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Continuidade do desafio: o programa Ler e Escrever

Ainda em 2007, com o lançamento do Plano Estadual de Educação do estado de São Paulo, as metas do programa foram ampliadas. De acordo com informações do sítio da SEE/SP, traçaram-se dez metas até 2010, dentre as quais, a primeira é ter “todos os alunos de 8 anos plenamente alfabetizados” (São Paulo, 2007b).

Essa proposição de alfabetizar todos os alunos até o final da 2ª série e melhorar a aprendizagem de leitura e escrita dos estudantes nas demais séries do Ciclo I do Ensino Fundamental, aumentando em 10% os resultados de desempenho nas avaliações nacionais e estaduais, foi acompanhada da reorientação do programa de formação concebido para professores alfabetizadores.

Para cumprir a meta, introduziu-se o programa Ler e Escrever: Prioridade de Escola, com foco na formação dos professores coordenadores, diretores, ATPs e supervisores de ensino.

Uma das mudanças foi o envolvimento desses gestores nas discussões relacionadas à alfabetização, bem como no acompanhamento dos resultados da escola no tocante à alfabetização dos alunos. Para a formação desses agentes, ampliou-se a estrutura do Programa: no nível central (SEE/Cenp), continuaram atuando os formadores centrais sob a supervisão da consultora. Para a aplicação do programa em nível local, envolveram-se as DEs e as secretarias municipais.8

8 Vale esclarecer que a cidade de São Paulo, por meio da SME e da DOT, também já havia implementado nas

escolas de rede municipal o programa Ler e Escrever com pequenas mudanças em relação ao programa estadual. De todo modo, conforme informações disponíveis no sítio da SME, “O programa contempla três projetos: Toda

Nas palavras da Consultora da SEE/SP:

O programa Ler e Escrever está centrado em dar ao diretor, ao supervisor e ao coordenador pedagógico condições de dirigir, supervisionar e coordenar a unidade escolar. Quer dizer que o foco se deslocou de uma formação geral para todos os professores, porque, sem essa formação básica, não dá para você querer que eles tenham coerência nas ações dentro da unidade escolar. Não que a gente tenha garantido isso. Você não garante, mas você ofereceu. Por hipótese, as pessoas, se quiserem, poderão usar. Porque ninguém consegue fazer com que outra pessoa faça as coisas, a não ser de acordo com o que ela acha que deva fazer. E o nosso sistema público, é... O poder dentro da escola pública não é como na escola privada, em que o diretor manda no coordenador e o coordenador manda nos professores... Manda entre aspas, aí. Ele tem um poder profissional sobre o trabalho do outro. Na rede, não é assim. Então, o que o Ler e Escrever está tentando fazer agora é convencer o diretor, o supervisor e o coordenador de que a qualidade do trabalho feito na escola pode melhorar se eles focarem nos resultados, a partir da análise do material do Saresp (Consultora da SEE/SP, Apêndice B).

O Ler e Escrever se desmembrou em alguns projetos: Ler e Escrever na 1ª série do Ciclo I, Ler e Escrever na 2ª série do Ciclo I, Projeto Intensivo no Ciclo (PIC) – 3ª série e 4ª série. Cada um desses projetos tem diversas etapas e engloba ações de caráter geral, que valem para todos, e ações de caráter específico de cada um. As ações globais são:

a) Formação do trio gestor (supervisores, diretores, ATP);

b) Formação do professor coordenador, responsável pelo Ciclo I, promovida pela Cenp/FDE e pelas diretorias de ensino;

c) Acompanhamento pelos dirigentes de ensino, realizada por meio de reuniões periódicas para o levantamento das dificuldades e avanços na implantação do programa;

d) Formação do professor regente, articulada à sua prática e realizada pelo professor coordenador, que passará a acompanhar as aulas e planejar reuniões de estudo e discussão no HTPC;

e) Publicação e distribuição de material de apoio à sala de aula;

f) Estabelecimento de critérios diferenciados para regência das turmas que participaram dos projetos (São Paulo, 2007, p. 23).

