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A crise da globalização hegemônica se dá quando o instrumento utilizado pela potência e o modelo hegemônico de lançar mão de uma globalização financista e neoliberal para se sustentar no poder mundial entra em crise. Esta crise revela que a faceta neoliberal é a hegemônica, que ao perder legitimidade abre campo para outras expressões da globalização, por sua vez, contra-hegemônicas. Já tivemos a oportunidade de discutir de forma mais detalhada o fenômeno da globalização no trabalho final de graduação em Ciências Sociais (UFMG, 2003), A participação política na Era Global: O Fórum Social Mundial e na dissertação de mestrado em Ciência Política (UFMG, 2006), A participação política em tempos de globalização: o Fórum Social Mundial inaugura o movimento social global. Durante o estudo, foram identificadas três principais tendências de interpretação do fenômeno da globalização, através da análise de pelo menos três dos campos em que seus aspectos se destacam: a política, a cultura e a economia. Cada tendência, seja a dos “globalistas”33 - que enxergam a globalização como um fenômeno absolutamente novo; a dos “céticos” - que não percebem muita diferença dessa fase para as fases anteriores do imperialismo; ou a dos que interpretam a globalização como uma fase que sintetiza a continuidade da expansão do capitalismo com novidades significativas, será tratada a seguir.

Uma primeira tendência é a dos defensores da globalização como uma etapa completamente nova em que fosse necessário repensar todas as categorias econômicas, sociais e culturais que balizaram o esforço humano de entendimento da realidade até aqui (HARDT & NEGRI, 2001; GIDDENS, 1991). O livro Império, de Hardt & Negri (2001), é um forte expoente da tendência que considera o atual estágio de globalização não como um produto histórico, mas como algo espetacularmente novo que se instaurou no planeta:

(...) o conceito de Império apresenta-se não como um regime histórico nascido da conquista, e sim como uma ordem que na realidade suspende a

33 David Held e Antony McGrew em seu livro Prós e contras da globalização (2001) sugerem essa diferenciação

entre os campos de intérpretes da globalização: “globalistas” e “céticos”. A que nós acrescentamos uma terceira tendência que preferimos não rotular.

história e dessa forma determina, pela eternidade, o Estado de coisas existente (HARDT & NEGRI, 2001).

Para os autores dessa tendência, a globalização não é sinônimo do imperialismo ocidental, mesmo não negando que a globalização possa servir aos interesses de poderosas forças sociais do Ocidente. A realidade social seria composta por diversos processos inter- relacionados seja na área econômica, tecnológica, política, cultural, natural, etc. Não haveria um padrão fixo ou pré-determinado de desenvolvimento histórico.

O centro governante do Império não estaria vinculado a nenhuma nação, apesar de nascer na Europa e se estender posteriormente para os EUA, sua base territorial seria o mundo como um todo. As forças contestatórias deste sistema também não teriam territorialidade, sua geografia ainda estaria sendo escrita com resistência, luta e desejos de uma “multidão”34. No aspecto político, a globalização teria transformado o Estado em uma arena fragmentada de formulação de decisões políticas, permeada por redes transnacionais e órgãos ou forças internas. De forma semelhante, a dinâmica transnacional estaria penetrando a sociedade civil e alterando sua forma.

Ao abordar o aspecto cultural, a tese do “império” identifica que as pessoas de toda parte estão expostas como nunca aos valores culturais de outras culturas. Em um mundo em que nada, nem mesmo a diferença lingüística, pode deter o fluxo de ideias e culturas. Nesse processo de globalização cultural as empresas teriam substituído os Estados na produção e distribuição cultural. As fronteiras geográficas são assim superadas, na medida em que os indivíduos e coletividades vivenciam acontecimentos e fenômenos fora de seu espaço territorial. Junto com esse descolamento territorial, estaria surgindo uma consciência global, em que valores universais de respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente estariam se globalizando.

No aspecto econômico, é identificada uma interação econômica global sem precedentes e a tendência é de uma intensificação da integração nas e entre as regiões. As economias nacionais já não estariam funcionando como sistemas autônomos de criação de riqueza, uma vez que as fronteiras nacionais estariam perdendo terreno para multinacionais e organismos multilaterais na condução e organização da atividade econômica.

