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CAPÍTULO V – A TEORIA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA DE

5.1 O CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL

Antes do surgimento do curso de Pedagogia no Brasil, a formação dos professores ficava a cargo das Escolas Normais. A criação da primeira Escola Normal aconteceu no Brasil no século XIX, em 1835, na cidade de Niterói/RJ. Esta escola é considerada a primeira do continente americano, de caráter público, nesta modalidade. Nos Estados Unidos, as escolas normais eram particulares. Até 1881, foram criadas no Brasil, escreve Romanelli (2008):

A Escola Normal da Bahia, criada em 1836; a do Pará, em 1839; a do Ceará, em 1845; a da Paraíba, em 1854; a do Rio Grande do Sul, em 1870; a de São Paulo, como segunda ou terceira tentativa, em 1875/1878; a Escola Normal Livre, na Corte, em 1874 e, depois, a oficial em 1880; a de Mato Grosso, em 1876; a de Goiás, em 1881. Além dessas, destacou-se a criação do pedagogium, em 1890, de curta duração, que deveria ter funcionado como centro de pesquisas educacionais e museu pedagógico (ROMANELLI, 2008, p. 163).

O curso normal que tinha sido instituído desde 1827, pela primeira lei de educação do Brasil, foi instalado sete anos depois, em 1835. Tinha como objetivo formar professores que atuariam no magistério de ensino primário e era oferecido em cursos públicos de nível secundário (ensino médio atual). O Ensino Normal esteve presente durante a República e teve um papel fundamental na formação dos quadros docentes para o ensino primário em todo país.

O curso de Pedagogia no Brasil apareceu no contexto político do Estado Novo, regime político centralizador fundado pelo presidente Getúlio Dorneles Vargas (1982-1954). Nesse período, promulgou-se o Decreto-Lei n.1.190, de 4 de abril de 1939, que organizou a Faculdade Nacional de Filosofia estruturada nas seguintes seções: Filosofia, Ciências, Letras e Pedagogia; além da seção especial, Didática. Enquanto as três primeiras seções eram constituídas de diferentes cursos, as duas últimas – Pedagogia e Didática – possuíam o nome do curso idêntico ao nome da seção.

Todos os cursos organizaram-se em duas modalidades: bacharelado e licenciatura. A primeira modalidade tinha uma duração de três anos e foi estendida a todos os cursos da Faculdade Nacional de Filosofia. A matriz curricular do curso de Pedagogia era constituída das seguintes disciplinas, segundo Cunha (2010):

1º ano: Complementos de Matemática, História da Filosofia,

Sociologia, Fundamentos Biológicos da Educação e Psicologia Educacional; 2º ano: Estatística Educacional, História da Educação, Fundamentos Sociológicos da Educação, Administração Escolar e Psicologia Educacional; 3º ano: Filosofia da Educação, Educação Comparada, Administração Escolar, História da Educação e Psicologia Educacional (CUNHA, 2010, p. 27).

Percebe-se, na citação, que a disciplina Psicologia Educacional aparece em todos os anos do bacharelado de Pedagogia. Para a obtenção do diploma de Licenciatura, acrescentava o curso de Didática com duração de um ano. Este processo educacional ficou conhecido como ―esquema 3+1‖. O curso de Didática era constituído das seguintes disciplinas: Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional, Fundamentos Biológicos da Educação, Fundamentos Sociológicos da Educação e Administração Escolar (SAVIANI, 2008). Deduz-se que, para se obter o título de licenciatura em Pedagogia, era necessário cursar somente duas disciplinas; Didática Geral e Didática Especial. As outras disciplinas faziam parte do curso de bacharelado.

Ao concluir o curso, o bacharel em Pedagogia estava habilitado para atuar como técnico em educação. O licenciado, além dessa função, também poderia exercer a docência nas Escolas Normais de formação de professores.

Em 1949, existiam no Brasil 540 Escolas Normais, espalhadas por todo o território nacional. Suas diretrizes não eram estabelecidas pelo governo federal, e sim, pelos governos estaduais. O Decreto-Lei 8530/46 centralizou as diretrizes e oficializou a finalidade do ensino normal: prover a formação do pessoal docente necessário às escolas primárias, habilitar administradores escolares destinados às mesmas escolas e desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas relativas à educação da infância.

Segundo Curi (2005), o curso normal foi extinto por meio da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 5.692/71. Esta Lei estabeleceu a formação de professores

polivalentes nos cursos de habilitação para o magistério em nível de segundo grau (atual nível médio), e também possibilitou ao graduando do curso de Pedagogia fazer opção pela habilitação magistério, além de lecionar nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Este cenário da Pedagogia no Brasil é importante para elucidar a importância da Psicologia da Educação, como uma disciplina básica que esteve presente em todos os anos do bacharelado de Pedagogia. É exatamente esta área de conhecimento – a Psicologia da Educação – que Dienes utilizou para construir sua Teoria de Educação Matemática, além de criar o neologismo Psicomatemática, uma aliança entre a Matemática e a Psicologia. Dienes também dirigiu o Centro de Pesquisas Psicomatemáticas, em Budapeste.

