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O comportamento tático ofensivo contra marcação avançada

2 L EIS E P RINCÍPIOS DO J OGO DE F UTSAL

5 R ESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 O comportamento tático ofensivo contra marcação avançada

A marcação avançada acontece quando a defesa invade o campo adversário, marcando intensivamente a partir da reposição de bola, com a intenção de induzir erros de passe (FERRETTI, 2000; SANTANA, 2004a).

Por conseguinte, quanto ao espaço de quadra − um dos fatores destacados por Lozano Cid et al (2002) como determinante para o bom funcionamento defensivo −, trata-se de optar em marcar quadra toda ou em ¾, o que configura, segundo a tipologia brasileira, uma linha defensiva 1, no primeiro caso, e uma linha defensiva 2 no segundo (ANDRADE JUNIOR, 2007; FERRETTI, 2000; SAAD; COSTA, 2001; SANTANA, 2004a).

Como agir diante de defesas agressivas como as citadas? Isso é o que procuramos obter do SC. A pertinência dessa questão é elevada, pois se sabe que o ataque contra defesas adiantadas implica na disposição dos jogadores de assumir riscos, um dos fatores da capacidade de jogo (KONZAG; DÖBLER; HERZOG, 2003; SANZ; GUERRERO, 2005), pois qualquer erro permite ao adversário, em função do local, levar perigo contra a meta que se defende.

Isso posto, no que tange à amostra deste estudo, seguem discriminadas na

TABELA 4 as IC abstraídas, o número de sujeitos que a produziram e a discriminação destes para a

questão mencionada.

TABELA 4

Caracterização das idéias centrais, sujeitos e discriminação destes para a questão: Que tipos de comportamento tático ofensivo você espera dos seus jogadores quando o adversário adota uma postura que

invade a sua quadra?

IC N Sujeitos 1 2 3 4 5 6 7 8

Executar a quebra da marcação Passar em profundidade Fazer jogadas combinadas Fazer a aproximação Movimentar sem a bola Sair no espaço vazio Driblar o adversário

Adotar um padrão de movimentação

1 2 1 3 2 1 1 1 S1, S5 S1, S2 S1 S2, S3, S4 S2, S5 S2, S3, S4 S4 S5

Em consonância com o APÊNDICE C2 e as ICs abstraídas na TABELA 4 para as

QUADRO 33

Caracterização das idéias centrais e discursos do sujeito coletivo da questão: Que tipos de comportamento tático ofensivo você espera dos seus jogadores quando o adversário adota uma postura de marcação que

invade a sua quadra?

Idéia Central 1 Discurso do Sujeito Coletivo 1

Executar a quebra da marcação Uma vez pressionado, eu pretendo fazer ações que eu chamo de quebra de marcação, para colocar o adversário para trás − é você desequilibrar a primeira linha de pressão. Eu tenho mostrado para eles que a quebra de marcação mais simples que existe, desde o passe que o goleiro faz com a mão até o passe dos jogadores de linha com os pés, é passe para frente, que desequilibra a marcação. Movimentações sem bola, que permitam ao goleiro colocar essa bola em determinados pontos da quadra de jogo, onde você possa dar seqüência de ataque ofensivo.

Idéia Central 2 Discurso do Sujeito Coletivo 2

Passar a bola em profundidade Eventualmente uso o recurso do goleiro lançando a bola de área a área, mas isso é uma alternativa, visto que esse jogo para mim não tem muita qualidade. Eu tenho a possibilidade de jogar nas bolas de centro. Passo de primeira para entrar o pivô e vir o apoio.

Idéia Central 3 Discurso do Sujeito Coletivo 3

Fazer jogadas combinadas Eu espero ações pré-concebidas, que a gente batiza com nomes variados. Idéia Central 4 Discurso do Sujeito Coletivo 4

Fazer a aproximação Eu posso ter ali uma aproximação. Pegar os dois da última linha e trazer junto para cá. Colocar numa zona que a gente chama de zona de elaboração, oito jogadores, e deixar para trás um espaço que vai ser ocupado. Então eu acho que o ideal é trazê-los. Eles invadem o seu campo, você invade junto; se aproxima.

Idéia Central 5 Discurso do Sujeito Coletivo 5

Movimentar sem a bola Eu posso trabalhar dois balanços, ameaço ir e volta, ameaço ir e saio. Idéia Central 6 Discurso do Sujeito Coletivo 6

Sair no espaço vazio Eu jogo para o espaço. Você aposta corrida na contramão: eles subindo e você subindo e saio no espaço.

Idéia Central 7 Discurso do Sujeito Coletivo 7

Driblar o adversário Depende do momento. Uma dessas situações é a que eu te falei: interrompe e sai individualmente.

Idéia Central 8 Discurso do Sujeito Coletivo 8 Adotar um padrão de

movimentação Hoje você tem uma marcação que permite que você jogue e a outra que não permite que você joga. Então você se prepara dessas duas maneiras. Para a que permite, com padrões de movimentação, como eu volto a dizer, no padrão diagonal e no padrão lateral.

