• Nenhum resultado encontrado

A Constituição da Organização Internacional do Trabalho foi estabelecida na Parte XIII do Tratado de Versalhes, firmado em 1919 para dar fim à Primeira Guerra Mundial. A Comissão de Trabalho instituída pela Conferência de Paz se reuniu durante os meses de janeiro a abril, em Paris e em Versalhes, resultando na criação deste organismo internacional como uma agência especializada da Liga das Nações, de composição tripartite (composta por representantes dos Estados, dos empregadores e dos trabalhadores). Em 1946, a Organização Internacional do Trabalho tornou-se uma agência especializada da recém criada Organização das Nações Unidas (ONU).

No contexto da elaboração da Constituição da OIT, foi ressaltada a importância da justiça social para garantir a paz, num contexto de exploração dos trabalhadores nas nações industrializadas da época. Partiu-se também da compreensão do aumento da interdependência econômica mundial e da necessidade de cooperação internacional para obter semelhança nas condições de trabalho nos países que passavam a competir por mercados.

Na Organização Internacional do Trabalho, o direito à igualdade é identificado como princípio e direito fundamental, orientador de toda a ordem justrabalhista internacional. É

151

BRONSTEIN, Arturo. International and comparative labour law: current chalenges. Genebra: Palgrave Macmillan, 2009, p. 222.

direito expresso no preâmbulo da Constituição da OIT de 1919 como um dos meios essenciais para a preservação da paz mundial, imprescindível para o progresso ininterrupto:

CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Preâmbulo

Considerando que a paz para ser universal e duradoura deve assentar sobre a justiça social;

Considerando que existem condições de trabalho que implicam, para grande número de indivíduos, miséria e privações, e que o descontentamento que daí decorre põe em perigo a paz e a harmonia universais, e considerando que é urgente melhorar essas condições no que se refere, por exemplo, à regulamentação das horas de trabalho, à fixação de uma duração máxima do dia e da semana de trabalho, ao recrutamento da mão-de-obra, à luta contra o desemprego, à garantia de um salário que assegure condições de existência convenientes, à proteção dos trabalhadores contra as moléstias graves ou profissionais e os acidentes do trabalho, à proteção das crianças, dos adolescentes e das mulheres, às pensões de velhice e de invalidez, à defesa dos interesses dos trabalhadores empregados no estrangeiro, à afirmação do princípio "para igual trabalho, mesmo salário", à afirmação do princípio de liberdade sindical, à organização do ensino profissional e técnico, e outras medidas análogas; Considerando que a não adoção por qualquer nação de um regime de trabalho realmente humano cria obstáculos aos esforços das outras nações desejosas de melhorar a sorte dos trabalhadores nos seus próprios territórios.

No artigo 427 do Tratado de Versalhes, foram enunciados os princípios gerais que regiam a Organização Internacional do Trabalho. Arnaldo Süssekind aponta que o tratado de paz previa, como seu sétimo princípio, que homens e mulheres teriam igual remuneração, e, como oitavo princípio, a igualdade de tratamento econômico aos trabalhadores residindo legalmente em cada país152.

Posteriormente, estimulada pela Grande Depressão e pela Segunda Guerra Mundial, a OIT empreendeu emendas em sua Constituição, tendo acrescentado, em 1944, seu Anexo, a Declaração da Filadélfia, substituindo o anterior artigo 427.

A Declaração da Filadélfia, referente aos fins e objetivos da OIT, ampliou os princípios gerais do trabalho que devem ser observados pelos Estados membros do organismo internacional. Em alguns de seus dispositivos, são ressaltados os princípios da igualdade e da não discriminação:

Anexo – Declaração Referente aos Fins e Objetivos da Organização Internacional do Trabalho (Declaração da Filadélfia)

[...]

152

SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3 ed. atual. e com novos textos. São Paulo: LTr, 2000, p. 104.

II - A Conferência, convencida de ter a experiência plenamente demonstrado a verdade da declaração contida na Constituição da Organização Internacional do Trabalho, que a paz, para ser duradoura, deve assentar sobre a justiça social, afirma que:

a) todos os seres humanos de qualquer raça, crença ou sexo, têm o direito de assegurar o bem-estar material e o desenvolvimento espiritual dentro da liberdade e da dignidade, da tranquilidade econômica e com as mesmas possibilidades;

b) a realização de condições que permitam o exercício de tal direito deve constituir o principal objetivo de qualquer política nacional ou internacional;

De acordo com Firmino Alves Lima, a referida alínea “a” registra o aspecto

principiológico mais importante em relação à proteção contra a discriminação153.

No campo da proteção contra a discriminação em razão de gênero, também são relevantes as previsões contidas no item III da Declaração da Filadélfia, que proclama a obrigação da OIT de auxiliar os Estados membros na execução de programas que visem

proporcionar emprego integral para todos e elevar os níveis de vida (alínea “a”), garantir a proteção da infância e da maternidade (alínea “h”) e assegurar as mesmas oportunidades para

todos em matéria educativa e profissional (alínea “j”).

De fato, como já ressaltado, a mão de obra feminina é predominante em trabalhos de tempo parcial e as mulheres normalmente não possuem as mesmas oportunidades de educação e qualificação profissional que os homens, de forma que esforços empreendidos pelos diferentes Estados nestas áreas podem contribuir para a diminuição das discrepâncias observadas em relação ao trabalho das mulheres. Indubitável que os programas de proteção da infância e da maternidade também tem impacto positivo no trabalho da mulher, sendo importantes medidas para melhoria do panorama discriminatório em relação ao gênero.

Ressalte-se que a mera condição de Estado membro da Organização Internacional do Trabalho impõe a observância a seus objetivos e princípios fundamentais descritos na Constituição da OIT e na Declaração da Filadélfia.

Documentos relacionados