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Coordenadora do projeto de Promoção e Educação para a Saúde

Parte IV – Cargos desempenhados

3.7 Coordenadora do projeto de Promoção e Educação para a Saúde

3.7.1 Enquadramento legal do cargo de coordenadora do projeto de Promoção e Educação para a Saúde

Mandim (2007) sustenta que a Carta de Ottawa, elaborada no âmbito da realização da Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde que decorreu em novembro de 1986, no Canadá, é a principal “impulsionadora do conceito de promoção da saúde”. Nesta carta define-se este conceito como um processo que permite ao indivíduo ou comunidade aumentar a sua aptidão para controlar a sua saúde, com vista à sua melhoria.

A esta conferência seguiram-se outras que foram apontando novas linhas orientadoras em relação à Promoção da Saúde. Sendo Portugal um dos países assinantes desta carta, e no contexto da criação da Rede Europeia de Escolas Promotoras de Saúde, em 1992, adere a esta iniciativa, em 1995. Neste contexto, a Promoção da Saúde dependia, segundo o Programa de Apoio à Promoção e Educação para a Saúde, da Direção-Geral da Educação (s.d.), da adesão de cada uma das escolas à Rede Nacional de Escolas Promotoras de Saúde (RNEPS), em consonância com o respetivo projeto educativo. No entanto, a Educação para a Saúde já era referida anteriormente na legislação relativa à educação. Assim, a Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 46/86, de 14 de outubro, no seu art.º 47º, ponto 2, refere a Educação para a Saúde como uma das componentes dos planos curriculares de todos os ciclos do ensino básico, a desenvolver no âmbito de uma área de formação pessoal e social.

Do mesmo modo, pode ainda fazer-se menção a uma lei anterior, Lei n.º 3/84, de 24 de março, que já faz referência à educação sexual e planeamento familiar (um dos âmbitos da educação para a saúde), referindo no seu art.º 2º o dever do estado cooperar com os pais na educação sexual dos jovens através da escola, organizações sanitárias e meios de comunicação social. Aponta ainda os conteúdos de referência a incluir nos programas escolares e a necessidade de formação dos docentes nesta área.

Segundo Mota (2011), em 1993 é criado o Programa de Promoção e Educação para a Saúde no âmbito da publicação do Despacho nº 172/93, de 27 de julho. A mesma autora refere ainda a formalização de um acordo entre Ministério da Educação e Ministério da Saúde para o desenvolvimento da RNEPS, através da publicação dos Despachos Conjuntos n.º 271/98, de 23 de Março e n.º 734/2000, de 18 de Julho. Este acordo teria como objetivo garantir o envolvimento das escolas e centros de saúde na Promoção da

Saúde da comunidade educativa.

Sem prejuízo da publicação subsequente de outra legislação específica relativa à Promoção da Saúde, quer no âmbito do Ministério da Saúde, quer no que diz respeito especificamente à área da sexualidade, ressalva-se a publicação do Despacho Interno n.º 15987/2006 - Secretaria de Estado da Educação, de 27 de setembro, que prevê, segundo Mota (2011) a inclusão no projeto educativo da escola de temas prioritários relacionados com a Promoção e Educação para a Saúde, tais como alimentação e atividade física, consumo de substâncias ativas, sexualidade, infeções sexualmente transmissíveis (nomeadamente o VIH-SIDA) e violência em meio escolar.

Em 20 de fevereiro de 2007 é publicado o Despacho n.º 2506/2007, que determina que os agrupamentos ou escolas com projetos na área da Educação para Saúde designem um docente, atendendo à sua formação e experiência nesta área, para exercer as funções de coordenador da Educação para a Saúde.

Mais recentemente foram publicados outros normativos legais na área da Promoção e Educação para a Saúde, nomeadamente na promoção da educação sexual em meio escolar, tais como a Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto, regulamentada pela Portaria n.º 196-A/2010, de 9 de abril, que estabelece a aplicação da educação sexual nos estabelecimentos do ensino básico e do ensino secundário. Determina as finalidades da educação sexual, as suas modalidades, os conteúdos a abordar, a sua inclusão obrigatória no projeto educativo, a existência do projeto de educação sexual da turma, a designação de um coordenador e equipa multidisciplinar, o estabelecimento de parcerias e a disponibilização de um gabinete de informação e apoio ao aluno, bem como a participação da comunidade escolar.

