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Da amostra às técnicas

No documento O (in)sucesso (re)escrito a cada momento (páginas 66-70)

A forma de seleção de amostra utilizada nesta investigação foi o método de “bola-de-neve”. Este é um método que representa um esquema de amostragem, quer qualitativo, quer quantitativo (Miles & Huberman, 1994; Onwuegbuzie & Leech, 2005).

Pretendia-se chegar a uma amostra de jovens residentes na Cova da Beira e com idades compreendidas entre os 18 e os 29 anos. Partindo do primeiro entrevistado, foram-se sinalizando outras possíveis fontes de informação. É um método não probabilístico, onde – dada a necessidade de permissão dos próprios entrevistados para fazerem parte do estudo – a aleatoriedade não é assumida. O desejo e a vontade dos indivíduos em participar na investigação e em partilhar os seus pontos de vista foram fatores levados em linha de conta na hora de os selecionar. Para esse fim, foram alertados para a importância que o seu contributo teria no acrescento de dados para a investigação. Algo que, aliás, não foi difícil, uma vez que o tema lhes diz diretamente respeito e ainda se encontra fresco e - na maioria dos casos - presente no seu quotidiano. Além disso, foi garantido o seu anonimato e a confidencialidade dos dados, pelo que os entrevistados terão nomes fictícios.

De forma resumida, foram os três fatores que influenciaram a escolha de cada participante:

a) conhecimento sobre o tema, dado o envolvimento na área; b) capacidade de refletir e de

facultar informação detalhada sobre a temática; c) desejo de partilhar experiências e vivências próprias (Morse, 1991 in Whiting, 2008).

Voltando à amostra que a este estudo diz respeito, chegou-se a oito casos que definem oito trajetórias distintas. Não havia um número prévio definido de entrevistas a realizar. Assim, os oito casos a que se chegou derivam da suficiência de informação recolhida e de constrangimentos temporais a que a investigação esteve sujeita. Foram selecionados quatro rapazes e quatro raparigas – sete residentes no concelho da Covilhã e um residente no concelho do Fundão, com idades compreendidas entre os 19 e os 26 anos. Relativamente ao percurso académico, quatro chegaram ao ensino superior, assumindo-se na investigação como casos de sucesso. Pelo facto de a seleção da amostra ter sido possibilitada pelo método “bola- de-neve”, sabia-se de antemão – mas em linhas muito superficiais – até onde tinham chegado ou como estava a ser o percurso escolar de cada um dos entrevistados, havendo, por isso, o cuidado prévio de obter uma representação igual, quer daqueles que chegaram ao ensino superior, quer daqueles que ficaram em patamares inferiores.

O período de tempo que separou a primeira e a oitava entrevista foi de, sensivelmente, quatro meses - entre Julho e Novembro de 2017. Este espaço temporal explica-se pela opção de transcrever de imediato cada entrevista aquando da sua realização e pela sua morosidade. A aplicação das entrevistas foi, maioritariamente, presencial e registada em formato digital com um gravador, sendo que apenas uma ocorreu através da tecnologia Skype, por motivos de inviabilidade da sua realização presencial. Os locais da entrevista foram deixados à escolha

preferencial de cada entrevistado. O tempo previsto médio de cada uma seria de duas horas, o que se veio a confirmar a posteriori. Quanto aos locais das entrevistas feitas pessoalmente: duas foram realizadas em casa do entrevistado, duas ocorreram numa biblioteca e as restantes três em cafés. Antes do início de cada entrevista: 1) foi explicado ao entrevistado o propósito da mesma e do estudo em questão; 2) explicou-se o porquê de ter sido visado para a participação no estudo; 3) alertou-se para o formato da entrevista e o tempo de duração previsto; 4) garantiu-se o anonimato e trocaram-se contactos para posterior esclarecimento de possíveis dúvidas; 5) propôs-se a gravação da mesma em formato digital, pedindo permissão ao entrevistado; e 6) assegurou-se a possibilidade de o entrevistado declinar responder a qualquer questão ou de desistir da entrevista a qualquer momento (Alwaasi, 2014; Whiting, 2008).

Optou-se pela execução de entrevistas semiestruturadas, apesar de - para fazer face aos objetivos da investigação, - ter-se buscado uma articulação com elementos da entrevista em profundidade ou compreensiva (Lalanda, 1998).

