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CAPÍTULO 2 O cenário mineiro: articulando discursos e disseminando termos na

2.1 O cenário político do Estado

2.1.4 O SIMAVE e a “Gestão para a Cidadania” (2011-2030)

Em 2011, uma nova versão do PMDI é formulada e ampliada em seu lapso temporal (2011-2030). A nova versão, agora intitulada Gestão para a Cidadania, tem como elemento central o compartilhamento de responsabilidades e a corresponsabilidade legalmente regulada, através de um Estado Aberto e “em rede”. Esta corresponsabilidade insere o cidadão não apenas como cliente-usuário, mas como copartícipe na priorização das estratégias do governo.

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Utilizo a expressão empoderado para fazer menção ao termo empowerment, empregado para referir-se ao mecanismo de fortalecimento de atores ou comunidades na gestão do patrimônio público (SECCHI, 2009).

O discurso da nova e atual versão do planejamento estadual deixa claro, contudo, que apesar de se pretender aberto ao engajamento da sociedade, o estado continua sendo o regulador tanto da organização social quanto da atividade econômica e a busca de resultados e de equilíbrio fiscal continuam sendo prioritárias.

No Estado para Resultados, falava-se em 11 Áreas de Resultados desdobradas em objetivos, estratégias e metas. No Gestão para a Cidadania, estabeleceu-se 11 Redes de Desenvolvimento Integradas, também desdobradas em objetos, estratégias e metas.

O diagnóstico do estado se deu pela análise do percurso deste estado rumo aos cenários constituídos nos planejamentos anteriores. Embora o atual planejamento traga a observação de que nenhum dos quatro cenários acontece realmente como descrito, ele aponta que nos últimos anos o Estado caminhou para os melhores cenários. Contudo, apesar da evolução no uso de dados estatísticos, os dados que ratificam essa afirmação se apresentam muito incipientes.

Assim como nos planejamentos anteriores, uma análise das tendências e dos condicionantes internos e externos foi realizada, considerando três dimensões: Estado e Sociedade; Globalização e Competitividade e Meio Ambiente e Sustentabilidade.

O eixo “Estado e Sociedade” é caracterizado no contexto mundial pela pressão por ajustes fiscais e políticas mais eficazes e por uma sociedade em rede continuamente em expansão. Essa expansão também é observada no cenário nacional, assim como a preocupação com a inclusão social e a erradicação da pobreza. A tendência mineira aponta para o crescimento da população idosa e economicamente ativa e para o fortalecimento da participação e da accountability. O eixo “Globalização e Competitividade” apresenta um cenário mundial caracterizado pela globalização econômica, financeira e produtiva, em redes, pelos novos padrões de competitividade e pela consolidação do conhecimento como propulsor da economia mundial. No cenário nacional a tendência é a inserção do Brasil na economia internacional e no cenário mineiro é a articulação entre atividades técnico-científicas e a economia do conhecimento.

A visão de futuro apresenta aspirações de uma inserção de Minas no mercado global e na economia do conhecimento, pelo fortalecimento de sua competitividade econômica. No tocante aos aspectos sociais enfatiza-se a garantia dos direitos fundamentais, ao mesmo tempo em que o indivíduo é posto como responsável pelo processo de desenvolvimento e por sua própria emancipação e autonomia. Nessa visão, a noção de cidadania se dá pela participação do indivíduo na formulação e no monitoramento das políticas públicas.

O atual planejamento é marcado pela busca por um alinhamento entre as possibilidades tecnológicas – premissa para a organização da sociedade em redes – e uma cultura política de aproximação da sociedade, de ampliação da participação e de mecanismos de responsabilização. A estratégia adotada mais uma vez foi introduzida pelas empresas: a gestão em redes.

A gestão em redes ou governança em redes se subdivide em dois eixos de trabalho: a “gestão regionalizada”, que prevê a construção de Comitês Regionais viabilizando dessa forma a interlocução entre os atores com foco regional e a “gestão participativa”, pautada na construção de espaços de interlocução entre a sociedade civil e os atores governamentais.

O termo “redes” tem sido bastante empregado nos tempos atuais, em que se assiste a uma revolução cultural que substitui a era da informação escrita pela da cultura virtual e interativa, o que possibilita a integração de pessoas de culturas, níveis socioeconômicos e regiões diversas ao mesmo tempo. Segundo Castells (2005) essa integração torna-se essencial para a geração de riqueza, a circulação de informações, e para a constituição da “Economia do Conhecimento”. De acordo com Colis (2005), a “Economia do Conhecimento” relaciona-se com as mudanças na sociedade global (como a globalização), ao conhecimento em rede e à conectividade.

