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Tática coletiva: os padrões coletivos de deslocamento

2 L EIS E P RINCÍPIOS DO J OGO DE F UTSAL

QUADRO 8 Tipologia do ataque

2.4.7 Tática coletiva: os padrões coletivos de deslocamento

Em futsal, quando uma equipe adota movimentos repetitivos e coordenados entre os quatro jogadores a fim de manter a posse de bola, induzir o adversário ao desequilíbrio e construir a finalização, se trata de um padrão de jogo (BELLO JUNIOR, 1998; MUTTI, 2003; SAAD, 1997). Caracteriza-se a tática coletiva, ou seja, movimentações coordenadas por três ou mais jogadores (GRECO; CHAGAS, 1992; PAULA; GRECO; SOUZA, 2000).

A diferença entre um padrão de jogo e uma manobra básica, além do maior número de jogadores envolvidos, é de que os movimentos do padrão são repetitivos e preestabelecidos. Acredita-se, portanto, que se todos fizerem o combinado, sem pressa, de forma seletiva, o ataque será eficaz. O padrão (ou modelo) de jogo

[…] se compõe de diversos movimentos planificados que têm como objetivo desestabilizar as tarefas defensivas (buscando erros de colocação e de marcação e criando espaços vazios), ao mesmo tempo em que avança o ataque. Estes movimentos são repetitivos [...] até que se consiga o objetivo [...] e tem seu fundamento na aplicação de rotações e trocas. (SILVA; CALADO FILHO, 2005, p.93).

Não podem passar despercebidos os termos rotações e trocas (permutas), pois são estes que dão dinamismo aos padrões de jogo. As permutas são as trocas de posições entre dois jogadores. As rotações são “[...] um conjunto de desmarcações contínuas mediante a permuta coordenada nas posições de mais de dois jogadores” (CHAVES CHAVES; RAMÍREZ AMOR, 1998, p. 72). Aí está: o padrão de jogo assemelha-se a uma coreografia, na qual cada jogador tem o seu movimento padrão.

Saad e Costa (2001, p.38) referem que os padrões de jogo fazem com que “[...] a marcação adversária tenha um comportamento sistemático, condicionando os marcadores a uma movimentação repetitiva, de maneira que se desconcentre e até acomode-se”. Para os autores, o padrão de jogo abriria espaços na quadra para a infiltração de jogadores.

Para Chaves Chaves e Ramírez Amor (1998, p. 72), a idéia central do padrão de jogo é “[...] lutar pelo espaço vazio significativo (pontos de finalização), obrigando os defensores a reajustar continuamente os marcadores, e fechar as possíveis linhas de passe”. Segundo os autores, o deslocamento simultâneo dos jogadores tenderia a aumentar o nível de incerteza dos defensores. Isso aconteceria em virtude de se colocar no campo visual destes um conjunto maior de estímulos, o que lhes aumentaria o tempo de reação.

Os padrões de jogo exigem um desenho tático, por exemplo, 3.1, 4.0, e são aplicados quando de um ataque posicional (4x4).

QUADRO 14

Tipologia dos padrões de jogo

Autores Datas Ações ofensivas

Saad 1997 Padrão de três pela frente, padrão de quatro pelo meio, padrão circular, padrão com troca ala e pivô, padrão 1.2.2 com o goleiro Bello Junior 1998 Padrão circular ou redondo, padrão quebrado, padrão diagonal,

padrão paralela

Mutti 2003 Padrão redondo, padrão “8”, padrão pelo meio, padrão invertido, padrão cruzado, padrão X, padrão elástico, padrão com 4, padrão com goleiro

Silva; Calado Filho 2005 Ataque com pivô fixo, ataque circular, ataque lateral, ataque pelo meio, ataque com rotação em “8”, ataque cruzado

Andrade Junior 2007 Padrão circular, padrão quatro em linha, padrão de paralela e diagonal, jogo de quina

Todos os padrões de jogo são compostos de deslocamentos e trajetórias preestabelecidas. Alguns são mais dinâmicos que outros, isto é, contemplam mais permutas e maior rotação.

Um bom exemplo de um padrão dinâmico é o circular ou redondo, que se caracteriza pela movimentação circular dos jogadores (SAAD; COSTA, 2001). Esse padrão se inicia com o desenho tático 3.1; exigirá que, após o passe, o jogador se movimente por fora da defesa, isto é, sem entrar no seu interior, deslocando-se no sentido oposto da bola.

FIGURA 45 − Padrão redondo: após o passe, corre-se por fora da defesa. Fonte: SAAD; COSTA, 2001, p. 42.

Simultaneamente, há outros três deslocamentos: quem recebeu a bola a conduz na direção de quem fez o passe, o jogador mais adiantado se movimenta, pela lateral, em direção à defesa e o outro jogador se movimenta em direção ao centro. Essa movimentação inicial ou abertura tem o objetivo de desequilibrar a defesa. Ela poderá ser repetida várias vezes (fase de desenvolvimento), mas não se no primeiro movimento conjunto, o ataque já conseguir construir a finalização (fase de finalização).