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Para Negri, a “multidão” é algo que vai além dos conceitos de classe e povo. Este conceito de multidão está ligado teóricamente à categoria de “império” que é a etapa que sucede o imperialismo no momento em que os Estados-nação estão dissolvidos. Para o filósofo francês, Jacques Bidet, “a fraqueza dessa “visão de mundo” está no fato de qu ela dispensa os conceitos mais indispensáveis à compreensão do mundo em que vivemos, o da estrutura-de-classe capitalista, que o marxismo classicamente situou nos marcos do Estado-nação, e, o de sistema mundo, centro-periferia, desenvolvido de Braudel a Wallerstein” (BIDET, 2004, p. 96-98).

Uma segunda tendência, radicalmente oposta à primeira, seria expressa por um ceticismo quanto a real novidade do fenômeno da globalização. Hirst e Thompson, autores de Globalização em questão (2001), atribuem o atual fenômeno da Globalização a uma continuidade do processo evolutivo do capitalismo, que sempre esteve em busca da constituição de uma economia mundial. Este não seria um momento sem precedentes, encontrando suas origens no início do capitalismo, e forte semelhança com o período que se inicia em 1860, com a internacionalização do capital e formação dos primeiros monopólios. Além de ter forte identidade com os anos pré-primeira grande guerra, nos quais já se firmavam eficientes sistemas de comunicação de longa distância, meios de transporte industrializados e maior liberdade de migração do trabalhador. A globalização seria, portanto, muito mais um mito e uma construção ideológica que ajudaria a justificar e legitimar um projeto neoliberal global, com a criação de um livre mercado e a consolidação do capitalismo anglo-americano.

O fim do século XX, para os autores dessa tendência, apontou para a consolidação da era do Estado-nação moderno. Os Estados reivindicaram cada vez mais o monopólio do uso legítimo da força e da regulamentação das leis, investiram em seu contingente militar como símbolo nacional, consolidaram seus regimes fiscais e procuraram organizar sua comunicação nacional. Do mesmo modo, foram reforçados os pactos e acordos entre governos e cidadãos, fundamentando sua legitimidade. Poucos são os Estados dispostos a abrir mão de tal legitimidade, e principalmente do princípio da soberania, mesmo que suas possibilidades de realizar escolhas políticas nacionais estejam cada vez mais restritas, em especial os Estados do sul, como os latino-americanos, asiáticos e africanos, que mesmo após a independência das ex-colônias sofrem com a determinação das políticas do norte.

As condições encontradas na criação do Estado moderno foram também condições que geraram o sentimento de nacionalidade. O que se observa no período recente, segundo Hirst e Thompson, é um fortalecimento dos símbolos nacionais, no interior do Estado, e do nacionalismo, invalidando a tese da globalização generalizada da cultura. A luta pela identidade nacional e pela consolidação das nações foi tão forte que os autores dessa tendência duvidam que possam ser desgastadas por forças transnacionais e pela cultura global de massas. O surgimento de novas redes eletrônicas de comunicação e de tecnologia de informação estaria contribuindo para intensificar e reavivar os laços de identidade étnica e nacional e não para esgarçá-los.

No campo econômico, Hirst e Thompson tentam demonstrar que apesar do aprofundamento da internacionalização do mercado econômico, empresas genuinamente

transnacionais não existem, todas tem uma base nacional muito forte. A mobilidade do capital, que passa a ser mais volátil, não significa a transferência de investimentos e empregos dos países avançados para os em desenvolvimento. Não se poderia dizer que a atual economia é realmente global, pois seu “polo concêntrico” segue sendo EUA, Europa e Japão35. E tal polo influência significativamente a economia global, demonstrando que não está desregulamentada e muito menos livre de doutrinas econômicas encabeçadas pelas elites políticas de cada país.

Seja no aspecto financeiro, tecnológico, laboral ou produtivo, os dados não confirmam a existência ou a emergência de uma economia global única, até as empresas multinacionais continuam majoritariamente dependentes dos mercados nacionais ou regionais, ao contrário do que se apregoa sobre o capital absolutamente volátil. O que há de fato é uma internacionalização significativa da economia global com precedentes, e uma intensificação dos vínculos entre as diferentes economias nacionais. A imensa maioria da população humana continua excluída do mercado global e cresce a defasagem entre o norte e o sul (HIRST & THOMPSON, 2001).