3.7.2 Atividades desenvolvidas enquanto coordenadora do projeto de Promoção e Educação para a Saúde

O desempenho do cargo de coordenadora do projeto de Promoção e Educação para a Saúde, assumido em dois anos consecutivos, 2007/2008 e 2008/2009, revestiu-se da consecução de um conjunto de ações/atividades que a seguir descrevemos:

- elaboração do projeto de Promoção e Educação para a Saúde do agrupamento, em articulação com o órgão de gestão, e tendo por base a sua adequação à população-alvo; - definição, em articulação com o órgão de gestão do agrupamento, de uma equipa multidisciplinar de apoio ao projeto;

- articulação com o centro de saúde local das atividades previstas no projeto que implicaram a participação desta unidade de saúde (ações de formação, ações de sensibilização, rastreios de saúde, etc.);

- coordenação da criação do gabinete de apoio ao aluno;

- coordenação da aplicação no agrupamento de diferentes projetos na área da saúde: Programa Escolas Livres de Tabaco (PELT), Programa Alimentação Saudável em Saúde Escolar (PASSE) e Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar (PRESSE);

- dinamização de um concurso a nível do agrupamento para elaboração do logótipo do projeto;

- preparação de guiões de trabalho e respetivos recursos educativos, adequados aos diferentes níveis de ensino, com vista à comemoração de um dia temático por toda a população discente do agrupamento, coordenação da sua aplicação e avaliação final: 2007/2008 - Dia da não-violência na escola (Bullying) e 2008/2009- Dia da cidadania (Igualdade entre géneros);

- dinamização da feira dos projetos PES das turmas do agrupamento;

- coordenação dos procedimentos relativos à criação de um centro de recursos PES; - participação nas reuniões de coordenadores do projeto de promoção e educação para a saúde organizadas e orientadas pela DRN – EAE -DOURO NORTE;

- participação no Encontro Nacional de Promoção e Educação para a Saúde em Meio Escolar, organizado pela DGIDC (Direção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular), em Lisboa;

- elaboração do relatório final de avaliação da implementação do projeto, tendo por base as avaliações no âmbito dos grupo-turma.

3.7.3 Reflexão crítica sobre o desempenho do cargo de coordenadora do projeto de Promoção e Educação para a Saúde

De uma forma geral, ao longo dos dois anos em que desempenhámos este cargo, foram cumpridas todas as funções intrínsecas ao mesmo e previstas no respetivo projeto do agrupamento.

Em Educação para a Saúde, segundo Mandim (2007), a transmissão de informação não é o bastante, havendo necessidade de aplicar técnicas e proporcionar ambientes humanos e materiais favoráveis. Deverá haver lugar à oportunidade de mudança de atitudes por parte dos alunos com vista à promoção da sua saúde. Tais premissas

poderão criar alguns constrangimentos na implementação de um projeto de Promoção e Educação para a Saúde, pois nem sempre os professores se sentem “preparados”, quer cientificamente, atendendo ao tipo de conteúdos, quer emocionalmente, por considerarem constrangedor abordar alguns assuntos com os alunos. Tal situação torna, por vezes, difícil motivar os professores a participarem com entusiasmo e a envolverem- se, no verdadeiro sentido da palavra, nos projetos relacionados com a saúde.

Assim, consideramos como um dos principais constrangimentos na implementação do projeto de Promoção e Educação para a Saúde, o fraco envolvimento por parte de alguns professores, havendo a clara tendência de atribuírem aos professores de ciências naturais e educação física, o papel principal de trabalharem esta área com os alunos. Outro constrangimento na coordenação deste projeto relacionou-se com o facto de a coordenação recair sobre todos os ciclos de ensino e também da educação pré-escolar, abrangendo um grande número de alunos e professores, dispersos por um grande número de estabelecimentos de ensino do concelho, o que obviamente dificultou o trabalho dos professores.

Há ainda a considerar, com base na avaliação realizada do trabalho desenvolvido durante os dois anos em que coordenámos o projeto, a falta de formação dos professores e educadores ao nível das diversas temáticas da saúde e principalmente ao nível da aplicação de dinâmicas próprias para trabalhar o domínio das competências pessoais e sociais, como um forte impedimento da implementação efetiva da Promoção e Educação para a Saúde.

No entanto, consideramos que houve aspetos largamente positivos no desenvolvimento deste projeto, tais como conseguir abranger todos os alunos do agrupamento, a existência de uma verba específica destinada ao desenvolvimento do projeto, atribuída pela DGIDC, no âmbito da candidatura do agrupamento realizada no início do ano letivo, a constituição de uma equipa de trabalho multidisciplinar, o apoio manifestado pelo conselho executivo à implementação do projeto, o apoio dos coordenadores de ciclo na comunicação entre a coordenadora do projeto e diretores de turma /titulares de turma, o empenho e o trabalho demonstrado pela maioria dos diretores de turma/titulares de turma/educadores em desenvolver o projeto PES da turma, apesar das dificuldades muitas vezes encontradas e, por último, a parceria estabelecida com o centro de saúde em diversos programas e projetos específicos.

Consideramos o trabalho desenvolvido como bastante enriquecedor e gratificante, quer em termos pessoais, quer em termos profissionais, pois o exercício deste cargo

contribuiu para o aprofundamento de competências relacionadas com a área da saúde e proporcionou o envolvimento com um conjunto enorme de colegas de diferentes ciclos de ensino e, por isso diferentes formas e realidades de vivência da Promoção e Educação para Saúde. As reuniões frequentes com a EAE-Douro Norte, por permitirem a troca de experiências entre coordenadores deste projeto em diferentes escolas, constituíram-se também como uma mais-valia e uma fonte de incentivo permanente.