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O futsal do ponto de vista do espaço esportivo

QUADRO 2 A identidade do futsal

1.6 O futsal do ponto de vista do espaço esportivo

No que se refere ao parâmetro espaço, este deve ser compreendido na sua faceta regulamentar e na estratégica. Iniciaremos pela primeira.

Hernández Moreno (1999, p. 293) afirma que a ação de jogo nos esportes “[...] tem a origem de sua organização num espaço definido e limitado que a serve de suporte”. O autor qualifica isso de “espaço de jogo esportivo”, o qual estaria determinado nos regulamentos esportivos.

No que se refere ao futsal, o espaço de jogo é padronizado, isto é, não se movimenta, não causa incerteza para o praticante. Trata-se de “[...] um espaço rigorosamente quantificado e totalmente conhecido a priori [...] que não representa nenhum tipo de incerteza para o participante” (HERNÁNDEZ MORENO, 1998, p. 63).

Entretanto, sua dimensão pode variar. A quadra, que se trata de um retângulo, deve respeitar o comprimento mínimo de 25 metros e máximo de 42 metros e uma largura mínima de 15 metros e máxima de 22 metros. Porém, para a Liga Futsal e para partidas internacionais, deverá ter um comprimento mínimo de 38 metros e uma largura mínima de 18 metros; para partidas nacionais da categoria adulta, o comprimento mínimo será de 36 metros, mantendo-se a largura mínima de 18 metros; para jogos das categorias Sub-20, Sub-17 e Sub-15, o comprimento mínimo será de 34 metros e a largura mínima de 17 metros.

Suas linhas demarcatórias, na lateral (maiores) e no fundo (menores), independentemente do âmbito, se nacional ou internacional, deverão estar afastadas 01 (um) metro de qualquer obstáculo, como rede de proteção, tela, grade ou parede. Em futsal, essas linhas, que são separações parceladas (HERNÁNDEZ MORENO, 1998), integram e pertencem à quadra de jogo.

Há outras demarcações, como nos mostra a figura 2.

FIGURA 2 − Espaço de jogo do futsal

Fonte: CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE SALÃO, 2008, p.53.

Blázquez Sánchez (1986, p. 23) explica que estes subespaços, áreas e zonas “[...] possuem características peculiares que modificarão e determinarão as condutas motrizes dos jogadores”. Hernández Moreno (1998, p. 127) argumenta que essas separações parceladas do espaço de jogo “[...] determinam a lógica interna das ações de jogo, já que pré-estruturam em grande medida o campo de percepção e da ação”.

Como exemplo de possíveis decorrências das demarcações do futsal sobre a conduta dos jogadores, Ardá Suárez e Casal Sanjurjo (2003, p. 55) destacam que o espaço reduzido sinaliza para iminentes finalizações ao gol, o que, por um lado, “[...] condiciona as dimensões da meta para que o goleiro possa ter êxito em suas ações” e por outro lado exige dos atacantes, “[...] para terem êxito, que o lançamento seja fundamentalmente de precisão”.

Resta saber, do ponto de vista regulamentar, de que formas os jogadores de futsal podem ocupar o espaço de jogo:

- Quando da saída de bola para se iniciar e reiniciar o jogo, os jogadores da equipe que tem a posse da bola devem se colocar, todos, na sua meia-quadra. Os adversários devem se posicionar, todos, na sua meia-quadra, fora do círculo central.

- Com a bola em jogo, podem invadir a meia-quadra do adversário.

- Para a reposição de bola quando de laterais, faltas e escanteios, devem respeitar a distância regulamentar de 5 metros.

- Quando da reposição de bola de arremesso de meta, o jogador pode se posicionar onde quiser, porém nenhum jogador poderá tocar na bola, sem que se cometa uma infração12, enquanto esta não ultrapassar as linhas demarcatórias da área de meta.

Já em relação ao âmbito estratégico-tático do espaço esportivo devemos considerar que “Cada jogador compartilhará este espaço com seus companheiros para lutar contra os adversários na conquista do território destes ou em defesa de seu próprio” (BAYER, 1992, p. 37). Há, portanto, espaços a conquistar e outros para defender, o que implica admitir que em futsal o espaço esportivo seja, simultaneamente, padronizado, comum e dinâmico. Constitui-se comum na medida em que todos podem compartilhá-lo simultaneamente; dinâmico por (a) permitir o deslocamento dos jogadores por todas as direções, inclusive o goleiro, (b) em função de exigir uma disputa territorial e, (c) ao demandar que o jogador atue em interação com os demais13, gerar decorrências como a aleatoriedade e a variabilidade de ações de jogo.