Existe ainda uma terceira tendência analítica do fenômeno da globalização, que se diferencia das duas apresentadas anteriormente por considerar a globalização como o prosseguimento de um longo processo de acumulação e expansão do capital, mas com novidades importantes e significativas quando comparada a momentos anteriores de desenvolvimento do capitalismo global. Não ficaria, portanto, entre os que consideram ser este um momento absolutamente novo e sem relação com estágios anteriores de desenvolvimento do capitalismo, e também não figuraria entre os absolutamente céticos quanto à singularidade dos aspectos inovadores da atual etapa de desenvolvimento da globalização neoliberal (SANTOS, 2000; AMIN, 1997; ARRIGHI, 2000; WALLERSTEIN 2002; ROBERTSON 1992; COX 1997; CHOMSKY 1994).

Segundo essa posição, a globalização constitui um fenômeno não completamente novo, mas um processo que, tendo como centro os países do norte, com seus blocos políticos, agências financeiras, empresas multinacionais, se impõe aos países do sul, promovendo uma globalização neoliberal, segundo os preceitos do Consenso de Washington, não só econômica, mas também política e cultural. Nesse sentido, as principais mudanças ocorridas no atual

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Quando Hirst e Thompson escreveram este livro ainda não havia ocorrido a crise japonesa e a emergência econômica da China a ponto de rivalizar com a potência mundial como se vê hoje. Nas últimas duas décadas outros países da Ásia, especialmente China e Índia tornaram a geopolítica da economia mundial mais complexa. No seu livro, Adam Smith em Pequim (2008), Arrighi defende a tese de que o novo centro hegemônico está despontando na Ásia.

período da globalização são resultado de uma combinação de alterações sofridas nestes fatores de forma desigual, mas sistêmica. É possível identificar nas mudanças ocorridas em cada um dos aspectos citados os traços de uma globalização hegemônica que enfrenta distintos níveis e formas de resistência expressas por uma globalização contra-hegemônica, e, por isso mesmo, se apresenta de forma aparentemente desconexa na economia, na política, no terreno militar e na cultura.

Apresentando a globalização com duas facetas, uma hegemônica e outra contra- hegemônica, aqueles que compartilham da terceira tendência aqui exposta evidenciam uma leitura que leva em conta as contradições presentes nos fenômenos sociais e históricos. Diferenciando-se assim dos teóricos do “império” que, mesmo apregoando uma nova sociedade e uma nova ordem internacional, acabam “naturalizando” o capitalismo e as premissas convencionais do neoliberalismo. A identificação de uma disputa interna (hegemonia x contra-hegemonia) presente no fenômeno da globalização revoga a tese do processo “irresistível e irreversível” que se apresenta de forma implacável perante os Estados democráticos na visão de Hardt & Negri (2001).

Deste modo, há uma aproximação com a análise mais cética quando se percebe a globalização como a continuidade de um processo que pode ser identificada através dos atores, instituições, normas, regras e procedimentos que emergem de uma fase anterior de desenvolvimento do capitalismo. Os atores estratégicos, como as empresas transnacionais, antes de base mais nacional; os países industrializados; instituições decisivas como o FMI e Banco Mundial, criados no pós-segunda guerra mundial e as regras ditadas pelos Estados Unidos e o neoliberalismo global, surgiram em uma fase pré-globalização neoliberal.

A base desta globalização contraditória está na expansão financeira das décadas de 1970 e 1980, que segundo Arrighi, aponta para uma tendência predominante dos processos de acumulação de capital em escala mundial. Em O longo século XX Arrighi, mostra que expansões financeiras deste tipo repetiram-se desde o século XIV, como uma reação do capital ao aumento da competitividade entre Estados gerada pela expansão do comércio e da produção em nível mundial. O que diferencia esta expansão das outras é o seu âmbito e sua sofisticação técnica na consolidação de “blocos cada vez mais poderosos de organizações governamentais e empresariais como principais agentes da acumulação de capital em escala mundial” (ARRIGHI, 1996, p. 309).

