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Foi tentando dar respostas a estas perguntas e enfrentando a forte hegemonia do pensamento neoliberal, que surgiu recentemente o embrião de uma sociedade civil global, que tem potencializado um projeto contra-hegemônico de globalização.

Segundo Sérgio Costa (2003), a dimensão de sociedade civil global ganha validade empírica com a emergência de atores não estatais (FSM, reuniões paralelas à ONU, mobilizações OMC) que passam a tratar temas, como justiça social global ou biodiversidade, que não podem ser delimitados à um espaço territorial qualquer. A grande dificuldade apontada por Costa, a que este trabalho se soma, é a de que não se pode transportar automaticamente para a escala mundial as tradições e um modelo constituído no âmbito do Estado nacional. A questão é que a sociedade civil de cada país e a esfera pública45 na qual se reúne, bem como o Estado a quem se dirige, são formações históricas sociais particulares, impossíveis de serem sintetizadas em um panorama global único.

O conceito de sociedade civil evoluiu bastante desde seu uso no contexto do Iluminismo Europeu nos século XVIII (COX, 1999, p. 3). Então ele significava o reino dos interesses privados, na prática o reino da burguesia, distinto do Estado. Enquanto uma corrente de pensamento retém este significado e suas implicações, irão surgir outras concepções de sociedade civil como terreno de atividades emancipatórias distintas tanto do Estado como do capital. Segundo Cox, o pensamento gramsciano abarca os dois significados:

45 Neste trabalho não se aprofunda o debate sobre a esfera pública e a sua internacionalização com a

globalização. O conceito utilizado é o da esfera pública deliberativa habermasiana como o espaço de formação discursiva da opinião pública no nível estatal, com igual acesso e participação paritária, com o intuito de influir nos debates travados nas esferas decisórias políticas e jurídicas (HABERMAS, 1984; COHEN, 2003). O próprio Fórum Social Mundial pode ser considerado como uma ampliação da formação discursiva da opinião pública em nível mundial, com o intuito de influênciar nas decisões de centros mundiais de tomada de decisão, mas neste trabalho optou-se por focar no modo de funcionamento inicial da Sociedade Civil Global através de encontros como o FSM e apreender como cada SCL que o organiza contribui na formação de um arcabouço valorativo da contra-hegemonia globa. Um próximo passo seria investigar como estes valores de uma nova hegemonia, ou de um outro mundo possível, são construídos, através da mídia especialmente como novos consensos da opinião pública mundial com o intuito de influênciar decisões políticas ou jurídicas formais.

a sociedade civil como o chão que sustenta a hegemonia da burguesia, mas também no qual uma contra-hegemonia emancipatória poderia ser construída (COX, 1999).

Gramsci não estava preocupado em exercitar o seu pensamento abstrato e produzir um sistema de análise política que atravessasse o tempo, ele estava preocupado em mudar o mundo a sua volta. Qualquer análise do seu pensamento deveria manter este objetivo e deveria tanto fazer uma reflexão sobre as condições do mundo tais como elas se dão hoje, assim como servir de guia para uma ação estratégica de mudança do mundo e promoção da justiça social (COX, 1999).

A força do pensamento de Gramsci está, portanto, no fato de que sua formulação de sociedade civil, embora voltada para as especificidades de seu tempo, encontra empregabilidade no debate atual sobre a emergência de uma sociedade civil global. O autor também vai distinguir a dimensão da sociedade civil para fora do Estado assim como Rousseau, Hegel e Marx, mas não necessariamente determinada por este em todos os seus aspectos, há um que de autonomia na sociedade civil gramsciana e na sua relação com a sociedade política:

A novidade da noção de sociedade civil esboçada por Gramsci consiste no fato de que não foi pensada em função do Estado, em direção ao qual tudo deve ser orientado, como queria Hegel. Nem se reduz ao mundo exclusivo das relações econômicas burguesas, como queriam algumas interpretações das teorias de Marx. Para Gramsci, a sociedade civil é, antes de tudo, o extenso e complexo espaço público não-estatal onde se estabelecem as iniciativas dos sujeitos modernos que, com sua cultura, com seus valores ético-políticos e suas dinâmicas associativas, chegam a formar as variáveis das identidades coletivas. É lugar, portanto, de grande importância política onde as classes subalternas são chamadas a desenvolver as suas convicções e a lutar para um novo projeto hegemônico que poderá levar à gestão democrática e popular do poder (SEMERARO, 1999).