Bayer (1994, p. 40) explica que dessa forma

[...] cada jogador se encontra confrontado com espaços dinâmicos funcionalmente reunidos entre eles, que se carregam dum sentido particular trazido por ele em função da evolução e desenvolvimento do jogo e que vão condicionar a sua colocação e a sua situação no terreno, para poder agir.

Vejamos algumas declarações que ratificam o impacto do espaço esportivo na concepção de jogo e, por conseguinte, no comportamento técnico-tático dos jogadores.

Chaves Chaves e Ramírez Amor (1998, p.72) atestam que o fato de o futsal ter como uma de suas principais características a escassez de espaço14, faz com que o ataque tenha

12 Neste caso, o arremesso de meta deve ser repetido.

13 Hernández Moreno (1999) qualifica de espaço sócio-motor a combinação do espaço social do território com o espaço multiforme e cambiante da interação motriz.

14 A princípio, esta afirmação pode soar estranha, pois uma quadra de 40x20 metros, comum em jogos de futsal, traduz 800m2 de terreno. Porém, a escassez de espaço se dá em função de os jogadores atuarem simultaneamente sobre a bola e em geral compartilhar meia-quadra (de forma recorrente, o campo ofensivo de quem tem a posse de bola). Cf. figura 3.

de primar pela rotação dos jogadores (ataque rotacional15), ou seja, a rotação seria o antídoto para a falta de espaço. Desta forma, “A idéia é a de que devemos lutar pelo espaço vazio significativo (pontos de finalização), obrigando aos defensores a reajustar continuamente as marcações e fechar as possíveis linhas de passe”. Por outro lado, além da necessária rotação, a falta de espaço condicionaria os jogadores a se posicionarem em geral muito próximos uns dos outros e, consequentemente, incitaria o jogo de transição, pois há um perigo iminente de que aqueles migrem de situações defensivas para ofensivas (contra-ataque) e vice-versa (retorno defensivo).

Castelo (1999) atesta que saber ocupar e explorar o espaço é fundamental para atender à variabilidade das situações momentâneas de jogo, tanto ofensiva quanto defensivamente. Salienta o autor que quando uma equipe se encontra na posse da bola

[...] a eficácia de execução de suas ações individuais e coletivas para conseguir os objetivos de ataque passa, inevitavelmente, pela criação e exploração dos espaços livres, enquanto que para a equipe sem bola, a eficácia de suas ações individuais e coletivas passa pelo objetivo de restringir e vigiar os espaços vitais de jogo [...] toda dinâmica de execução técnico-tática individual e coletiva que encerra em si a lógica do jogo é focalizada e canalizada nesse elemento estrutural. (CASTELO, 1999, p. 50).

Por sua vez, Ardá Suárez e Casal Sanjurjo (2003) citam como a característica espacial mais pontual do futsal − em função das dimensões reduzidas, do regulamento e da dimensão estratégica − a de que as ações de jogo se desenvolvem, recorrentemente, no mesmo espaço.

FIGURA 03 − Delimitação do centro de jogo no futsal. Fonte: ARDÁ SUÁREZ; CASAL SANJURJO, 2003, p. 52.

15 Trata-se de um ataque realizado 4x4, caracterizando-se por um conjunto contínuo de desmarcações − a troca coordenada de posições entre mais de dois jogadores, no qual são empregados diversos recursos motores para induzir o adversário ao erro.

Quer isso dizer que

[...] os jogadores sempre estão no centro do jogo, ou seja, a todo instante qualquer jogador tem a possibilidade de intervir sobre a bola; todos os jogadores se encontram num espaço útil e seus comportamentos estão orientados à consecução da finalidade do jogo, marcar o gol. (ARDÁ SUÁREZ; CASAL SANJURJO, 2003, p.51).

Outro ponto levantado pelos autores diz respeito ao fato de o futsal ser jogado numa superfície lisa e regular, o que fomentaria “[...] a utilização do passe de precisão facilitando o domínio coletivo da bola e a construção de um ataque elaborado ou posicional” (ARDÁ SUÁREZ; CASAL SANJURJO, 2003, p.54).

Garganta (1998) acrescenta que a estruturação do espaço, ou seja, a busca pela sua ocupação inteligente, é um dos principais indicadores do nível de jogo dos participantes e, por isso, deve ser considerado desde as fases iniciais do processo de ensino-treino dos esportes coletivos.