• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 O Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública e o contexto da

3.2 Do questionário e dos atores respondentes das cinco unidades escolares pesquisadas

3.5.5 Da rotina escolar

Segundo o questionário, 79% dos sujeitos escolares concordam que a rotina escolar foi influenciada e alterada pela implementação das avaliações. Quando cruzamos as respostas com o tipo de unidade administrativa, encontramos os resultados dispostos na tabela a seguir:

Tabela 1.0 Grau de concordância quanto à influência da implementação das avaliações na rotina escolar segundo unidade administrativa

Unidade administrativa * Q13 Crosstabulation

Não houve influência na rotina escolar

Houve influência na rotina escolar

TIPO Estadual 30,2% 69,2% 100,0%

Municipal 5,8% 94,2% 100,0%

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Segundo a tabela, a maior parte dos respondentes considera ter havido influência das avaliações externas na rotina escolar. Essa influência se faz sentir por quase todos os respondentes das instituições públicas municipais investigadas, o que converge com o grau de adesão aos mecanismos avaliativos pela Secretaria Municipal de Educação de Formiga.

Buscando aprofundar este quesito através das entrevistas, encontrou-se que os respondentes que afirmaram não ter havido influência das avaliações na rotina escolar ou na sua rotina de trabalho justificaram tal assertiva de duas formas predominantemente: ou não trabalham em turmas onde as avaliações do SIMAVE são aplicadas ou lecionam disciplinas que não são avaliadas diretamente pelo SIMAVE: “Não, não dou aulas nem de Português nem de Matemática” (Professor da escola C, entrevista cedida em 2 de julho de 2012). Depreende- se dessas justificativas que parece haver pouca preocupação por parte de alguns docentes com o resultado institucional, uma vez que o resultado é considerado como sendo da escola. Consequentemente, infere-se que há pouca preocupação com a responsabilização social (divulgação dos resultados da escola e premiação) por parte de alguns entrevistados.

A outra justificativa que apareceu nas falas dos entrevistados sugere uma possível rotinização das novas formas de trabalho: “durante os primeiros anos foi interessante e de grande importância avaliar as questões e transmiti-las aos alunos através das matrizes de referência, mas os textos e gêneros tornaram-se repetitivos e os descritores não contemplam as habilidades desenvolvidas até o 9º ano” (Entrevista cedida por professor da Escola E em 20 de junho de 2012).

De acordo com o questionário, cerca de 30% dos atores pesquisados acreditam que as avaliações do SIMAVE já estão incorporadas naturalmente ao processo escolar, o que é confirmado em algumas falas das entrevistas: “O SIMAVE vai virar uma rotina muito em breve. Ele já está virando, sabe? Ele vai virar uma rotina incorporada, ele já está quase incorporado. Quando você chega com os cadernos para estudar: 'mas isso de novo?' ” (Diretora da Escola D, entrevista cedida em 18 de junho de 2012).

As principais modificações na rotina escolar e na prática dos docentes apontadas nas entrevistas foram:

• A mobilização das escolas no sentido de adequarem seus conteúdos aos cobrados nas avaliações;

• A busca do professor por formação continuada; • A preocupação em melhorar as notas dos alunos; • O predomínio no uso de questões objetivas; • A centralidade das avaliações;

• Treinos e simulados;

• A diminuição da autonomia dos docentes decorrente da padronização; • Aumento no número de reuniões;

• Planejamento mais detalhado;

• Criação de intervenções com base nos resultados;

• Trabalho com as questões que os alunos apresentam mais dificuldades; • Maior cobrança de aplicação do CBC;

• Elaboração de projetos; • Excesso de provas;

• Adaptações para o cumprimento de metas; • Contextualização de questões.

A adequação dos conteúdos escolares aos conteúdos cobrados nas avaliações foi uma das principais modificações comentadas pelos sujeitos pesquisados. Essa necessidade de adequação, contudo, parece advir não de uma preocupação com a melhoria da qualidade e da aprendizagem, mas antes, da preocupação em melhorar as notas dos alunos.

Para 60% dos respondentes do questionário aplicado a avaliação externa é uma forma de obtenção de um currículo a ser ensinado aos alunos, 54% afirmam se pautar pelas avaliações do SIMAVE, por considerá-las um norte sobre o que se deve exatamente ser avaliado, o que para 44% dos respondentes foi considerado um facilitador no trabalho

docente. Quando consideramos o tipo de unidade administrativa (estadual ou municipal), verificam-se diferenças: nas estaduais apenas 32% dos atores consideram que as avaliações facilitaram seu trabalho ao revelar os conteúdos a serem cobrados dos alunos. Nas escolas municipais esse percentual sobe para 62,5%, o que mais uma vez vem ratificar a adesão municipal aos mecanismos da avaliação e a influência dessa adesão na rotina escolar.

Segundo as entrevistas realizadas com os professores da Escola A, está se confundindo matriz de referência com matriz curricular. Para os mesmos, nas escolas tem-se focado tanto as avaliações que o currículo é esquecido.

A fala da Analista da SRE responsável pela avaliação ratifica essa confusão entre matriz de referência e matriz curricular: “mesmo com toda orientação passada pelos Analistas da SRE para trabalhar todo o CBC e a Matriz Curricular, ainda vemos escolas treinando os alunos e focando o trabalho na matriz de referência” (Entrevista realizada em 20 de setembro de 2012).

Em entrevista, a Diretora da Superintendência de Avaliação Educacional confirma que tem havido, de fato, uma confusão entre matriz de referência e matriz curricular. Para a entrevistada, o maior fator relacionado a esse fato é a bonificação:

Por quê? Se meus alunos saem melhor, a forma como essa bonificação é dada então, eu vou treinar meus alunos para responder àquilo, por que aí eu vou elevar o resultado da escola e vou ganhar mais. Só que em Minas não adianta, porque exatamente pra tirar esse foco, tem outros indicadores. (Maria Inês Barroso Simões, em 21 de julho de 2012)

A opinião da Coordenadora da Unidade de Avaliação do CAEd/UFJF em relação ao estreitamento do currículo é de que a situação da educação pública tem deixado tanto a desejar que se os alunos estivessem sabendo o que está na matriz de referência, a educação não estaria no patamar que está.

Eu acho até que pode ter um movimento como diz? Assim: “eu vou ensinar isso aqui pra ver se melhora no SIMAVE”. Se ele ensinou isso aqui e melhorou no SIMAVE, já foi um avanço, não estou dizendo que é o caminho certo. Mas, eu tenho muita dúvida desse discurso porque quando a gente avalia, se você pegar a matriz de Matemática, Matemática é a minha área, de 9º ano, tem várias habilidades ali, quer ver um exemplo? Resolver problemas envolvendo equação do segundo grau. O menino consegue resolver isso sem resolver uma equação do segundo grau? Não. Sem saber operar com números inteiros positivos e negativos? Não. Sem operar com números racionais? Não. Então é um conjunto de habilidades que num processo de aprendizagem ele teve de chegar, porque a avaliação é um produto. Ou seja, no final dessa etapa ele deverá ser capaz disso. Então, eu não vejo isso como uma catástrofe. Acho que é importante o currículo como a metodologia, não acho que o professor deve tomar isso como referência, porque ele não vai conseguir. Porque se ele falar assim: “hoje eu vou ensinar o meu menino a resolver problema”, se ele fizer isso tá ótimo, porque ele vai ter que ensinar umas seis habilidades atreladas ao conteúdo de 4, 5 anos de escolaridade aí. Eu acho que tem mais discurso disso do que efetivamente acontece. (Lina Kátia, entrevista cedida em 26 de janeiro de 2012)