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4.3 Contexto e desenho metodológico da pesquisa

4.3.1 Contextos da pesquisa e participantes

Desenvolvemos o presente estudo no âmbito das práticas formativas de professores de inglês que se realizam no curso de Letras diurno em habilitação dupla (Português/Inglês) na UPL, abrangendo em nossa investigação um contexto ao qual essas práticas formativas podem se estender, o curso básico de língua inglesa ofertado pela ELI. É pertinente, portanto, apresentar algumas informações sobre esses contextos nos quais a investigação está situada.

O curso de Letras da UPL em habilitação dupla – Licenciatura em Língua Portuguesa e Língua Inglesa e Respectivas Literaturas – é de funcionamento diurno e encontra-se estruturado em dez semestres letivos – conforme as Resoluções e Pareceres que regulamentam a matéria95 – perfazendo a carga horária mínima de 2800 horas96, distribuídas entre: 1800 horas/aula de disciplinas científico-culturais; 400 horas de estágio supervisionado, a partir da segunda metade do curso; 400 horas de prática como componente curricular, ao longo do curso; e 200 horas de atividades pedagógicas complementares.

94 Tradução nossa do original: “By comparing different sources of data, it was also possible to check the reliability of the data; we refer to this as the triangulation of data from different sources” (BARTON e HAMILTON, 1998, p. 71). Os grifos são dos autores.

95 Resolução CNE/CP2 de 19/02/2002, que institui a duração e a carga horária dos Cursos de Licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior; Resolução CNE/CP1 de 18/02/2002, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em nível superior, Curso de Licenciatura, de graduação plena;

Resolução CNE/CES 18, de 13/03/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de Letras; e

Parecer do CNE/CP28, de 18/01/2002, que trata, entre outros assuntos, da concepção de Prática como Componente Curricular e de Estágio Supervisionado.

96 Conforme o projeto político-pedagógico do Curso de Letras em habilitação dupla, revisado em maio de 2007.

A formação docente no curso de Letras culmina no estágio supervisionado de prática de ensino, desenvolvido na disciplina Estágio II em Ensino de Língua Inglesa. O estágio supervisionado de prática de ensino em língua inglesa é realizado no último semestre letivo do curso, ou seja, no décimo semestre, e tem como um dos seus pré- requisitos a realização da disciplina Estágio I: Fundamentos Teóricos para o Ensino de Língua Inglesa. Conforme o projeto político-pedagógico do curso, a disciplina Estágio II em Ensino de Língua Inglesa consiste na prática “didático-pedagógica com base em métodos e técnicas específicas utilizadas no ensino de inglês como língua estrangeira para o desenvolvimento das habilidades de compreensão e expressão oral e escrita”97.

O estágio supervisionado de prática de ensino no curso de Letras, de acordo com a regulamentação vigente98, é realizado de forma a promover a integração entre teoria e prática tendo em vista a preparação para o trabalho docente. Em conformidade com os dispositivos legais vigentes e com o projeto político-pedagógico do curso de Letras da UPL, as atividades de prática de ensino referentes aos estágios supervisionados do curso de Letras são desenvolvidas mediante acompanhamento dos responsáveis pelo estágio no curso de Letras e dos professores-tutores nas salas de aula da escola na qual o estágio é realizado. Nesse sentido, o estágio curricular supervisionado implica “uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um aluno estagiário”99. Ainda no que concerne aos documentos oficiais, no âmbito da UPL, a Resolução número 32, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), de 30 de outubro de 2009, estipula que os setores acadêmicos da Universidade “poderão receber estudantes para vivências curriculares (como estágio obrigatório e não obrigatório)” (p.4) e que o desenvolvimento do estágio curricular supervisionado será “acompanhado por um(a) professor(a)- orientador(a)/supervisor(a) da Unidade Acadêmica, que orientará e avaliará o(a) estudante-estagiário(a)” (p.2).

Entendemos, conforme argumentamos anteriormente (ver Seção 4.1.1.2), que a ELI, sem prejuízo de outras instituições de ensino, constitui-se como um legítimo campo para o desenvolvimento dos estágios curriculares dos alunos e alunas de Letras da UPL. Considerando que a ELI faz parte das atividades de extensão da

97 Projeto político-pedagógico do Curso de Letras em habilitação dupla (p. 41). 98 LDB/1996, Lei 11.788/2008, Resolução CNE/CP N.º 1/2002.