Contudo, qualquer que seja o tipo de entrevista a aplicar na prossecução de uma investigação, esta terá sempre de ter um fio condutor. Assim, colocando um determinado nível de estrutura nas entrevistas, a recolha e, sobretudo, a análise de dados será facilitada. Nesta investigação esse fator foi considerado no momento da execução do guião de entrevista2, pois se este tem espaço para o surgimento de questões particulares que foram

emergindo no decorrer de cada uma das oito entrevistas, também é verdade que se encontra estruturado – estando dividido em campos diferentes e cumulativos, face aos objetivos da investigação.

A entrevista, em termos gerais, é uma técnica que permite tratar de questões sociais, através das vivências e representações que os indivíduos têm face a determinados fenómenos (Seidman, 2012 in Alsaawi, 2014), permitindo que estes explorem os seus pontos de vista, perceções e significados relativos ao tema. Na entrevista semiestruturada, em particular, existindo um maior grau de interação entre entrevistador e entrevistado, ambos são agentes que participam ativamente na investigação - tal como defende Gomm (2004 in Newton, 2010: 6), é uma “fact-producing interaction”. Porém, em virtude desse aproximar entre ambos, o investigador tem de ter consciência da necessidade de um afastamento emocional face ao contexto de cada entrevistado. Dada a natureza da entrevista semiestruturada, recai sobre o investigador um peso crescente nos possíveis resultados da investigação – aqui, dependerão mais do investigador do que no contexto de uma metodologia quantitativa.

Essa exploração de memórias e experiências passadas por parte do entrevistado é sempre seletiva, o que não o coíbe de manter uma abordagem relativa ao seu universo (Lalanda, 1998), uma vez que ao selecionar a informação a veicular, estará, desde logo, a cingir-se às

suas experiências, à forma como as perceciona, aos significados que lhes atribui e ao modo como as representa e articula no seu discurso.

Quanto à análise dos dados recolhidos através das oito entrevistas, será realizada em dois momentos distintos, acabando por se complementar. Assim: 1) será feita uma síntese de cada uma das oito entrevistas, captando as singularidades de cada um dos entrevistados e sinalizando as trajetórias de sucesso e de insucesso escolar. A apresentação caso-a-caso terá sempre como referência o enquadramento teórico da presente investigação. A ideia de elaborar a síntese no momento anterior ao cruzamento dos dados das oito entrevistas surgiu do exemplo do estudo de Machado e Silva (2009), em que os autores tratam as oportunidades e vulnerabilidades divergentes com que se deparam os jovens de um bairro social. Nessa investigação, os autores optaram por sintetizar as singularidades presentes em cada uma das vinte entrevistas feitas, à parte da análise mais transversal que foram também fazendo ao longo da obra; 2) posteriormente, opta-se pela comparação das perceções de cada entrevistado, articulando-as transversalmente com as perspetivas desveladas na resenha teórica e com outras que possam surgir por via da análise dos dados recolhidos. De referir que a análise comparativa advinda desse cruzamento dos oito casos consoante as dimensões presentes neste estudo – família, ambiente escolar, grupo de pares e autonomia – pressupõe a criação de quatro perfis de trajetórias tipo – dois de sucesso e dois de insucesso -, permitindo distinguir várias situações que precipitam o indivíduo para um percurso, quer de sucesso, quer de insucesso escolar. A complementaridade que os dois momentos evidenciam reside na consciência de que não existem duas trajetórias iguais e que a análise em termos dinâmicos é crucial.

Capítulo 7

Das trajetórias aos perfis

Considerados os pressupostos metodológicos que guiam a investigação, chega o momento de avançar com a análise e a discussão dos dados obtidos no terreno. Num primeiro momento, vão ser sinalizados os casos de sucesso escolar e de insucesso escolar no seio da amostra considerada. Esse momento de triagem permitirá a criação de duas tabelas que ajudam a explicar, de forma comparada e resumida, os trajetos escolares bem-sucedidos e malsucedidos dos oito jovens. Após a elaboração de cada uma das referidas tabelas, será feita uma síntese individual das trajetórias, permitindo o sublinhar das singularidades presentes em cada uma das histórias. Num primeiro momento serão resumidas as quatro trajetórias de sucesso e, num segundo, as quatro trajetórias de insucesso escolar.

Após a fase inicial de análise, serão criados quatro perfis – dois de sucesso e dois de insucesso – que vão afunilar ainda mais a parte empírica da investigação. A construção desses perfis será facilitada pela discussão transversal das oito histórias, tendo em conta as quatro dimensões consideradas nos objetivos específicos – família, ambiente escolar, grupo de pares e autonomia.

No documento O (in)sucesso (re)escrito a cada momento (páginas 66-70)