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Parte II – Estratégias implementadas no decurso da prática pedagógica

2.6 Estratégias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem ao longo da prática pedagógica

2.6.2 Trabalho de Projeto

Conforme Ferreira (2004), o saber orientar e participar em projetos é uma ferramenta fundamental para uma participação plena na sociedade atual, onde os projetos assumem cada vez mais um papel destacado em todas as áreas de atividade. A mesma ideia é enfatizada por Moura e Barbosa (2006), ao referirem como prática cada vez mais frequente o desenvolvimento de atividades com base em projetos em distintas áreas do conhecimento humano.

Apesar de existirem diferentes significados para o termo projeto (Ferreira, 2004, Moura e Barbosa, 2006), no contexto deste relatório abordaremos o projeto no sentido de trabalho de projeto enquanto estratégia de intervenção pedagógica (Ferreira, 2004). Neste sentido, o trabalho de projeto pressupõe que as aprendizagens dos alunos resultam do seu envolvimento em atividades de pesquisa e resolução de problemas, habitualmente de forma cooperativa, com grande autonomia e sentido de responsabilidade (Ferreira, 2004). Também na opinião de Abrantes, Figueiredo e Simão (2002), há aspetos caracterizadores do trabalho de projeto que são universalmente aceites, é uma atividade intencional, pressupõe considerável iniciativa, autonomia e

cooperação, está imbuído de autenticidade, compreende complexidade e incerteza e

possui caráter prolongado e faseado.

O desenvolvimento do trabalho de projeto implica um conjunto de ações sequenciadas, que segundo Rangel (2002 in Ferreira, 2010) se iniciam pela fase de arranque e planificação (que inclui a diagnose do tema, dos interesses dos alunos e dos conhecimentos que já possuem, a definição dos objetivos e a planificação das atividades

a desenvolver), continuam na fase de desenvolvimento do projeto (com a execução das atividades previstas, a recolha, seleção, análise e síntese de informação e a realização de avaliações intermédias) e terminam com a fase de conclusão e avaliação (que inclui a apresentação do projeto/produtos finais e a avaliação final do mesmo).

No desenvolvimento do trabalho de projeto, cabe ao professor o papel de ajudar os alunos, por um lado a transformar os seus interesses e desejos em projetos (Abrantes, Figueiredo e Simão, 2002), e por outro, durante a concretização dos mesmos, orientar,

moderar e gerir a sua execução (Ferreira, 2008). Simultaneamente têm ainda que

avaliar as aprendizagens dos alunos, bem como as dificuldades que vão encontrando com o objetivo de os ajudar a superá-las (Ferreira, 2013).

Quanto ao papel dos alunos, estes são os atores principais, pois são eles que escolhem o problema, pesquisam, planificam e concretizam as atividades que lhes possibilitam responder ao problema inicial, para além de realizarem a avaliação do desenvolvimento do projeto e apresentarem os resultados (Castro e Ricardo, 1993; Cortesão, Leite, e Pacheco, 2002; Ferreira, 2008; Leite, Malpique e Santos, 2001 referenciados em Ferreira, 2013).

O trabalho de projeto permite, segundo Castro e Ricardo (1992), entre outras, praticar competências sociais (comunicar, trabalhar em equipa, gerir de conflitos, tomar decisões), estabelecer uma relação entre a teoria e a prática e aprender a solucionar problemas com os recursos disponíveis.

2.6.2.1 Aplicação do Trabalho de Projeto no decurso da prática pedagógica

No decurso da prática pedagógica procurámos sempre que foi possível, quer no ensino básico, quer no ensino secundário, desenvolver o trabalho de projeto.

