e com cinco professoras das disciplinas e módulo que abordavam temas, conteúdos, saberes, conhecimentos referentes à

Educação Infantil. Importante registrar que, dessas cinco professoras, uma faz parte de duas IES e, portanto, contou as suas experiências de ambos os contextos institucionais.

As entrevistas foram agendadas por e-mail, WhatsApp e/ou telefone. Muitas foram remarcadas várias vezes por conta de imprevistos e compromissos por parte de algumas coordenadoras e professoras. A conversa, que aconteceu em locais escolhidos por cada entrevistada, com duração média de uma hora, seguiu roteiros previamente elaborados, conforme consta no Apêndice A.

Para as coordenadoras, as questões versavam sobre a sua formação; experiência profissional; tempo de trabalho na instituição; matriz curricular; projeto pedagógico; disciplinas, espaços, conteúdos que abordam a Educação Infantil, especialmente a creche; contribuição dessas discussões para a prática das professoras na creche; estágio na/da Educação Infantil e algumas questões específicas para cada instituição. Para as professoras, além das questões apresentadas acima, acrescentou-se um detalhamento maior com relação às disciplinas e ao módulo, sendo discutido o que é contemplado; ementas; diálogo entre as áreas de conhecimento; saberes e fazeres necessários para o trabalho com a faixa etária de 0 a 3 anos.

Importante destacar que as coordenadoras das instituições são identificadas no texto por C1; C2 e C3 e as professoras por P1; P2; P3; P4 e P5, para que suas identidades sejam preservadas. Apresento, no Quadro 10, a seguir, as coordenadoras e professoras com seus respectivos dados, tais como formação; IES que atuam; função no curso de Pedagogia; ano de ingresso no curso de Pedagogia e experiência profissional no campo da Educação Infantil. Essas informações foram obtidas mediante a entrevista realizada com elas. Vejamos:

Quadro 10 – Identificação das entrevistadas da pesquisa

Entrevistada IES Formação

Função no Curso de Pedagogia Ano de ingresso no Curso de Pedagogia Experiência profissional na EI

C1 Hortência Pedagogia, Direito e Mestrado em Educação

Coordenadora 2016 Não possui

C2 Rosa Pedagogia,

Especialização em Psicopedagogia e Mestrado em Educação

Coordenadora 2010 Não possui

C3 Tulipa Pedagogia,

Psicopedagogia, Mestrado em Educação

Coordenadora 2008 Coordenadora pedagógica

concursada da pré-escola– escola municipal - 12 anos até a época da entrevista

P1 Rosa Magistério (nível

Médio) Educação Física

Professora 2012 Professora pré-escola - 1º período – escola particular - 2 anos

P2 Rosa Pedagogia Especialização em Gestão Educacional, Educação Infantil e Neurociência

Professora 2011 Coordenadora pedagógica da

EI (creche e pré-escola) - escola particular - 31 anos

P3 Rosa Pedagogia

Especializações em Arte: Arte e EI / Arte, Educação e Cultura

Professora 2006 Professora do Projeto de Arte e Literatura da pré-escola – escola municipal – 9 anos

P4 Tulipa Economia, Pedagogia Especialização – Psicopedagogia / Educação Especial- Inclusiva Mestrado em Educação

Professora 2017 Professora da pré-escola – escola municipal - 12 anos Professora na creche com crianças de 2 e 3 anos (turma bietária) - Convênio da Prefeitura - 2 anos P5 Hortência e Tulipa Informática na Educação (ensino médio) Artes Plásticas Professora 2016 – IES Hortência 2009 - IES Tulipa Professora da pré-escola particular – 12 anos

Fonte: Elaborado pela autora

Ao final do ano de 2018, devido às implicações de uma política de mercantilização do Ensino Superior privado implantada no país, a partir da década de 1990 e fortemente aplicada no contexto atual (NONENMACHER, 2008; LOPES; VALLINA; SASSAKI, 2018), a coordenadora que estava trabalhando há 14 anos na IES Rosa foi demitida. Na mesma instituição, P2, que atuava há 7 anos, solicitou uma licença sem vencimento, durante dois anos. Informo ainda, que no mesmo ano, na IES Tulipa, a coordenadora foi transferida de função. De coordenadora do Curso de Pedagogia, passou para o cargo de coordenadora pedagógica de todos os 14 cursos da instituição.

Ressalto que o diálogo com as coordenadoras e professoras das IES foi extremamente importante para compor a análise da produção discursiva das participantes do grupo focal, próxima estratégia metodológica empreendida nesta pesquisa.

No documento patriciamariareiscestaro (páginas 102-105)