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CAPÍTULO 3 O Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública e o contexto da

3.6 Da implementação e acomodação do processo avaliativo externo no cotidiano escolar

3.7.3 Do uso dos resultados das avaliações externas no cotidiano escolar

Segundo a Coordenadora da Unidade de Avaliação do CAEd/UFJF, o foco principal em relação aos usos do SIMAVE é a escola:

O foco maior do SIMAVE é justamente a escola, né? Qual que é o objetivo de uma avaliação censitária com o foco na escola? Não importa, os alunos passam, mas a escola tem que melhorar. Então todo o processo de intervenção é na escola. Eu acredito que os resultados, eu acompanhei desde a implementação do SIMAVE, eu acompanhei a evolução da Secretaria de Minas, ela usa muito bem os resultados nas duas dimensões. A gente teve gestão tanto do professor Murílio, quanto da professora Vanessa e atualmente da professora Ana Gazolla. Toda gestão, ela é feita a partir dos resultados do SIMAVE. Então os dados do SIMAVE é [sic] um eixo muito importante, inclusive é um eixo que direciona todas as metas do desempenho escolar da Secretaria. A nível macro, a nível da Secretaria, eu vou te dar um exemplo que eu acho muito importante. Foi a implementação do PIP, que é um Programa de Intervenção Pedagógica. Os alunos de baixo desempenho tiveram um tratamento diferenciado. Uma atenção especial, material instrucional, material de apoio, melhores professores foram para essas salas, né? Então teve uma política pública em nível estadual, tendo em vista os resultados do PROALFA, porque o PROALFA faz parte também do SIMAVE. Além disso, eu vejo um movimento hoje muito grande na escola. (Lina Kátia, entrevista cedida em 26 de janeiro de 2012) Após a divulgação dos resultados, a gestão escolar procede à análise dos resultados e à estipulação de metas dentro do Plano de Metas da Escola/Acordo de Resultados paralelamente às ações de divulgação dos resultados para a comunidade. Da análise dos resultados e da elaboração de estratégias em cima dos resultados resulta o Plano de Intervenção Pedagógica (PIP).

No PIP a gente coloca que ações a gente vai fazer para o próximo ano, faz reunião com todos e as ações são os projetos que a gente cria. Quais projetos? O menino está com dificuldade em Matemática, em leitura, então tem o projeto. Faz avaliação e monitoramento dos projetos todo o ano. (Diretora da Escola C, entrevista realizada em 19 de junho de 2012)

Segundo a Diretora de Avaliação Educacional da SEE/MG, o PIP surgiu em 2004, quando a Secretaria de Estado da Educação instituiu o Ensino Fundamental de 9 anos. Para a mesma, os resultados do PROEB eram indicativos de que os alunos chegavam no 5º ano sem terem conseguido alcançar as habilidades essenciais básicas, o que embasou a implantação de mais um ano no Ensino Fundamental, a ideia de uma intervenção mais cedo para o aluno e o PROALFA. Para a entrevistada, o PIP surgiu com a necessidade de fazer intervenções nas regionais que apresentavam piores resultados. Conforme seu relato, a primeira intervenção do PIP se deu a partir dos resultados do PROALFA do Norte de Minas. Um grupo de trabalho foi formado para trabalhar em todas as Superintendências: “trabalhou corpo a corpo nas escolas com esses alunos, e aí no PROALFA, a avaliação sempre foi nominal e censitária, e isso possibilitava pegar aquele aluno ‘o Joãozinho’ e ver onde ele se encontrava” (Entrevista cedida em 21 de julho de 2012).

A finalidade do PIP, segundo a Diretora da Escola D, é elaborar uma intervenção pedagógica naquela escola onde os resultados não foram recomendáveis, pois o PIP não é para o aluno e sim para a escola. Através deste instrumento, cada professor traça metas para o ano seguinte. Informou também que o PIP ocorre em dois momentos: um momento com os sujeitos escolares e o outro com a comunidade escolar.

Quando a gente vai fazer com a comunidade dentro da escola, a gente divide as áreas, vai ver o que vai trabalhar ali, vendo as dificuldades, ver as possibilidades, vai trabalhar o PIP. Tá. A gente faz o nosso papel. Com muito gosto? Ah! O professor tá (expressão facial de desmotivação, cansaço e enfado). Tem que fazer, então vamos fazer. (Diretora da Escola D, entrevista cedida em 18 de junho de 2012)

O PIP da Escola D, para fins de ilustração, busca responder à seguinte questão: “Onde nós falhamos como pessoas?” Baseia-se em cinco eixos: motivação, letramento, diversificação da metodologia, todos em torno do mesmo objetivo e melhoria do hábito de estudo dos alunos. A direção da Escola D acredita que os professores se empenham em desenvolver as metas e propostas estabelecidas, tendo em vista sua consideração na Avaliação de Desempenho Individual do Servidor (ADI), o que é ratificado na fala de um professor entrevistado: “Fazemos reuniões, elaboramos o PIP e nossa avaliação de desempenho é feita observando sua aplicação” (Professora da Escola D, entrevista cedida em 18 de junho de 2012).