Na verdade, segundo Arrighi, a globalização hegemônica é a materialização da tentativa do regime norte-americano em superar sua crise de hegemonia. Esta crise começa entre 1968 e 1970, tanto no âmbito militar, com a guerra do Vietnã; financeiramente com as

dificuldades de manter o sistema de regulação de Bretton Woods e ideologicamente, quando a cruzada anticomunista começa a perder legitimidade. Frente a esta crise veio o “consenso de Washington”, as sucessivas guerras no oriente médio e o ideário do pensamento único neoliberal, que marcam a globalização hegemônica de fase neoliberal.

Segundo Wallerstein, o tríplice acontecimento pré-neoliberal: declínio da economia- mundo, os protestos sociais de 196836 e a derrota dos Estados Unidos no Vietnã, transformou a cena geopolítica mundial e marcou o começo do lento declínio da hegemonia norte- americana. Esta fase é contrastante com a anterior, que durou de 1945-1967, em que os EUA estavam em condições de impor seus desejos para o resto do mundo, todo o tempo e de todas as maneiras. (WALLERSTEIN, 2003, p. 16)

A ofensiva neoliberal tomou forma com a chegada ao poder dos regimes neoliberais na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos; com o Consenso de Washington; crescimento do papel do FMI, Banco Mundial e OMC. Segundo Wallerstein, eram três os objetivos principais desta contra-ofensiva: rebaixar os níveis dos salários em todo o mundo; restaurar a exteriorização dos custos produção derrubando os impedimentos aos abusos ecológicos, reduzir os níveis tributários com a consequente retirada do Estado na oferta do bem-estar social.

Mas ao final dos anos 90, o neoliberalismo já demonstrava fortes limitações para seguir adiante. Foi neste período que emergiu uma forte movimentação anti-globalização neoliberal hegemônica. Segundo Wallerstein, o movimento ideológico-cultural congregado nas reuniões de Davos37 passou a encontrar obstáculos, como em Seattle 199938, quando “sindicalistas tradicionais e centristas norte-americanos juntaram suas forças com os grupos da Nova Esquerda para forçar a Organização Mundial do Comércio a uma paralisação, a partir da qual ela já não seria capaz de desembaraçar-se” (WALLERSTEIN, 2003, p. 19).

Foi neste contexto que George W. Bush chegou ao poder e tentou reverter o declínio norte-americano através de ações militares preventivas e rápidas, além da manipulação da resistência e da inimizade dos regimes do Sul, seja pela intimidação ou pela conquista. Neste sentido, o 11 de setembro39 representou uma mina de ouro para a administração Bush, pois

36 O ano de 1968 foi movimentado por inúmeras manifestações, sobretudo estudantis, contra a Guerra do Vietnã

e contra os regimes autoritários vigentes em diversos países do mundo, sobretudo na América Latina.

37 Fórum Econômico Mundial realizado anualmente na cidade suíça de Davos. 38

Protestos em Seattle (1999) durante reunião da Organização Mundial do Comércio que tentava fechar o acordo conhecido como “rodada do milênio”.

39 No dia 11 de setembro de 2001 dois aviões comerciais atingiram um símbolo da cidade norte-americana de

Nova Iorque, as Torres Gêmeas do World Trade Center. Os EUA atribuíram os ataques à organização islâmica Al Quaeda. Após o 11 de setembro os EUA passaram a implementar uma nova doutrina militar de guerra preventiva e instalaram as guerras do Iraque e do Afeganistão.

legitimou o uso da força militar contra um opositor fraco como o Talibã, em uma situação em que o mundo foi coagido a se posicionar pró ou contra os EUA. Naquela época, “as forças de Porto Alegre40 foram capazes de mobilizar um protesto mundial contra a guerra em 15 de fevereiro de 2003, incomparável na história mundial anterior” (WALLERSTEIN, 2003, p. 21).

Segundo Arrighi, a maioria dos analistas, na verdade, falhou ao analisar este período e os impactos de curto e longo prazo da expansão financeira subjacente à contra-ofensiva neoliberal. Para o autor, tudo indica que uma possível ruptura sistêmica parece ter começado no início dos anos 2000 e rupturas deste tipo, como exposto no primeiro capítulo, tem sido típicas das transições hegemônicas do passado. A questão, a saber, é que nas transições anteriores as forças pró-sistêmicas, mesmo que inconscientemente, desempenharam o papel de liderança na criação das condições de ruptura, o que torna a concepção de movimentos anti-sistêmicos problemática para Arrighi. Qual seria o papel destas forças na mudança de hegemonia?

