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Moldura mapa audiovisualizado e as audiovisualidades no ESA e GE

5. TRAVESSIAS CARTOGRÁFICAS: PRIMEIRAS ANÁLISES SOBRE O OBJETO

6.1 A Amazônia Audiovisualizada

6.1.6 Moldura mapa audiovisualizado e as audiovisualidades no ESA e GE

[Travessia 565: Esta travessia é uma consequência das descobertas ao fazermos as cartografias. Em um dado momento no Laboratório de travessias, decidimos reproduzir um dos vídeos do tema “Eu sou Alimento”, deixando-o no canto superior direito, sem colocá-lo em tela cheia. Nesse ponto, pensávamos nas possíveis montagens espaciais que o empírico proporciona e que nós, enquanto usuários, podemos ‘programar’. Assim, largamos o mouse e ficamos vendo o vídeo na “sua janela”. A partir daí percebemos que o mapa se movimentava e se direcionava para um local em que era descrito por um entrevistado no vídeo sem a interferência do usuário. Essa se tornou uma descoberta que nos incitou várias reflexões sobre a atualização da moldura mapa no território de um software de geolocalização e sua relação com as audiovisualidades. Por isso, vamos explorálas a seguir, pensando em uma Amazônia que se audiovisualiza com texturas imagéticas distintas.]

A figura a seguir, demonstra uma das molduras mapas audiovisualizados encontrados no ESA. Encontramos mais de um no tema “Eu sou alimento”, mas escolhemos um para a cena de superfície e decidimos refletir sobre ele. Observe a cena de superfície a seguir:

Figura 37: Cena de superfície de um mapa audiovisualizado no "Eu sou alimento"

Fonte: Elaborado pela autora: https://bit.ly/2Zib4MH.

Os frames correspondem ao mapa audivisualizado ligado ao vídeo “Gastronomia na Amazônia: o uso dos produtos da floresta”. Como falamos anteriormente, ao reproduzirmos o vídeo que está no canto superior direito, vimos o mapa se mover e criar outras imagens. O frame b representa a página com uma configuração “inicial”, o mapa mostra a demarcação da Amazônia brasileira, tal qual na primeira tela tripartite do ESA, que exibe todos os temas. Enquanto o vídeo é reproduzido, ouvimos a voz do chefe de cozinha paraense Thiago Castanho e o vemos preparando comidas regionais. Quando o chefe fala de suas origens, de onde seus pais vieram, começamos a perceber o mapa se mover. O frame c demonstra o mapa em zoom in, parecendo se aproximar do estado do Pará, referindo-se ao lugar que o chefe mencionou. O mapa do frame c nos leva para o mercado “Ver-o-peso”, quando Thiago Castanho fala da presença da gastronomia na vida dos paraenses e, ainda, que o tradicional mercado é o principal fornecedor de frutas, temperos e outros alimentos regionais. Thiago Castanho, em sua fala, lembra que, há alguns anos, buscou um chocolate próprio da Amazônia. Nesse momento, a imagem de Thiago em primeiro plano desaparece e imagens em plano aberto do rio e de uma plantação de cacau toma conta do vídeo. Em seguida, Dona Nena, idealizadora do empreendimento “Filhas do Combu” – empreendimento no qual se faz chocolate com cacau extraído de uma ilha, próxima de Belém, chamada Combu - aparece em primeiro plano falando de seu empreendimento. Chegamos então nos frames e e f, que apresentam um movimento de acordo com a fala de Dona Nena. As imagens do mapa e do vídeo

(a) (b)

(d) (e)

(c)

entram em sincronia por alguns segundos, vemos o rio que ladeia a floresta pela perspectiva do mapa, de cima, e pela perspectiva da câmera, na altura dos olhos, com as imagens do mesmo lugar.

É importante ressaltar que, na maioria das vezes, a cada passo que damos no ESA, saindo de uma página para outra, no mesmo tema, o mapa que está no centro faz algum movimento, isto é, ele nos conduz para alguma região da Amazônia ou ilustra, com animações, o assunto tratado na tela tripartite, que são acionados pelos ícones presentes66. Assim, o mapa está sempre presente na interface, modificando o visual da montagem espacial da tela.

