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Estratégia para contra-atacar com eficácia

2 L EIS E P RINCÍPIOS DO J OGO DE F UTSAL

5 R ESULTADOS E DISCUSSÃO

5.7 Estratégia para contra-atacar com eficácia

Compreendidas as estratégias para se induzir o contra-ataque, nos interessou descortinar o que o SC considera relevante fazer para que essa ação ofensiva logre êxito. Em outras palavras, haveria princípios que os jogadores deveriam considerar quando do contra- ataque que potencializariam sua conversão em gol?

TABELA 8

Caracterização das idéias centrais, sujeitos e discriminação destes para a questão “Uma vez em contra-ataque, o que você ensina para que os seus jogadores tenham êxito?”.

IC N Sujeitos 1 2 3 4 5 6

A conduzir sobre a marcação sem precipitar a decisão Quem não tem bola corre em profundidade

A imprimir velocidade na ação

A ter quem conduz a bola e outros de opção de passe A ler o jogo e decidir

Quem não tem bola deve entrar em linha de passe

2 1 3 1 1 1 S1, S5 S2 S2, S3, S4 S3 S4 S5

Em consonância com o APÊNDICE C6 e as ICs abstraídas na TABELA 8 para as

somas dos discursos, apresentamos os DSC construídos para cada IC:

QUADRO 37

Caracterização das idéias centrais e discursos do sujeito coletivo da questão: Uma vez em contra-ataque, o que você ensina para que os seus jogadores tenham êxito?

Idéia Central 1 Discurso do Sujeito Coletivo 1 A conduzir sobre a marcação

sem precipitar a decisão

A primeira delas é você não definir rapidamente o passe. Quanto mais você anda pra frente, evidentemente você tem um limite, quanto mais você anda pra frente, melhor seu contra-ataque, melhor seu contra-ataque. Então eu digo para o meu atleta que quanto mais ele levar a bola, mais perigoso o contra-ataque é. De posse da bola, a leitura, a tranqüilidade de posicionar essa bola para o meu companheiro; ter essa tranqüilidade para te achar ali e ir para o passe. Isso é fundamental na organização do contra-ataque.

Idéia Central 2 Discurso do Sujeito Coletivo 2 Quem não tem bola corre em

profundidade Quem não tem bola, profundidade. A opção do passe não pode torcer pelo passe. Tem que dar profundidade para equilibrar na recepção. Idéia Central 3 Discurso do Sujeito Coletivo 3

A imprimir velocidade na

ação Quem tem bola, no máximo dois toques. O contra-ataque não é com posse, o contra-ataque é com passe. Ter um contra-ataque acelerado, evitar a posse excessiva de quem retém a bola. Usar a velocidade por dentro, dar troca de passe de primeira. Então, acho que uma coisa muito importante é treinar contra- ataque com um toque, um toque. Não exclui a condução quando necessário no contra-ataque, pois a condução excessiva de bola vai ocasionar um retorno da defesa, está certo?

Idéia Central 4 Discurso do Sujeito Coletivo 4 A ter quem conduz a bola e

outros de opção de passe

Nós estamos acostumados a ter um homem condutor, o da bola, e ter os que estão passando. Então assim: nós estamos acostumados a o cara fazer o passe já para finalizar ou para ter só mais um passe; usamos a velocidade “aberta”. Idéia Central 5 Discurso do Sujeito Coletivo 5

Que o jogador deve ler o jogo

e decidir Leitura, leitura. Eu sou contra, totalmente contra ao robô, a mecanizar puramente o atleta. Eu sou totalmente contra você estar querendo fazer com que o seu atleta jogue vídeo game, que você seja aquele cara que está atrás do joy stick ali, do manete, movimentando o jogador, certo? Então ele vai sair com contra-ataque, está 2x1, tem que ver o que esse “1” vai fazer para ele agir, para ele reagir, está certo? Não quer dizer que 2x1, obrigatoriamente, tenha que sair o passe. Depende. E se o cara está interceptando o passe? Se o teu companheiro não entrou na linha de passe para você, certo? O atleta tem que ler, tem que perceber. E não só o atleta. Os atletas, muitas vezes, que estão participando desse contra-ataque.

