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DO INSUCESSO AO ABANDONO ESCOLAR – QUE POLÍ TICAS?

Pobreza e Exclusão

O INSUCESSO E ABANDONO ESCOLAR NUM CONTEXTO DE POBREZA.

3. DO INSUCESSO AO ABANDONO ESCOLAR – QUE POLÍ TICAS?

Um dos grandes problemas que assolam as escolas em Portugal, prende- -se com as taxas elevadas de insucesso e abandono escolar. Quando se refere a este fenómeno, normalmente se menciona abandono e insucesso escolar. Contudo, atendendo a que uma das causas do abandono escolar é o insucesso escolar, aparece primeiro o insucesso.

Várias são as razões que poderão ser apontadas como causas para a exis- tência do abandono escolar e do insucesso escolar, como sejam condições económicas dos alunos – existindo bastantes alunos carenciados, problemas familiares, sistema de ensino, entre outras.

Contudo – sem desvalorizar as demais razões – gostaria de concentrar a reflexão em duas das razões apresentadas – condições económicas dos alunos e sistema de ensino.

Considero estas duas razões importantes, na medida em que de um modo particular a primeira razão, está directamente implicada no tema desta comu- nicação “pobreza e exclusão social”.

O facto de existirem crianças que passam privações, em especial do ponto de vista alimentar, isso afecta a capacidade de concentração e, consequentemente, o rendimento escolar. A situação atingiu patamares tão graves que fez com que

escolas, abrissem os refeitórios durante as férias escolares, para que as crianças tivessem pelo menos uma refeição “decente”. É evidente que, esta solução é apenas paliativa, não resolve o problema de fundo, mas, garante um pouco de dignidade a essas crianças. É de louvar, é certo, mas é preciso muito mais.

Se os problemas económicos poderão ser a causa – embora não única – para o insucesso e abandono escolar, certo é que, é uma causa importante e relevante a ter em conta e que o Governo e a sociedade civil devem colaborar em prol da promoção da dignidade das crianças. Não nos podemos conformar com a existência daqueles que conseguem ter acesso à educação e terem todas as possibilidades e existirem outros, que não têm as mesmas possibilidades.

Que sociedade é esta? Queremos uma sociedade inclusiva, ou uma socie- dade que exclui e limita as possibilidades inclusivas?

Retomando algumas das razões apontadas para o insucesso e abandono escolar, o olhar vai para o sistema de ensino em Portugal. Sem querer “meter a foice em seara alheia”, o sistema de ensino tem que ir ao encontro dos objec- tivos e necessidades de todos. Sem querer repetir ideias já expressas, mas sim reforçá-las, o ensino tem de ser igual para todos, ricos ou pobres, ou seja, todos têm de ter acesso à educação, mas uma educação de qualidade e isso passa pelas matérias leccionadas, pela qualidade dos estabelecimentos de ensino, pela capacidade de integração que as escolas sejam capazes de promover, quer tendo em atenção as dificuldades económicas e de aprendizagem, quer um país cada vez mais multicultural, que requer um corpo docente qualificado e preparado para os desafios que o ensino apresenta. É uma questão muito séria, uma vez que se trata em primeiro lugar do futuro de pessoas e do futuro do país com a formação de quadros que permitirão que o país cresça e se desenvolva, con- tribuindo assim, para ajudar a eliminar os focos de pobreza. A educação é por conseguinte, um dos principais pilares da sustentabilidade do país. Um país que aposta na educação, está a apostar na sua afirmação e posição perante os seus pares. A resposta às questões formuladas anteriormente é esta – educação.

Para que isto aconteça é necessário em primeiro lugar vontade política. Com esta, tudo o mais acontece.

Retomando a questão da qualificação docente – uma peça fundamental para um ensino de qualidade e que vá ao encontro dos alunos mais carencia- dos – veja-se o que a este propósito diz um relatório recente da OCDE:

De acordo com a Lusa (11 de Junho de 2018) “a OCDE defende que as escolas com alunos mais carenciados deviam ter os professores mais experien- tes e qualificados. Contudo, não é isso que acontece na maioria dos países, segundo um relatório que acaba de ser divulgado”.

Ainda de acordo com a Lusa (11 de Junho de 2018) e fazendo referência a Andreas Scleicher82, “em todo o mundo, as crianças de famílias favorecidas

irão encontrar portas abertas para uma vida de sucesso, enquanto as crianças de famílias pobres terão muitas vezes apenas uma oportunidade na vida, e essa oportunidade é [ter] uma boa escola que lhes dê a oportunidade para desen- volver o seu potencial”.

A citação apresentada, enfatiza a questão da educação em primeiro lugar, como sendo transversal, para todos, ricos e pobres. A todos tem de ser dada a oportunidade de, como é referido na citação, “desenvolver o seu potencial”. Embora isto seja um desejo para todas as crianças, certo é, que nem todas têm à partida as mesmas possibilidades, seja pelas suas condições económicas, seja pelo estigma que a sociedade por vezes faz corresponder o lugar de proveniên- cia dessas mesmas crianças.