Quanto ao ensino básico, um dos últimos trabalhos de projeto desenvolvidos foi no 8º ano de escolaridade, no âmbito do estudo das “Perturbações no equilíbrio dos ecossistemas”. O projeto incidiu sobre o estudo da poluição luminosa, sendo que os alunos, com uma orientação inicial da professora, responderam, através das suas pesquisas, a um conjunto de questões: “O que é a poluição luminosa?”, “Quais as suas causas?”, “Quais as suas consequências?”, “Como fazer para evitar/minorar os seus efeitos?”. A partir das suas pesquisas (na internet, em simuladores, realizando uma auditoria à sua rua) os alunos responderam às questões colocadas e elaboraram um conjunto de produtos, tais como panfletos, apresentações em PowerPoint, carta ao Presidente da junta de freguesia, e apresentaram as suas conclusões aos pais e restantes

alunos do 8º ano não participantes no projeto.

Já no ensino secundário, o trabalho de projeto foi sendo desenvolvido nas áreas disciplinares, concretizando pequenos projetos relacionados com as temáticas do programa. Assumiu um caráter mais relevante e prolongado no tempo, numa “Assembleia de Turma” no âmbito da direção de turma de uma turma de 11º ano e em Área de Projeto (AP), do 12º ano. No que concerne à Assembleia de Turma, o projeto relacionou-se com o desenvolvimento do projeto de Promoção e Educação para Saúde, tendo a professora lançado o desafio aos alunos de prepararem uma atividade de formação interpares no âmbito da comemoração do dia mundial do VIH-SIDA. Os alunos planearam e concretizaram uma ação para os restantes alunos do ensino secundário, que decorreu no auditório municipal, com a duração de 90 minutos, e que incluiu entre outros produtos, a abertura da sessão, a apresentação de um testemunho real, a apresentação de um PowerPoint elucidativo, a simulação de uma entrevista a um seropositivo, a elaboração e apresentação de um filme, a declamação de um poema, a recolha de questões das turmas-alvo e apresentação e discussão das respostas, a produção e entrega de laços e panfletos informativos a todos os presentes.

Quanto à AP do 12º ano, ao longo dos três anos em que lecionámos esta área curricular não disciplinar, a metodologia do trabalho de projeto foi implementada segundo as orientações constantes do documento “Orientações - Área de Projeto dos cursos científico-humanísticos e Projeto Tecnológico dos cursos tecnológicos”, da DGIDC. Dada a existência de mais do que uma turma do 12º ano e ao facto de ao mesmo professor só ser atribuída uma turma de AP, houve necessidade de articulação entre os professores para evitar grandes desajustamentos no processo de implementação e avaliação dos projetos/alunos de cada turma. Atendendo às características, já explanadas, da metodologia de trabalho de projeto e ao tipo de envolvimento que a maioria dos alunos vai desenvolvendo no decurso dos projetos, esta é uma estratégia que nos confere uma grande satisfação e permite aos alunos, como referimos anteriormente, o desenvolvimento de um conjunto de competências relevantes, quer para o seu quotidiano, quer para a vida académica, no caso do ingresso no ensino superior. Testemunhos de alunos que tiveram a satisfação de se envolverem nos projetos de AP-12º ano, mostram a importância desta área e desta metodologia no seu desenvolvimento pessoal e profissional o que, infelizmente, não vai de encontro às políticas educativas impostas pelo anterior Ministério da Educação (e também pelo atual Ministério da Educação e Ciência), pois o Dec. Lei n.º 50/2011, de 8 de abril, elimina a

Área de Projeto da matriz dos cursos científico-humanísticos, que havia sido implementada pelo Dec. Lei 74/2004, de 26 de março, tendo esta área curricular sido efetivamente concretizada apenas durante cinco anos letivos, de 2006/2007 a 2010/2011. Segundo Bento e Mendonça (2012), esta decisão não teve como suporte qualquer estudo efetuado no sentido de avaliar a implementação desta área curricular não disciplinar, foi tomada contra o parecer do Conselho Nacional de Educação (n.º3/2011) e não teve em conta as experiências e as implicações que a mesma gerou no desenvolvimento de competências nos alunos durante a sua implementação.