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Parte II – Estratégias implementadas no decurso da prática pedagógica

2.6 Estratégias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem ao longo da prática pedagógica

2.6.1 Trabalho prático

De acordo com Mendes e Rebelo (2011), reconhece-se a importância do Trabalho Prático no ensino das ciências, sendo por isso justificável a grande atenção dispensada

ao mesmo no âmbito da investigação educacional, a qual vem observando as suas potencialidades, bem como refletindo sobre as consequências que pode ter no desenvolvimento de competências nos alunos. A importância de que se reveste o Trabalho Prático no ensino das ciências, segundo as mesmas autoras, está patente no facto deste proporcionar aos alunos a possibilidades de desenvolvimento de um grande conjunto de competências e ao mesmo tempo, construírem e aprofundarem saberes de diversas naturezas, concetual, procedimental e atitudinal.

Segundo Caamaño (2003), citado por Mendes e Rebelo (2011), o desenvolvimento de atividades de caráter prático pode permitir atingir diversos tipos de objetivos ao promover a observação, a colocação de questões e a interpretação de fenómenos da natureza, o entendimento do papel das hipóteses e da experimentação no desenvolvimento da ciência, a aprendizagem de habilidades na manipulação de equipamentos e materiais de laboratório/campo, e ainda, a aquisição de processos mentais complexos que são indispensáveis na resolução de problemas e na investigação. Para Wellington (2000 in Mendes e Rebelo, 2011), a aplicação deste tipo de trabalho na sala, tem ainda a vantagem de proporcionar aos alunos o desenvolvimento de capacidades de comunicação, tanto oral como escrita, podendo esta revestir formas diversas e podendo também implicar o recurso às tecnologias de informação e comunicação. Pode ainda considerar-se a dimensão das atitudes, pois qualquer tipo de atividade prática, por implicar normalmente o trabalho de grupo, concede oportunidades aos alunos para aprenderem a escutar, a respeitar a opinião dos outros, a valorizar o trabalho de grupo e colaborativo, a terem perseverança, a serem honestos, características estas de grande importância, quer no próprio trabalho científico, em particular, quer nos cidadãos, de um modo geral (Mendes e Rebelo, 2011).

A definição de Trabalho Pático abrange, segundo Hodson (1988), referido por Dourado (2001), todas as práticas de ensino-aprendizagem que obriguem ao envolvimento ativo do aluno nas mesmas, não se restringindo este envolvimento à manipulação (nível psicomotor), sendo muito mais abrangente por envolver também o nível cognitivo e afetivo (Mendes e Rebelo, 2011). Conforme Leite (2000), o Trabalho Prático pode envolver diferentes formatos, o trabalho de campo (quando realizado ao ar livre) e o trabalho laboratorial (quando é utilizado material de laboratório num laboratório ou mesmo sala convencional), mas também, atividades de papel e lápis, pesquisa de informação, utilização de simuladores e o trabalho experimental, se envolver por parte

do aluno o controlo e a manipulação de variáveis. Mendes e Rebelo (2011), referem ainda, a redação de documentos e a entrevista (fig.7).

Figura 7 – Exemplos de formatos de trabalho prático. (in Mendes e Rebelo, 2011, p.4)

Se atentarmos nas atividades laboratoriais, por poderem adotar diferentes tipologias, podem ter também diferentes intentos educativos, dado o facto de mobilizarem conhecimentos concetuais e procedimentais diferentes (Mendes e Rebelo (2011). Assim, segundo Leite (2000), as atividades laboratoriais podem assumir as tipologias referidas na tabela 9.

Tabela 9 – Tipologia de atividades laboratoriais. (adaptado de Leite, 2000, p. 4)

OBJETIVO PRINCIPAL TIPO DE ATIVIDADES

Técnicas e habilidades laboratoriais • Exercícios

Conhecimento concetual

Reforço

• Atividades para aquisição de sensibilidade acerca de fenómenos

• Atividades ilustrativas

Construção • Experiências orientadas para a determinação do que acontece

Reconstrução •Prevê-Observa-Explica-Reflete

(com ou sem procedimento laboratorial incluído)

Metodologia científica • Investigações

Mendes e Rebelo (2011) chamam a atenção para a possibilidade de, no decurso do desenho das atividades práticas, se poder ajustar o nível de dificuldade atendendo ao progresso e autonomia que os alunos manifestem, bem como às capacidades que se

pretendem incrementar. Deste modo, refere-se um conjunto de fatores que poderão aumentar o grau de dificuldade das atividades práticas, “o contexto enquadrador não for

familiar aos alunos, partir de um problema em vez de uma questão, possuir muitas tarefas com caráter aberto, exigir uma elevada carga concetual para compreender e resolver as atividades, implicar o controlo de um número reduzido de variáveis, envolver o estudo simultâneo de mais do que uma variável independente, estudar uma variável dependente difícil de medir e exigir a utilização de técnicas ou dispositivos laboratoriais complexos (Mendes e Rebelo, 2011, p.6).

Para além do tipo de atividade prática selecionada, há mais dois fatores que condicionam o valor pedagógico dessa mesma atividade, o papel do professor e do aluno, que por sua vez, também podem ser ajustados (Mendes e Rebelo (2011), atendendo ao objetivo que se pretende atingir. Assim, segundo as mesmas autoras, o

grau de abertura da atividade a desenvolver, que depende do papel atribuído ao

professor e ao aluno, tem influência no sucesso dessa mesma atividade, devendo por isso, ser bem pensado (figura 8).

Figura 8 – Grau de abertura das atividades a desenvolver. (in Mendes e Rebelo, 2011, p.6)

2.6.1.1 Aplicação do Trabalho Prático no decurso da prática pedagógica

No decurso da prática pedagógica procurámos sempre, quer no ensino básico, quer no ensino secundário, desenvolver o trabalho prático nas suas diversas modalidades. Assim, no ensino básico foram realizadas observações ao microscópio de diferentes materiais biológicos, diferentes tipos de simulações de fenómenos geológicos, construção de modelos e escalas, estudo macroscópico de amostras de rochas e minerais, realização de fichas de trabalho/exercícios de aplicação sobre os diferentes conteúdos abordados, pesquisas individuais/grupo sobre diversos conteúdos, elaboração de sínteses dos conteúdos abordados, elaboração de relatórios de atividades experimentais/laboratoriais/visitas de estudo, investigação do efeito da alteração de variáveis no comportamento de seres vivos, análise e discussão de artigos científicos,

exploração de aplicações informáticas, dissecações de órgãos biológicos e identificação de nutrientes em alimentos, entre outros.

Quanto ao ensino secundário, podemos também referir a simulação de diversos processos geológicos, construção de modelos, observações microscópicas de diversos materiais e fenómenos biológicos, investigação sobre o efeito de variáveis em determinados processos biológicos, identificação e investigação de propriedades de materiais geológicos, pesquisas individuais/grupo sobre diversos conteúdos, elaboração de sínteses, elaboração de relatórios de atividades experimentais/laboratoriais/visitas de estudo, exploração de aplicações informáticas/simuladores, análise e discussão de artigos científicos, construção de portefólios e aplicação de diferentes técnicas de biotecnologia num laboratório virtual.