Gramsci situa a sociedade civil na superestrutura e não na estrutura como seus antecessores e inspiradores teóricos, Marx e Lênin. No primeiro capítulo foi exposta a concepção central da teoria gramsciana de hegemonia e aqui pode se evoluir na análise do seu pensamento ao afirmar que a sociedade civil em Gramsci representa justamente o momento de culminância hegemônica, representando não só as relações econômicas como as relações ideológico-culturais. Gramsci está inspirado na tese marxista de prioridade da estrutura econômica, mas mostra a importância e a autonomia do momento de formação e transmissão de valores, da formação dos consensos necessários para o exercício da dominação. A sociedade civil adquire a característica do espaço de disputa ideológica pela manutenção da dominação hegemônica de um determinado grupo que está dirigindo o Estado. Deste modo, a

hegemonia organizada na sociedade civil irá proteger o Estado, ao mesmo tempo em que este irá fortalecer a hegemonia da classe dominante através do aparelho coercitivo.

A sociedade civil no pensamento de Gramsci é o terreno no qual a ordem social existente é erguida, mas é também o terreno em que uma nova ordem social pode ser erguida. Sua preocupação estava em entender o modo de funcionamento e reprodução da ordem vigente e então enunciar a estratégia de transformação da mesma. O potencial emancipatório da sociedade civil foi o objeto do seu pensamento. O diálogo de Gramsci, mais uma vez, era com Benedetto Croce que via o Estado, tal como Hegel, em termos idealistas como a corporificação da ética. Já Gramsci, dentro de uma perspectiva histórica materialista, entendia a ética como a emanação das práticas sociais e culturais das comunidades humanas. A sociedade civil para Gramsci é, ao mesmo tempo, molde e moldadora, agente de estabilização e reprodução, além de potencialmente ser agente de transformação. O conceito de sociedade civil, neste senso emancipatório, enuncia a combinação de forças que darão a base para a construção de um novo Estado e uma nova ordem (COX, 1999, p. 5).

Em sua origem européia, sociedade civil e burguesia eram sinônimos. Sociedade civil significava o grupo social cuja influência, conscientemente, estava se expandindo. Deste modo, para Marx, o ideário individualista da sociedade civil estava provocando o aparecimento de uma força que por fim a destruiria ou pelo menos a mudaria: o proletariado (COX, 1999)

Tocquevile, no século XIX, no seu trabalho sobre a democracia “americana”, complexifica o conceito ao abordar o florescimento de associações, formadas de forma espontânea, segundo ele, por pessoas que tinham interesses em comum. Para Tocqueville, (1994) a proliferação de associações era uma garantia contra a “tirania da maioria” que resultavam das consultas eleitorais da época. O espírito da associação voluntária toma um aspecto importante no conceito de sociedade civil com Tocqueville.

Para Gramsci, não era possível haver espontaneidade pura na construção da organização social, mas sempre uma combinação de liderança e movimento vindo de baixo. É claro que o contexto em que Tocqueville e Gramsci escreveram era muito diferente, enquanto na América floresciam as associações voluntárias e autônomas ao Estado, na Europa do século XIX nascia o corporativismo Estatal que mais tarde resultaria no Estado de bem estar social (COX, 1999, p. 7).

A Revolução Francesa também deixou um legado importante para o conceito de sociedade civil. Foi dela que nasceu a concepção que rejeita que qualquer coisa possa intervir na relação entre o Estado e o cidadão. Na verdade, tal concepção foi uma ameaça ao

movimento sindical autônomo e também marcou o processo revolucionário russo que só permitia associações como extensão do próprio Estado. Gramsci reconheceu esta relação como inapropriada e concebia que o Estado deveria estar “destacado de uma sociedade civil consciente, ativa e variada”. O intelectual orgânico seria o elo fundamental desta relação (COX, 1999).