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Universidade100, das quais se exige a geração de oportunidades de treinamento e estágio para os alunos e alunas da UPL101, e sendo formalmente reconhecida como campo de estágio de prática de ensino do curso de Letras102, ponderamos que a ELI pode ser compreendida, entre outras atribuições, como um espaço para o fomento dos estágios supervisionados. Nesse sentido, a adequação e a relevância das ações de extensão desenvolvidas na ELI, em que se propicia ambiente para a realização dos estágios supervisionados dos alunos e alunas de Letras da UPL, são ratificadas pela Resolução número 04 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), de 27 de fevereiro de 2014. Essa Resolução considera que as atividades extensionistas na UPL, incluindo a formação docente no elenco das áreas temáticas e das linhas de extensão, “têm como objetivo primordial promover uma relação mutuamente transformadora entre a universidade e a sociedade” (p.1), constituindo como uma das diretrizes para orientar a “formulação, execução e avaliação” (p.1) dessas atividades, “o impacto na formação do estudante e na transformação social” (p.1). Nessa perspectiva, a ELI configura-se como um espaço no qual o exame das perspectivas de letramento no contexto da formação de professores pode gerar conhecimento sobre algumas das orientações que têm sido seguidas na prática formativa e na docência em língua inglesa na Universidade, ensejando o debate sobre a prática de letramento docente socialmente situada. Buscamos, portanto, desenvolver a nossa percepção do letramento de professores de inglês em formação na UPL pela investigação e análise de eventos realizados nos estágios supervisionados, em um contexto de ensino e aprendizagem de língua estrangeira que se encontra institucionalmente situado nos estágios curriculares do curso de Letras. Daí o porquê da escolha que fizemos ao situar o contexto da nossa investigação nas salas de aula da ELI, considerando também, em segundo plano, o fato de termos encontrado uma ampla mobilidade investigativa naquele ambiente, compreendido, neste estudo, como um contexto social de prática de letramento docente para o enfoque da pesquisa. Podemos considerar, outrossim, que a escolha desse contexto para a investigação – delimitando o enfoque a um dos locais onde os estágios curriculares supervisionados de Letras podem ser realizados, o que também ocorre pelo fato de que não seria possível abranger na pesquisa todos os contextos de realização dos estágios supervisionados – encontra justificativa na tradição que tem envolvido os

100 Conforme Resolução CEPE N.º 06/1989. 101 Conforme Resolução CEPE N.º 20/1992. 102

estágios dos alunos da UPL na ELI. Como já foi mencionado, ao longo de anos, conforme as Resoluções relativas aos estágios na Universidade, as atividades supervisionadas dos alunos e alunas de Letras da UPL têm sido institucionalmente direcionadas às salas de aula da ELI, gerando uma parceria mantida por décadas entre essas unidades acadêmicas. Além disso, deve-se também considerar o fato de que muitos dos alunos e alunas do curso de Letras – como pudemos perceber durante o nosso contato com os participantes da pesquisa, no campo de investigação – têm em vista a preparação para o trabalho docente em contextos de ensino de escolas de línguas, cuja realidade didático-pedagógica se assemelha à da ELI. Dessa forma, o contexto da investigação possibilita que sejam compreendidas perspectivas de letramento na concepção e no desenvolvimento do estágio como uma das etapas da prática formativa de professores de língua estrangeira. Como afirma Blommaert (2005, p. 66), "as concepções do contexto podem ser cruciais na medida em que (...) são vistas como condições para a produção do discurso e para o seu exame, tanto em uma perspectiva leiga quanto profissional"103. A natureza situada do contexto viabiliza a investigação do letramento com base nas práticas sociais ocorrentes e, dessa forma, compreendemos que o contexto da ELI propicia uma significativa representação das perspectivas dos participantes sobre o fenômeno em estudo, levando em conta as escolhas que têm sido feitas nas práticas formativas dos alunos e alunas de Letras da UPL. A seguir, consideramos necessário apresentar algumas informações sobre o contexto do curso básico de língua inglesa da ELI e sobre a operacionalização das atividades relativas aos estágios curriculares supervisionados nesse contexto.

O curso básico de língua inglesa da ELI é organizado em uma estrutura de sete semestres letivos de 60 horas/aula cada. O curso funciona tanto no período diurno quanto noturno e as aulas são ministradas em turmas de horários diários – de segunda a quinta-feira, com duração de 50 minutos cada – e em turmas de horários geminados – em dois dias da semana, com duração de uma hora e quarenta minutos cada. Atualmente, a maior parte da oferta de turmas na ELI está concentrada nos horários geminados, devido à demanda que tem sido feita pelos alunos e alunas da instituição.

103 Tradução nossa do original: “Conceptions of context can be critical to the extent that, (…), they are seen as conditions for discourse production and for looking at discourse, both from lay and professional perspectives” (BLOMMAERT, 2005, p. 66).

O público-alvo do curso de língua inglesa da ELI é composto por alunos e alunas que tenham concluído, no mínimo, o Ensino Fundamental. Esse critério de seleção estipula uma idade mínima para o ingresso no curso básico de língua inglesa ofertado pela ELI. Há, contudo, a possibilidade da formação de grupos bastante heterogêneos, podendo haver em uma mesma sala de aula pessoas que estão no Ensino Médio, em programas de graduação ou de pós-graduação, bem como em outros programas de ensino. Dessa forma, é possível que os alunos e alunas do curso de Letras da UPL que realizam seus estágios de prática docente na ELI já tenham estudado na ELI e, portanto, tenham tido experiências discentes com as abordagens e técnicas de ensino adotadas naquela escola de língua estrangeira.

