• Nenhum resultado encontrado

Crescimento de Igrejas: Qual é o Propósito da Igreja?

Para entendermos a evolução da eclesiologia do Movimento de Crescimento de Igrejas, é necessário seguir C. Peter Wagner em seu entendimento de missão (i.e. o propósito da igreja) e evangelismo. É importante entender que, na maior parte, a eclesiologia de Wagner continua de onde McGravan parou. Nos livros de McGravan como The Bridges of God (As Ponter de Deus, 1955), How Churches Grow (Como as Igrejas Crescem, 1959) e Understanding Church Growth (Entendendo Crescimento de Igrejas, 1970), ele basicamente afirmava que as igrejas tinham um trabalho principal – multiplicar-se. Em outras palavras, o propósito da igreja é evangelizar e tudo deve ser subordinado a isso. Hoje, a teologia de Wager, que representa a eclesiologia do crescimento de igrejas, saiu desse conceito reduzido do propósito da igreja, apesar de o evangelismo ainda permanecer como propósito prioritário.

O Acordo de Lausanne, o principal enunciado de fé e crença de Wagner, afirma que na “missão da igreja de serviço sacrificial, o evangelismo é básico”, e que “a evangelização mundial requer que toda a igreja leve o evangelho completo ao mundo todo”. A teologia de Wagner se firma na primazia do evangelismo, mas o significado de evangelismo em sua teologia é freqüentemente incompreendida por alguns por ser sinônimo com missão e crescimento de igrejas. Já que sua teologia de crescimento de igrejas pressupõe a prioridade do evangelismo, se torna imperativo entender o significado exato da palavra e o contexto em que é usada. Primeiro, é necessário entender que a teologia de Wagner vê evangelismo como uma tarefa, ainda que a mais urgente tarefa, na definição de missão. Então, para entender evangelismo e sua prioridade na teologia de crescimento de igrejas, seu entendimento de missão deve ser examinado primeiro.

O significado de missão, diz Wagner, deve ser entendido no contexto do reino de Deus. João Batista pregou que o reino estava aberto a todos que se arrependessem dos pecados e se entregassem a fé em Cristo. Ao pregar no deserto da Judéia, ele disse, “Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas” (Mat. 3:2); mas os ensinamentos do reino no Novo Testamento discute mais do que apenas a conversão das pessoas. Ao instruir Seus discípulos em sua missão, Jesus disse, “E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios;” (Mat. 10:7-8). Wagner afirma que o significado de missão, no contexto do reino de Deus, é um ministério holístico. “Já que é isso que Deus nos manda fazer, é disso que se trata missão”. A missão ainda “visa o bem da pessoa em completo.”

Wagner reconhece que sua teologia de crescimento de igrejas seguiu uma trasformação evangélica geral no entendimento de missão. Suas mudanças teológicas também foram

75 resultado de críticas contra a teologia do crescimento de igrejas, uma das mais óbvias é “a concepção limitada de missão como evangelismo.” O Movimento de Crescimento de Igrejas, diz Bassham, “parece ter negligenciado uma discussão substancial que aconteceu nos últimos vinte e cinco anos, na qual o significado de missão, evangelismo, testemunho, serviço e salvação têm sido explorados e desenvolvidos.”

Até esse século, missão era, muitas vezes, igualada ao evangelismo. Para fazer missão era propagar a fé. Harvey Hoekstra rotulou essa função como “missão clássica,” que ele define como “um complexo de atividades em que o propósito principal é tornar Jesus Cristo conhecido como Senhor e Salvador, e persuadir homens a se tornarem seus discípulos e membros da igreja responsáveis.”

O significado clássico de missão deixou pouco espaço para outras atividades além do evangelismo. Rufus Anderson argumentou que missão é a pregação do evangelho e ganhar conversos, depois disso “a renovação social será seguida”. Ele, explicitamente, rejeitou qualquer propósito de missão que envolvia a “reorganização, por vários meios diretos, da estrutura desse sistema social na qual os conversos fazem parte.”

Ao chegar ao fim do século XIX, o entendimento de missão mudou dramaticamente. O movimento do evangelho social estava influenciando as igrejas e “missões foram metamorfoseadas de uma simples tarefa de ganhar conversos ... a uma tarefa complexa de participar ativamente nas benfeitoras e reconstruções sociais.”

Evangélicos começaram a montar defesas contra o evangelho social. Ao fazer isso, o evangelicalismo estava certamente afirmando a importância do evangelismo, mas, erroneamente, evitando qualquer reconhecimento de outros ministérios como sendo parte da missão. “Para permitir que a ordem cultural rastejasse para dentro da definição técnica de missão,” ele disse, “teria que ser interpretado como uma capitulação ao inimigo.”

A mudança do entendimento de missão de Wagner seguiu a mudança no evangelicalismo em geral. Sinais de mudança foram percebidas no Congresso de Berlim em 1966, mas a mudança foi explícita no Congresso Internacional em Evangelização Mundial, em Lausanne, Suíça, em 1974.

Wagner foi significantemente influenciado por John R. W. Sttot, que era pastor da Igreja de Todas as Almas em Londres. Em Berlim, Sttot tinha mantido a clássica definição de missão. Ele apresentou três sessões plenárias sobre estudos bíblicos sobre a Grande Comissão. Seu entendimento de missão estava claro – “A missão da igreja, então, não era reformar a sociedade, mas pregar o evangelho”.