5.1.1 O Curso de Pedagogia e o ensino da Matemática

A formação de professores polivalentes em nível superior e, consequentemente, a formação para ensinar Matemática foram instituídas pela LDB 9.394/96. Um dos aspectos relativamente positivos da citada lei, segundo Ghiraldelli Jr. (2003), foi a maneira não autoritária de tratar o que deve ou não ser ensinado nas escolas:

Ela apenas colocou que deveria existir um núcleo comum, para todo o território nacional, e uma parte diversificada. Assim fazendo, ela permitiu o aparecimento por obra do Ministério da Educação, dos Parâmetros Curriculares (PCNs), que desde então vêm incentivando uma vasta literatura em torno de cada tópico abordado (GHIRALDELLI Jr., 2003, p. 210).

Entre os dez volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), enfatiza-se o volume 3, dirigido à Matemática de 1ª a 4ª séries (2º ao 5º ano, atualmente) do Ensino Fundamental. Estas linhas norteadoras da educação brasileira foram disponibilizadas pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF) do Ministério da Educação (MEC) em 1977. Constata-se que no volume 3, relativo à área de Matemática, o nome de Dienes não é mencionado nas referências.

Pesquisas realizadas por Curi (2005) em ementas das disciplinas de 36 (trinta e seis) cursos de Pedagogia no Brasil, a partir de 2000, constataram que a disciplina que apareceu em 66% (sessenta e seis por cento) das grades curriculares

foi Metodologia do Ensino da Matemática. Outras disciplinas também receberam destaque, tais como: Conteúdos e Metodologia do Ensino de Matemática, Matemática Básica, entre outras.

A disciplina Metodologia do Ensino da Matemática é apresentada por Curi (Ibidem) por meio de 07 ementas, das quais destacamos as 03 primeiras:

(E9) Abordagem teórico-prática sobre as questões fundamentais relativas ao ensino de Matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Objetivos, conceitos, conteúdos materiais de ensino/aprendizagem aplicáveis ao ensino de Matemática. Os processos utilizados na resolução de problemas matemáticos. Planejamento de ensino aprendizagem envolvendo os conteúdos programáticos da Matemática das séries iniciais. (E10) Matemática. História da matemática. Desenvolvimento psicogenético versus noções matemáticas. A Matemática segundo as teorias das inteligências múltiplas. Tendências da Educação Matemática. O compromisso docente enquanto agente de transformação social. Implicações pedagógicas. (E11) A linguagem matemática enquanto forma de interpretar o mundo. A matemática e o cotidiano. A relação conteúdo/metodologia. A educação matemática: elaboração e análise de práticas (CURI, 2005, p. 64).

Os temas mais frequentes na disciplina Conteúdos e Metodologia do Ensino da Matemática são: a construção do número e as quatro operações com números naturais e racionais. Curi (Ibidem) apresenta três ementas relativas à disciplina mencionada:

(E1) Sistema de numeração. Operações com números naturais. O ensino de números racionais. Números sob a forma decimal. Porcentagens e juros. Sistema legal de unidades de medidas. Probabilidades e noções de estatística. Processos de conhecimento e ensino de Matemática. Tendências atuais do ensino de matemática. As funções básicas do pensamento e suas implicações pedagógicas, da percepção, do espaço à construção de sólidos geométricos. Geometria plana. Análise do programa de ensino. (E2) As principais correntes psicopedagógicas e as tendências atuais do ensino de Matemática. Fundamentos teóricos e metodológicos do ensino da Matemática nas séries iniciais. Habilidades específicas de conteúdo: sistema de numeração decimal e operações. Resolução de problemas, números fracionários. Sistema de medidas. Geometria. (E3) Conteúdos matemáticos relativos ao campo da lógica, do espaço e do número, em suas inter-relações. A ação e o processo que a criança realiza na construção dos conceitos matemáticos. A organização do currículo e a Educação Matemática nas séries iniciais (Ibidem, p. 62).

A disciplina Matemática básica é a que aparece com menor frequência nas grades curriculares e as ementas repetem conteúdos dos anos iniciais do ensino fundamental. Constata-se a ausência de conteúdos relativos à Geometria, medidas e tratamento de informação nas duas ementas apresentadas por Curi (Ibidem):

(E7) Conjuntos numéricos: inteiros, fracionários e expressões numéricas, potenciação e radiciação, equações e inequações, produtos notáveis, razão e proporção, regra de três, porcentagem simples. (E8) Conjuntos numéricos: operações com números inteiros, fracionários e decimais, expressões numéricas, potenciação e radiciação. Equações e Inequações do primeiro e segundo graus. Produtos notáveis. Razão e proporção, regra de três, porcentagem simples (Ibidem, p. 63).

As estratégias de ensino mais utilizadas são as aulas expositivas, seguidas por aulas em grupos de leituras e seminários. Entre os recursos utilizados destacaram-se: quadro-de-giz, lista de exercícios, materiais didáticos, jogos, material dourado e réguas Cuisenaire.

A maioria das obras citadas na bibliografia relativa à disciplina Metodologia do Ensino da Matemáticarefere-se a jogos e brincadeiras. Os cursos analisados não apresentaram indicações de ―que os futuros professores terão contato com pesquisas na área de Educação Matemática, em particular sobre o ensino e aprendizagem de Matemática nas séries inicias‖ (Ibidem, p. 65).

Apesar da maioria das obras citadas na bibliografia da obra de Curi (Ibidem) utilizarem jogos, elemento central na teoria de Dienes, principalmente os jogos estruturados; constata-se na pesquisa realizada pela autora que o nome de Dienes não é mencionado nas referências.