“É fundamental fazer investimentos em todas as fases do ciclo da vida. Existe ainda uma divergência significativa entre países ricos e países pobres, e famílias ricas e famílias pobres, no acesso ao ensino secundário” (Sachs, 2017, p. 283).

Se estas razões são bastante justificativas, por si só, das possibilidades de haver insucesso e abandono escolar, certo é, que as condições em que as aulas são ministradas, quer no que diz respeito às instalações, quer ao tipo de turmas constituídas e às dificuldades na mensagem dos professores chegarem aos alu- nos, podem-se constituir num mecanismo que fazem com que o rendimento escolar seja, ou possa ser mais diminuto.

Mais uma vez, a pobreza tem aqui um papel importante a dizer. Ou seja, nas escolas onde as crianças passam e têm dificuldades – já referidas anterior- mente – são mais visíveis e permeáveis as condições para que insucesso e/ou abandono escolar ocorram.

Não quero dizer com isto, que nas escolas com alunos com condições económicas mais favoráveis não ocorram insucessos e alguns casos de aban- dono escolar.

Tendo em conta, a situação de pobreza, as escolas com turmas muito gran- des, o corpo docente, poder-se-á perguntar o que se poderá fazer para inverter os índices de insucesso e abandono escolar?

A grande vitória neste processo, seria a montante, eliminar a pobreza. Não é impossível, mas, difícil. Sendo assim, temos que nos conformar e desistir? Claro que não. Se não pudermos resolver os problemas, poderemos pelo menos minorá-los, fazendo com que os seus efeitos sejam o menos graves possível.

82 Director de Educação e Competências da OCDE – Organização para a Cooperação e De- senvolvimento Económico.

Por exemplo, apostar na qualificação docente, não só no ponto de vista da preparação académica, mas também no cada vez maior acompanhamento de turmas cada vez mais multiculturais, obriga os docentes a terem uma preocupação com as diferentes sensibilidades. Por outro lado, as turmas muito grandes, pedagogicamente são mais difíceis de acompanhar. Tal, não acontece na maior parte das escolas e colégios particulares, nos quais, o acompanhamento se torna mais presente. Mais professores por aluno seria o ideal.

Consubstanciando a ideia de Sachs (2017, p. 280) “as sociedades que fazem investimentos substanciais nos anos pré-escolares, normalmente com grandes financiamentos públicos, conseguem uma maior mobilidade social ascendente para as crianças pobres e, por conseguinte, sociedades mais inclusivas e pro- dutivas. (...). Se o Estado não apoiar as famílias de rendimentos baixos, o mais provável é que a pobreza se prepetue de uma geração para a outra”.

Neste sentido, num plano, talvez ambicioso, as políticas públicas a empreender, devem ter em conta um ensino de qualidade, tendo em conta, os alunos mais desfavorecidos, para que a sua condição económica não seja um entrave à aprendizagem e valorização de todos, em ordem à construção de uma sociedade que cresce e se desenvolve, proporcionando a integração de todos os seus membros, ou seja, mais justa.

“Num tempo de intensa globalização assume especial relevância o estudo das condições, dos processos e dos efeitos da transnacionalização das políti- cas públicas. Hoje existe, pois, um largo número de abordagens e teorizações que procuram dar sentido e inteligibilidade à diversificação dos processos de formação e gestão das políticas públicas, num mundo cada vez mais caracteri- zado pela incerteza e complexidade dos aspectos que exigem regulação e pela interdependência dos Estados”(Lemos, 2014, p. 293).

BIBLIOGRAFIA

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GREEN, D. (2009). Da pobreza ao poder: como cidadãos ativos e Estados efetivos podem mudar o mundo. São Paulo: Cortez Editora.

LEMOS, W. (2014). “A OCDE e as Políticas de Educação em Portugal. In Rodri- gues”, M.L. (org.). 40 anos de políticas de Educação em Portugal: a construção do sistema democrático de ensino. Vol.I. Coimbra: Edições Almedina, S. A.

LUSA (11 de Junho de 2018). “Alunos carenciados precisam dos professores mais qualificados e experientes” In https://www.publico.pt/2018/06/11/sociedade/noticia/ alunos-carenciados-precisam-dos-docentes-mais-qualificados-e-experientes-1833969

MAIA, D. (2015). “Pobreza Absoluta”. In Rosas J.C. (org.). Manual de Filosofia Polí- tica. 2.ª edição revista e aumentada. Coimbra: Edições Almedina, S.A., pp. 185; 186.

NEVES, J. S. (2015). “Práticas Culturais e desigualdades na Europa. Evoluções recentes”. In Carmo, R.M. do & Costa, A. F. (orgs.). Desigualdades em questão: análises e problemáticas. Lisboa: Editora Mundos Sociais, p. 39.

SACHS, J. D. (2017). A era do desenvolvimento sustentável. Lisboa. Conjuntura Atual Editora.

A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS