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Imbricar pesquisador (a) e máquina: ferramentas e laboratório das travessias

4. TRILHAS METODOLÓGICAS

4.3 Imbricar pesquisador (a) e máquina: ferramentas e laboratório das travessias

Tendo em vista as particularidades do objeto, uma observação cuidadosa forneceu dados para descobrir como é cartografar, dissecar e produzir camadas no ESA, olhando juntamente para a presença do GE. Os procedimentos explanados acima podem colaborar para a entrada no objeto e para a elaboração da nossa estratégia de concepção de narratividade softwarizada, mas notamos, no processo, que precisávamos investir também em ferramentas de trabalho que mediassem a nossa relação com o objeto e nos ajudassem a fazer o leitor visualizar da melhor forma os resultados. Nesse sentido, fomos percebendo, ao longo da pesquisa, quais os procedimentos possíveis dentro do software

e dos temas do ESA e que ferramentas disponíveis no universo dos softwares e dos hardwares se tornariam subsidiárias no desenvolvimento da análise.

4.3.1 Laboratório de travessias

Em vários momentos durante o processo de análise utilizamos uma das ilhas de edição do Laboratório Avançado de Tecnologias da Informação e Comunicação da UNISINOS (LABTICS) para fazer o que estamos denominando Laboratório de travessias dentro do universo empírico. A perspectiva sobre as travessias surgiu no processo de pensar conceitualmente a narratividade softwarizada, assim, no desenvolvimento do capítulo teórico nos deparamos com a palavra travessia, tomada por Guimarães Rosa ao conceituar narrativa.

E como temos o sentido de narrativa no meio de toda a construção conceitual de narratividade softwarizada, incluímos a travessia como a palavra que simboliza o agir em busca de narratividades softwarizadas no ESA, junto ao GE. Assim, tomamos o nome- símbolo para dar título a um dos procedimentos técnicos que suscitamos. Chamamos de travessia aquilo que dá forma à narratividade softwarizada; entre muitas outras palavras que nos apareceram, tal como movimento, fluxo, performance, escolhemos travessia para tentar unificar uma concepção e fazer o leitor visualizar o que pretendemos quando a utilizamos.

Este laboratório de travessias nos ajudou a perceber com maior precisão os arranjos do meu objeto, sem interrupções na rede e com uma resolução de imagem em 1080p, o que promove uma experiência refinada. Para registrar tal movimento, utilizamos programas de gravação do próprio iMac como QuickTime player (gravador de áudio e vídeo embutido no sistema operacional da Apple) e o Open Broadcaster Software (OBS studio)45 (um programa de streaming e gravação gratuito, cujo código é aberto) para o sistema operacional Microsoft Windows.

A travessia foi utilizada de duas formas durante o desenvolvimento da pesquisa. O primeiro resultou nas cartografias, nessa etapa fizemos travessias mais longas e não as descrevemos nos textos, pois tínhamos o objetivo de explorar ao máximo o objeto sem determinar caminhos. Essas travessias caracterizam o primeiro contato com o objeto. Mesmo não descrevendo, gravamos essas primeiras travessias e as colocamos no

45 É possível conhecer um pouco mais sobre o termo e a ferramenta ao acessar respectivamente em: https://www.techopedia.com/definition/5393/site-map e https://obsproject.com/pt-br.

YouTube. Já as travessias que nos fizeram enxergar as camadas, são colocadas em modo de pensamento para nos guiar nas cenas de superfície. Utilizamos os colchetes e um espaçamento simples para destacá-las. As gravações dessas travessias também estão disponíveis no canal pessoal do YouTube e os links serão disponibilizados.

4.3.2 Softtellers

O softteller é inspirado na visão de Canevacci (1997) sobre Walter Benjamin que, no texto “A cidade polifônica”, o chama de cityteller e cineteller (ou narrador de cidades e narrador do cinema), criando neologismos a partir da palavra inglesa storyteller. No nosso desenho conceitual, o softteller também permite que se perca ou que se encontre nas texturas diversas do objeto e o explore por caminhos não previamente definidos, obedecendo às próprias travessias não lineares e fragmentadas do objeto.

