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5. O DIREITO À SAÚDE NAS JURISPRUDÊNCIAS INTERNACIONAL E

5.2 Sistemas Regionais

5.2.4 Corte Europeia de Justiça

A Corte Europeia de Justiça foi criada em 1952 para “interpreta[r] o direito da EU a fim de garantir a sua aplicação uniforme em todos os Estados-Membros. Além disso,

resolve os litígios entre os governos nacionais e as instituições europeias”224. Qualquer

indivíduo, empresa ou organização pode recorrer à Corte.

Sobre a jurisprudência da CEJ, Philippa Watson observa que

(...) a realidade é que a Comunidade Europeia (CE) se preocupa, primariamente, com direitos econômicos. É este o conjunto de direitos que mais recebe proteção dentro da ordem jurídica da Comunidade. Os direitos sociais dependem, em sua maioria, do exercício de uma atividade econômica, que resulta em uma aptidão ao exercício de tais direitos, ou integram uma atividade econômica, no sentido de que regulam as condições pelas quais a atividade econômica será exercida. É raro encontrar direitos sociais puros – ou seja, direitos que não são conectados a nenhuma atividade econômica por parte do beneficiário – que sejam justiçáveis pelas leis da CE225.

222 Petição n.º 30240/96, julgado em 2 de maio de 1997. 223 Petição n.º 44599/98, julgado em 6 de fevereiro de 2001.

224 Informação disponível em <http://europa.eu/about-eu/institutions-bodies/court-justice/index_pt.htm>, acesso

em 19 de agosto de 2013.

225 Tradução livre de: “(...) the reality is that the European Community (EC), is primarily concerned with

economic rights. It is this body of rights that is given the greatest degree of protection within the Community legal order. Social rights depend, for the most part, on either the exercise of an economic activity, which brings entitlement to those rights, or are an integral part of that economic activity, in the sense that they regulate the conditions under which that economic activity may be exercised. It is rare to find purely social rights – that is, rights that are unconnected to any economic activity on the part of the beneficiary – which are justiciable under EC law.” (WATSON, Philippa, European Court of Justice: Creative Responses in Uncharted Territory. In

De acordo com a autora, os julgamentos mais controversos da CEJ no que se refere à saúde pública são os que versam sobre o direito dos cidadãos de procurar atendimento no serviço de saúde público de outro país e serem reembolsados pelo sistema da seguridade social do seu país de origem.

Os casos mais emblemáticos nesse assunto são Kohll226 e Decker227, ambos

cidadãos de Luxemburgo. No primeiro, o Sr. Kohll conseguiu tratamento ortodôntico para sua filha em Trier (Alemanha) e no segundo, o Sr. Decker comprou um par de óculos em Arlon (Bélgica).

Em ambos os casos eles gostariam de ser reembolsados pelo sistema de saúde pública de Luxemburgo. Nenhum dos dois recebeu autorização prévia para adquirir os produtos e serviços em outro país. Em ambos os casos a CEJ entendeu que eles deveriam ser reembolsados.

Sobre o entendimento da CEJ em casos dessa natureza, Phillipa Watson o resume da seguinte forma:

Nem [o caso] Kholl ou [o caso] Decker envolvia tratamento hospitalar. Na sua jurisprudência posterior, o Tribunal considerou que não deve ser feita distinção entre o atendimento prestado em ambiente hospitalar e fora desse ambiente, mas a autorização prévia da autoridade competente da seguridade social pode ser necessária para garantir o equilíbrio financeiro dos sistemas de atendimento a saúde. Isso é razoável: os Estados-Membros devem ter uma indicação do tamanho de seu passivo para tratamentos de saúde no exterior e, se necessário, eles devem ser capazes de limitar sua exposição a tais custos para garantir a viabilidade do sistema nacional de saúde e garantir os direitos de seus cidadãos a serviços adequados e apropriados nesse sistema. Contudo, o direito dos cidadãos a exercer o seu direito de obter serviços de atendimento à saúde no exterior exige que tal autorização não possa ser recusada injustificadamente e o Tribunal previu uma série de princípios que devem reger a concessão e a recusa de autorizações. O tratamento em questão deve ser 'normal' no sentido de que deve ser suficientemente reconhecido nos círculos médicos e deve ser necessário para a condição do paciente e não seria possível ao Estado fornecê-lo sem o ‘devido atraso’ dentro do sistema de atendimento à saúde do Estado-Membro em que o paciente é segurado228.

LANGFORD, Malcolm. Social Rights Jurisprudence: Emerging Trends in International and Comparative Law. Cambridge: Cambridge University Press, 2008, p. 453.)

226 Caso C-158/96 [1998] ECR I – 1931. Informações disponíveis em WATSON, Philippa. Ob. cit., p. 461 a 463. 227 Caso C-120/95 [1998] ECR I – 1831. Informações disponíveis em WATSON, Philippa. Ob. cit., p. 461 a 463. 228 Tradução livre de: “Neither Kholl nor Decker involved hospital treatment. In its subsequent case law, the

Court held that no distinction should be made between care provided in a hospital environment and care outside such an environment, but the prior authorization of the insuring social security authority may be required in order to ensure the financial equilibrium of health care systems. This is reasonable: Member States must have an

Entre o entendimento da CEJ e o entendimento jurisprudencial brasileiro a respeito do tema, podemos notar alguns pontos convergentes, especialmente no que se refere à postura garantidora em ambos os casos e o estabelecimento de uma série de requisitos para o fornecimento de medicamentos ou tratamentos. Porém, como vimos no capítulo anterior, é possível verificar alguns julgados brasileiros que fornecimento gratuitamente drogas experimentais. Essa é uma corrente crescente na jurisprudência brasileira, mas, para ser deferido o pedido de tratamento experimental, é necessário que haja, além do requerimento médico, comprovação da necessidade desse tratamento para a manutenção da vida do paciente e impossibilidade de realização de outro tratamento com a mesma eficácia.