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1.2 CONTRIBUIÇÕES DO PRESENTE ESTUDO

1.2.1 O jogo e as abordagens pedagógicas

1.2.1.6 Jean Piaget

O psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), concebe o jogo como uma atividade de predomínio da assimilação sobre a acomodação, fato que contribui para o processo de adaptação, devido à ação do indivíduo sobre o meio. O processo de transformação constante oriundo das ações sobre operações internas denomina-se construção de conhecimento.

As atividades relacionadas aos jogos são importantes e significativas para o desenvolvimento total do indivíduo, porque o jogo ―[...] apresenta elementos que

estimulam e alimentam o processo construtivo do pensamento e poderia suscitar tanto a aprendizagem quanto mudanças cognitivas‖ (OLIVEIRA, 2009, p. 17).

Piaget classifica os jogos apresentados pela criança após a aquisição da linguagem, em três tipos: (A) Jogos de exercício, (B) Jogos simbólicos e (C) Jogos com regras.

(A) Jogos de exercício: aparecem antes da linguagem e continuam com a aquisição desta. São atividades relacionadas ao prazer e podem acontecer durante toda a vida. Segundo Piaget (1975), existem jogos que não possuem uma técnica particular, são simples exercícios que põem em ação um conjunto variado de condutas, porém não modificam as respectivas respostas estruturais, o que mantém o estado de adaptação atual. Somente a função diferencia esses jogos, que exercitam tais estruturas. Eles têm como finalidade a busca no próprio prazer de funcionamento. Na criança,

[...] a atividade lúdica supera amplamente os esquemas reflexos, prolonga quase todas as ações, daí resultando a noção mais vasta de ―exercício‖ funcional [...] o jogo de exercício também pode envolver as funções superiores; por exemplo, fazer perguntas pelo prazer de perguntar, sem interesse pela resposta nem pelo próprio problema (PIAGET, 1975, p.146).

Barros (2006) afirma que Piaget divide os jogos de exercícios em duas categorias: jogos de exercício simples, que se conservam puramente sensório- motores (correr, pular, jogar bola, etc.) e jogos de exercício que envolve o próprio pensamento (fazer perguntas só por perguntar, etc.).

(B) Jogos simbólicos: aparecem por volta do segundo ano de vida. São brincadeiras em que um objeto representa outro objeto ausente. A função dos jogos simbólicos é satisfazer o eu que transforma o real em função dos desejos. Segundo Piaget (1975), o símbolo implica a representação de um objeto ausente, é uma comparação entre um elemento dado e um elemento imaginado, e uma representação fictícia:

Por exemplo, a criança que desloca uma caixa imaginando ser um automóvel representa, simbolicamente, este último pela primeira e satisfaz-se com uma ficção, pois o vínculo entre o significante e o significado permanece inteiramente subjetivo (PIAGET, 1975, p.146).

Os jogos simbólicos são recursos que a criança utiliza para obter prazer e para se ajustar a um mundo que teme ou não compreende e ―quando brinca de ‗faz- de-conta‘ sabe que sua conduta não é racional para os outros, mas não está preocupada em convencê-los‖ (FARIA, 1989, p.100).

(C) Jogos com regras: aparecem aos 6-7 anos de idade, aproximadamente e possibilitam a aliança entre a satisfação motora e intelectual à satisfação da vitória. Ao invés do símbolo, a regra que é uma regularidade imposta pelo grupo e implica relações sociais ou interindividuais. Piaget (1975) apresenta uma transição do jogo simbólico para o jogo de regras realizado por pequenos pastores valaisianos (região da Suíça) que usam como entretimento ramos de aveleiras talhados em Y para representar vacas. As duas pernas em Y são as hastes e a porção inferior representa o corpo, sem as patas. A casca da parte de baixo é retirada para representar o ventre e a parte superior é mosqueda para representar os costados e as manchas.

Mas as vacas assim talhadas entregam-se a combates e é aí que aparece a regra: as vacas devem chocar-se hastes contra hastes e os jogadores empurram-nas pela base do Y; aquela que cair de costas perdeu. Trata-se, pois, de respeitar essas condições, de empurrar sem repelões etc., e a vaca perdedora torna-se propriedade do vencedor (PIAGET, 1975, p.184).

Na medida em que as regras são estabelecidas, ―[...] o jogo de exercício ganha identidade (futebol, voleibol, etc.) e o jogo simbólico torna-se lógico, jogos mentais, geralmente expressos por palavras‖ (LIMA, 1980, p.117).

Silva (2007) escreve que existe uma tradição de pensar o lúdico apenas na educação infantil e defende que ―o lúdico está na essência humana e perpassa todas as fases da vida. As escolas mantêm uma tradição equivocada em relação aos métodos lúdicos‖ (SILVA, 2007, p. 89).

Piaget baseou-se nos trabalhos do psicólogo alemão Karl Groos (1861- 1946) que após ter realizado diversos estudos formulou uma teoria psicológica do jogo, segundo a qual, o jogo é um exercício preparatório e útil ao desenvolvimento do organismo. Os jogos dos animais constituem um exercício dos instintos que o preparam para combater ou caçar. Os jogos da criança preparam-na para o desenvolvimento de percepções, da inteligência, da tendência à experimentação e

ao relacionamento social. Piaget (1976) afirma que o jogo é negligenciado pela escola tradicional, porque parece destituído de significado funcional e que

para a pedagogia corrente, é apenas um descanso ou o desgaste de um excedente de energia. Mas esta visão simplista não explica nem a importância que as crianças atribuem aos seus jogos e muito menos a forma constante de que se revestem os jogos infantis, simbolismo ou ficção, por exemplo. [...] É pelo fato do jogo ser um meio tão poderoso para a aprendizagem das crianças, que em todo lugar onde se consegue transformar em jogo a iniciação à leitura, ao cálculo, ou à ortografia, observa-se que as crianças se apaixonam por essas ocupações comumente tidas como maçantes (PIAGET, 1976, p.158-9).

Oliveira (2009) afirma que, para Piaget, ―o jogo tem seu locus de funcionamento no processo de inteligência constituído pela adaptação‖ (OLIVEIRA, 2009, p.16). O conceito de adaptação e a teoria de Jean Piaget, como fontes da teoria de Educação Matemática de Zoltan Paul Dienes, encontram-se complementadas no Capítulo III desta pesquisa. Aqui, enfatiza-se, o jogo.