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Os princípios constitucionais relacionados ao direito à saúde

3. A POSITIVAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE: SUA PROTEÇÃO NA

3.1. A proteção da saúde no direito brasileiro

3.1.3. Os princípios constitucionais relacionados ao direito à saúde

De acordo com Sueli Gandolfi Dallari e Vidal Serrano Nunes Júnior93, os

princípios constitucionais relacionados com o direito à saúde são os seguintes: 1) fundamentalidade; 2) responsabilidade estatal; 3) acesso universal e igualitário; 4) gratuidade; e 5) integralidade.

92 São exemplo de normas definidoras de princípio institutivo relativas ao direito à saúde: “Art. 198, § 3º - Lei

complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: I - os percentuais de que trata o § 2º; II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União. (...) § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial.” E ainda: “Art. 199, § 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.”

O princípio da fundamentalidade significa que o direito à saúde é direito fundamental, pois está previsto no Capítulo II do Título II de nossa Constituição. Ou seja, como esse é um direito social, disposto no artigo 6º, tem também um caráter fundamental.

Para José Afonso da Silva,

É espantoso como um bem extraordinariamente relevante à vida humana só na Constituição de 1988 tenha sido elevado à condição de direito fundamental do homem. (...) O tema não era de todo estranho ao nosso direito constitucional anterior, que dava competência à União para legislar sobre defesa e proteção da saúde; mas isso tinha sentido de organização administrativa de combate às endemias e epidemias. Agora é diferente, trata-se de um direito do homem94.

Vale ressaltar que, de acordo com Sueli Gandolfi Dallari e Vidal Serrano Nunes Júnior,

essa fundamentalidade do direito à saúde se estende, por evidente, a todos os dispositivos dedicados ao tratamento do tema, o que revela que os arts. 196 a 200 da Constituição também fazem jus a tal identificação95.

Já o princípio da responsabilidade estatal existe em razão de ser o direito à saúde um direito social. Como visto, os direitos sociais (os chamados direitos de segunda dimensão) importam prestações, atuações positivas por parte do Estado para que possam ser desfrutados de forma plena.

A responsabilidade estatal, neste caso, é de todos os entes da Federação: União, Estados, Municípios e Distrito Federal. Para José Afonso da Silva:

O dever se cumpre pelas prestações de saúde, que, por sua vez, se concretizam mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos – políticas, essas, que, por seu turno, se efetivam pela execução de ações e serviços de saúde não apenas visando à cura de doenças96.

O princípio do acesso universal e igualitário, por sua vez, decorre do princípio da fundamentalidade e da leitura do próprio artigo 196 da Constituição Federal. Isto porque a igualdade é um dos pilares dos direitos fundamentais, conforme previsto no artigo 5º, caput:

94 da SILVA, José Afonso. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros Editores, 6ª ed., 2009,

p. 185.

95 Idem, p. 67. 96 Idem, p. 768.

“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...)”. Já o acesso universal está previsto no artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem (...) ao acesso universal e igualitário (...)”.

Sueli Gandolfi Dallari e Vidal Serrano Nunes Júnior observam ainda que

não só a noção de igualdade constante do caput do art. 5º, como também a premissa republicana, incorporada ao art. 19, III, também da Lei Maior, segundo a qual se veda a todos os entes da federação ‘criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.’ Disposição absolutamente coerente ao sistema constitucional que elevou a saúde ao patamar de um direito fundamental, fazendo-a, portanto, um elemento intrínseco à dignidade do ser humano. De fato, não é possível creditar-se a alguns maior valor intrínseco do que a outros, criando-se, por este malfazejo caminho, restrições de acesso ou desigualdade entre os homens97.

No que se refere ao princípio da gratuidade, há o dever de o Estado prestar o atendimento à saúde de forma gratuita. Esse princípio é uma ferramenta para se alcançar o princípio do acesso universal e igualitário. Ou seja, somente se o atendimento à saúde for feito de forma gratuita é que poderá ser caracterizado como “igualitário”. Toda a população terá, teoricamente, igualdade de condições para recebê-lo, e, com isto, o acesso à saúde será considerado universal.

Por fim, o princípio da integralidade significa a forma pela qual a saúde será tratada. O artigo 196 preconiza que o Estado deverá desenvolver “ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” Ou seja, se o Estado cuidasse apenas da recuperação dos pacientes, a saúde não estaria integralmente protegida. Como bem explicam Sueli Gandolfi Dallari e Vidal Serrano Nunes Júnior:

Como se cogitar de prevenção à saúde da coletividade se, por exemplo, pessoas com doenças infectocontagiosas, como a tuberculose, por exemplo, não são individualmente e adequadamente tratadas? Assim, prevenção, tratamento, integração ou reintegração social, evolução tecnológica etc. constituem faces de um mesmo bem jurídico, a saúde, que depende, portanto, de todos esses dados para que possa ser incrementada98.

Vale ressaltar, por fim, que o princípio da integralidade é utilizado pelos julgadores ao deferir pedidos de tratamentos experimentais ou fornecimento de medicamentos

97 DALLARI, Sueli Gandolfi, NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Ob. cit., p. 72. 98 Idem, p. 75.

ainda não registrados na ANVISA. Isso porque esses medicamentos e tratamentos constituem

a evolução tecnológica englobada pelo princípio da integralidade99 .

3.1.4. Política brasileira de distribuição de medicamentos e a repartição de