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oportunidades entre homens e mulheres

O Código de paridade de oportunidades entre homens e mulheres, editado pelo Decreto Legislativo nº 198, de 11 de abril de 2006, consolidou muitas das normas já existentes no ordenamento italiano, tendo revogado disposições das Leis nº 7, de 1963, nº 903, de 1977, nº 125, de 1991, nº 215, de 1992, e dos Decretos Legislativos nº 303, de 1999, nº 24, de 2000, nº 196, de 2000, e nº 226, de 2003.

Luisa Galantino afirma que o Código sofreu uma série de críticas, de caráter formal e substancial, já que não se referiu a uma série de importantes dispositivos já presentes no direito italiano, como por exemplo, a própria disciplina da rescisão discriminatória contida no artigo 15 do Estatuto dos Trabalhadores. Registra que a norma apresenta um caráter de mera

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VALLEBONA, Antonio. Istituzioni di diritto del lavoro: II Il raporto di lavoro. 5 ed. Padova: Casa Editrice Dott. Antonio Milani, 2005. p. 266.

compilação, e não de sistematização racional e orgânica da disciplina da paridade entre os sexos, sendo carente de reais inovações306.

De toda forma, são importantes as previsões contidas já no início do diploma legal, em seu artigo 1º, que reafirma a proibição da discriminação em razão do gênero, prevendo o seguinte:

1. Vedação de discriminação e paridade de tratamento e de oportunidades entre mulheres e homens, além da integração do objetivo de paridade entre mulheres e homens em todas as políticas e atividades

1. As disposições do presente decreto têm como objeto as medidas voltadas para eliminar qualquer discriminação baseada no sexo, que tenha como consequência ou como escopo comprometer ou impedir o reconhecimento, o gozo ou o exercício dos direitos humanos e das liberdades fundamentais no campo político, econômico, social, cultural e civil, ou em qualquer outro campo.

2. A paridade de tratamento e de oportunidade entre mulheres e homens deve ser assegurada em todos os campos, incluindo aquele da ocupação, do trabalho e da retribuição.

3. O princípio da paridade não obsta a manutenção ou a adoção de medidas que prevejam vantagens específicas em favor do sexo sub-representado.

4. O objetivo da paridade de tratamento e de oportunidade entre mulheres e homens deve estar presente na formulação e aplicação, em todos os níveis e nas ações de todos os atores, das leis, regulamentos, atos administrativos, políticas e atividades.

O Código é dividido em quatro livros, sendo o primeiro relativo às disposições iniciais para a promoção da paridade de oportunidades entre homens e mulheres (artigos 1º a 22), o segundo referente à paridade de oportunidades nas relações ético-sociais (artigos 23 e 24, que remetem ao tratamento dado pelo código civil às relações familiares e pela Lei 154, de 2001, sobre a violência doméstica), o terceiro concernente à paridade nas relações econômicas, de trabalho ou de atividades empresariais (artigos 25-55), e o quarto relativo à paridade nas relações civis e políticas (artigos 56 e 57).

No terceiro título, o artigo 25 do Código reproduz as definições de discriminação direta e indireta contidas na Lei nº 125, de 1991 e, conforme alterações promovidas pela Lei nº 101, de 2008, acrescentou ao âmbito da discriminação direta não só um ato ou comportamento que tenha o efeito de criar uma disparidade de tratamento entre homens e mulheres, como também a fim de colocar em prática tal ato ou comportamento307.

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GALANTINO, Luisa. Diritto del lavoro. Torino: G. Giappichelli Editore, 2010. p. 207-208. 307

SANTORO-PASSARELLI, Giuseppe. Diritto dei lavori: Diritto sindacale e rapporti di lavoro. 4 ed. Torino: G. Giappichelli Editore, 2013. p. 326.

São também considerados discriminatórios quaisquer tratamentos menos favoráveis em razão do estado de gravidez, ou de maternidade e paternidade, inclusive em virtude de adoção, ou mesmo em razão do exercício de direitos decorrentes deste estado (parágrafo 2-bis do artigo 25).

O artigo 26 prevê expressamente que o assédio, inclusive o assédio sexual, é considerado prática discriminatória, repetindo as previsões da Lei nº 125, de 1991, sobre o tema.

Em seu parágrafo 3º, esse artigo estabelece a nulidade de todos os procedimentos relativos à relação de trabalho do trabalhador ou trabalhadora vítimas do assédio, quando adotados em consequência da recusa ou da submissão a esses comportamentos. Para Luisa Galantino, a norma se refere não só aos atos imputáveis ao empregador, como também aos cometidos pelo trabalhador, como o pedido de demissão308.

Do mesmo modo, são considerados discriminatórios os tratamentos desfavoráveis adotados pelo empregador como reação a uma reivindicação ou a uma ação com o intuito de obter o respeito ao princípio da paridade de tratamento entre homens e mulheres.

O artigo 27, que revogou parcialmente a Lei nº 903, de 1977, e a Lei nº 125, de 1991, incorporou as disposições contidas naquelas normas relativas à vedação de discriminação para fins de acesso ao trabalho, e em matéria de orientação e formação profissional. Foram mantidas as possibilidades de derrogação da vedação nos casos em que a especificação do gênero do trabalhador seja essencial à natureza da atividade (moda, arte, espetáculos) ou em que, via negociação coletiva, sejam estabelecidas limitações ao trabalho feminino em atividades penosas.