Eu acho que o professor participa, porque assim como o mundo, o estado está também cruzando informação, isso aqui é cobrado dele através da avaliação de desempenho. Então o professor vai fazer a avaliação de desempenho, baseado no PIP, né, nessa intervenção, certo? E o Projeto Político Pedagógico também culmina nisso, né? De a gente montar estratégias, pra contemplar no ano seguinte, aquilo que a gente achou até que foi falho no ano atual, eu acho que a gente anda no ensino não

só de prática exitosa, elas são muito importantes, mas é em cima das falhas. (Diretora da Escola D, entrevista cedida em 18 de junho de 2012)

De acordo com as entrevistas, a elaboração do PIP ocorre em uma perspectiva democrático-participativa. Em geral, os professores entrevistados afirmam que as suas opiniões são ouvidas na reelaboração do PIP. Apenas dois respondentes discordam, devido ao fato de as turmas participantes das reuniões serem em número elevado ou, ainda, ao fato de haverem muitos professores trabalhando por contrato ser contrato. “Ah, eu acho que pra gente assim, que na minha situação de contratada, não é ouvido muito não. As meninas opinaram, mas a gente não é muito ouvida não.” (Professora da Escola C, entrevista cedida em 19 de junho de 2012).

Segundo os docentes, o PIP é implantado no início do ano letivo, logo depois das primeiras reuniões pedagógicas feitas na escola. “Reunimo-nos, revemos as metas e ações traçadas e escolhemos as atividades apropriadas às ações e ao alcance das metas” (Professora da Escola E, entrevista cedida em 21 de junho de 2012).

Segundo o questionário, 67,6% dos respondentes acreditam terem sido bem orientados em relação ao PIP e o avaliam como uma ferramenta útil para a sua prática cotidiana. Quando cruzamos estes dados segundo o tipo de unidade administrativa (estadual ou municipal) encontramos percentuais similares (68% para o primeiro caso e 67,5% para o segundo caso, respectivamente).

Além do PIP, os documentos do texto da política prescrevem que as instituições escolares devem retroalimentar seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) a partir dos diagnósticos obtidos dos resultados do SIMAVE. O Projeto Político Pedagógico da escola, segundo a diretora da Escola A, é um caminho previamente estabelecido que serve como ajuda para que as escolas se mantenham no caminho inicial apesar das adversidades da rotina escolar. Segundo a mesma, o PPP é construído todos os anos e uma das ações implementadas nele é suprir as falhas das estratégias atuais que porventura existam. Sua construção se dá a partir de reuniões e discussão com toda a comunidade escolar (professores, funcionários, pais e colegiado escolar). A direção da Escola C acredita que o PPP é a base de todo o trabalho feito na escola. A diretora da Escola D explica que o PPP é retroalimentado pelos diagnósticos do SIMAVE e que essa elaboração se dá nas interferências realizadas ao longo do ano quando se obtém um baixo resultado. Para a gestora da Escola E, a escola faz o que pode, considerando a pouca participação dos pais.

Todo ano a gente tem que reformular a nossa proposta pedagógica. Com os poucos pais que vêm, a gente tenta fazer o que pode. A gente explica, a gente mostra, a gente senta com o Colegiado da escola, que é onde tem a representação

dos pais, e faz o que é possível ser feito. Mas falar que a comunidade participa ativamente, é mentira, não participa não. Agora, a gente tá é modificando, na medida daquilo que, assim, pedagogicamente a gente vai achando correto. Mas os professores participam de tudo. Os coitados, sobretudo, participam de tudo. Não tem nem como fugir. Então quer dizer que o que está manco mesmo é a comunidade. É essa integração. (Diretora da Escola E, entrevista cedida em 20 de junho de 2012) Na visão da escola os pais participam pouco: 64,5% dos respondentes do questionário afirmam que a comunidade (pais) não se mostra atenta aos resultados, o que é evidenciado pela baixa participação dos mesmos nas reuniões onde são divulgados os resultados (Dia D). Quando cruzamos os dados segundo o tipo de unidade administrativa, verificamos não haver diferenças significativas, contrariando a crença de que é maior participação dos pais nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Nas unidades estaduais, 2/3 (66,6%) dos respondentes considera que há baixa atenção dos pais aos resultados dessas avaliações enquanto que nas instituições municipais esse valor cai para 60,6%.

Segundo as entrevistas, os pais têm se mostrado omissos, não apenas em relação aos resultados das avaliações, mas também ao processo de aprendizagem de seus filhos. Por vezes criticam a escola, não se sentem corresponsáveis e não têm participado das reuniões de divulgação dos resultados: “na reunião em que são passados os resultados, geralmente num sábado, estipulado pela Superintendência, poucos pais aparecem” (Professor da Escola D, em entrevista cedida em 18 de junho de 2012)

Para o Secretário Municipal de Educação, contudo, os pais se preocupam com os resultados das avaliações externas, e o mesmo considera que:

Se preocupam e fazem questão de valorizar a escola, de reconhecer. Eu não tenho ainda indicadores de uma fala no sentido de dizer pra você se a escola não está bem, se o pai vai lá e cobra este resultado. Eu só tenho a minha fala de resultado positivo, o pai fica altamente motivado e tem orgulho, e acompanha, passou a frequentar mais a escola, entendeu? nas reuniões, de resultados, nas reuniões de pais, este tá sendo o retorno que eu tenho recebido aqui na Secretaria. (Geraldo Reginaldo de Oliveira, em entrevista cedida em 18 de setembro de 2012)

Em relação à baixa participação dos pais, a Diretora da Superintendência de Avaliação informou em sua entrevista que algumas ações têm sido executadas no sentido de incentivar a maior participação. Segundo relata, foi encaminhado um folder para cada aluno e para cada pai de aluno, com uma linguagem acessível para que possam compreender a importância da avaliação e a necessidade de mandar seus filhos para escola no dia da prova.