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DAS NORMAS JURÍDICAS RELACIONADAS AO TRÁFICO DE PESSOAS NO DIREITO BRASILEIRO

Pobreza e Exclusão

NO ESTADO BRASILEIRO

2. DAS NORMAS JURÍDICAS RELACIONADAS AO TRÁFICO DE PESSOAS NO DIREITO BRASILEIRO

O tráfico humano se trata do comércio ilegal de vidas, no qual este bem passa a ser objetificado para posterior comercialização. Para o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), o tráfico humano é uma forma de escravidão contemporânea, em que a vida é tratada como instru- mento de exercício de poder de uma pessoa sobre outrem.

A partir da definição de tráfico humano, no artigo 3.º, “a”, do Protocolo Adi- cional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacio- nal Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças da Organização das Nações Unidas de 2000, dispõe que:

A expressão “tráfico de pessoas” significa o recrutamento, transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou bene- fícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da pros- tituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos (BARBOSA, 2010, p. 87).

O tráfico humano tem conduzido reflexões para o ordenamento jurí- dico brasileiro, apesar de pouco discutido. O Brasil ratificou o Protocolo de Palermo, no qual se comprometeu a adotar medidas que combatam essa tipi- ficação penal, sendo compatível com a Constituição Federal, para que seja formalizada uma legislação própria sobre a temática.

Um aspecto importante do Protocolo é a preocupação em assegurar pro- teção à vítima, inexistente nas convenções internacionais anteriores, devida tamanha abrangência o Protocolo de Palermo hoje pode ser considerado com uma das medidas mais importantes, e espera-se eficaz, no Combate ao Crime Organizado (MANDELLI, 2008, p. 25)

De forma parcial, o Brasil adotou medidas que normatizaram a questão do tráfico internacional e interno para os fins de exploração sexual, expostos nos artigos 231 e 231-a do Código Penal.

Por meio do Decreto n.º 5.948/06, a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, foi instituída, e também o Grupo de Trabalho Intermi- nisterial, com o objetivo de elaborar proposta do Plano Nacional de Enfrenta- mento ao Tráfico de Pessoas – PNETP.

Também foram aprovados o Decreto n.º 6.347/08 e a Lei 9.434/97, em que abordam o Plano Nacional e institui o Grupo Assessor de Avaliação e Disseminação do suscitado Plano, e a Lei que trata da remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, e dá outras providências, a de trabalho em condições análogas à escravidão, no qual disposto no artigo 149 do Código Penal.

Essa medida é salutar para identificação de diversos pontos relacionados ao crime tipificado no artigo 149-A do CP, a exemplo das pessoas envolvidas no delito, tais como os agenciadores, os intermediários e os facilitadores, as pes- soas mais vulneráveis à ação dos criminosos, os locais em que o crime ocorre com mais frequência etc. (MASSON, 2017)

Além da norma anterior à ratificação do Protocolo de Palermo, ainda se encontrava ausente uma norma penal incriminadora que efetivamente podia auxiliar no confronto desta prática delituosa. Tal carência, passou a ser sanada através da aprovação do Projeto Lei da Câmara dos Deputados 7.370/14, decorrente do Projeto Lei do Senado n.º 479/12, se tornando a Lei 13.344/16, tendo por responsável a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico Nacional e Internacional de Pessoas no Brasil.

2.1. Dos direitos tutelados na concepção do direito penal, tráfico e migração ilegal

Fernando Capez (2006, p. 138), preocupando-se com o funcionalismo do Direito Penal, entendem que para a caracterização dos bens jurídicos, com- pete a função social de tutelar estes bens, visando o desenvolvimento sadio e

pacífico da sociedade, bem como sua preservação, não lhe incumbindo a pena de simples rompimento de dever de ordem ética e moral, sem reflexo social.

Ante o entendimento doutrinário, se faz plausível reconhecer a visão coin- cidente, os bens jurídico-penais como os valores, bens e direitos considerados inerentes aos seres humanos, seja em uma perspectiva global ou em comuni- dades específicas, tendo a base da tutela sob o prisma penal.

Importante ressaltar que na conclusão do tráfico de pessoas, não importa se houve ou não a concordância da vítima para que seja configurado o crime. Já no contrabando de imigrantes, muitas vezes e a própria vítima que se con- sente à tal prática, uma vez que não quer mais viver no país de origem, e deseja muito viver em outro país. Sabe-se que para tal irregularidade, deve o indivíduo ter entrado e permanecido sem o visto que autoriza tal ação. No geral, as pessoas conhecem as dificuldades que enfrentarão com essa prática, no entanto, insistem pela busca de oportunidade e melhoria de vida.

No tráfico humano, os indivíduos servem para realizarem um propósito, seja para exploração sexual, seja pela remoção de órgãos, ou para que seja redu- zida à escravidão ou condições análogas, tratadas como um meio de obtenção de um propósito. Levando a liberdade a um sentido mais amplo, e não apenas ao aspecto de ir e vir.

O Decreto 5.016 em seu artigo 3.º, que trata de um Protocolo Suplemen- tar à Convenção das Nações Unidas contra o crime transnacional, que diz respeito ao Tráfico de Migrantes por via Terrestre, Marítima e Aérea, define como tráfico de imigrantes:

a) A expressão “tráfico de migrantes” significa a promoção, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, um benefício financeiro ou outro benefício material, da entrada ilegal de uma pessoa num Estado Parte do qual essa pessoa não seja nacio- nal ou residente permanente;

b) A expressão “entrada ilegal” significa a passagem de fronteiras sem preencher os requisitos necessários para a entrada legal no Estado de acolhimento.

A partir dessa afirmação, entende-se que mesmo que os textos e acordos internacionais estabeleçam analogias sobre as práticas criminosas em pauta, não resta dúvidas entre o tráfico de pessoas e a imigração ilegal.

De acordo com Jesus (2003, p. 14), “o mundo atual propicia uma maior mobilidade do comércio planetário, fomentando a imigração, sendo assim necessária, por motivos de segurança, a imposição de limites, culminando da restrição criada por muitos países”.

O tráfico humano, seja realizado no plano internacional, seja no território interno, independentemente da motivação dos autores, é ato condenável e reprimível pelos organismos internacionais e pelos Estados.

3. BRASIL COMO ROTA DE TRÁFICO – ORIGEM, TRÂNSITO E