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5. O DIREITO À SAÚDE NAS JURISPRUDÊNCIAS INTERNACIONAL E

5.2 Sistemas Regionais

5.2.2 Corte Interamericana de Direitos Humanos

A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) é um órgão judicial internacional autônomo do sistema da OEA e tem sede em São José da Costa Rica. A Corte

IDH tem função jurisdicional e consultiva205. O tribunal é composto por sete juízes nacionais

dos Estados-membros da OEA206.

202 MELISH, Tara J. Ob.cit., p. 366. 203 Idem, p. 368.

204 Idem, p. 369.

205 Cf. previsto no artigo 2 do Estatuto da Corte IDH, disponível em

<http://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/v.Estatuto.Corte.htm>, acesso em 9 de agosto de 2013.

206 Cf. artigo 4 do Estatuto da Corte IDH. Informação disponível em

A Corte Interamericana de Direitos Humanos tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das disposições da Convenção Americana sobre Direitos Humanos desde que os Estados-Partes envolvidos tenham reconhecido a sua competência. Somente a Comissão Interamericana e os Estados Partes da Convenção

Americana sobre Direitos Humanos podem submeter um caso à decisão desse Tribunal207. Ou

seja, qualquer indivíduo que pretenda submeter denúncia para apreciação da Corte deverá

apresenta-la à CIDH208.

De acordo com Tara J. Melish, diferentemente do que ocorre na CIDH, na Corte IDH,

Em vez de reconhecer individualmente os direitos à saúde, à educação ou à moradia adequada nos termos do artigo 26 da Convenção, a Corte preferiu, pelo menos até agora, subsumir esses direitos básicos em um conceito amplamente compreendido como "direito à vida "e, mais especificamente, o" direito de abrigar um projeto de vida". Aspectos essenciais dos direitos à saúde, educação, alimentação, lazer, saneamento e moradia adequada, os quais são necessários para o desenvolvimento de uma vida digna, foram abordados nos termos dos artigos 4 e 5 da Convenção, respectivamente, direito à vida e à integridade pessoal209.

Ao assim decidir, considerando somente direitos amplos, como o direito à vida tomada em si mesma, particularidades concernentes a cada um desses direitos podem não receber a devida atenção dentro de um contexto maior do direito – no caso do exemplo, aqueles decorrentes da vida em si. Em nossa opinião, para uma melhor análise dos direitos econômicos, sociais e culturais, a Corte IDH deveria considerá-los individualmente em suas decisões.

Especificamente no que se refere ao direito à saúde, um caso de destaque analisado pela Corte IDH foi o caso Panchito López. Esse caso dizia respeito a um centro de

207 Cf. informações disponíveis no site

<http://www.agu.gov.br/sistemas/site/TemplateImagemTextoThumb.aspx?idConteudo=113486&ordenacao=1&i d_site=4922 >, acesso em 9 de agosto de 2013.

208 Diferentemente do que ocorre no Sistema Interamericano, qualquer indivíduo pode apresentar denúncia à

Corte Europeia de Direitos Humanos, de acordo com o artigo 34º da Convenção Europeia de Direitos Humanos, conforme informações disponíveis em <http://www.echr.coe.int/Documents/Convention_POR.pdf>, acesso em 9 de agosto de 2013.

209 Tradução livre de “Rather than recognise the autonomous rights of individuals to health, to education or to

adequate housing under Article 26 of the Convention, the Court has preferred, at least to date, to subsume these basic rights into a broadly-understood concept of the 'right to life' and, more specifically, the 'right to harbor a project of life'. Essential aspects of the rights to health, education, food, recreation, sanitation, and adequate housing, all of which are necessary for the development of a dignified life, have thus been addressed under Articles 4 and 5 of the Convention, protecting respectively the rights to life and personal integrity.” (MELISH, Tara J., Ob cit., p. 388).

detenção juvenil no Paraguai em péssimas condições (superlotação, falta de higiene, nutrição precária, falta de atendimento médico e psicológico adequado, sérias deficiências educacionais, falta de atividades de recreação e infraestrutura insuficiente).

Esse caso teve início em 1996, na CIDH, que, em maio de 2002, submeteu-o à apreciação da Corte IDH, para que esta julgasse se o Paraguai havia ou não violado os artigos 1(1) (obrigação de respeitar direitos) e 4 (direito à vida), da Convenção Interamericana, em razão da morte de várias crianças em um incêndio dentro desse centro de detenção.

A CIDH solicitou, ainda, a apreciação da Corte IDH para que esta julgasse o descumprimento, por parte do Paraguai, dos artigos 5 (direito a um tratamento humano), 7 (direito à liberdade pessoal), 19 (direitos da criança), 8 (direito a um julgamento justo) e 25 (proteção judicial), todos relacionados ao artigo 1 (1), já mencionado, em razão do tratamento recebido por todos os jovens internados naquele centro de detenção.

A Corte IDH reconheceu o descumprimento, por parte do Paraguai, de todos os artigos constantes da denúncia. A sentença trouxe, ainda, a obrigação do Paraguai de se comprometer a curto, médio e longo prazos, a estabelecer políticas públicas no que se refere a menores infratores.

A Corte IDH também ordenou medidas que o Paraguai deveria tomar para reparar o dano causado às crianças que estavam no centro de detenção à época do incêndio e aos parentes das crianças que lá faleceram, incluindo o pagamento de compensação em pecúnia pelos danos morais e materiais.

De acordo com Tara J. Melish,

O caso Panchito López representa um momento jurisprudencial crítico para a Corte por duas razões. Em primeiro lugar, ele expressamente estende o foco na saúde e garante condições para uma vida digna para todas as pessoas, não apenas crianças, assim diretamente realocando a proteção convencional conferida do Artigo 19 (proteção à infância) até o Artigo 4 (direito à vida). Neste sentido, as medidas de proteção necessárias para as crianças em matéria de saúde e educação são reconhecidas como não mais do que elevadas obrigações ou acomodações especializadas, com relação ao que é exigido para todos os seres humanos, dada a especial vulnerabilidade das crianças e seu estágio crucial de desenvolvimento. Isto é vital, já que a jurisprudência anterior tinha aparecido, de forma inadequada, para

limitar a aplicação dos direitos à saúde e à educação para o status de ser uma criança210.

No que se refere especificamente ao fornecimento de medicamentos, a falta de jurisprudência da Corte IDH nesse sentido ocorre em razão da impossibilidade de formulação de petições individuais perante a Corte. Como as petições nesse sentido são dirigidas à CIDH, os casos são resolvidos pela própria CIDH – o que, em nosso entendimento, não traz prejuízo algum aos cidadãos. Muito ao contrário: se a questão do fornecimento de medicamentos fosse tratada exclusivamente pela Corte IDH, os pleiteantes poderiam ser prejudicados pela demora no trâmite dos processos.

Percebemos que a atuação da CIDH é no sentido de solucionar problemas mais imediatos. Nesses casos, a CIDH é forçada a dar soluções rápidas.