A crise do corporativismo estatal e do Estado de bem estar social na segunda metade do século XX trouxe um novo impacto para o conceito de sociedade civil. O surgimento do neoliberalismo e o ataque aos sindicatos, assim como a redução dos gastos com o bem-estar social, juntamente com a desregulamentação do capital, bens e mercados financeiros, foi acompanhado de um florescimento das organizações autônomas e descoladas do Estado. Ao mesmo tempo em que o colapso do socialismo do leste europeu foi igualmente acompanhado do surgimento de ongs e organizações autônomas do Estado nestes países (COX, 2003).

A questão, a saber, é que o Estado nacional tem pouco poder para mudar esta distribuição, uma vez em que se encontra altamente dependente do sistema financeiro global. Fazendo com que se amplie o fosso entre Estado e corporações de um lado, e forças populares de outro. Sociedade civil passa agora a ser entendida mais como o reino dos grupos autônomos do Estado e das empresas. Segundo Cox, o conceito foi apropriado por aqueles que previram o papel emancipatório da sociedade civil. Há, portanto, uma importante diferença entre o significado de sociedade civil nos séculos XVIII e XIX e o de hoje. O conceito de sociedade civil se transformou no termo que se refere aos vários modos com os quais as pessoas expressam seus desejos coletivos independentemente do poder estabelecido, tanto econômico como político (COX, 2003, p. 10).

Segundo Cox, esta concepção de sociedade civil aproxima-se mais da de Tocqueville do que da de Hegel, Adam Smith ou Marx. Mas também tem afinidade com a concepção de Gramsci, uma vez que este considerava a sociedade civil não apenas como reino de suporte à hegemonia do capitalismo, mas também o terreno no qual mudanças culturais acontecem e no qual as forças emancipatórias e contra-hegemônicas podem ser constituídas. A sociedade civil, portanto, não seria apenas uma reunião de atores autônomos, mas um espaço de contestação das ideias sobre as quais está erguida a noção de realidade das pessoas e novas concepções sobre a ordem vigente podem surgir.

Cohen e Arato, em um período mais recente, final do século passado, retomam o conceito de sociedade civil, ligando-o aos movimentos sociais e instituições que se antepõe ao mercado e ao Estado. Em seu livro Civil Society and Political Theory, os autores reacendem o debate em torno do conceito de sociedade civil. Segundo os autores:

O objetivo de nosso livro é desenvolver e sistematicamente justificar a ideia da sociedade civil, reconcebida em parte em torno da noção de um movimento democratizante autolimitado que busca espandir e proteger espaços para a liberdade negativa e a liberdade positiva, e recriar formas igualitárias de solidariedade sem prejudicar a auto-regulação econômica. (COHEN & ARATO, 1992, pg. 11).

Os autores trabalham com a matriz habermasiana da teoria da ação comunicativa e identificam na sociedade civil um terreno de tradições e culturas que dá a ela uma dimensão sociológica própria e a situa no mundo da vida habermasiano. Segundo os autores, estariam aí incluídas todas as instituições e formas associativas que exigem interação comunicativa para sua reprodução e coordenam suas ações através de processos de integração social.

As reflexões de Cohen e Arato colocam novamente a questão da localização da sociedade civil em relação ao Estado e à economia (mercado). A contraposição entre sociedade civil e Estado tem início com Rousseau e será encontrada nas considerações de Hegel, para quem a sociedade civil é a esfera da das necessidades e em Marx, que ampliará o conceito e atribuirá ao seu domínio a realização das relações econômicas burguesas sobre as quais se erguem a super-estrutura jurídica e política. Gramsci não abandona a tese marxista de prioridade da estrutura econômica, mas mostra a importância do momento de formação e transmissão de valores necessários para o exercício da dominação. A sociedade civil adquire a característica do espaço de disputa ideológica pela manutenção da dominação hegemônica de um determinado grupo que está dirigindo o Estado.

