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IMPLICAÇÕES DA LEI FEDERAL 13.655/2018 NA JUDICIALI ZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE NO BRASIL

Promoção do Direito Social à Saúde

IMPRESSÕES INICIAIS SOBRE AS REPERCUSSÕES DA LEI FEDERAL 13.655/2018 NA JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À

6. IMPLICAÇÕES DA LEI FEDERAL 13.655/2018 NA JUDICIALI ZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE NO BRASIL

A primeira repercussão da Lei Federal 13.655/2018, que alterou a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), diz respeito à indeter- minação conceitual contida no art. 7.º, inciso II da Lei Orgânica da Saúde quanto à universalização da saúde e à integralidade da assistência social, inde- pendentemente de contribuição.

Tal fato porque, historicamente, as decisões judiciais vinham reconhe- cendo o direito à saúde de forma amplíssima e indiscriminada, sem critérios limitadores ao seu provimento, em razão de seu caráter universal e integral previstos no art.198 da Constituição Federal de 1988 e no art. 7.º, inciso II da Lei Federal 8.080/1990.

Ocorre que, em virtude da limitação dos recursos públicos ante à infinidade das necessidades humanas, há que se delimitar o alcance do direito à saúde por meio de regras jurídicas dotadas de racionalidade, a fim de evitar a ampliação das desigualdades e, até mesmo, a falência do sistema público de saúde.

Nesse passo, o artigo 20 da Lei Federal 13.655/2018 veda a decisão judi- cial, administrativa e de controle que se funde em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão, estipulando a necessidade de motivação para o fim de demonstrar a adequação da medida imposta, inclusive em cotejo com as possíveis alternativas.

Assim, as decisões proferidas no âmbito da judicialização da saúde passam a estar sujeitas à apreciação de suas consequências práticas no sistema público de saúde em seu conjunto, evitando efeito sistêmico.

Outrossim, consoante dispõe o art. 22 inserido na LINDB pelo referido diploma legal: “na interpretação de normas sobre gestão pública, serão con- siderados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados” (BRASIL, 2018).

Em outras palavras, as decisões atinentes ao provimento do direito à saúde deverão levar em consideração questões costumeiramente negligenciadas, a exemplo do subfinanciamento da saúde no Brasil, da atuação dos planos de saúde, da atuação omissiva da ANVISA e ANS, entre outros.

Somado a isso, o disposto no art. 21 da Lei Federal 13.655/2018 obrigará um exame mais criterioso do magistrado antes do deferimento de tratamentos médicos de alto custo e não previstos na tabela do SUS nas ações individuais – grande maioria em matéria de saúde, na medida em que exige tratamento “proporcional e equânime”, “sem prejuízo aos interesses gerais”.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na atual conjuntura, a judicialização desponta como elemento essencial para que o direito à saúde possa ser devidamente concretizado (nos moldes constitucionais), seja por meio da proteção direta do bem jurídico, seja deter- minando, ao menos de maneira indireta, que o Poder Executivo seja mais eficiente no gerenciamento de suas políticas públicas.

Contudo, os efeitos da excessiva judicialização acabam por condicionar o acesso à saúde ao exercício do direito de ação, afastando-se dos preceitos constitucionais, na medida em que, via de regra, os indivíduos que acionam a justiça para obtenção de tratamentos médicos são aqueles que detêm um grau de instrução mais elevado, com poder aquisitivo superior ao da maioria da população.

Desse modo, as classes sociais menos favorecidas passam a pagar duas vezes pelo ativismo judicial, a primeira por não disporem de recursos necessários para acionar o judiciário e pleitear seus direitos; e a segunda pelo fato de que valo- res que poderiam ser investidos nas políticas públicas universalizadas, muitas vezes, são deslocados de seu fim inicial unicamente para custear tratamentos dispensados a pessoas que ingressaram com a ação judicial, uma vez que a escassez de recursos é a realidade do Estado social.

Nesse contexto, acredita-se que a novel Lei 13.655/2018, muito embora não seja capaz de frear a judicialização, poderá contribuir para balizar as decisões judiciais relativas à prestação do direito à saúde, na medida em que estabelece

que as reais dificuldades do gestor público e as exigências das políticas públicas a seu cargo sejam consideradas pelo Poder Judiciário, assim como prescreve a obrigatoriedade de que as decisões administrativas e judiciais sejam proferidas de modo proporcional e sem prejuízo aos interesses gerais, alinhando-se à ten- dência observada nas decisões recentemente proferidas pelos tribunais superio- res brasileiros.

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