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DIREITO AO TRABALHO DIGNO DO MIGRANTE NO BRASIL

Pobreza e Exclusão

DIREITO AO TRABALHO DIGNO DO MIGRANTE NO BRASIL

Maira de Souza Almeida64

Aparecida Maria Fialho de Sousa Almeida65

Afiliação: Universidade do Minho (Maira) – Universidade de Uberaba (Aparecida).

Resumo: O presente artigo se propõe a analisar a situação de exploração dos trabalhadores migrantes no Brasil, bem como os impactos causados pela nova lei de migração no país. Como medida de eficácia, também se avaliará o papel do Estado brasileiro na promoção da inclusão social dos migrantes por meio do trabalho digno.

Palavras-chave: Migrante; Dignidade; Inclusão; Trabalho; Exploração.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, houve uma crescente expansão da imigração ocorrida no Estado Brasileiro, de pessoas oriundas, primordialmente, de países limítro- fes66, com destaque da Venezuela e da Bolívia, como de outros locais, tal como

é o caso do Haiti.

Com o aumento dessa imigração, sentiu-se a importância de diagnosticar se a Lei da Migração implantada no país no ano de 2017, que veio a substituir o Estatuto do Estrangeiro, é capaz de trazer benefícios no processo de migração desses indivíduos facilitando a sua regularização no país e, consequentemente,

64 Mestranda em Direitos Humanos pela Universidade do Minho.

65 Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal de Uberlândia e profes- sora na Universidade de Uberaba.

sua integração social, por meio do trabalho digno. Isso porque tem sido muito complicada a situação dos imigrantes pobres, marginalizados e desfavorecidos pelo sistema econômico67 dominante no Brasil, uma vez que a economia mun-

dial globalizada está sustentada pelas premissas do Estado mínimo e mercado máximo apregoada na Cartilha do Consenso de Washington68.

Ao que diz respeito à referida Lei, é importante esclarecer que ela foi regu- lamentada pelo decreto 9.199/17, com o intuito de facilitar a integração dos indivíduos envolvidos, durante o processo de migração.

A problemática inserida neste artigo se refere ao fato de que muitos dos migrantes no país, ainda em situações irregulares, estão operando no mercado de trabalho informal e em condições degradáveis e sub-humanas, inclusive, de trabalho escravo.

No tocante a referida Lei, destaca-se que o Congresso Nacional aprovou e o presidente da república, Senhor Temer, sancionou a Lei 13.445/17 que revogou as leis69 anteriores, bem como alterou o Decreto-lei 2848/40.

Esta lei entrou em vigor em novembro do ano de 201770, para disciplinar

a situação jurídica desses muitos indivíduos que têm buscado acolhimento no Brasil, principalmente, por causa da crise humanitária vivenciada pelos refugiados.

2. DESENVOLVIMENTO

Interessante destacar que essa nova lei de imigração possui um viés huma- nitário e em conformidade com o Art. 3.o, a política migratória brasileira

deverá reger-se, dentre outros, pelos seguintes princípios e diretrizes: univer- salidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos; repúdio e

67 Para entendimento do significado de Sistema Econômico vide estudos de Vasconcellos (2002) e Mochón (2007), quando o autor descreve a respeito do dilema da escassez dos recursos produtivos, nos diferentes sistemas: economia de mercado, economia planificada e economia mista. Nesta abordagem Vasconcellos (2002) e Mochón (2007) descrevem o sistema econômico pelo modo de produção dominante, numa dada economia.

68 Maiores esclarecimentos dos determinantes expostos e apregoados pela Cartilha do Con- senso de Washington e suas repercussões no Brasil, leia a tese de Almeida (2003), a respeito dos seus determinantes e seus impactos no país, nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC).

69 Lei 818/49 e Lei 6.815/80. A primeira abordava acerca da nacionalidade e direitos políticos e a segunda era o Estatuto do estrangeiro.

70 Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13445-24-maio- -2017-784925-publicacaooriginal-152812-pl.html>. Acesso em: 25 abr. 2018.

prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação; não criminalização da migração;  promoção de entrada regular e de regularização documental; acolhida humanitária;  igualdade de tratamento e de oportuni- dade ao migrante e a seus familiares; inclusão social, laboral e produtiva

do migrante por meio de políticas públicas; acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social; promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício

profissional no Brasil, nos termos da lei.

Nessa perspectiva, de acordo com o Artigo 1 da recente Lei71 de Migra-

ção publicada em nosso país, o imigrante é considerado a pessoa nacional de outro país ou o apátrida que trabalha, reside e se estabelece temporária ou definitivamente, no Brasil. E neste caso, a lei ainda garante a sua inclusão social, laboral e produtiva por meio de políticas públicas, situação discipli- nada no inciso X do artigo 3.