Sttot, porém, liderou os evangélicos à redefinição do conceito de missão. Quando o encontro de Lausanne começou, ele havia se tornado o autor chefe do Acordo de Lausanne, que declarou “que evangelismo e envolvimento sociopolítico são parte de nosso trabalho cristão. Para ambos, são necessárias expressões de nossas doutrinas de Deus e o homem, nosso amor pelo vizinho e nossa obediência a Jesus Cristo.” Pouco depois de Lausanne, Sttot publicou um livro no qual ele afirmou que a missão da igreja “inclui evangelismo e responsabilidade social, já que ambos são expressões autênticas do amor que deseja servir ao homem em sua necessidade.”

O entendimento de missão de Wagner seguiu um padrão similar. Em 1971, ele publicou Frontiers in Missionary Strategy (Fronteiras em Estratégias Missionárias), no qual ele usou missão e evangelismo alternadamente. Ele também argumentou por uma definição de missão que fosse realmente uma definição de evangelismo de presença, proclamação e persuasão. Depois, Wagner declarou uma mudança nesse aspecto de sua teologia.

Isso foi antes de eu ir para Lausanne e ouvir palestrantes como René Padilla, Samuel Escobar e Orlando Costas. Fui influenciado pelo Acordo de Lausanne, os escritos de John

76 Sttot e a progressiva dinâmica do comitê de Lausanne, ao qual pertenço desde sua

fundação. Agora acredito que a missão da igreja abraça tanto as ordens culturais como as evangelísticas. Acredito naquilo que agora está sendo chamado de “missão holística”.

Missão holística, então, disse Wagner, envolve duas ordens claras. Ele usou a terminologia concebida por Arthur Glasser, a ordem cultural e a ordem evangelística. A ordem cultural, às vezes chamada de responsabilidade social cristã, é a responsabilidade de todos os cristãos. Disse Wagner: “Fazendo o bem aos outros, se nossos esforços são dirigidos aos indivíduos ou à sociedade como um todo, é um dever bíblico, uma ordem cultural dada por Deus.” Wagner seguiu a tendência no círculo evangélico que agora declara que tanto o ministério social cristão quanto o evangelismo são componentes essenciais da missão.

Wagner anunciou sua transformação em um ministério mais holístico em Church Growth and the Whole Gospel (Crescimento de Igrejas e o Evangelho Completo). Nesse livro Wagner lamentou a era da “Grande Reversão”, uma época do século em que evangélicos reagiram adversamente a qualquer coisa que parecesse um ministério social. Wagner dedicou um capítulo inteiro em seu livro para o chamado aos cristãos para se envolverem em ministérios sociais.

Depois que Church Growth and the Whole Gospel foi publicado em 1981, o Movimento de Crescimento de Igrejas ficou conhecido como um ministério que faz mais que contar numerous. “Não acho que nenhum de nós que vivem em fartura”, ele disse, “possam captar o âmbito total do apuro dos pobres do mundo em nossa mente – só pode ser sentido, parcialmente, em nosso coração.” Apesar de os pobres não terem sido negligenciados nos primeiros escritos do crescimento de igrejas, Wagner faz uma clara descrição do apuro dos pobres e a responsabilidade cristã nesse livro. Citando Howard Snyder, Wagner disse: “O ensinamento é claro, consistente e persistente: De todas as pessoas e classes, Deus tem, em especial, compaixão pelo pobre, seus atos na história confirmam isso.”

A ordem cultural apresenta a igreja com diferentes possibilidades de ministério. Wagner classifica as diferentes oportunidades em ação social e serviço social. Ação social é o grupo de ministérios que tentam mudar as estruturas sociais. Envolve mudanças socio-políticas. Wagner acreditava que a igreja, normalmente, não era o melhor instrumento para efeturar a ação social.

A igreja, porém, “não tem um opção de ser ou não envolvida no ministério social. O estilo de vida do reino exige isso”. O ministério social é feito em obediência a Deus, que glorifica a Deus. Pode ser ou não um meio de ganhar almas. Wagner encontrou uma abundância de justificativas bíblicas para que faça o ministério social, ainda que pessoas sejam ou não levadas a fé em Cristo como resultado.

Quando Wagner escreveu Church Growth and the Whole Gospel, ele já havia estabelecido o que entendia ser o padrão bíblico para definir prioridades para os ministérios sociais. A primeira prioridade é a família do cristão, tanto o núcleo familiar, quanto toda a extensão familiar. Wagner citou 1 Timóteo 5:8: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.”

A segunda prioridade de Wagner para o serviço social cristão são os irmãos de fé. Gálatas 6:10 é o texto usado para apoiar essa tese: “Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.”

A terceira prioridade para o serviço social cristão inclui qualquer pessoas que esteja necessitada. Wagner avisou que a terceira prioridade não é um grupo opcional para que os cristão sirvam. “Ser uma terceira prioridade não significa que é opcional. Os pobres e famintos e necessitados e oprimidos de todo o mundo precisam ser ajudadas por pessoas que vivem em um estilo de vida do reino e os que aceitam a ordem cultural. Cristãos que usam essas

77 prioridades bíblicas para negar responsabilidade global, como alguns infelizmente tem feito, estão desobedecendo a Deus e deveriam se arrepender e melhorar seus modos.”