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2 L EIS E P RINCÍPIOS DO J OGO DE F UTSAL

2.4 Contornos estratégico-táticos ofensivos

Para Castelo (1999, p.65), o ponto de partida para a organização da coordenação das ações individuais e coletivas dos jogadores e seus deslocamentos, que ele chama de “subsistema estrutural” 44, seria a racionalização do espaço de jogo e das missões táticas dos jogadores. A primeira tratar-se-ia de uma dimensão estática, traduzida pelo “[...] sistema de jogo […] que representa o modo de colocação dos jogadores sobre o terreno de jogo. Esta colocação de base fundamental [...] restabelece a ordem e os equilíbrios em várias zonas do campo”. A segunda tratar-se-ia de uma dimensão dinâmica, “[…] estabelecida pelas diferentes tarefas e missões táticas distribuídas entre os jogadores de uma equipe, que, […] traduzem as regras e os limites orientadores de seus comportamentos técnico-táticos”.

Concordamos com o autor: os contornos estratégico-táticos reclamam, antes de tudo, que a equipe opte por determinados posicionamentos (faceta estática) e, a partir destes, desenvolva missões táticas (faceta dinâmica). A junção dessas facetas, na interpretação de Sampedro (1997, p. 64) constitui o sistema de jogo, isto é, a

[...] organização das ações, tanto comuns como específicas, estando os jogadores distribuídos no terreno de jogo segundo certo padrão. Os sistemas têm como fim a organização do ataque e da defesa, assim como a passagem de um ao outro em ambos sentidos.

Significa dizer que o sistema de jogo, que consiste na “[...] organização da ação dos jogadores, se efetua por todo o campo de jogo e vem associada à mudança contínua da disposição dos jogadores” (MOMBAERTS, 2000, p.63). Daí concebermos um sistema de jogo como um “[...] conjunto de táticas que determinam as ações e características de uma equipe” (DRUBSCKY, 2003, p. 93) nas diferentes fases do jogo, regido por leis e princípios. Assim, compartilhamos da idéia de Sampedro (1997) de que o sistema de jogo se constitui na aplicação prática, na quadra, do sentido estratégico da equipe.

Teodorescu (1984) defende que os técnicos podem optar por diferentes sistemas de ataque e de defesa para construírem a maneira de suas equipes atuarem taticamente. Entretanto, a escolha de um sistema de jogo, que traduzirá o estilo de jogo do técnico, ou seja, a

44 Para esse autor, a organização do jogo de futebol, que não é o esporte estudado nesta tese, mas que se trata de um dos esportes coletivos, conjugaria, ao mesmo tempo, seis subsistemas interdependentes e complementares: cultural, estrutural, metodológico, de relação, técnico-tático e tático-estratégico.

sua forma de interpretar o jogo, não se constitui numa tarefa fácil. Tal escolha, para Bota e Colibaba (2001, p. 74), “[...] é uma das mais importantes operações que atesta (ou não) a maestria do treinador”.

O que contaria quando da eleição de um sistema de jogo? Sampedro (1997, 63) entende que “[...] é imprescindível a introdução de um estilo próprio de jogo, baseado na experiência e nas conquistas alcançadas” pelo técnico. Além disso, “[…] dependerá dos jogadores com os quais conta o treinador, isto é, de suas qualidades45, procurando tirar o máximo proveito de seus pontos fortes” (BAYER, 1987, p. 303).

Sampedro (1997) identifica três tendências distintas de sistemas de jogo que podem ser adotadas: o 1º modelo teria como principal característica a rigidez, centrado exclusivamente no técnico, que fixaria os contornos estratégicos de antemão. Tratar-se-ia de um sistema de jogo estereotipado, em que se realiza um tipo de jogo sempre com as mesmas características; o 2º modelo seria antagônico ao primeiro na medida em que a responsabilidade de interpretar o jogo e de decidir estratégico-taticamente pertenceria, exclusivamente, aos jogadores e o 3º modelo refutaria tanto a idéia de se centrar o sistema, exclusivamente, num jogo estereotipado, como a idéia de se delegar para os jogadores responsabilidade total. Tratar-se-ia de uma posição intermediária, que estabeleceria um esquema de base inicial (esqueleto) que acompanharia a equipe quando do enfrentamento das situações de jogo.

Por conseguinte, inferimos que não há, a priori, um sistema melhor; o que existe é a eleição daquele “[...] que propicia um maior desenvolvimento de teus jogadores, criando as condições idôneas para isso” (SAMPEDRO, 1997, p. 66). Não obstante essa assertiva, verificamos que o terceiro modelo de sistema de jogo é o único que valoriza os papéis do técnico (a estratégia) e do jogador (a tática) e reconhece a interface entre estes.

Em considerando esta última afirmação, exporemos daqui para frente parte dos contornos estratégico-táticos que possibilitam a organização inteligente do jogo futsal nas fases de ataque, de defesa e suas respectivas transições.

45 O autor se refere à morfologia, às qualidades atléticas, às qualidades motrizes, aos conhecimentos técnicos, ao sentido de jogo e à conscientização.

2.4.1 Organização e tipologia ofensiva

Em concebendo que o jogo de ataque ou processo ofensivo se inicia quando a equipe entra na bola (BAYER, 1994), a organização se refere às posturas (possíveis) que a equipe tomará daí em diante. Ou seja, como ela se organizará a fim de garantir a posse da bola, o avanço desta e dos jogadores pela quadra e a finalização na meta adversária.