FIGURA 46 − Padrão redondo: comportamento dos outros três jogadores Fonte: SAAD; COSTA, 2001, p. 42.

Um outro padrão muito comum e dinâmico é o de quatro pelo meio ou ataque pelo meio. Esse padrão se inicia com o desenho tático 3.1 (SILVA; CALADO FILHO, 2005) ou 2.2 (SAAD; COSTA, 2001). A movimentação padrão é a de que após o passe há o deslocamento em diagonal do jogador para a quadra ofensiva.

FIGURA 47 − Padrão de meio: passe e deslocamento em diagonal Fonte: SAAD; COSTA, 2001, p. 40.

Simultaneamente, o deslocamento de quem recebeu o passe para o centro da quadra e do jogador mais adiantado, pela lateral, na direção de quem recebeu o passe.

FIGURA 48 − Padrão de meio: o jogador conduz a bola para o centro Fonte: SAAD; COSTA, 2001, p. 40.

Já o padrão com troca ala e pivô ou cruzado (MUTTI, 2003; SAAD, 1997) exige menos trocas e rotações. Logo, é menos dinâmico. O padrão se inicia com o desenho tático 1.2.1. O jogador que se posiciona na lateral direita da quadra faz o passe para o que está no centro e se desloca em sentido diagonal para o ataque. O jogador mais adiantado (pivô) realiza uma finta e se desloca em sentido à lateral da quadra para receber o passe. Isso caracteriza a troca entre o ala e o pivô.

FIGURA 49 − Padrão cruzado: num 1º momento, troca entre o ala e o pivô. Fonte: MUTTI, 2003, p.213.

A troca entre esses jogadores permite o passe do jogador do centro para a quadra de ataque, em direção ao pivô (1ª opção). Uma 2ª opção de passe é alterar o lado em que se atacará. Nesse caso, quem recebeu a bola reiniciará o padrão de movimentação, ou seja, o jogador tocará a bola no centro e se deslocará para o ataque em diagonal, realizando uma troca com o pivô. Por quanto tempo os jogadores repetirão esse movimento padronizado? Não é possível saber. O que se sabe é que esse movimento abrirá espaços para que os jogadores apliquem manobras básicas, sua criatividade e, até mesmo, jogadas combinadas.

FIGURA 50 − Padrão cruzado: opções de quem tem a bola Fonte: MUTTI, 2003, p.213.

Santana (2004a) argumenta que os padrões de jogo, com seus movimentos repetitivos, parecem caminhar para o ostracismo no âmbito do futsal de alto rendimento. Isso aconteceria em virtude do próprio desenvolvimento do esporte, que propiciou um intercâmbio sistemático entre as equipes, o que, por sua vez, facilitou o monitoramento tático. Logo, ao insistir em modelos de jogo monitorados, a equipe frustaria o seu projeto ofensivo. Nesse contexto, quanto mais imprevisível a equipe jogar, maior a probabilidade de envolver e ludibriar o adversário. Isso não quer dizer que os jogadores atuarão cada um por si, fora de um plano coletivo de jogo, mas tão somente que devem tomar decisões que desestabilizem os defensores.

Velasco Tejada e Lorente Penas (2003, p. 168) explicam que atuar de forma inesperada ou “não previsível” é um dos principais conceitos de jogo a ser incorporado ao futsal, pois as ações previsíveis em futsal levam normalmente à perda da bola. Por outro lado,

O caráter de espontaneidade e criatividade para acenar com um jogo “não cotidiano” é, em geral, o que diferencia os melhores jogadores (os chamados jogadores inteligentes) dos demais, e é precisamente este caráter o que devemos tentar que nossos jogadores adotem.

Um outro tipo de deslocamento coletivo muito incidente em jogos de futsal são as jogadas ensaiadas, que podem se desenvolvidas com a bola em movimento, mas, sobretudo,

com a bola parada. Alguns autores, em função dos planos coletivos que se podem traçar previamente, qualificam esse aspecto do jogo como estratégias (LOZANO CID, 1995; VALDERICEDA, 1994). De fato, a jogada combinada “[...] requer muito tempo de treinamento e, como tal, necessitará um grande número de repetições para alcançar a coordenação adequada de grupo no momento de executar ações desse tipo” (VELASCO TEJADA; LORENTE PEÑAS, 2003, p. 242). Não convém neste estudo exemplificar possíveis jogadas combinadas que se encaixariam nas bolas paradas ou nos diferentes padrões de jogo. Tão somente relacionaremos que estas podem, quando paradas, se dar a partir do arremesso de meta, de lateral (ofensivo e defensivo) e de canto; da saída de bola (início e reinício de jogo) e de faltas.