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CAPÍTULO 3 O Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública e o contexto da

3.2 Do questionário e dos atores respondentes das cinco unidades escolares pesquisadas

3.5.1 Da assimilação dos programas avaliativos e dos processos de resistência

De acordo com o questionário, a grande maioria dos respondentes (83%) considera que os textos da apresentação dos programas do SIMAVE foram facilmente assimilados. Este dado converge com a opinião da Analista Educacional da SRE/Passos, responsável pela avaliação. Entretanto, mais da metade (52%) dos questionados afirma ter havido conflitos e divergências de ideias e de interpretações dos textos do SIMAVE durante sua implementação na escola, o que se manifestou, por exemplo, através de resistências às avaliações por parte dos professores, ainda que boa parcela (59%) tenha assinalado que houve imediata aceitação dos programas do SIMAVE em decorrência da imposição do programa e da satisfação de condições de obediência de cima para baixo,68segundo averiguado em entrevista, processo não ignorado pelos sujeitos entrevistados. A diretora da Escola E afirmou que resistências surgiram no início do programa, porque os sujeitos escolares ainda não estavam entendendo o que era, em torno do que estavam avaliando o aluno nem tampouco para que serviriam tais avaliações.

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Segundo Condé (2011), um processo de implementação de cima para baixo (Top/Down), é caracterizado por poucas restrições locais, com origem e objetivos anteriores. Sua contrapartida seria a implementação de

Em sua entrevista, a Coordenadora da Unidade de Avaliação do CAEd/UFJF explica que o início foi muito difícil. Embora a mesma considere ter havido uma boa receptividade em geral, sobretudo devido ao programa de sensibilização e à forma como o SIMAVE fora implementado, ela cita a ocorrência de fatos isolados, como ação do sindicato, de um grupo de professores, mas afirma que isso não acarretou impedimento na aplicação da avaliação em determinada região, por exemplo. Segundo a mesma, hoje se percebe uma maior aceitação por parte dos professores: “naquela época todo mundo ficava falando que estava gastando dinheiro com avaliação, mas não com o professor, com a formação, e não se conseguia fluir o assunto da avaliação”.

Eu acho que o SIMAVE foi, é uma grande experiência nacional, e quando no início do SIMAVE a gente teve muita dificuldade em aplicar os testes do SIMAVE, né, muitos diziam que era uma questão de controle, que era uma questão de uma política neoliberal, que aquilo não ia entrar na escola, teve movimento de sindicato, mas isso já passou, isso nós já vencemos, né? Hoje o SIMAVE, se o CAED não der o boletim até fevereiro, março, a pressão é muito grande, porque os boletins precisam chegar na escola. (Maria Inês Barroso Simões, entrevista cedida em 26 de janeiro de 2012)

Na opinião da Diretora da Superintendência de Avaliação Educacional da SEE/MG, os professores não tiveram muita resistência ao SIMAVE já que eles vinham de um processo de avaliação desde 1990.

Acho que preparou esse campo de certa forma. Só que eles não compreendiam muito o quê que era essa avaliação externa, o quê que era a proficiência, o objetivo, o quê que era essa tal Teoria da Resposta ao Item, porque que o professor não poderia ver o boletim, porque não poderia xerocar a prova, porque que a prova tinha 26 cadernos diferentes, então, esta novidade, fez com que os professores e os diretores, alguns, começassem a rejeitar um pouco o sistema, né, porque assim, o que é novo, eu não sei o quê que vem. Então teve certo tipo até de resistência em função de não conhecer o quê que é que vem por aí. A gente fazia uma avaliação aonde nós aplicávamos as provas, nós mesmos que corrigíamos as provas, e agora? Nós começamos a trabalhar o SIMAVE com aplicador externo, né. (Maria Inês Barroso Simões, entrevista cedida em 21 de julho de 2012).

Para a Analista Pedagógica da SRE responsável pela avaliação, a receptividade dos gestores escolares e professores aos programas integrantes do SIMAVE foi boa, com base nas intervenções pedagógicas realizadas em cima dos resultados. O Secretário Municipal de Educação de Formiga também acredita não ter havido nenhuma resistência aos mecanismos de avaliação, tendo sido encarados como indicadores de qualidade do serviço prestado aos alunos. É possível perceber em suas falas uma forte adesão do município aos instrumentos de avaliação externa.

Eu faço uma análise altamente positiva desses instrumentos de avaliação, porque até então não existia, então nós temos hoje, avaliação da alfabetização, temos avaliação do próprio estado em conhecimentos relacionados a português e matemática, temos avaliação do governo federal, eu acho que isso foi um grande

ganho pra avaliar procedimentos. Porque em nosso cotidiano, nós somos avaliados todo momento e não diferentemente do sistema educacional. Nós somos altamente favoráveis ao instrumento de avaliação. (Geraldo Reginaldo de Oliveira, entrevista cedida em 18 de setembro de 2012)

Contudo, quando pesquisamos diretamente o contexto escolar, observamos a presença de processos de resistência à avaliação por parte dos sujeitos escolares derivada em muitos casos da pressão por resultados e de medo.

Eu acho que tem havido resistência dos professores sim, medo. Falaram mesmo: “porque é que está me avaliando? Isso é para me avaliar: o meu jeito de ensinar, né?” Isso obrigou que ele mudasse sua postura, o seu jeito de ensinar, sua maneira de cobrar, suas próprias avaliações. (Diretora da Escola C, entrevista cedida em 19 de junho de 2012)

Para a diretora da Escola E, de fato ocorreram processos de resistência decorrentes, em sua visão, do próprio peso do termo avaliação.

Avaliar e ser avaliada é muito difícil. Às vezes, quando você fala assim: “eu vou te fazer uma pergunta”, tudo bem, normal. Aí você fala assim: “eu vou te fazer uma pergunta e ela vale de zero a dez”. Ainda que seja uma brincadeira, essa pergunta passa a ser séria. Então, toda vez que envolve a palavra avaliação, ela complica, né? Então, tudo aquilo que é novo, cria essa resistência mesmo. (Diretora da Escola E, entrevista cedida em 20 de junho de 2012)

De acordo com o questionário, 65% dos respondentes afirmam terem sentido um clima de desconfiança por parte de alguns professores com relação à implantação dos programas de avaliação. Para 58% dos questionados, essa resistência às avaliações pode ser explicada, principalmente, pelo fato de seu conteúdo não refletir o conteúdo dado em sala de aula.