Isso não significa que o Letra e Vida tenha sofrido descontinuidade. Na verdade, houve grupos de formação do programa em 2007 e 2008, sobretudo nas cidades da região RM, com exceção da capital, e no interior do estado:

Agora, o desenho é diferente. O Letra e Vida continua em muitas diretorias, e a gente está fazendo cada vez mais um esforço para que eles continuem montando grupos de estudo do Letra e Vida. Porque o que a gente percebe [é] que o Ler e Escrever funciona n vezes melhor em lugares onde teve o Letra e Vida antes. Se você já fez o Letra e Vida, você entra no Ler e

Força ao 1º ano, Projeto Intensivo no Ciclo I – PIC e Ler e Escrever em todas as áreas no Ciclo II. Para alcançar o principal objetivo do Toda Força – criar condições adequadas de aprendizagem da leitura e escrita para todos

os alunos ao final do 1º ano do Ciclo I –, a DOT/SME colocará junto a cada professor do 1o ano um auxiliar,

estudante de Pedagogia, para ajudar o professor na alfabetização. O PIC vai reorganizar a estrutura e funcionamento das classes do 4º ano no Ciclo I.[...] O projeto Ler e Escrever em todas as áreas do Ciclo II prevê que os professores de todas as áreas abordem as práticas de leitura e escrita, comprometendo-se com um melhor desempenho de seus alunos na produção de textos e na compreensão do que lêem” (São Paulo, 2006).

Escrever com muito mais facilidade, porque você tem uma base, você tem um conhecimento prévio que te ajuda. Agora, [para] os que estão vendo as coisas agora, o Ler e Escrever é muito mais difícil. Então, a ideia é que as diretorias mantenham grupos do Letra e Vida direto com para os professores, e o desenho do Ler e Escrever é completamente outro (coordenadora pedagógica do Programa na FDE, Apêndice C).

Segundo a supervisora do programa, a permanência do Letra e Vida é uma realidade nos municípios do interior do estado, onde o Ler e Escrever ainda não havia sido implementado. Para ela, esse “desdobramento” do programa no interior propiciaria uma supervisão do trabalho das escolas que se refletiria nos resultados obtidos:

Consultora: E como [o curso] se desdobrou? [...] Então, no interior, nós

temos o Letra e Vida, que dura um ano e meio, mais ou menos, e o Letra e Vida em Continuidade, que aí é outro tipo de trabalho. [...] Há grupos que já estão há três anos ou mais no Letra e Vida em Continuidade, e isso inclui os municípios. Porque aí se organizou uma sistemática que liga diretorias com os municípios próximos e se montam polos – é comum. O Letra e Vida em Continuidade filma atividades em sala de aula e se toma um tópico, um tema. Aí, um grupo pequeno de formadores trabalha com alguns professores, grava na sala de aula – que a gente chama de tematização da prática –, e aí vai para o grupo geral, e se aprofundam as questões da prática pedagógica.

Pesquisadora: Esse grupo de formadores é aquele grupo local...

Consultora: De formadores locais que está sendo formado com o Letra e

Vida. [É] por isso que no interior está funcionando muito melhor: porque eles continuaram, porque eles tiveram aprofundamento, porque eles tiveram uma supervisão. Uma supervisão de primeiríssima. Porque não é uma supervisão no vácuo, é uma supervisão em cima de documentação de sala de aula (Consultora da SEE/SP, Apêndice B).

Contudo, ela explica que, apesar de a continuidade ter sido sempre uma hipótese de trabalho, não foi formalizada, visto que exigiria tempo “que os governos normalmente não têm, pois muitas vezes o tempo da política é diferente do tempo da formação para a obtenção dos resultados”(Consultora da SEE/SP, Apêndice B).

Finalmente, esclarece que, embora os resultados da Coordenadoria de Ensino do Interior (CEI) sejam melhores do que os da Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo (Cogesp), não é possível fazer um estudo rigoroso para saber os impactos do programa sobre eles, visto que diversos municípios que fazem o trabalho de acompanhamento sofreram processo de municipalização e inclusive deixaram de participar da avaliação estadual.

Entretanto, a consultora da SEE/SP acredita que a continuidade do Letra e Vida original deve ser repensada, pois novos professores ingressam constantemente na rede, e seria coerente que passassem por essa formação:

[...] o Letra e Vida não deixou de existir, porque continua no interior e vai ter que voltar aqui para a capital, porque esses coordenadores pedagógicos não têm como encarar o trabalho com os professores, se eles não fizerem (Consultora da SEE/SP, Apêndice B).

De todo modo, várias mudanças foram introduzidas a partir do Ler e Escrever, como a ampliação do atendimento dos convênios com as universidades para o envio de estudantes de Letras e de Pedagogia para todas as classes de 1ª série, a atribuição de mais quatro horas semanais de horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) aos docentes de 1ª a 4ª série envolvidos no programa, destinadas ao planejamento e formação para a realização do trabalho, “critérios diferenciados para a regência das turmas de 1ª série” (não especificados na Resolução SE 86/2007), entre outras. Ademais, faz parte da proposta do Ler e Escrever a distribuição de diversos materiais às escolas (Quadro 4, Anexo A).

De acordo com a coordenadora pedagógica do programa na FDE, essas ações se pautam na experiência acumulada pelos gestores da SEE e na experiência em formação dos responsáveis pelo programa.

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