Chamar esse estilo de mapa de mapa audiovisualizado nos incita reflexões que vão em direção ao passado, isto é, a uma concepção anterior de mapa. Sua essência é visual, suas formas gráficas desde as primeiras tentativas de enxergar o mundo enquanto território explorável apontavam para uma reprodução material de acordo com a respectiviva tecnocultura. E a tecnocultura contemporânea nos traz um modo de mapear o mundo a partir de produtos audiovisuais, como Google Maps e o Google Earth, entre outros. É possível dizer que o Google Maps demonstra configurações audiovisuais, quando nos indica dobrar à esquerda ou seguir adiante, pela voz da assistente e por mudanças visuais. O Google Earth é audiovisual e do campo das audiovisualidades, por outros mecanismos, mas principalmente, quando envolve movimentos programados que não dependem do usuário, que correspondem diretamente ao conteúdo do vídeo. O mapa audiovisualizado, como trabalhado na cena de superfície desta travessia, é parte das audiovisualidades do GE, mas se destaca por suas particularidades, que é o de estar conectado a outro produto audiovisual, revelando estruturas que parecem responder aos desenhos sonoros dos vídeos. Ainda assim, o mapa audiovisualizado é mapa, é o “território” amazônico pelo motivo de podermos enxergar uma representação geográfica em escala da região.

Nesse sentido, essa discussão nos conduz para as audiovisualidades presentes no ESA e GE. Quando falamos das audiovisualidades, destacamos as várias naturezas de imagens e sons exploradas, e capazes de existir na interface do GE. A discussão das audiovisualidades aqui se faz importante para compreender que, mesmo encontrando do audiovisual tradicional ao audiovisual de interface no ESA, percebemos os aspectos das audiovisualidades presentes em todo GE. Desde que entramos no software e ao sairmos,

após passar pelo ESA, nos deparamos com um produto que expandiu sua interface para outros níveis de experiência audiovisual, como mapa, vídeo, coleção de imagens, banco de dados e podcast. O ESA é um exemplo desse propósito, e mantém em si a potência de várias mídias e experiências audiovisuais coexistindo em seus temas, sendo assim um produto que explora uma narratividade softwarizada.

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Com esta camada, recolhemos indícios de como a Amazônia é um ambiente fértil para ser audiovisualizada. Isso é reiterado pelas imagens de arquivo reunidas e colocadas à disposição do usuário em um ambiente online, ou por um investimento em uma produção cinematográfica realizada pelo diretor Fernando Meireles e outros parceiros, com possíveis altos custos de produção, percebidos pelo teor das imagens e locações. A Amazônia inventada historicamente e resgatada no audiovisual não é um movimento estritamente atual. No entanto, os materiais de diferentes formatos (mapa, fotografias, dossiês, vídeos, depoimentos, enfim, um banco de dados sobre a memória da Amazônia na interface Google Earth), ao estarem disponíveis em um só lugar e online, torna-se um modo potente para o campo das audiovisualidades fazerem a memória da Amazônia durar. É o que se pode ver no capítulo 2, com os aspectos visuais e discursivos da Amazônia, atualizados no audiovisual brasileiro, assim como nas travessias cartográficas e percebido de modo aprofundado nas molduras e imagens técnicas do ESA, nesta camada.

O primeiro impacto que temos é o das imagens junto ao lettering nos dizendo que “somos” a Amazônia. Além de sermos a ideia (marca) Amazônia, trazemos essa ideia também em cada abordagem sobre a Amazônia nos temas: alimento, água, inovação, resistência. Percebemos na natureza gráfica do ESA tendo vestígios de grafismo indígenas, vemos também que personagens do ESA são personalidades midiáticas durando no imaginário sobre a Amazônia. Entramos em contato cada vez mais com um banco de dados que parecem ser encontrados (ou pelo menos reunidos) apenas naquele ambiente. E a partir de tudo, compreendemos que o que emoldura esses sentidos - essa ideia de que estamos em um ambiente em que a Amazônia está sendo audiovisualizada, ao mesmo tempo de modo atualizado e novo - é a própria condição de narratividade não

linear, com hiperlinks, arquivos e banco de dados reunidos, que o software e sua interface oferecem.

São ambientes diversos, onde a própria possibilidade de não apenas trazer um vídeo com 'personalidades" da Amazônia, mas também de fornecer montagens espaço- temporais com o mapa/imagem/texto dentro daquele ambiente. Isto é, conseguimos ser Amazônia, descobrirmos nossa conexão ao 'viajar' pelo software e nos tornamos parte de uma lógica de dado do Google Earth/Google. Daí o sentido de as camadas que pensamos estarem interligadas: a Amazônia audiovisualizada com o Eu sou Amazônia nos leva para a interface do Google Earth, um projeto consolidado pelo Google.