Constata-se que os princípios básicos da referida lei juntamente com o Art. 176 do decreto72 que a regulamenta têm a finalidade de facilitar a regulariza-

ção desses indivíduos em solo nacional com o intuito de possibilitar a inclusão social dos migrantes por meio do mercado de trabalho formal.

Essa situação vai ao encontro de uma nova visão humanística da inter- pretação do texto constitucional, tendo o Supremo Tribunal Federal (STF) realizado um processo denominado mutação constitucional na interpretação do art. 5 da Carta Magna no país, para garantir aos estrangeiros, ainda que em trânsito, os direitos fundamentais assegurados aos cidadãos nacionais.

Importante enfatizar que essa lei representa um grande avanço frente ao Estatuto do Estrangeiro que em seu artigo segundo preceituava que ele tinha por finalidade defender a segurança nacional e o trabalhador brasileiro, o que representava uma proteção ao mercado de trabalho interno com relação aos migrantes.

71 Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13445-24-maio- -2017-784925-publicacaooriginal-152812-pl.html>. Acesso em: 29 abr. 2018.

72 Disponível em: https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/522434860/decreto-9199-17. Acesso em: 30 mai. 2018.

Mais explicitamente, repisa-se que a referida lei sobre migração possui viés humanitário73 e se preocupa com a situação dessas pessoas no Brasil, uma vez

que ela inova ao trazer princípios básicos para as políticas públicas migratórias, colocando o migrante como sujeito de direitos.

Sob a perspectiva dos fatos sociais, é sabido que muitos desses indiví- duos estrangeiros têm sido tratados de forma desonrosa no Brasil, isso por- que ao entrarem irregularmente no país, acabam se tornando “presas” fáceis para arregimentação de mão de obra escrava, situação desumana vivenciada, principalmente, nos grandes centros urbanos, como é o caso da cidade de São Paulo.

No Tribunal Superior do Trabalho (TST), diversas são as demandas em que há a condenação de empresas, principalmente, as terceirizadas, que explo- ram esses indivíduos, sem lhes dar quaisquer direitos em troca, típico caso de escravidão moderna74.

No que diz respeito à Convenção sobre abolição da Escravatura no país, o Brasil a ratificou no ano de 1966 e, consequentemente, se comprometeu a buscar uma solução para esta questão por meio de medidas legislativas e/ou

73 Possuir viés humanitário significa se alinhar ao fato de que os direitos humanos foram cria- dos para todos e não para acepção de indivíduos, segregando e marginalizando uns em razão da nacionalidade, por isso são ditos universais: “A universalidade consiste no reconhecimen- to de que os direitos humanos são direitos de todos, combatendo a visão estamental de pri- vilégios de uma casta de seres superiores. Por sua vez, a essencialidade implica que os direitos humanos apresentam valores indispensáveis e que todos devem protegê-los. Além disso, os direitos humanos são superiores as demais normas, não se admitindo o sacrifício de um direito essencial para atender as “razões de Estado”. Logo, os direitos humanos representam

preferências preestabelecidas que, diante de outras normas, devem prevalecer. Finalmente,

a reciprocidade é fruto da teia de direitos que une toda a comunidade humana, tanto na

titularidade (são direitos de todos) quanto na sujeição passiva: não há só o estabelecimento

de deveres de proteção de direitos ao Estado e seus agentes públicos, mas também à coletivi- dade como um todo. Essas quatro ideias tornam os direitos humanos como vetores de uma sociedade humana pautada na igualdade e na ponderação dos interesses de todos (e não somente de alguns)” RAMOS (2017).

74 O Estado brasileiro há anos vem tentando combater o trabalho análogo ao escravo, tendo inclusive, ratificado Convenções a este respeito. Ao que diz respeito “[a] Convenção Suple- mentar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Instituições e Práticas Análogas à Escravatura foi adotada em Genebra em 7 de setembro de 1956. Sucedeu a Convenção sobre Escravatura de 1926, emendada pelo Protocolo de 1953, com o intuito de intensificar os esforços para abolir a escravidão, o tráfico de escravos e as instituições e práti- cas análogas à escravidão. O tratado veio em resposta a um problema persistente em todo o mundo, que vem a ser as práticas análogas à escravidão, denominadas também de escravidão contemporânea” (RAMOS, 2017). Para este assunto mais detalhado vide Ramos (2017).

administrativas, inclusive, através de políticas públicas para abolir tal prática (RAMOS, 2017).

Diante desse quadro degradante de tratamento humilhante sofrido pelos migrantes no Brasil, sentiu-se a necessidade de analisar se essa nova legislação será capaz de estimular o fomento de políticas públicas para resolver a referida questão e outras pendentes, com vistas a detectar se a lei conseguirá, por si só, favorecer a integração dessas pessoas na sociedade.

Ora, é através do trabalho formal que o indivíduo consegue melhores con- dições de vida e de, consequentemente, ter uma vida digna, com a garantia de direitos existenciais mínimos.