Esse softteller que tem por característica a figura de Benjamin como um narrador de cinema coloca no mesmo plano a problematização do próprio Benjamin (1987) sobre o narrador de Nikolai Leskov. Como falado acima, o autor diz que o narrador corre risco de extinção, pois lhe falta uma qualidade básica ao narrar, a faculdade de intercambiar experiências. No nosso caso, a construção de um narrador de software que se baseia em um projeto como o Eu sou Amazônia nasce quando tais narradores começam a perceber relações mais profundas com o próprio objeto. O fato de falar da Amazônia e um dos pesquisadores ser amazônida, permite arriscar ainda mais apreensões e subjetivações sobre as experiências com o objeto.

Seguindo por tal reflexão, quando Benjamin (1987) diz que há uma natureza na narrativa que é o de passar um conhecimento prático, dizemos que agir como um softteller é agir por vezes de forma objetiva e concisa, acionando teorias, articulando metodologias, mas ao mesmo tempo deixando à mostra questões próprias das descobertas científicas. É então mostrar o que há dentro e fora de um processo de ver e narrar o objeto e ser visto e narrado por ele.

4.3.3 Sitemap

Além dessas experiências no LABTICS, entramos em contato com outro suporte de ferramenta na internet chamado sitemap46. O Sitemap é um termo que reconhece um

modelo de organização de um site projetado para facilitar mecanismos de pesquisa ao apresentar uma lista hierárquica de páginas de determinados sites.Assim, também encontramos um serviço do Google que constrói o sitemap chamado de “XML- Sitemaps”. É um serviço que permite fazer um mapa de um site de interesse do usuário e assim perceber e visualizar a estrutura geral do site. Para isso é preciso indicar para a ferramenta quais páginas (ou URLs) desejamos indexar e consequentemente armazenar nos servidores. Para esta pesquisa, utilizamos apenas a ideia do sitemap para construir o nosso, visto que não conseguimos, através da ferramenta disponível, indexar as URLs do ESA e construir um sitemap automatizado, talvez por ser um produto um pouco mais complexo e cheio de camadas. Assim, manualmente, produzimos sitemap dos temas do ESA para observar a estrutura geral do site e as características que se repetem, que obedecem a padrões ou desviam.

4.3.4 Cenas de superfície

As cenas de superfície são montagens de frames que aparecem somente no capítulo de análise das camadas. Elas são assim chamadas porque referem-se a uma montagem feita a partir das travessias com frames do empírico, em que, montados de tal modo tornam-se mais do que uma representação imagética do objeto, e sim uma cena de superfície da travessia tratada. As cenas de superfície e as outras montagens de frames demonstradas em toda a dissertação foram feitas no software de edição de imagens Photoshop, da Adobe.

Entre as cartografias e as camadas, produzimos de modo artesanal um mapa conceitual47 que nos conduziu até a expressão “cenas de superfície”. O mapa foi criado após a etapa de qualificação e foi uma tentativa de “colocar na mesa” ou tornar visíveis as possibilidades de análise. Nesse mapa, utilizamos imagens impressas do GE e do ESA para relacionar com palavras, ideias e molduras que foram se destacando em todo processo, principalmente as que emergiram das cartografias. O contorno em vermelho refere-se a uma composição de teorias acionadas durante todo o processo (lembrando que uma leva a outra) e o contorno verde agrega questões colocadas após a qualificação, possíveis eixos de análise, a ideia de cena de superfície enquanto montagem de frames do empírico que se correlacionam e as camadas de temporalidades.

47 Abordamos esse aspecto aqui e o ilustramos com a foto com o objetivo de deixar à mostra etapas dos

bastidores da pesquisa. Mesmo que a imagem não reproduza de modo legível o que está disposto no mapa, incluímos aqui para tornar possível a visualização do processo.

Figura 18: Mapa conceitual criado de forma artesanal para explorar o empírico

Fonte: Elaborado pela autora

Diante dessas perspectivas sobre as metodologias e procedimentos utilizados, na tentativa de abrir o objeto para entender seus mecanismos e funcionalidades, tal como seus territórios e conteúdos expostos e escondidos, demonstramos com duas cartografias, ao longo do próximo tópico, as formas de se chegar até o objeto e a visualização das páginas de um tema do ESA, baseado nas disposições do tipo sitemap.

5. TRAVESSIAS CARTOGRÁFICAS: PRIMEIRAS ANÁLISES SOBRE O