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O audiovisual de interface e a imagem-interface

5. TRAVESSIAS CARTOGRÁFICAS: PRIMEIRAS ANÁLISES SOBRE O OBJETO

6.2 Soft reader na Interface: adentrando no entre lugar

6.2.4 O audiovisual de interface e a imagem-interface

[Travessia 971: A seguinte travessia se realizou de modo mais fluido que as outras. Ela foi acontecendo sem que estivéssemos observando algo em particular para alguma das camadas. Mas quando percebemos, estávamos diante de um dado diferente do que tínhamos até então. Sabíamos que o ESA enquanto produto do GE se expande através de banco de dados, mas víamos os bancos de dados agirem na forma de hipertexto e

70 Há um grupo no Facebook chamado Glitch Artists Collective em que vários artistas digitais e não artistas

produzem imagens e vídeos com efeito glitch e compartilham com os demais. Para acessar o link: https://www.facebook.com/groups/Glitchcollective/permalink/2456585754462962/. Último acesso em: 20 de dezembro de 2019.

71 É possível acessar a travessia no link: https://youtu.be/tLSxTTCKeTc. Último acesso em 12 de janeiro

fotografia (como tratado anteriormente). No momento desta travessia, entramos no tema “Eu sou resiliência” para observar os conteúdos daquele ambiente e nos deparamos com trailers de curtas e documentários que não eram produções do Google Earth e, ainda, com formato em 360°. Começamos a nos indagar quais as especificidades de se produzir informações para alguns temas e em outros utilizarem conteúdos de parceiros. Assim, nas reflexões a seguir mostramos um pouco do que encontramos nessa travessia.]

Seguindo com a reflexão sobre haver uma tendência banco de dados no ESA e GE, tivemos contato, nesta travessia, com montagens de outros produtos audiovisuais nas páginas do ESA, que mudavam a percepção da moldura interface. São conteúdos com estéticas e propostas visuais diferentes, habitando as camadas do ESA, GE e dos ambientes do Google, que nos fez prestar atenção em outras potências de narratividade softwarizada. Observe a cena a seguir:

Figura 41: Cenas de superfície de um vídeo em 360°, produzido por parceiros do GE

Fonte: Elaborado pela autora: https://bit.ly/2Zib4MH.

A cena de superfície da figura 41 começa com a imagem de abertura do tema “Eu sou resiliência”, a qual não corresponde a uma tela tripartite72 e, sim, a uma espécie de cartaz, que traz uma foto com árvores queimando e um indígena que tenta apagar o fogo.

72 Vimos no sitemap que em alguns temas passamos primeiro por um cartaz e depois seguimos para a tela

tripartite.

(a)

(e)

(c)

(b)

(d)

(g)

(i)

(f)

(h)

O texto do cartaz indica: “Xingu sob pressão”, acompanhado de um trecho que fala sobre mudanças ambientais e as consequências para os povos indígenas e florestas do Xingu; em destaque, num retângulo azul, temos: “Comece a explorar”. Ao seguirmos pelo tema, adentramos na tela tripartite (frame b), mas não ficamos na página 1, decidimos ir para a 4 de 6. Quando acionamos o vídeo presente no canto superior direito, vimos a janela do YouTube se sobrepor e surgir como se estivesse carregando o conteúdo do vídeo, como o frame c nos mostra. Nos frames d, e, f, g, h e i temos imagens do documentário “Fogo na floresta”, produzido em 360°, no qual fizemos experimentações como, além de enquadrar os principais personagens da obra, enquadramos o céu, o chão e recortamos o enquadramento ‘oficial’ dos créditos.

O vídeo com formato em 360°, produzido em realidade virtual, corresponde a um documentário de curta-metragem que aborda a vida do povo Waurá, uma etnia indígena de 560 pessoas, que vive no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. O povo da etnia Waurá tenta trazer a tecnologia para suas práticas culturais. Assim, o curta além de trazer tais questões do cotidiano desse povo, foca em como as mudanças climáticas se tornaram uma ameaça para a sua existência.

Esse vídeo nos trouxe primeiro uma reflexão sobre existir um padrão estético nos vídeos que foram feitos pela produtora O2 filmes, os quais são a o perfil visual do ESA e que, portanto, são diferentes desses vídeos de parceiros. Segundo, o vídeo em 360°, enquanto formato, reforça a ideia de audivisualizar a Amazônia apresentando experiências diversas em torno das audiovisualidades, mas também é uma forma de nos levar ainda mais a fundo nessa experiência, com a ‘ausência’ de interface. Ou seja, a nossa leitura da interface do GE e ESA, nos leva a reflexões sobre haver estratégias existentes que fazem ela “desaparecer” e nos inserir em um universo, no qual podemos “nos mover” em 360°, por exemplo.

É também uma tentativa de quebrar uma expectativa do usuário que passa um tempo na tela tripartite e quando vai para outro tema, parece estar em uma sala com janelas diferentes. A investida em um vídeo em 360°, em que podemos manipular ou brincar com a imagem, da forma como fizemos, deixando o vídeo fluir com o enquadramento voltado para o chão ou para o céu e perceber que é uma experiência de composição e montagem espaço/temporal, nos leva para a característica do próprio mapa que está sempre ali, presente, nos esperando para ser explorado por diferentes direções. Podemos dizer assim que tais imagens fazem parte de um audiovisual de interface

(MONTAÑO, 2015), no qual se percebe diferentes temporalidades (o tempo do usuário, o tempo do produto, o tempo do software).

Assim, podemos pensar no contemporâneo como um audiovisual de interface, isto é, um ambiente no qual diversos fluxos se encontram e onde a irreversibilidade de todas as imagens anteriores a ele se reverte e as imagens se tornam dados a serem usados inúmeras vezes. Trata-se de uma imagem-interface, que se modifica radicalmente com a presença e a intervenção do usuário (MONTAÑO, 2015, p. 5).

Essa nossa experiência com as travessias, de levar a uma extensa audiovisualização da Amazônia, demonstra a importância de enxergar muitas imagens, de diferentes formatos e qualidades técnicas em combinação com os sentidos geográficos (mapas, globos), compreendendo que há uma ponte entre essa Amazônia e o software Google Earth. E essa ponte é mediada pela imagem-interface (ARANTES, 2015), que coloca tudo em rotação permanente, tornando-se um lugar de fluxo e de encadeamento de ações pelo usuário. Assim, desde que saímos da imagem-interface do GE, passamos para as montagens do ESA e chegamos na tela do vídeo, que demonstra a interface da moldura YouTube (que é Google), mantemos o impulso de intervir na imagem, de desafiar suas dimensões, de encontrar um ângulo de visão inusitado e de criar diferentes experiências de imagem-interface.

Ao contrário do que estamos percebendo como um modo de imersão no ESA, com uma certa tentativa de apagamento da interface (EMERSON, 2014), a seguir, trazemos a presença dela por meio de uma miríade de ícones presentes tanto no GE, quanto no ESA. Acompanhe a travessia a seguir.