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CAPÍTULO III – FONTES DA TEORIA MATEMÁTICA DE ZOLTAN

3.1 FREDERIC CHARLES BARTLETT

A experiência consciente, e principalmente a investigação experimental da estrutura da consciência, foi estudada pelo psicólogo alemão Wilhelm Wundt (1832- 1920), que discordava da possibilidade de pesquisa dos processos superiores, como a memória.

Coube ao alemão Hermann Ebbinghaus (1850-1909), o mérito de ter sido o primeiro psicólogo a empreender o estudo da memória em nível experimental. Ele estudou de forma rigorosa os processos de estocagem e manipulação das informações recolhidas, além de aplicá-los na pesquisa do esquecimento. Essa pesquisa foi tida na época como uma grande realização na área da Psicologia Experimental porque, antes, pertencia à área da Fisiologia.

Ebbinghaus considerou como objeto de estudo de sua pesquisa a sílaba sem sentido. Reconheceu que o uso de prosa ou poesia apresentava dificuldades porque significados ou associações vinculavam-se às palavras por aqueles que conheciam a língua. Essas associações existentes no momento da experimentação, não podiam ser controladas de um modo significativo.

O psicólogo inglês Frederic Charles Bartlett (1886-1969) discordou dos métodos rigorosamente controlados que Ebbinghaus utilizou no estudo da memória e defendeu que a pesquisa nessa área, não poderia restringir-se aos rigorosos experimentos de laboratório. A descoberta de leis a partir de pesquisas que utilizaram listas de palavras sem sentido, não deveriam alicerçar uma pesquisa de nível mais elevado. Ao contrário de Ebbinghaus, utilizou materiais até então pouco conhecidos nos estudos da memória, como fotografias, figuras e pequenas histórias.

Bartlett iniciou sua atividade acadêmica como professor de Psicologia Experimental na Universidade de Cambridge. É considerado um dos precursores da Psicologia Cognitiva, ciência que estuda processos e estruturas internas que possibilitam aos seres humanos desenvolverem atividades como a formação de conceitos e a resolução de problemas.

Entre suas contribuições à Psicologia incluem-se a teoria de reconstrução da memória humana e à definição teórica de esquema de representação do conhecimento presente em sua famosa obra Remembering: a study in experimental

and social psychology (1932), que distingue a memória do pensamento construtivo. Outras obras tratam da análise da propaganda política e dos mecanismos psicológicos que, em termos de comunicação, ocorrem entre emissores e receptores.

O uso do conceito de esquema com o sentido próximo do que lhe atribuímos hoje em dia, isto é, uma estrutura organizada de conhecimentos e experiências passadas que vai influenciar a aquisição de novos conhecimentos, deve-se a Bartlett. A ideia de esquema mental como uma organização ativa de reações e experiências passadas, como uma massa unitária, e não como componentes individuais, foi uma grande contribuição de Bartlett que serviu de modelo explicativo da memória e foi gestado a partir de seu trabalho. A memória humana envolve a formação de estruturas cognitivas abstratas denominadas esquemas que se originam de encontros anteriores com o ambiente e organizam as informações de maneiras especificas.

A mais famosa pesquisa de Bartlett refere-se à utilização de uma lenda dos índios norte-americanos denominada The war of the ghosts – a guerra dos fantasmas.

A lenda apresentava elementos inerentes à cultura em que foi criada. Nos experimentos, Bartlett solicitava que os participantes a lessem duas vezes e tentassem recordá-la da forma mais precisa possível, após quinze minutos. Outras restituições foram efetuadas em outros intervalos de tempo.

Bartlett (1932) verificou que, geralmente, não ocorria uma recordação precisa. Muitos detalhes foram esquecidos e informações que não constavam no texto original, foram acrescentadas à lenda. Os participantes – ingleses – da pesquisa reconstruíram o texto com base em suas expectativas e suposições características de sua cultura.

A análise dos dados oriundos do protocolo de recordação de ―A guerra dos fantasmas‖ apontou para uma nova forma de representação do conhecimento, diferente da explicação do associacionismo, teoria difundida na época, que tentava explicar todas as operações mentais pela associação mecânica das ideias.

Bartlett propôs uma explicação dos fenômenos mnemônicos, com base no constructo teórico que denominou de ―esquema‖, isto é, uma unidade básica de processamento que permitia uma recordação construída com elementos inerentes à cultura dos sujeitos participantes da pesquisa. Ele demonstrou que os sujeitos não

eram leitores passivos da realidade, mas que buscavam compreender essa realidade. Dessa forma, existia um caráter ativo dos esquemas nos processos de compreensão da realidade. As novas informações são enquadradas em um esquema conceptual constituído pelas informações a respeito de algo que já existe no sujeito. As informações que não se encaixam no esquema podem ser perdidas, modificadas ou distorcidas.

O esquema existente é o responsável pela seleção, modificação, distorção, esquecimento e armazenamento na memória de informações advindas da experiência que permitem uma representação coerente da mesma, baseadas em expectativas do sujeito, porém matizadas pela cultura do mesmo. O processo de evocação melhor se conceituará como trabalho de reconstrução. O sujeito retém dados centrais e afasta-se do modelo ao propor mudanças que se aproximem de padrões mais ajustáveis às suas expectativas e hábitos. Os conteúdos internalizados são trabalhados através da experiência prévia proporcionada pela própria cultura.

Na recordação da lenda, os sujeitos frequentemente forneciam os seus próprios elos causais. As informações difíceis de assimilar eram desprezadas, modificadas, distorcidas e o enredo modificado até assemelhar-se ao um contexto cultural conhecido. Assim, a recordação para Bartlett, não se refere a inúmeros vestígios fixos, sem vida, fragmentários que são reestimulados. Ela é uma construção ou reconstrução, imaginativa, feita a partir de uma massa ativa de experiências passadas que nunca é realmente exata. Nos casos mais simples de recapitulação mecânica, o organismo volta-se para os seus próprios ―esquemas‖. Segundo Fossa (1998):

Bartlett enfatizou os aspectos construtivistas da memória, em lugar dos seus aspectos reprodutivos, tradicionalmente enfatizados. E é precisamente este aspecto construtivista do conhecimento, ao contrário dos aspectos geneticamente determinados defendidos por Chomsky, que tende a caracterizar o cognitivismo moderno, especialmente – como seu próprio nome indica – o construtivismo. (FOSSA, 1998, p. 49-50).

A ideia do aspecto construtivista do conhecimento norteará a abordagem de Dienes na construção das etapas de aprendizagem em Matemática.