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5. TRAVESSIAS CARTOGRÁFICAS: PRIMEIRAS ANÁLISES SOBRE O OBJETO

6.1 A Amazônia Audiovisualizada

6.1.5 Construtos de banco de dados audiovisuais

[Travessia 462: Nesta travessia adentramos no tema “Terras indígenas”. Ele nos chama atenção por ser o único que não leva o “Eu sou” como ideia e título - tensionamos essa percepção em outra travessia e cena de superfície. A travessia neste tema nos chama atenção por ter mais fotografias do que vídeos, além de mapas e textos, trata-se de um padrão diferente dos outros. Resolvemos então expandir cada fotografia, deixá-la em tela cheia e refletir sobre o que elas em conjunto poderiam nos dizer. Começamos a perceber que elas exibem temporalidades muito distintas e são marcadas pelos direitos de imagens, algo que não vemos nos vídeos. Assim, seguimos para a análise dessa travessia que começou a nos falar algo sobre o campo do arquivo e banco de dados como uma espécie de coleção de imagens no ESA e, consequentemente, no GE.]

Assim, a cena que colocamos em destaque nesta travessia propõe demonstrar alguns dos modos de perceber uma experiência audiovisual em banco de dados, correspondendo às fotografias sobre a Amazônia em alguns temas. Essas fotografias tomaram o lugar dos vídeos principalmente no décimo e décimo primeiro tema do ESA, onde geralmente é possível acessar os vídeos nas telas (no canto superior direito) em

alguns temas, é possível acessar somente fotografias no “Terras indígenas”. É preciso ressaltar, então, que a cena abaixo é montada por nós a partir das fotografias encontradas em diferentes páginas do tema, não há aí uma relação sequencial em tela cheia proposta pelo software. Para observar essas fotografias é preciso ir em cada aba e colocá-las em ‘tela cheia’. Foi esse processo que nos fez olhar com cuidado para elas, observando detalhes como o registro dos direitos autorais do fotógrafo e o ano em que foram registradas.

Figura 36: Cena de superfície com arquivo de fotografias do tema "Terras indígenas”

Fonte: Elaborado pela autora:https://bit.ly/2Zib4MH.

Essa cena representa uma coleção, quase uma exposição virtual de vários fotógrafos com registros principalmente de indígenas da Amazônia brasileira, uma vez que ao tema se trata das demarcações de terras indígenas. O tema possui 22 páginas, em cada página temos uma fotografia que ilustra a tribo indígena tratada ali. Não colocamos todas as fotografias na cena de superfície acima, escolhemos as que mais demonstravam algum tipo de deferenciação técnica, estética e temporal. Os anos variam, as que são demonstradas na cena acima datam de 2002, 2014, 1979, 2000 e 1983, respectivamente. A única variação que temos nessa cena, e que fizemos questão de colocar, foi o frame c fazer parte de um recorte de um dos vídeos distribuídos pelo ESA, isto é, seria mais um frame do próprio conteúdo do GE se transformando em fotografia de arquivo para compor a montagem de uma das telas de um tema.

A cena de superfície com fotografias do “Terras indígenas”, revela o que viemos compreendendo ao longo da análise do objeto: o ESA é também um grande banco de (a) (e) (d) (c) (b) (a)

dados sobre a Amazônia63, apresentando uma montagem que dá a ver uma coleção de imagens capazes de imagicizar o banco de dados. Assim, parece que as várias parcerias feitas entre o GE, ONGs e institutos ambientais64 tiveram como iniciativa e objetivo organizar o que se tem documentado sobre a Amazônia e colocar em um local de acesso como o ESA. Dentro desse sintoma banco de dados como coleção de imagens, percebemos uma linha que conduz um processo de significação audiovisual gradativo e hiperlinkado com todas as outras informações sobre a Amazônia, seja no formato de mapa, texto, áudio ou outras imagens.

Refletimos que essas fotografias e frames presentes em alguns temas do ESA são exibidas enquanto imagem de arquivo e como pano de fundo. Percebemos que nesses últimos temas da grade do ESA, há uma tendência de usar mais fotografias do que vídeos, isto é, no lugar que o vídeo tomaria (canto superior direito), encontra-se a fotografia, às vezes sendo apresentada em galerias. Refletimos então que a composição dessas fotografias históricas tenta seguir a tendência de constituir uma montagem espacial nas telas do ESA, enquanto mídia que participa de alguma interação, que toma o lugar da imagem em movimento (do vídeo), mas traz outras percepções históricas em arquivo sobre a Amazônia.

A coleção de imagens do banco de dados emoldura uma forma cultural que sobrevive pelos sentidos das imagens técnicas (FLUSSER, 2002), direcionando sentidos de Amazônia. Com essa proposta, o Google possibilita uma conexão entre o usuário e a Amazônia tentando assegurar uma narrativa completa, porque possui, afinal, os arquivos diversos em formato digital e o software para hiperlinkar a experiência. Chun (2014) nos lembra que:

O conteúdo da Internet, memorável ou não, é igualmente reproduzido na memória. Muitos sites e projetos de mídia digital se concentram na preservação: dos museus on-line ao fenômeno do YouTube Geriatric1927, do Corbis Images Database, de Bill Gates aos bancos de dados do Google, que armazenam todas as pesquisas já inseridas (e as vinculam a um endereço IP, supostamente tornando o Google o

63 Outro exemplo de audiovisual de banco de dados é o trailer presente no tema “Eu sou resiliência”,

intitulado “Para onde foram as Andorinhas”. É uma produção publicada no canal do YouTube do Instituto Socioambiental em cuja descrição informa que o teaser corresponde a um premiado curta metragem produzido em parceria entre o próprio instituto (ISA) e o Instituto Catitu. O tema do curta refere-se aos impactos sofridos pelos povos que habitam o Parque indígena do Xingu devido às mudanças climáticas. Existe aqui a questão de esmaecer a autoria desse vídeo no projeto ESA, mas se migrarmos para o YouTube obtemos mais informações. É importante ressaltar que os vídeos encontrados no tema “Eu sou resiliência”, não estão hospedados no YouTube do Google Brasil e sim nos dos seus parceiros que trabalharam juntos no ESA.

“Recurso stasi” do século XXI). A memória endurece as informações - transformando-as de uma medida de possibilidade em uma "coisa", enquanto também apaga a diferença entre instruções e dados (a memória do computador os trata de maneira indistinguível). Parece fazer da mídia digital um arquivo cada vez maior, no qual nenhum dado é perdido e, portanto, central para o progresso (CHUN, 2014, p. 97). O projeto Eu sou Amazônia, no Google Earth, se mostra como um grande banco de dados sobre a Amazônia e mais ainda, sobre uma Amazônia audiovisualizada, que quer, com esses dados, criar uma experiência de conexão virtual com o território, a partir de diferentes histórias que se acoplam, por cada uma propor um aspecto da Amazônia e seu povo.