O artigo 38 prevê, para a hipótese de violação das vedações descritas no artigo 27, o mesmo procedimento de urgência para a proteção contra a discriminação em razão de gênero estabelecido pelo artigo 15 da Lei nº 903, de 1977.

Em seu artigo 28, o Código de paridade de oportunidades entre homens e mulheres, com a redação dada pelo Decreto legislativo nº 5, de 25 de janeiro de 2010, confirma a vedação já contida na Lei nº 903, de 1977, da discriminação em razão do gênero no que se refere ao tratamento remuneratório, ao dispor:

28 – Vedação de discriminação retributiva

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1. É vedada qualquer discriminação, direta e indireta, concernente a qualquer aspecto ou condição da retribuição, no que se refere a um mesmo trabalho ou a um trabalho ao qual é atribuído igual valor.

2. Os sistemas de classificação profissional, com finalidade de determinar a retribuição, devem adotar critérios comuns para homens e mulheres e serem elaborados de forma a eliminar as discriminações.

O artigo 35 do Decreto legislativo nº 198, de 2006, ao incorporar as previsões da Lei nº 7, de 1963, dispõe sobre a vedação da rescisão contratual por causa do matrimônio, declarando nulas as cláusulas contidas em contratos individuais ou coletivos, e em regulamentos, que prevejam a rescisão do contrato de trabalho por esse motivo, bem como as rescisões operadas por essa razão. Presumem-se motivadas pelo matrimônio a rescisão ocorrida entre o dia do requerimento de publicação de editais, até um ano da celebração do matrimônio (vide item supra).

A tutela judiciária contra a discriminação (artigos 36 a 41) incorporou as previsões processuais contidas nas Leis nº 903, de 1977, e nº 125, de 1991 (vide itens respectivos

supra).

Na ação individual, verificada a prática discriminatória na fase sumária do procedimento, o magistrado determina a cessação do comportamento ilegítimo e a imediata remoção de seus efeitos, podendo prever, inclusive, o ressarcimento dos danos causados. A partir da comunicação da determinação, o empregador poderá propor uma ação de oposição, de cognição plena e exauriente, para buscar evidenciar a inexistência de discriminação e revogar a execução do decreto emitido na fase sumária309. É previsto, também, um procedimento coletivo para a tutela contra a discriminação em razão do gênero, consoante as disposições contidas na anterior Lei nº 125, de 1991.

São relevantes, ainda, as disposições dos artigos 42 a 50, que preveem ações afirmativas com o escopo de eliminar as disparidades que criam obstáculos fáticos à igualdade das mulheres no acesso ao trabalho. Neste campo, são mantidas previsões já contidas na Lei nº 125, de 1991, e das diretivas comunitárias 2000/43, 2000/78 e 2002/78, sendo elencadas de modo exemplificativo, como destaca Luisa Galantino310.

O Código de paridade de oportunidades sofreu posteriormente alterações pelo Decreto Legislativo nº 5, de 25 de janeiro de 2010, responsável pela transposição para o ordenamento italiano da diretiva europeia 2006/54.

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TESORIERE, Giovanni. Diritto processuale del lavoro. 6 ed. Padova: Casa Editrice Dott. Antonio Milani, 2012. p. 368-369.

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Outras normas italianas contém dispositivos aptos a conferir maior proteção às trabalhadoras contra discriminações sofridas antes, durante e no término do contrato de trabalho, como a previsão relativa à necessidade de observância de um percentual de mão de obra feminina nas empresas em casos de dispensas coletivas (introduzida pela Lei nº 236, de 1993), ou a vedação de rescisão contratual de trabalhadoras casadas há menos de um ano (Lei nº 223, de 1991)311.

Como visto, as normas editadas internamente pela Itália são intrinsecamente relacionadas com o arcabouço normativo internacional, que influenciou diretamente na edição de diversas leis e na alteração de alguns dispositivos. Possível perceber, ainda, que a existência de várias normas que pretendem consagrar o direito a não discriminação em razão de gênero confirma a complementaridade de tais regras e princípios, que devem se somar para tornar mais eficaz a proteção das mulheres trabalhadoras contra a discriminação nas relações de trabalho.

4.2. A proteção contra a discriminação do trabalho da mulher no Brasil

No Brasil, a preocupação com a proteção contra a discriminação da mão de obra feminina também se reflete em muitos textos normativos. Além da incorporação de normas internacionais ou provenientes de organizações regionais (Organização de Estados Americanos – OEA – e do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL), são relevantes as disposições internas que buscam efetivar a igualdade de tratamento entre homens e mulheres em diversos campos da vida social, inclusive no mercado de trabalho.

4.2.1. Normas internacionais e de âmbito regional vigentes no Brasil

No Brasil, os tratados e convenções internacionais ratificados são incorporados à ordem jurídica interna através da atuação conjunta do Poder Legislativo e do Poder Executivo, que emite o decreto de ratificação.

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