Se as considerações a respeito da sociedade civil, como visto, estão desde o princípio referidas à elaboração de uma concepção do Estado e à existência do Estado, seja como resultado da evolução da sociedade civil ou como sua contra-parte, como refletir sobre o surgimento de uma sociedade civil global, se não existe tal coisa como um Estado mundial ou mesmo transnacional?

Gramsci refletiu sobre a sociedade civil no momento em que o mundo vivia o fim da segunda guerra mundial. Naquele período, a construção de uma opinião generalizada contra a guerra contaminou as sociedades civis nacionais e se transformou em um grande movimento pela paz mundial, mesmo entre os povos não diretamente envolvidos na guerra. A disputa pela hegemonia da sociedade civil ganhava contornos mundiais e um grande movimento de massas foi instaurado contra uma elite dominante desmoralizada. Podemos pensar nestes fatos como precursores de uma participação política global contra-hegemônica.

Hoje, quase 70 anos depois do final da segunda guerra mundial, movimentos organizados, principalmente da Europa, realizam diversas atividades reivindicando o fim da

guerra como uma vitória popular internacional. Os movimentos contra a guerra, na época, foram desenvolvidos no âmbito das sociedades civis nacionais, mas sua influência foi valorizada principalmente por se tornar um movimento global capaz de atingir sociedades civis, não diretamente envolvidas com a guerra. Em tempos de globalização, uma maior “democratização” dos meios de comunicação de longo alcance tem possibilitado maior interação entre indivíduos, organismos e grupos de várias partes do planeta, o que contribui para uma maior difusão de ideias e propostas, generalizando valores “cosmopolitas” e difundindo formas de ação e interlocução entre distintas sociedades civis, formando consensos mundiais a respeito de temas que afetam a maioria da humanidade.

Segundo a definição do PNUD46,

A sociedade civil é, juntamente com o Estado e o mercado, uma das três “esferas” de interface na construção de sociedades democráticas. A sociedade civil é a esfera na qual os movimentos sociais se organizam. As organizações da sociedade civil, que representam interesses sociais diversos e muitas vezes contraditórios são moldadas de acordo com sua base social, constituição, orientação temática (ex. meio ambiente, gênero, direitos humanos) e tipos de atuação. Elas incluem grupos ligados à igreja, sindicatos, cooperativas, organizações prestadoras de serviços, grupos comunitários e organizações de juventude, assim como instituições acadêmicas e outros. (PNUD, 1993:1)

É nesta esfera que o diálogo entre os movimentos sociais do centro e da periferia do capitalismo e sua identidade “contra-hegemônica” tem gerado espaços de diálogo, convergências e apontamento de alternativas como o Fórum Social Mundial. A perspectiva gramsciana de aposta na subjetividade, na inventividade cultural e na capacidade de disputa pela hegemonia da sociedade civil, através da luta de ideias, aliada as condições materiais objetivas dadas no interior do capitalismo, pelas “massas” ou “subalternos” parece estar se confirmando na dinâmica da globalização social.

Por outro lado, é preciso reconhecer que a utilização do conceito de sociedade civil no entendimento da dinâmica da globalização contra-hegemônica não é algo simples. Segundo Santos, muito da retórica sobre o valor da sociedade civil na atualidade é um discurso para justificar o desmantelamento do Estado, e que não faria sentido falar de uma sociedade civil global, pois não há nenhum mecanismo global que garanta direitos de cidadania. Mesmo assim, se ainda se quiser falar de uma sociedade civil global, para Santos, seria necessário distinguir entre uma sociedade civil global liberal, fundada na globalização neoliberal, em uma sociedade civil emancipatória, que promove a globalização contra-hegemônica ou a

globalização solidária, expressa pelo Fórum Social Mundial. Seria preciso criar uma nova institucionalidade democrática a nível mundial, eliminar ou transformar radicalmente as instituições que hoje são responsáveis pelo bloqueamento da democracial global ou mesmo nacional como o Banco Mundial ou a OMC. A base de uma sociedade civil global emancipatória seria a luta por uma redistribuição global social mínima e imediata, começando por exemplo com o perdão da dívida e a criação de uma taxação sobre riquezas mundiais, como a Taxa Tobin47.

