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1.2 CONTRIBUIÇÕES DO PRESENTE ESTUDO

1.2.1 O jogo e as abordagens pedagógicas

1.2.1.3 Henrique Heinrich Pestalozzi

O educador suíço Henrique Heinrich Pestalozzi (1746-1827) nasceu em Zurique e foi influenciado pelo movimento naturalista iniciado por Jean-Jacques Rousseau, principalmente pela obra Emílio ou Da educação. Tornou-se um revolucionário ardente. Contribuiu para concretizar os princípios da educação

negativa enunciados por Rousseau do qual se tornou defensor. Dedicou-se à vida agrícola depois de abandonar a preparação para o sacerdócio.

Com o fracasso de sua aventura no mundo dos negócios, transformou o estabelecimento em um instituto filantrópico para crianças abandonadas. O seu Instituto tornou-se provavelmente a primeira escola profissional para os pobres. As crianças trabalhavam na produção de algodão da fazenda, liam trechos de livros e se dedicavam a resolver exercícios de Matemática. No entanto, a experiência não deu resultados positivos.

Pestalozzi continuou acreditando que as reformas na sociedade deviam surgir pela educação e escolheu a atividade literária para defender suas ideias. De 1780 a 1798, dedicou-se à tarefa de mostrar a possibilidade de uma transformação política e social por meio de um novo processo de desenvolvimento educacional que contribuísse para reforma moral e intelectual do povo.

Publicou, em 1781, seu mais popular trabalho, um romance em quatro volumes, bastante lido na época, intitulado Leonardo e Gertrudes, no qual delineava suas ideias. Esta obra descrevia a vida simples do povo rural e, principalmente, a vida da personagem Gertrudes, uma mulher simples, generosa, de bondade e inteligência infinitas que, por meio da habilidade de educar os filhos e de cuidar da vida, salva o marido Leonardo da indolência e da embriaguês. Gertrudes ainda influenciou os habitantes da aldeia em que morava fazendo com que todos aplicassem seu método em benefício da população.

Em 1798, Pestalozzi tornou-se mestre-escola como forma de demonstrar a validade de suas ideias e, a seguir, aceitou o encargo de educar um grande número de crianças órfãs em um distrito da Suíça. O trabalho com os órfãos de Stanz não pôde continuar devido à guerra em que se encontrava o país.

Pestalozzi não desiste, anuncia pela primeira vez seu objetivo que era de ―psicologizar‖ a educação. As autoridades põem a sua disposição uma escola parcialmente subvencionada pelo governo para Pestalozzi experimentar com alunos e professores suas novas ideias. A educação concebida por Pestalozzi escreve Monroe (1988), ―é apenas o desenvolvimento orgânico do indivíduo – mental, moral, e físico. Este desenvolvimento se verifica em cada uma destas fases através das atividades iniciadas espontaneamente‖ (MONROE, 1988, p. 285).

As escolas deveriam ser guiadas por um conceito educacional geral que contribuísse para a formação do homem, e o conhecimento seria sempre

relacionado a padrões morais. Fundou o famoso Internato de Yverdon, em 1805, que funcionou durante 26 anos e acolheu estudantes de todos os países da Europa. O currículo adotado, afirma Gadotti (2002):

[...] dava ênfase à atividade dos alunos: apresentava-se no início objetos simples para chegar aos mais complexos; partia-se do conhecido para o desconhecido. Do concreto para o abstrato, do particular para o geral. Por isso, as atividades mais estimuladas em Yverdon eram desenhos, escrita, canto, educação física, modelagem, cartografia e excursões ao ar livre (GADOTTI, 2002, p. 97-8).

Educadores de todo o mundo adotaram o método Pestalozzi e difundiram suas ideias na Europa e na América. Froebel e Herbart estudaram-lhe a obra. A criação de institutos baseados no método de Pestalozzi se espalhou por vários países, escreve Palmer (2005), ―incluindo Alemanha, França, Inglaterra e Estados Unidos, e o aparecimento, quatro anos após a publicação de Gertrud, de quase duzentos títulos que discutiam seu método‖ (PALMER, 2005, p. 87).

Morf, um dos discípulos de Pestalozzi, segundo Monroe (1988), resume os princípios gerais do método: (1) a base da educação é a observação; (2) a linguagem deve sempre estar relacionada à observação; (3) o aprender deve estar isento de críticas; (4) o ensino deve começar pelos elementos mais simples e proceder gradualmente de acordo com o desenvolvimento psicológico da criança; (5) deve-se empregar tempo suficiente em cada ponto de ensino; (6) a ênfase do ensino deve ser no desenvolvimento e não na exposição dogmática; (7) a individualidade do aluno deve ser respeitada pelo educador; (8) a prioridade do ensino é aumentar os poderes da inteligência e não ministrar o conhecimento; (9) a aprendizagem relaciona-se a conquistas de técnicas; (10) as relações entre educador e educando devem ser baseadas no amor; (11) a instrução deve estar subordinada ao fim mais elevado da educação.

Pestalozzi defendia que o amor é a base do desenvolvimento integral. A formação integral do homem possibilita o pleno desabrochar de todas as suas potencialidades, ―[...] depende em primeiro lugar da capacidade de amor dos educadores e do grau de lucidez desse amor‖ (INCONTRI, 1997, p. 97).

A tarefa do educador, para Pestalozzi, deve ser a educação da personalidade, tarefa desempenhada por ele no contato com crianças pobres e frágeis, ao ―estender as mãos‖ – uma de suas expressões favoritas. Benjamin (1984) afirma: ―Essa mão estava sempre pronta, seja quando ajudava em um jogo ou trabalho, seja quando acariciava a fronte de uma criança que passava‖ (BENJAMIN, 1984, p.117).

A importância de Pestalozzi para a pesquisa encontra-se na ênfase dada pelo educador suíço ao papel da percepção sensorial da natureza na aquisição do conhecimento. Enquanto Comenius defendia a utilização de figuras de objetos como ilustrações necessárias aos estudos, Azevedo (1999) enfatiza que Pestalozzi defendia que as figuras não são suficientes.

Devem ser precedidas pela experiência direta com os objetos. As gravuras vêm mais tarde e desempenham a função de auxiliar a criança a fazer a transição para o desenho e deste para a escrita e a leitura. Assim, para as primeiras experiências os sentidos devem entrar em contato com os próprios objetos (AZEVEDO, 1999, p. 31).

Para Pestalozzi, a experiência sensorial é um processo ativo e à medida que um objeto é percebido pela mente, esta o coloca em um mundo organizado de espaço e tempo. Os objetos da natureza não são guardados passivamente. A criança

[...] só chegaria a ter conceitos claros mediante manipulação e observação direta dos objetos. [...] a percepção clara e a discriminação de objetos através do tato e da visão levam naturalmente ao conceito de número (Ibidem, p. 31).

Dessa forma, Pestalozzi prepara o terreno para a utilização de material concreto na utilização de jogos. Ele defendia um ensino que estabelecesse um elo entre o signo numérico e os objetos concretos. O ensino de Aritmética deveria ser realizado em etapas gradativas e começando pela utilização de materiais concretos. Com relação ao consórcio entre jogo e prática educativa, Miranda (2001) afirma que ―Pestalozzi [...] colocou em prática a teoria de Rousseau‖ e ―Friedrich Froebel [...] seguiu o caminho desenhado por Pestalozzi‖ (MIRANDA, 2001, p. 24).