O nosso SC desenvolve estratégias diferentes contra marcações avançadas: 1ª) Aproveitar o espaço vazio. Trata-se de atrair todos os jogadores de defesa para o campo próprio − “Colocar numa zona que a gente chama de zona de elaboração, oito

jogadores, e deixar para trás um espaço que vai ser ocupado”. Para tanto, espera que os seus jogadores apostem em fundamentos táticos básicos, como a aproximação ou flutuação (SANTANA, 2004a) − “Eu posso ter ali uma aproximação. Pegar os dois da última linha e

trazer junto para cá” − e, a partir disso, um comportamento técnico-tático (HERNÁNDEZ MORENO, 1999), como encaixar um drible − “[...] sai individualmente” − e algumas manobras

ofensivas, como a vai, vem e vai (VOSER; GIUSTI, 2002), vai e vem (SAAD, 1997) − “[...] dois

balanços, ameaço ir e volta, ameaço ir e saio” − e a bola nas costas (ANDRADE JUNIOR, 2007) − “Você aposta corrida na contramão” −, que exigiriam a projeção no espaço livre − “[...]

um espaço que vai ser ocupado”. Com a aproximação dos jogadores para o seu próprio campo, há indícios suficientes para supor que a equipe tenha de se posicionar no desenho tático 4.0, com todos os jogadores na armação da jogada, e joguem em função do aproveitamento do espaço defensivo do adversário (SAMPEDRO, 1997), o que limitaria ao máximo a defesa de ajudas e coberturas (VELASCO TEJADA; LORENTE PEÑAS, 2003). Não pode passar despercebido que essa estratégia, ao mesmo tempo em que favorece a criação de espaços livres (LOZANO CID, 1995), exigirá dos jogadores que saibam jogar sob pressão e proximidade defensiva, assumindo riscos (LOZANO CID et al., 2002).

2ª) Empurrar a linha de marcação do adversário para trás, para, a partir disso, jogar com a bola − “[...] eu pretendo fazer ações que eu chamo de quebra de marcação, para

colocar o adversário para trás [...] é você desequilibrar a primeira linha de pressão [...] onde você possa dar seqüência de ataque ofensivo”. Trata-se de um tempo ou momento de ataque (FERRETTI, 1998), em que se pretende quebrar a marcação, afastando o adversário e permanecendo com a bola (SANTANA, 2004a). Neste caso, o nosso SC não quer jogar para o espaço livre, mas quer iniciar o desenvolvimento do seu ataque contra uma defesa postada na sua meia-quadra ou linha 3 (SAAD; COSTA, 2001). Trata-se de apostar, inicialmente, na fase de abertura, isto é, em movimentos iniciais que possibilitarão a segunda fase, a saber, o desenvolvimento do ataque posicional contra uma defesa recuada a partir de padrões de deslocamento ou rodízios (SILVA; CALADO FILHO, 2005).

3ª) Passar a bola para o fundo da quadra, em profundidade, que é um raciocínio antagônico à 1ª estratégia (de jogar para o espaço vazio), na medida em que um (ou mais jogadores), no caso o pivô (ou pivôs), se posicionará na quadra ofensiva para servir como referência para o passe, vindo de um jogador de linha − “Eu tenho a possibilidade de jogar nas

bolas de centro. Passo de primeira para entrar o pivô e vir o apoio” − ou do goleiro − “[...] uso

o recurso do goleiro lançando a bola de área a área”. Essa estratégia exigirá, portanto, que a equipe aposte em desenhos táticos que reclamem o posicionamento de jogadores no campo ofensivo, como o 3.1/1.2.1, 2.1.1 e 2.2, indicados para sair de marcações pressão (LOZANO CID, 1995; SAAD, 1997; VALDERICEDA, 1994).

4ª) Adotar jogadas combinadas − “[...] ações pré-concebidas, que a gente

batiza com nomes variados”. Neste caso, não há uma intenção de se jogar, especificamente, para o espaço, como na 1ª estratégia, tampouco de se jogar em profundidade, como na 3ª. Por outro lado, a quebra de marcação, a 2ª estratégia, pode, sim, acontecer a partir de jogadas combinadas (SANTANA, 2004a). Para tanto, poder-se-á usar tanto o espaço como a profundidade, mas não os dois simultaneamente. O desenho tático é o que definirá o que a equipe tem como objetivo. Por exemplo, ao se adotar um desenho ofensivo 2.1.1, 1.2.1/3.1 ou 2.2, ou seja, sistemas que tenham jogadores posicionados em profundidade, a perspectiva é de que esse comportamento seja executado. Por outro lado, se a equipe aproximar todos os jogadores para o seu próprio campo, como num sistema 4.0, a jogada sinaliza para o espaço vazio. Diferentemente das manobras para quebrar a marcação, cujo escopo é ficar com a posse de bola, pode-se usar a jogada combinada com a finalidade de envolver os defensores e terminar o ataque, finalizando-se contra o gol adversário (SANTANA, 2004a).

5ª) Adotar um padrão de deslocamento coletivo. Neste caso, a marcação, embora avançada, ela é menos ativa. Daí a possibilidade de se desenvolver um padrão de jogo − “Para a que permite, com padrões de movimentação, como eu volto a dizer, no padrão diagonal

e no padrão lateral” −, na medida em que este exige, a partir da repetição de movimentos planificados, mediante rotações e trocas de posições entre os jogadores, conduzir a equipe pela quadra na luta por espaços significativos, culminando com finalização ao gol (CHAVES CHAVES; RAMÍREZ AMOR, 1998; SILVA; CALADO FILHO, 2005).