Idéia Central 6 Discurso do Sujeito Coletivo 6 Quem não tem bola deve

O SC parte de uma premissa: quando do contra-ataque, teremos de ter alguém que conduza a bola e outros que o acompanhem − “Nós estamos acostumados a ter um homem

condutor, o da bola, e ter os que estão passando”. Igualmente, indica que o passe do condutor, habitualmente, deixa quem o assiste em situação de definição do ataque − “[...] nós estamos

acostumados a o cara fazer o passe já para finalizar ou para ter só mais um passe”. Logo, se deve evitar passar para o lado ou para trás (GAMBIER, 2000).

É notória a preocupação do SC em orientar seus jogadores. Ele ensina que quem tem a posse de bola deve conduzir sobre a marcação, sem precipitar a decisão − “A primeira delas é

você não definir rapidamente o passe. Quanto mais você anda pra frente [...] melhor seu contra- ataque [...] quanto mais ele levar a bola, mais perigoso o contra-ataque é”; ensina que o condutor deve imprimir velocidade à ação − “Ter um contra-ataque acelerado, evitar a posse

excessiva de quem retém a bola”; ensina que sem a bola os jogadores devem correr em profundidade − “Quem não tem bola, profundidade”; ensina que quem acompanha deve entrar em linha de passe com o condutor − “O meu companheiro me oferecer condições de eu passar

essa bola”. Constituem parte dos princípios referenciados pela literatura (GAMBIER, 2000; NIÑO GUTIÉRREZ, 1991; SAMPEDRO, 1997; SANTANA, 2004a).

Não obstante, à primeira vista, as orientações para quem tem a posse da bola (o condutor) podem parecer antagônicas. Porém, convém sermos cautelosos, pois o discurso emite significados engenhosos. Vejamos. Embora o SC expresse que se deva conduzir a bola, refuta que isso extrapole ao ponto de frustrar o contra-ataque − “[...] evidentemente você tem um

limite”. Ainda que fale para o passe ser rápido, não exclui a condução − “Não exclui a condução

quando necessário no contra-ataque”. O que isso significa? Minimamente, que as tomadas de decisão sobre conduzir e passar, as habilidades técnico-táticas mais exigidas da linha nessa fase do jogo (SAMPEDRO, 1997), se constituem nos desafios a serem vencidos pelos jogadores para que a equipe tenha êxito: conduzir ou passar? Em conduzindo, até onde? Quando passar? Quando conduzir é mais indicado do que passar e vice-versa?

Se, por um lado, o SC parece incerto em definir qual o padrão de comportamento a ser seguido pelo condutor de bola quando do contra-ataque, por outro lado está convicto de que essa decisão não lhe pertence − “Eu sou totalmente contra você estar querendo

fazer com que o seu atleta jogue vídeo game [...] ele vai sair com contra-ataque, está 2x1, tem que ver o que esse “1” vai fazer para ele agir, para ele reagir, está certo? Não quer dizer que

2x1, obrigatoriamente, tenha que sair o passe. Depende. E se o cara está interceptando o passe? Se o teu companheiro não entrou na linha de passe para você, certo? O atleta tem que ler, tem que perceber”. Aí está: embora orientado pelo treinador, é o jogador quem decide se vai conduzir ou passar a bola, pois é ele quem convive com os parâmetros de decisão tática sobre o que fazer (objetivo), quando fazer (momento), onde fazer (espaço) e como fazer (forma) (PAULA; GRECO; SOUZA, 2000). Daí, inclusive, resultará sua maestria estratégico-tática. Por isso, o apelo à leitura de jogo − “De posse da bola, a leitura, a tranqüilidade de posicionar essa bola

para o meu companheiro; ter essa tranqüilidade para te achar ali e ir para o passe. Isso é fundamental na organização do contra-ataque”.