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Estado do Acre Limites municipais

3. POLÍTICAS RELACIONADAS À FARINHA

3.3 CONTROLE DO MANDAROVÁ E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DE ROÇA

A lagarta mandarová, Erinnys ello, é considerada, segundo a Embrapa (2003), a praga mais importante da cultura da mandioca, tanto por sua ampla distribuição geográfica quanto por sua alta capacidade consumo foliar, principalmente nos últimos ínstares larvais. Desta forma, a lagarta causa severo desfolhamento da planta que, se ocorrer nos primeiros meses de desenvolvimento da cultura, pode reduzir drasticamente o rendimento da produção, chegando a ocasionar a morte das plantas mais jovens. O inseto ocorre nas Américas, onde já desfolhou grandes plantios de mandioca, podendo ocorrer em qualquer época do ano, mas em geral no início da estação chuvosa ou da

seca. Sua ocorrência é esporádica e pode demorar intervalos de anos até surgir novamente104.

A ocorrência em intervalos de anos e o período chuvoso são confirmados pelos produtores que apontam detalhes do impacto da praga na roça:

“Se a roça tiver com seis meses praticamente ela não presta mais, com seis meses de nascida, se ela comer assim a roça não presta mais, se ela comer com 8 a dez meses um hectare que você ia fazer 100 sacos de farinha já não faz mais, faz aproximadamente 70 sacos, porque da muita água, no próprio instante que ela come a folha da mandioca com oito meses, se ela não comesse aquela mandioca ainda ia aumentar muito, engrossar e crescer e na hora que ela come a roça não aumenta mais e sim só apodrece, aonde ela está (estágio de crescimento) fica, não tem para onde crescer mais. A rama vai enramar sempre, mais a batata não vai progredir mais nada.”

(Produtor 6).

Sobre o mandarová e o controle105 da praga os produtores relatam que,

“A lagarta aqui foi um desastre, foi em toda a região do Juruá. No início aqui em

Cruzeiro do Sul só tinha dois pulverizadores para atender o Vale do Juruá todo. Um Técnico que o SEBRAE contratou me disse ‘não se preocupe, se der a praga da lagarta você não se preocupe que eu venho aqui.’ Eu disse para ele que eles não davam conta, pois eles fazem pesquisa no foco da lagarta, leva um mês para ele fazer uma pesquisa,

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Segundo a Embrapa (2003), logo no início da ocorrência a lagarta é difícil de ser vista na planta, devido ao tamanho diminuto (5 mm) e à coloração, confundindo-se com a folha. Quando completamente desenvolvidas, a coloração das lagartas é a mais variada possível, havendo exemplares de cor verde, castanho-escura, amarela e preta, sendo mais freqüentes as de cores verde e castanho-escura. A lagarta passa por cinco estádios que duram aproximadamente de 12 a 15 dias, período em que consome, em média, 1.107 cm de área foliar, sendo que 75% dessa área é consumida no quinto ínstar.

A prática da aração da área para novos plantios contribui entre outras vantagens, no enterro profundo de algumas pupas, enquanto outras ficam na superfície do solo expostas aos raios solares e aos inimigos naturais”.

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De acordo com a Embrapa (2003), “a eliminação das plantas invasoras, especialmente as euforbiáceas, presentes na plantação ou em suas imediações, é outra prática recomendada, as quais servem de hospedeiras à praga.

No caso de ataques contínuos do mandarová em uma região, recomenda-se a rotação de culturas, já que ao desaparecer o hospedeiro mais prolífero, diminui a população da praga. Inspeções periódicas das lavouras, identificando os focos iniciais, também tornam o controle mais eficiente. Em áreas pequenas,

recomenda-se a catação manual e destruição das lagartas”. (Grifos nossos)

Sobre esta última recomendação destaca-se a seguinte alegação por parte de um dos produtores: “a lagarta come a roça num desespero que tem muita gente que não entra nem no roçado...falavam para a gente que tínhamos que ir para dentro do roçado matar e eu disse ‘ nós somos seres humanos também, aonde é que eu vou ver uma praga acabando com aquilo que é meu e se eu puder dar jeito eu não vou lá? Nós não vamos porque ninguém agüenta, o mau cheiro é tão horrível que roda urubu assim por cima. Você mata uma aqui, mas você se desespera porque tem milhares na sua frente, nos lados’ ...não tem como te dar uma comparação, só vendo. Ela sempre começa no meio do roçado, ano passado numa segunda-feira eu fui na roça do meu irmão e elas estavam no meio do roçado, quando foi na quarta-feira de tardezinha já tinham acabado com todo o roçado.”

durante um mês em uma comunidade que nem essa nossa aqui com mais de duzentas famílias, acaba com a roças em um mês e já vai para outro canto” (Produtor 1).

A ação da praga é rápida e em pouco tempo acaba com uma roça “ em três dias

ela acaba com um hectare de roça”. Os produtores demonstram desconfiança com

relação ao discurso e promessas de garantia de controle da praga: “Eu digo que não

adianta o estado dizer que está preparado para o combate da lagarta porque ele não está. Eu falo por experiência aqui na comunidade, digamos que eu vá lá no roçado hoje que é segunda-feira e vejo só as ovas e vou atrás de uma pessoa do governo [IDAF106] para vir pulverizá com veneno, aí chegou lá o rapaz e me diz que eles não tem o diesel para colocar no carro para vir, talvez venham amanhã, só que se chover não vai dar para eles virem aí eles só chegam na quinta ou na sexta, aí a lagarta já comeu a roça todinha”107. (Produtor 1).

Os produtores têm clareza entre a ineficiência das ações do governo para auxílio no combate a praga, a rapidez do ciclo reprodutivo e a real demanda dos produtores:

“Esse problema é grande, o governo já combateu muito mas já no final, porque ela comina duas ou três vezes uma roça só. Porque com duas semanas ela envivece, prospera e morrre, então num mês ela come duas vezes [uma mariposa coloca de 2000- 2500 ovos]. Ele começa divinhão, vira mariposa, mariposa bota ovos, vira lagarta. Ela tem três ciclos divinhão-mariposa-lagarta-divinhão de novo. A demanda no Vale do Juruá é muito grande, 75% da população é produtor rural”. (Produtor 1).

Vale esclarecer que o controle do mandarová é feito com um líquido feito a partir da própria lagarta, não causando contaminação química ou tóxica sobre o solo ou roça108. Outras pragas ou doenças na roça não foram relatadas pelos produtores entrevistados, o único caso registrado durante as entrevistas foi um onde o produtor relatou para um técnico que ele possuía uma área de roça que quando completa sete para oito meses as folhas caíam e “fica só o miolozinho, aí quando ela está com dez meses brota na

mandioca mesmo, na batata...ele fez o meu cadastro e escreveu o problema e não voltou mais” (Produtor 6).

Este relato reflete o desafio da assistência técnica agrícola que repetidas vezes nas entrevistas aparece como precária, seja na atuação para controle do mandarová, na

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IDAF: Instituto de Defesa Agropecuária e Fazendária.

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A demanda é que se tenha pelo menos dois pulverizadores por associação/colônia.

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observação do calendário para a disponibilização dos tratores das prefeituras ararem os roçados109, ou na recuperação110 e adubação111 do solo.