• Nenhum resultado encontrado

Parte II – Estratégias implementadas no decurso da prática pedagógica

2.6 Estratégias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem ao longo da prática pedagógica

2.6.4 Perspetiva CTS

Para Martins (2002), o indiscutível avanço do conhecimento científico e tecnológico tem enormes repercussões, muitas vezes imprevistas, na sociedade em geral e também na escola, daí que o ensino das ciências deverá abandonar a “instrução científica” passando à chamada “educação científica”. Neste sentido, refere a mesma autora, a educação em ciências, numa perspetiva de preparação dos alunos para a compreensão do mundo e das relações que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia e a sociedade (CTS), tem sido objeto de estudo de pensadores, educadores e professores.

O movimento CTS é um movimento que advoga o ensino das ciências enquadrado em contextos de vida real (Martins, 2002), permitindo o desenvolvimento de cidadãos alfabetizados do ponto de vista científico e tecnológico, capacitando-os para a tomada de decisões informadas, bem como para ações responsáveis (Rubba e Wiesenmayer, 1988 in Membiela, 2001) e para o alcance do pensamento crítico e da liberdade intelectual (Aikenhead, 1987 in Membiela, 2001). É, segundo Magalhães e Tenreiro- Vieira (2006), o pensamento crítico que permitirá aos alunos uma melhor preparação para a vida ativa, na medida em que os ajuda a compreender e responder de forma crítica a notícias sobre questões científicas e tecnológicas, a avaliar os efeitos da ciência e da tecnologia, bem como os seus contributos para criar ou resolver problemas à sociedade atual.

literacia científica utilizando variadas abordagens, complementares entre si, a transdisciplinar, a histórica, a epistemológica, a sociológica e a problemática, sendo esta última, largamente proposta, na opinião dos autores referidos anteriormente, por via das suas potencialidades, uma vez que a utilização de problemas atuais implicará um maior interesse e participação dos alunos, proporcionando-lhe o desenvolvimento das competência essenciais à resolução desses problemas.

Membiela (2001) refere que Hickman, Patrick e Bybee (1987), apontam diversos caminhos para a introdução da perspetiva CTS nos currículos escolares, tais como a inclusão de módulos CTS em matérias disciplinares, a inclusão pontual e repetida da perspetiva CTS em matérias já existentes, a criação de matérias CTS e a transformação completa de um conteúdo tradicional mediante a integração da perspetiva CTS ao longo do mesmo.

O mesmo autor considera que as metodologias de ensino mais utilizadas no desenvolvimento da perspetiva CTS são as que implicam o trabalho em pequenos grupos, a aprendizagem cooperativa, as discussões centradas nos alunos, a resolução de problemas, as simulações e jogos de papéis, a tomada de decisões e os debates e controvérsias.

Martins (2002) é da opinião que existem três motivos principais para obstaculizar a implementação da perspetiva CTS nas escolas, os professores, os programas e os recursos didáticos. Quanto aos professores, aponta a formação inicial e contínua, bem como as respetivas crenças e atitudes como um obstáculo a esta implementação; quanto aos programas, refere o caráter extenso e pouco motivador dos alunos; em relação aos recursos, nomeia a fraca qualidade dos manuais escolares em potenciar esta perspetiva e a inexistência de outro tipo de recursos disponíveis para os professores.

2.6.4.1 Aplicação da perspetiva CTS no decurso da prática pedagógica

O Currículo do Ensino Básico (Ministério da Educação, s. d.), já revogado, como referido anteriormente, mas na prática ainda em utilização nos 8º e 9º anos de escolaridade, salientava a importância da exploração dos quatros temas em torno dos quais se desenvolve o ensino das ciências no 3º ciclo, numa perspetiva interdisciplinar, onde a interação da Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente adquire um papel fundamental na organização e aquisição dos saberes científicos (ver figura 1, página 10).

CTS(A). Em relação ao 3º ciclo do ensino básico, abordámos o papel da ciência no domínio do conhecimento do Universo e a influência da sociedade no desenvolvimento do conhecimento científico, o uso da tecnologia na previsão de erupções vulcânicas e suas implicações nas populações, a influência do Homem ao nível dos ecossistemas e suas implicações, a utilização dos recursos naturais nas perspetivas tradicional e sustentável, o papel do Homem na proteção e conservação da natureza, o risco das inovações tecnológicas e científicas para a sociedade e o ambiente, as implicações éticas, sociais e ambientais da manipulação genética e da biotecnologia, o papel da ciência e da tecnologia na resolução de problemas de saúde individual e comunitária. Quanto ao ensino secundário, foram também muitos os temas em que se abordou esta perspetiva, o papel da ciência e da tecnologia no estudo do Sistema Solar, as intervenções do Homem nos subsistemas terrestres, a importância da gestão ambiental e do desenvolvimento sustentável, o papel da ciência e da tecnologia na proteção das populações e do ambiente face aos riscos inerentes à atividade vulcânica e sísmica, a valorização dos avanços científicos e tecnológicos ao serviço da medicina na resolução de anomalias congénitas, as implicações do uso das hormonas vegetais para fins económicos, a influência de agentes ambientais nos processos de diferenciação celular, as implicações éticas e morais da utilização dos processos cientifico-tecnológicos na manipulação da reprodução humana e de outros seres vivos, a influência de diversos contextos no desenvolvimento cientifico-tecnológico, a intervenção humana no ordenamento do território, a reprodução medicamente assistida e a manipulação de embriões, as implicações biológicas, éticas e morais da descodificação do genoma humano e da aplicação dos processos de clonagem e engenharia genética aos seres humanos, as implicações biológicas e sócio éticas que decorrem da obtenção de organismos geneticamente modificados e a aplicação dos processos biotecnológicos na indústria alimentar.

Na abordagem destes conteúdos foram utilizadas diferentes estratégias, os debates, os trabalhos de grupo, a visualização de documentários e pequenos filmes seguida de discussão, a análise de artigos dos média e sua apresentação crítica à turma, o estudo de casos, a confrontação dos alunos com situações controversas. Dada a falta de formação pessoal nesta área, esta perspetiva poderá não ter permitido atingir todos os objetivos inerentes a este tipo de estratégia, no entanto, achamos ainda assim, ter contribuído para o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos e para a sua consciencialização do papel da ciência e da tecnologia na sociedade atual, bem como para as relações que se

estabelecem entre ambas e a sociedade e o ambiente.