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5.1 Apresentação das escolas

5.1.2 Escola Beta

A Escola Beta fica na periferia da cidade de São Paulo, também na Zona Leste, a aproximadamente 27 quilômetros da praça da Sé, já na divisa com o município de Guarulhos. Em 2007, atendia cerca de 1.220 alunos de 1ª a 4ª série. Funciona em dois turnos: manhã (das 7h00 às 12h00) e tarde (das 13h00 às 18h00). É considerada uma escola de grande porte, uma das maiores da região.

No entorno, há empresas, indústrias, comércio variado, uma unidade do Sistema Único de Saúde (SUS), uma biblioteca, um campo de futebol e duas favelas, das quais provém parte da clientela da escola. A comunidade escolar é formada majoritariamente por migrantes ou filhos de migrantes nordestinos, com escolaridade máxima de Ensino Fundamental. Alguns pais de alunos ainda estudam (inclusive educação supletiva, de acordo com a vice-diretora). Há uma pequena parcela de pais com nível universitário, e também é pequena a parcela da comunidade que tem casa própria. Segundo a vice-diretora, a maior parte dos alunos é pobre, com dificuldade para pagar tratamento dentário, oftalmológico, psicológico ou médico, sendo que muitos deles se alimentam quase exclusivamente da merenda escolar.

A escola tem 17 salas de aula, com aproximadamente 35 alunos cada, e uma sala de aula adaptada, que comporta 25. Além disso, tem uma sala de informática, uma sala de leitura, uma cantina, pátio coberto, quadra (sem cobertura – que precisa de reforma), cozinha e refeitório. Para o pessoal de apoio pedagógico, há uma sala para coordenação e professores readaptados, com dois computadores; sala para diretor e vice-diretor (com um computador), sala para professores (com um computador), e sala para HTPC e biblioteca (com dois computadores e duas impressoras).

O projeto pedagógico explicita a intenção de “formar o leitor ávido, o cidadão alfabetizado e capaz de utilizar as habilidades básicas de matemática” e estabelece que “os conteúdos são definidos pelos educadores da equipe, tendo como base os objetivos da escola”. Para a diretora da Escola Beta, “a formação do leitor é um aspecto fundamental no trabalho da escola”. Contudo, há professores da escola que não parecem trabalhar com leitura como propõe o Programa. Segundo os profissionais da equipe gestora, isso se deve ao fato de não haver instrumentos de ação com que a diretora possa “converter” [sic] os professores.

As relações interpessoais e o clima da Escola Beta parecem interferir no trabalho em equipe e na concretização de seu projeto pedagógico. Diversas vezes os coordenadores e a diretora citaram lideranças negativas na escola, que perturbam a consolidação do trabalho

planejado e levantam polêmicas sobre os programas e projetos da SEE. Além disso, muitos professores mostraram pouco respeito pelo preparo dos coordenadores, ainda novos na função, e alguns chegaram a declarar que elas não tinham conhecimento suficiente para apoiar o trabalho a ser realizado.

A diretora e a vice-diretora afirmam que percebem esse movimento de parte da equipe docente e que, muitas vezes, precisam entrar nas reuniões para reforçar a fala da coordenação e prestar-lhe seu apoio. Afirmam ainda que algumas professoras, quando não são favorecidas em horário, por exemplo, se revoltam contra a própria diretora.

De fato, o grupo pareceu efervescente. Durante a visita à escola, observou-se uma reunião pedagógica em que se davam os resultados do Saresp do ano anterior, e as equipes de 3ª e de 4ª série, que já tinham sido apontadas como as mais resistentes à aplicação dos pressupostos do Letra e Vida, tinham um discurso de que se depreendia a reivindicação da volta da reprovação e uma crítica à progressão continuada. Todos os professores que se colocaram culpabilizavam as famílias (chegando a dizer que a SEE deveria “chamar a polícia” para dar conta de alguns pais) e as “deficiências” do sistema escolar pelos resultados obtidos pelos alunos.

Quando a coordenadora perguntou o que poderia garantir o direito das crianças à educação, os professores citaram apenas fatores extraescolares, revelando a dificuldade de olhar para dentro da escola e questionar sua própria ação, o que seria, do ponto de vista da pesquisadora, um passo para um maior compromisso com a melhoria daqueles resultados. Só uma única professora, de 2ª série, formada no Letra e Vida, mencionou a necessidade de a equipe estudar os descritores do Saresp e procurar compreender as atividades que favoreciam aqueles objetivos. A partir de sua fala, duas professoras propuseram fazer o diagnóstico das necessidades dos alunos a partir dos dados do Saresp de 2ª série. Contudo, esse discurso não encontrou eco e foi abandonado ante a proposta de se separarem os alunos com dificuldades de alfabetização numa sala no segundo semestre, para um trabalho mais direcionado.

Questões relacionadas à resistência a mudanças, à confusão entre o espaço público e o privado, ao desrespeito à figura de superiores hierárquicos na escola e à necessidade de criar um ambiente saudável para o trabalho, em respeito ao coletivo, foram constantes no discurso da direção e da coordenação da escola. A diretora parece preocupar-se muito com a manutenção de um ambiente de trabalho respeitoso e, para isso, pensa que “tem que usar a questão humana e trabalhar a autoestima do grupo”. Segundo ela, seu trabalho é saber equilibrar “entre o poço de defeitos e a montanha de qualidades”.

Idesp 2007 2,79

Ideb 2007 4,7

número de professoras de 1ª e 2ª série que responderam ao questionário do Saresp 2007 19

indicador de material utilizado para o ensino de leitura 3,79

indicador de suporte à prática pedagógica na escola 3,89

indicador de prática pedagógica B 2,63

porcentagem de participação dos alunos de 1ª série no Saresp 2007 93,1%

porcentagem média de pontos dos alunos da 1ª série no Saresp 2007 44,3%

porcentagem de alunos da 1ª série no nível 6 de proficiência 15,4%

porcentagem de professores da equipe com participação no Letra e Vida em 2007 37%

porcentagem de professores da equipe com curso superior completo em 2007 95%

porcentagem de professores da equipe com mais de 3 anos na escola em 2007 47%

porcentagem de professores da equipe que trabalhava em apenas uma escola em 2007 68,4%

porcentagem de professores da equipe com mais de 3 anos de experiência em 1ª série em 2007 47%

diretor com Letra e Vida não

coordenador com Letra e Vida sim

obs.: Uma das coordenadoras fez o Letra e Vida como professora; a outra, estava cursando o Ler e Escrever para coordenadores.

Quadro 5.2 – Dados da Escola Beta

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