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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS: OS PERCURSOS DESTA PESQUISA

3.5 Construção das narrativas de campo

Para Clandinin e Connelly (2011), os textos de campo de uma pesquisa narrativa podem ser constituídos por várias fontes como textos autobiográficos, diários, notas de campo, cartas, conversas, histórias de vida, histórias de família, fotografias, entrevistas, artefatos pessoais, entre outros. Entretanto é fundamental compreender que “os dados tendem a carregar uma ideia de representação objetiva de uma experiência de pesquisa, é importante notar quão imbuídos de interpretação são os textos de campo” (CLANDININ; CONNELLY, 2011, p. 134). Para os autores, o pesquisador deliberadamente seleciona determinados aspectos que aparecem nos textos de campo, bem como valoriza um ou mais aspectos em detrimento de outros, e nesse sentido, todos os textos de campo são inevitavelmente interpretados pelo pesquisador.

Destacar essa característica da pesquisa narrativa é essencial, pois a com base nos textos de campo que compõem esta tese, serão contadas histórias a partir de minha perspectiva enquanto pesquisadora e participante do GEProMAI. Nesse sentido cabe ressaltar que se outro pesquisador, ainda que tenha participado dos mesmos encontros, e acessado as mesmas informações que eu sobre o grupo, possivelmente teria outras interpretações e narraria histórias diferentes das minhas, pois seus textos seriam modelados pelos seus próprios interesses ou desinteresses (CLANDININ; CONNELLY, 2011).

Nesta pesquisa, os textos de campo compreendem narrativas orais captadas em vídeogravações dos encontros do grupo, que foram realizadas desde a segunda reunião ocorrida em 20 de maio de 2014, a partir da autorização dos participantes; narrativas individuais sobre os encontros, elaboradas pelos componentes do grupo; narrativas colaborativas sobre os encontros, produzidas pelos participantes em ambiente virtual (Google Docs); narrativas escritas pelos participantes em diferentes momentos em que essa prática fez parte da dinâmica do encontro; material produzido e compartilhado pelos participantes; textos produzidos pelos integrantes do grupo para participação em eventos e/ou para publicação, notas de campo da pesquisadora.

É relevante ressaltar que diante de minha participação no grupo, atuando algumas vezes como formadora e como coordenadora do encontro, e diante das

intensas discussões com as quais me envolvi nesse processo, especialmente nos momentos iniciais, não foi possível produzir um diário reflexivo e o registro de muitas informações durante os encontros. Assim, realizar o registro por meio das vídeogravações, possibilitou-me revisitar, sempre que necessário, os diálogos, as interações entre os participantes, e registrar os acontecimentos de modo mais reflexivo, não como uma mera descrição de fatos.

Como já citado, as gravações em vídeo foram realizadas a partir do segundo encontro, após a autorização dos participantes. Inicialmente os consentimentos foram orais e posteriormente solicitei-os por termo escrito. Para realizar as filmagens, a câmera foi instalada sobre um tripé e colocada em um local estratégico na sala, na tentativa de registrar as imagens e vozes do grupo todo. Algumas vezes não foi possível registrar as imagens de todos devido ao número de participantes. Obtive apenas o registro oral dos professores em determinados momentos. É importante ressaltar que, diante da dinâmica dos encontros, eu não tinha condições de operar a filmadora e buscar closes dos participantes e tampouco havia no grupo um participante designado para essa função.

O fato de que minha interação com o grupo ocorria numa perspectiva de participação ativa nas discussões, na proposição e desenvolvimento de atividades e não numa posição de pesquisadora a observar passivamente as interações ocorridas no ambiente, pode ter comprometido um pouco a recolha dos dados nas videogravações. Entretanto as limitações nesse modo de obter dados são previstas por pesquisadores que se valem dessas ferramentas. Entendo, ainda, que deixar a câmera de vídeo ligada em um canto da sala e interagir com o grupo, permitiu que os participantes agissem de modo natural e que, muitas vezes, se esquecessem de que nossas interações estavam sendo registradas em vídeo.

Durante os encontros sempre lembrávamos aos participantes das filmagens. Porém, o fato de estarmos registrando as discussões e as dinâmicas do grupo por meio das videogravações, em nenhum momento, causou constrangimento ou timidez aos participantes. Pelo contrário, eles sempre foram muito favoráveis a esse procedimento por entenderem que essas filmagens contribuiriam para esta pesquisa e também para a composição de um histórico do grupo. Algumas vezes até solicitavam informações do vídeo para elaborarem o relato dos encontros presenciais.

Essas ações corroboram o enunciado por Powell, Francisco e Maher (2004, p. 86) no sentido de que “o vídeo é um importante e flexível instrumento para coleta de dados oral e visual”, embora exista a compreensão da incompletude desse modo de recolha de dados devido às limitações mecânicas, incapacidade de discernir o conteúdo subjetivo do comportamento que está sendo gravado e da incapacidade de carregar o contexto histórico do comportamento capturado (IDEM, 2004).

Outro aspecto importante relativo às limitações das gravações em vídeo como instrumento de pesquisa destacado por esses autores refere-se às perspectivas teóricas do pesquisador, que podem compelir e moldar o registro dos dados. Os autores ancorados em Hall (2000) enfatizam que os dispositivos para capturar informações visuais e orais podem ser planejados e organizados para gravar a atividade humana de modo a selecionar as interações em desenvolvimento, gerando dados que, enviesados, mostram apenas partes das interações consideradas interessantes pelo pesquisador.

Reconheço que os registros em vídeo possuem limitações, mas é importante enfatizar que as videogravações se constituem em importante instrumento de pesquisa que forneceu informações relevantes para a configuração desta investigação. Entretanto, para a produção dos textos de pesquisa, foram consultadas outras informações de campo, mencionadas anteriormente, que se configuraram como os instrumentos para a produção de dados desta tese.