Os docentes da ELI são admitidos via concurso público e devem ter, necessariamente, o nível mínimo de graduados em Letras com habilitação na língua inglesa. O atual quadro docente é constituído em sua maioria por professores que têm a titulação de Mestre em Letras ou Linguística, três dos quais são Doutores, e alguns outros estão em curso de doutoramento. Em tese, todos os professores contratados em caráter efetivo na ELI podem disponibilizar, de forma voluntária e mediante consulta feita pela coordenação da ELI, os espaços das suas salas de aula para a realização dos estágios supervisionados dos alunos e alunas do curso de Letras. Os professores e professoras que aceitam participar das atividades relacionadas aos estágios supervisionados possibilitam as observações de suas aulas – no estágio de observação – e podem também assumir – em parceria com os professores ou professoras do curso de Letras – o acompanhamento das atividades de ensino desenvolvidas pelos professores em formação, durante os estágios de regência.

Para a realização do estágio de observação, os professores e professoras da ELI são consultados pela coordenação da escola sobre a possibilidade de permitirem o acesso dos alunos e alunas de Letras às suas salas de aula. Há casos nos quais o(a) mesmo(a) professor(a) aceita ter a sua aula observada por dois alunos ou alunas – ou até mais – no mesmo semestre letivo, o que geralmente ocorre em períodos alternados. Isso, às vezes, acontece devido ao reduzido número de professores e professoras da ELI que aceitam ter as suas práticas docentes observadas pelos professores em formação. No que concerne ao estágio de regência, uma vez que a demanda de alunos e alunas de Letras que tencionam realizar os seus estágios na ELI é geralmente maior que a oferta de vagas para esses estágios, tem sido adotado um procedimento de seleção dos alunos e alunas

que são encaminhados pelo curso de Letras, com vistas à realização do estágio supervisionado de prática de ensino naquela escola. Consequentemente, em função desse procedimento, os alunos e alunas que estagiam na ELI são aqueles que, de um modo geral, apresentam os melhores perfis nos aspectos linguísticos e acadêmicos.

Comumente, embora não haja uma regra que determine a adoção desse procedimento, os estágios supervisionados de prática de ensino dos alunos e alunas de Letras realizados na ELI são conduzidos em turmas de níveis iniciantes no curso de língua inglesa, concentrando-se entre as turmas de primeiro a terceiro semestres do curso básico. As turmas nas quais se realizam os estágios de prática docente são cadastradas no nome do(a) professor(a) da ELI, formalmente responsável pelas disciplinas, e a regência das atividades de ensino fica sob a responsabilidade do(a) professor(a) em formação que ministra aulas de língua inglesa durante o período do seu estágio supervisionado – que pode ser de 30 ou 60 horas-aula, desenvolvidas ao longo do semestre letivo e conforme o que estabelece o projeto político-pedagógico do curso de Letras – com o acompanhamento e a tutoria do(a) professor(a) da escola, bem como do(a) professor(a) do Curso de Letras.

Nesse contexto, os estágios de regência desenvolvidos na ELI adequam-se à realidade didático-pedagógica vivenciada na escola, que é orientada pelo programa apresentado no material didático adotado. No curso básico de língua inglesa da ELI, adota-se a série ‘English File’, publicada pela Oxford University Press. Essa série, que vem sendo utilizada na ELI há mais de uma década, passou por uma recente reformulação e encontra-se atualmente em sua terceira edição. Trata-se de um material que enfoca habilidades orais e escritas, tendo em vista o treino para a efetiva comunicação na língua estrangeira em contextos diversos. Para atingir o objetivo comunicativo que é proposto nesse livro de curso, são empregados exercícios graduados que dividem o enfoque entre a compreensão auditiva, a prática de produção oral, a leitura e a produção de textos. As tarefas propostas nos três volumes da série que são adotados no curso básico da ELI – a saber, os volumes intitulados ‘Elementary’, ‘Pre- Intermediate’ e ‘Intermediate’ – tencionam promover o desenvolvimento de habilidades linguísticas, tomando por base os aspectos formais da língua estrangeira, situadas nos modelos de prática e de interação sugeridos nas unidades do curso. Como fonte de apoio didático, a série ‘English File’ disponibiliza para cada volume um manual do professor, que apresenta instruções e sugestões de procedimentos para a execução da aula em cada

unidade do curso, além de uma página eletrônica na internet na qual são disponibilizados recursos adicionais de ensino. Aos aprendizes, o material didático disponibiliza, para cada livro da série, mídias digitais em CD e DVDRom contendo passagens de áudio, vídeos e exercícios complementares para a prática e consolidação dos conteúdos ministrados em sala de aula. Há, também, a página eletrônica da série ‘English File’ na internet na qual os alunos e alunas encontram exercícios relacionados aos conteúdos gramaticais, vocabulário, pronúncia, bem como jogos e sugestões de outros endereços eletrônicos para a leitura de textos.

Situamos a presente investigação nesse contexto, buscando compreender as perspectivas de letramento de professores de inglês em formação no curso de Letras da UPL, com enfoque nos estágios curriculares supervisionados desenvolvidos na ELI. A seguir, apresentamos as informações referentes aos instrumentos adotados na geração de dados nesse estudo.