Arrighi recorre a Gramsci e seus conceitos de “função piemontesa” e “revolução passiva” para responder a esta questão. Gramsci introduziu esta concepção de função piemontesa do Estado ao analisar o Risorgimento italiano, em que um Estado – o Piemonte – exerceu a função de liderança em substituição aos grupos sociais em uma luta de renovação. Este mesmo fenômeno foi encontrado por Gramsci na Sérvia, antes da primeira guerra mundial e na França pós-1789, como piemonte da Europa. Para Gramsci, havia uma intima ligação entre o exercício da função piemontesa e o desdobramento de uma “revolução passiva” 41.

O que Arrighi parece querer transmitir, ao trazer os conceitos de Gramsci, é que cada hegemonia sucessiva do capitalismo mundial tem sido caracterizada por uma particular revolução passiva, na qual o Estado contra-hegemônico exercia uma função piemontesa frente o sistema capitalista mundial. Em suma, o Estado lidera um movimento que, em tese, deveria ser promovido por grupos sociais. A questão, a saber, é se a renovação do sistema social mundial atualmente compreende o exercício de uma função piemontesa e, se for o caso, qual o Estado ou coalizão de Estados terá as condições para fazê-lo. Algumas teorias

40 Em referência ao Fórum Social Mundial.

41 O conceito de revolução passiva em Gramsci surge quando ele examina o período do Risorgimento italiano.

Este seria um caso específico de “revolução sem revolução” ou de “revolução passiva”. Depois o conceito se ampliou e foi aplicado por Gramsci à Revolução Francesa e à Era da Restauração: “forma política na qual as lutas sociais encontram cenários bastante elásticos, de forma a permitir que a burguesia ascenda ao poder sem rupturas clamorosas” (QC, p. 134). Fonte: Vocabulário Gramsciano, vários autores, 2006

contemporâneas consideram que o Estado atualmente pode assumir causas animadas pela sociedade civil global e integrar uma perspectiva contra-hegemônica no seio da globalização, neste caso os Estados são projetados como “novíssimo movimento social” (SANTOS, 1999), “Estado militante” (PUREZA, 2001) Estado solidário pós-moderno (FALK, 1999). Segundo Pureza,

Estamos no limiar do surgimento de novos rostos institucionais da globalização, formas compósitas de Estado e não-Estado, transformado este em novíssimo movimento social de combate, articulado com ONGs transnacionais (os processos conducentes à ciração do Tribunal Penal Internacional ou a adoção da Convenção de Interdição das Minas Anti- Pessoal são disso ilustrações expressivas) (PUREZA, 2002, p. 103).

Por outro viés, Wallerstein (2003) considera que o mundo está entrando em uma transição anárquica – a partir do sistema mundo existente para um sistema diferente, sem que ninguém consiga controlar a situação, muito menos os Estados Unidos. Theotonio dos Santos (2003) afirma que está havendo uma transição para um sistema de hegemonia compartilhada entre EUA, Europa (franco-alemã), Ásia-Pacífico (China) e Rússia. Já Arrighi analisa que haverá rapidamente uma transferência do epicentro da economia global da América do Norte para a Ásia Oriental, sob a liderança da China, no entanto, tal transferência será afetada econômica, política e culturalmente pelo caos sistêmico que está começando. O autor se pergunta:

... será o renascimento econômico da Ásia Oriental subjugado pelo caos sistêmico, ou será ele transformado em um renascimento político e cultural capaz de conduzir a permanente “revolta contra o Ocidente”, no sentido da formação de uma ordem mundial mais igualitária e democrática? (ARRIGHI, 2003, p. 115).

Essa volta de Arrighi ao papel dos Estados como forças de sustentação de grupos sociais ou como seus substitutos ao exercer uma função piemontesa o coloca em contraste com toda uma literatura (HARDT & NEGRI, 2001; HOLLOWAY, 2002; COHEN, 2003)42 que questiona o papel do Estado nacional na redefinição de uma nova ordem social mais democrática e justa frente a crise hegemônica sistêmica. Neste sentido, o autor aposta que os Estados da Ásia Oriental desempenharão um papel decisivo no curso das mudanças de

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Para Cohen: “Os Estados Nacionais parecem estar mais se amoldando aos imperativos da economia e do