Como lembra Nohria (1992), o conceito de rede designa um conjunto de pontos de intercessão ligados por um conjunto de relacionamentos sociais ou, ainda, um conjunto de nós interconectados, que podem se expandir ilimitadamente, integrando novos nós. De acordo com Castells (1999), na gestão em redes a integração de diferentes nós (perspectivas heterogêneas) representa a soma de esforços e de conhecimentos diversificados para o mesmo fim, de forma cooperativa tal como na tessitura de um tapete que pode ser alimentado por nós em diferentes direções e por diferentes atores, de forma coletiva, como nas cooperativas de artesanato. Segundo o PMDI atual a noção de redes na gestão pública visa a superar a fragmentação e a ineficiência na obtenção de resultados.

A construção de redes por diferentes nós pressupõe a comunicação destes nós dentro da mesma rede, ou, nos dizeres de Castells (1999), pressupõe o compartilhamento dos mesmos “códigos de comunicação”. Nesse sentido, para que os atores inseridos direta ou indiretamente na atividade governamental possam cooperar entre si na construção da rede, somando seus esforços, é preciso que interajam e que saibam como se constroem os nós, sofrendo o risco de apenas visualizarem o produto, ficando excluídos dos processos de sua construção. O PMDI atual deixa evidente essa preocupação da gestão com a obtenção de resultados.

A noção de rede dentro da visão gerencial da nova administração pública, de acordo com Kliksberg (1994), visa a otimizar recursos, apresentar uma visão panorâmica dos entes descentralizados para facilitar a coordenação (e o controle) de longe, fortalecer associações e impulsionar maior organicidade e comunicação.

Para Krawczyk (2000), a ideia de rede,48 instaurada a partir das reformas da década de 1990 vêm substituir o sentido nacional da educação por um sentido mais geral que desconsidera as especificidades políticas, culturais e sociais de cada país e se impõe homogeneamente.

A gestão em rede é construída sob quatro eixos, segundo o novo PMDI: a melhoria da compreensão da realidade pelos governos, possibilitada pela interação de diferentes atores; a melhoria das formulações pela soma de esforços advindos de parcerias; a execução das ações, a partir do compartilhamento de informações; e a monitoria e avaliação também em parceria com a sociedade.

Nessa nova estratégia a educação continua sendo colocada como propulsora da economia, por meio da educação se garante a empregabilidade, a diversificação da economia mineira, a geração de renda e a qualidade do trabalho. Para isso, a visão de futuro do planejamento atual aponta para a necessidade de um sistema educacional de alto desempenho. A educação constitui uma das 11 redes de desenvolvimento integrado, juntamente com o desenvolvimento humano, que possui como objetivos estratégicos aumentar a escolaridade média da população, consolidar um sistema de alto desempenho, reduzir as desigualdades educacionais, aumentar o emprego, a renda, a qualidade e a produtividade do trabalho (PMDI, 2011-2030)

Para esses fins, o PMDI faz uso de indicadores educacionais de desempenho internacionais, nacionais e estaduais, bem como indicadores sociodemográficos relacionados ao trabalho e à escolaridade da população como referenciais para o estabelecimento de metas intermediárias e metas finais para 2030, a serem alcançadas por meio de sete estratégias prioritárias expressas no documento e oito estratégias complementares.

As duas primeiras estratégias mantêm a lógica da avaliação e premiação por resultados, entendida nesse contexto como forma de desenvolver os professores em sala de aula e selecionar diretores das escolas públicas, em consonância com as práticas gerencialistas

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A perspectiva gerencialista prevê a substituição das estruturas dos Estados por redes, que na visão de Kliksberg (1994), possibilitam maior sinergia, otimização de recursos escassos, flexibilidade, conexão do governo central com entes descentralizados. Na perspectiva conexionista, as redes constituem as próprias organizações, com sua flexibilidade, trocas e interações eletivas.

adotadas nas últimas décadas nos setores públicos. As demais estratégias prioritárias são orientadas para o mercado e para o trabalho e apresentam forte ênfase na busca de parcerias para sua consecução. As estratégias complementares foram organizadas no sentido de estimular a participação da família, realizar parcerias com outros órgãos públicos em prol da segurança, implementar políticas focalizadas e discriminação positiva. Neste rol de estratégias se situa o aperfeiçoamento e a consolidação do sistema de avaliação do ensino e a divulgação dos resultados, com vistas a estimular o controle social e a instituição de parcerias.

O atual PMDI criou a Rede de Governo Integrado Eficiente e Eficaz para articular as demais redes criadas, tendo como pressupostos a profissionalização da gestão e a participação da sociedade civil, de empresas, de organizações não governamentais e de poderes políticos locais.

Por meio desta rede que perpassa todas as outras, o governo visa a disseminar a administração pública gerencial orientada para resultados, ampliando a participação e o controle social, criando espaços de interlocução, fomentando a iniciativa privada, consolidando o modelo meritocrático e a profissionalização do serviço público, adotando padrões de excelência de governança corporativa e garantindo a disseminação e a produção de dados estatísticos. Percebe-se que a noção de rede adotada pela nova gestão vai fechando todos os agentes públicos neste intricado conjunto de nós, sem ofertar possibilidade de evolução fora desse emaranhado que articula nível internacional, nacional e local, “enredados” no mesmo objetivo-fim.