Santos esclarece sua visão da limitação do conceito de sociedade civil, uma vez que, assim como outros, este conceito também foi transformado pela razão instrumental que é marca da modernidade ocidental. Para o autor, a regulação social nas sociedades capitalistas modernas assenta em três pilares: Estado, mercado e comunidade. Sendo que, tanto mercado como comunidade constituem uma esfera autônoma de atuação dos cidadãos, por isso denominou-se sociedade civil. Desde o princípio, a comunidade revelou-se o pilar mais frágil dentro deste modelo de regulação e a verdadeira articulação teria se dado entre Estado e mercado, com períodos em que o Estado domina o mercado e períodos em que o mercado domina o Estado. Esta relação entra em crise quando o Estado se mantém nacional e o mercado se globaliza. Seguindo esta lógica, ao dominar a esfera da autonomia dos cidadãos, o mercado passou a estar na base da concepção dominante da sociedade civil.

Em contraposição a esta concepção está uma ideia de sociedade civil assente na comunidade e na solidariedade. Trazendo para exemplos práticos, em Davos (Fórum Econômico Mundial) se reúne a sociedade civil global assente no mercado e em Porto Alegre (Fórum Social Mundial) se reúne a sociedade civil global assente na comunidade. Segundo Santos, a sociedade civil representada no FSM é subalterna, tem consigo a maioria da população mundial, mas tem contra si os poderes e os interesses que dominam esta população. O papel desta sociedade civil seria dar credibilidade e força social e política às propostas enunciadas ou em elaboração, que reunidas constituiriam a base de uma globalização alternativa. Esta globalização seria a base de uma sociedade baseada nos preceitos da solidariedade e da reciprocidade, da cidadania pós-nacional, do desenvolvimento econômico sustentável e democrático, do comércio justo como condição do comércio livre, do aprofundamento da democracia, dos parâmetros mínimos de trabalho, do respeito pela igualdade através da redistribuição e do respeito pela diferença através do reconhecimento (SANTOS, 2001).

47 “A proposta taxa Tobin é uma percentagem da quantidade de moeda nacional convertida numa moeda

estrangeira. Seria cobrada em todas as conversões de moeda nacional, e seria tratada pelos participantes no mercado de moeda estrangeira como um custo adicional para cada transação em moeda estrangeira. O custo da taxa seria equivalente aos custos de processamento do pagamento que, embora pequenos, são actualmente pagos em cada transação de moeda estrangeira.” Fonte: Schmidt Rodney, Vêem. A taxa Tobin é viável? 2001. (http://www.france.attac.org/spip.php?article3430)

Segundo Walden Bello, esta sociedade civil global encontra no Fórum Social Mundial um espaço físico e temporal para se reunir, se vincular ou apenas se afirmar. Uma espécie de retiro dos movimentos, em que estes carregam suas energias e traçam as diretrizes dos seus movimentos no sentido de fazer retroceder os processos, instituições e estruturas do capitalismo global hegemônico. E por fim um espaço para que o movimento elabore, discuta e debata a visão, os valores e as instituições de uma ordem mundial alternativa construida sobre uma comunidade real de interesses.

Esta visão corrobora uma linha de pensamento de pensadores do campo do pós- colonialismo como Partha Chattarjee para quem a concepção européia de sociedade civil não dá conta da dinâmica das sociedades do sul global. As práticas de protesto e associativismo das comunidades tradicionais do sul da Ásia, por exemplo, e sua relação com o Estado escapa completamente do modelo formal Estado, mercado, sociedade civil. Segundo Chattarjee, ao se expandir a ideia de sociedade civil para incluir qualquer instituição que esteja fora do domínio do Estado – retórica das instituições internacionais de financiamento, agências de ajuda e ONGs – busca-se transformar práticas sociais tradicionais nas formas modulares da sociedade civil burguesa, no sentido usado por Hegel e Marx. O autor prefere utilizar o termo sociedade política para entender as formas recentes de entrelaçamento entre a política da elite e a