Esta organização perpassa um conjunto de conteúdos que propicia tanto a ocupação inteligente da quadra como a criação de espaços. Trata-se de uma organização básica entre jogadores, espaços, funções e posições (LOZANO CID et al., 2002).

Num primeiro momento, convém apontar que o ataque comporta diferentes fases e pode ser articulado de diferentes formas. Num segundo momento, interessa caracterizar a sua faceta estática e a faceta dinâmica.

Como atesta o QUADRO 7,há na literatura diferentes tipologias para o ataque.

QUADRO 7

Diferentes tipologias do ataque

Autores Datas Tipologias

Sampedro 1997 Ataque posicional, jogo rápido, contra-ataque e transição Chaves Chaves e Ramírez Amor 1998 Ataque posicional estático, ataque posicional dinâmico, ataque

rotacional, contra-ataque ou transição não-estruturada e transição estruturada

Lozano Cid et al 2002 Contra-ataque, contra-ataque sustentado, transição ofensiva e ataque posicional

Velasco Tejada e Lorente Penas 2003 Jogo rápido ou contra-ataque e jogo posicional

Silva e Calado Filho 2005 Ataque sob padrões ou modelos de jogo, ataque em superioridade numérica e contra-ataque ou ataque não-sistemático

Embora exista certa divergência quanto aos tipos de ataque usados em futsal, salientamos alguns pontos desse quadro:

1º) Dois tipos de ataque foram citados por todos: o posicional e o contra-ataque. 2º) Não há divergência entre os autores acerca do que represente um ataque posicional. Trata-se de um jogo contra uma defesa organizada, isto é, de 4x4. Neste, o tempo não é um imperativo para a equipe. Esta opta por um desenho tático, por um modelo ou padrão de jogo que facilite a manutenção da posse da bola e se presta a criar e ocupar espaços, enfim, a promover a organização das ações ofensivas a fim de envolver/romper a defesa adversária. Para Velasco Tejada e Lorente Peñas (2003, p.245), o jogo posicional “[...] é a antítese do jogo de contra-ataque ou jogo rápido”.

Não pode passar despercebido que o ataque posicional ganha o nome de ataque sob padrões ou modelos de jogo em Silva e Calado Filho (2005). Também é dividido em estático46, dinâmico47 e rotacional48 por Chaves Chaves e Ramírez Amor (1998).

3º) Porém, quando se trata de explicar o que não representa o ataque posicional, há convergências e divergências. Para todos os autores, o contra-ataque, na medida em que exige uma conversão da defesa em ataque, se trata de uma transição. De outro lado, não há concordância quanto ao que seria um autêntico contra-ataque: para Sampedro (1997), Lozano Cid et al (2002), Silva e Calado Filho (2005), este aconteceria, apenas, em situação de superioridade numérica, algo sumariamente refutado por Chaves Chaves e Ramírez Amor (1998) e Velasco Tejada e Lorente Peñas (2003), que expressam ser central a velocidade (transição rápida, brusca, vertical) com que se realiza e não a superioridade numérica. Neste sentido, alimentam que o contra-ataque pode ser, também, em igualdade numérica, mas tem de dispor de uma vantagem posicional49. Logo, para estes autores, jogo rápido e contra-ataque se equivalem.

Por sua vez, Lozano Cid et al (2002) expressam uma diferença entre o contra- ataque e o contra-ataque sustentado. Esta residiria no fato de que, neste último caso, por algum motivo (tomada de decisão incorreta ou mesmo mérito do adversário), haveria uma perda da vantagem posicional ou numérica inicial (CHAVES CHAVES; RAMÍREZ AMOR, 1998).

A transição estruturada de Chaves Chaves e Ramírez Amor (1998) acontece quando a equipe que ataca não tem vantagem numérica ou posicional, isto é, não está em contra- ataque. Para os autores, esse tipo de transição do campo defensivo para o ofensivo terminará num ataque posicional. Isso equivale ao conceito de transição ofensiva de Lozano Cid et al (2002) e ao conceito de transição ofensiva ou jogo rápido de Sampedro (1997). Este autor acrescenta que a transição, além de rápida, sem vantagem numérica ou posicional, estaria entre o contra-ataque (que para ele se dá apenas em vantagem numérica) e o ataque posicional (4x4).

4º) O ataque em superioridade numérica (SILVA; CALADO FILHO, 2005) não se trata de um contra-ataque, mas sim um jogo de 4x3 (quando a equipe defensora tem um

46 Para os autores, suas principais características seriam: menor polivalência dos componentes da equipe, movimentos táticos muito restritos e previsíveis e forte determinação de seus componentes para cumpri-lo.

47 Neste caso, haveria certa mobilidade dos jogadores, permitindo trocas de posições entre dois jogadores. Seria um ataque de maior elaboração; deixaria sobre os jogadores a responsabilidade de seus movimentos e haveria certa liberdade quando da ocupação das funções.

48 Os autores explicam que esse se desenvolveria mediante o emprego de uma ou várias rotações; seria um conjunto de deslocamentos contínuos através da troca coordenada das posições de mais de dois jogadores.

jogador expulso) ou de 5x4 (quando o goleiro sai da sua área e participa da elaboração do ataque).

Pelo exposto, pensamos que a tipologia mais adequada seria a de Silva e Calado Filho (2005). Ela não exclui o que foi mais incidente nas outras classificações, reduz a polissemia sem perder a essência e, além disso, insere uma novidade. Porém, acrescentaríamos nessa tipologia o fato de o contra-ataque ser, também, realizado em igualdade numérica (CHAVES CHAVES; RAMÍREZ AMOR, 1998).

QUADRO 8