A transferência para a sociedade civil, em particular para o público não estatal, da provisão de serviços sociais e do controle social se torna mais nítida com o chamado à corresponsabilidade na nova gestão. Não apenas os agentes públicos, mas agora também a própria sociedade é impelida a se autorresponsabilizar pela ineficácia dos serviços.

A profissionalização49 e a racionalização são objetivos que vêm sendo perseguidos desde 2003, com o Choque de Gestão e o Acordo de Resultados (AR). Este é um instrumento na forma de contrato de resultados celebrado entre diferentes órgãos e entidades do Poder Executivo, bem como autoridades hierárquicas e supervisores, cujo objetivo é estabelecer metas e medir o desempenho de cada órgão da administração pública estadual. Espera-se que tais metas garantam que os resultados esperados sejam o foco das ações dos servidores

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O termo profissionalização nas reformas atuais aparece justaposto a conceitos como competência, eficiência, qualidade, autonomia, responsabilidade, accountability e avaliação no plano de uma nova gestão pública. Em decorrência, reestruturaram-se as escolas, a gestão e as relações entre professores e estado. Para mais detalhes ver: Profissionalização docente. In: Dicionário de trabalho, profissão e condição docente/Organizadoras, Dalila Andrade Oliveira, Adriana Maria Cancela Duarte, Lívia Maria Fraga Vieira. Belo Horizonte: UFMG/FAE, 2010.

públicos. Como contrapartida, é ofertada relativa autonomia gerencial e financeira, o que acaba por responsabilizar a entidade num eventual fracasso, e em caso de sucesso, é estabelecido o pagamento como incentivo - o prêmio por produtividade.

Dentre alguns dos objetivos listados para o AR, tem-se a melhoria da qualidade e da eficiência dos serviços públicos prestados à sociedade, o alinhamento do planejamento e das ações do acordo com o planejamento estratégico do governo, o princípio da transparência e o controle social sobre a atividade administrativa e a implantação de uma cultura por resultados. O primeiro passo para a implantação da contratualização de resultados em Minas Gerais se deu em 2003, quando da elaboração do arcabouço legal do Acordo de Resultados através da Lei Estadual nº 14.694, regulamentada pelo Decreto nº 43.674. De 2003 a 2006, garantiu-se a experiência com a implantação do modelo e a sua ampliação. Após revisões em seu conceito e em suas metodologias, o modelo foi aperfeiçoado sob o marco legal da Lei nº 17600/2008 e do Decreto nº 44.873/2008.

Dessa forma, o Acordo de Resultados passou a ser o instrumento de pactuação das prioridades do PMDI e da execução dos projetos estruturadores, como o SIMAVE. O prazo fixado para o pleno cumprimento de metas é o ano de 2023, sendo que tais metas foram desdobradas e divididas entre os setores do governo.

O cumprimento de metas parciais dá direito aos servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo e de provimento em comissão, aos servidores detentores de função pública (Lei 10.254/1990) e aos servidores efetivados pela Lei Complementar 100/2007 ao prêmio de produtividade,50 embora tenham sido estabelecidas algumas condicionalidades para que o prêmio seja pago, dentre elas, a de que os órgãos e entidades estaduais integrem as duas etapas do Acordo de Resultados e tenham obtido resultados superiores a 60% da meta, além de terem aplicado a Avaliação de Desempenho Individual dos Servidores (realizada por uma comissão em cada secretaria e órgão estadual), e de que o resultado fiscal seja positivo em relação ao ano anterior.

Na educação, as metas do Acordo de Resultados referem-se à melhoria da qualidade da educação, principalmente à elevação dos indicadores educacionais da escola. Neste sentido, a prioridade volta-se para o aumento desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e

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Os servidores que não se enquadram nos critérios de direito ao prêmio são aqueles designados para o exercício da função pública (artigo 10 da Lei 10254/1990), servidores contratados e terceirizados e os servidores inativos. Também não têm direito os secretários de estado, secretários-adjuntos, diretores gerais e vice-diretores gerais de autarquias, presidentes e vice-presidentes de fundações. Para os contratados existe a garantia de pagamento, desde que haja receita para tal.

Matemática nos testes do SIMAVE, tomados como indicadores de qualidade. Outros indicadores referem-se à melhoria no fluxo através da aprovação escolar, à redução das taxas de evasão, à redução das taxas de distorção idade/série e à ampliação das taxas de conclusão de Ensino Fundamental e Médio.

Por meio do contrato celebrado, os acordados obrigam-se a buscar os resultados pactuados, executar ações de apoio solicitadas, alimentar sistemas de dados informatizados necessários para o acompanhamento dos resultados, garantindo precisão e veracidade das informações, prestar informações adicionais solicitadas e zelar pela pertinência e realismo das metas, sendo que o cumprimento dos indicadores expressos no Acordo de Resultados, dentre eles as metas baseadas nas avaliações do SIMAVE, aparecem como produto ou resultado finalístico (SEE/MG, 2011).