Baseado nessa fundamentação trabalhista, pode-se constatar que a nova legislação prevê o trabalho como um direito também ao migrante, vedando quaisquer tipos de discriminação com relação a essa mão de obra.

Insta considerar que o “mínimo existencial75”, expressão oriunda da dou-

trina alemã, refere-se a um grupo base de direitos necessários para possibilitar uma vida com dignidade ao cidadão.

Explicitamente, o direito ao trabalho está enumerado na Carta Magna bra- sileira em seu artigo 6 como direito social mínimo e de segunda dimensão, o qual exige uma prestação positiva do Estado que vise a melhorar a qualidade de vida das pessoas hipossuficientes a fim de se ter uma sociedade mais homo- gênea (MASSON, 2016), no sentido de ser mais igualitária e justa.

Diante disso, é preciso esclarecer que apenas previsão na lei do direito ao trabalho ao migrante não é capaz de solucionar essa crise humanitária hoje presente no Brasil e dar a esses indivíduos um tratamento mais digno. Isso porque é preciso haja investimentos76 produtivos por parte do Estado brasi-

leiro em políticas públicas para garantir essa efetiva integração social.

Nota-se que o Estado como agente capaz, precisa promover as políticas públi- cas de integrações sociais mais eficazes, de acordo com Alexandre de Morais:

A necessidade de racionalização e humanização faz com que os textos escritos exijam que todo o âmbito estatal esteja presidido por normas jurídicas, que o poder estatal e a atividade por ele desenvolvida se ajustem ao que é determinado pelas

75 Maiores detalhes leia sobre o assunto em MASSON (2016).

76 Investimentos, segundo Vasconcellos (2002) e Mochón (2007) são considerados como apli- cações reais e estruturais na produção, para o incremento da capacidade produtiva da em- presa, que gera emprego, renda, consumo e poupança para ser empregado, novamente na economia de um país, ou numa empresa. E como aplicações financeiras que se convertem em investimentos produtivos (reais) somados aos estoques de uma dada empresa.

previsões legais, ou seja, a submissão de todos ao Estado de Direito, como salientado por Maurice Hariou (MORAIS, 2017).

Corroborando com os dizeres de Morais (2017), Novais (2016) destaca que para haver dignidade para todos é preciso aceitar as diferenças existentes e, a partir daí, deve haver conjuntamente uma atuação incisiva e mais positiva dos poderes públicos para permitir a inclusão social.

Isso porque o Estado Brasileiro tem por fundamentos o valor social do traba- lho e a promoção da dignidade humana e tem por objetivos erradicar a pobreza e a marginalização, assim como prezar pela igualdade (Arts. 1/3/5, da CR/88).

Sob este aspecto, avaliando a situação social dos trabalhadores migrantes, detecta-se que ela está em total descompasso com a nossa Carta Magna77. Por

esta razão, é necessário rever a situação que os migrantes se encontram no Brasil, para procurar meios de solucionar os impasses verificados.

Soma-se à essa questão o fato de que não é admissível que em pleno século XXI, ainda exista trabalho análogo ao escravo no Brasil.

O fato é que muitos dos migrantes explorados não denunciam os maus tratos, por estarem, muitas vezes, em situações irregulares, sendo que uma grande parte da ocorrência com relação à exploração78 desta mão de obra se

encontra nos grandes conglomerados urbanos.

Este assunto se complica quando se analisa os comentários de Novais (2016), quando o referido autor faz uma correlação entre dignidade e integri- dade diagnosticando que a dignidade é desrespeitada quando a pessoa não é vista como sujeito de direitos, sendo-lhe negadas as condições mínimas para a realização humana.

Pelos relatos de Novais (2016), observa-se o que ocorre nos casos de traba- lho escravo do migrante no Brasil, haja vista que o indivíduo se vê violentado

77 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Aces- so em: 1 mai. 2018.

78 Essa exploração relacionada aos trabalhadores migrantes, muitas das vezes decorre da visão de que “[os] imigrantes são frequentemente encarados como uma ameaça para os países de acolhimento e pela própria sociedade civil, que receia um impacto depressivo salarial e no número de empregos, pelo que muitos Governos estão a adaptar suas políticas para reduzir a imigração, bem como medidas de controlo reforçado da imigração ilegal ou irregular, tais como a imposição de requisitos adicionais para a concessão de vistos, passaportes de leitura digital e, mais recentemente, a utilização de dados biométricos, o que levanta questões acer- ca da proteção da liberdade individual e do direito à própria privacidade, já para não falar do direito à locomoção” (FREITAS, 2007).

em sua dignidade, por não ter acesso ao mínimo existencial e, consequente- mente, ficar marginalizado na sociedade brasileira.

Diante disso, a Lei 13.445/17 juntamente com seu decreto representam um avanço na medida em que estabelecem o migrante como sujeito de direitos e torna possível a regularização do migrante irregular ainda no território nacional. Todavia, não se pode perder de vista que cabe ao Estado brasileiro, a fim de integrar essa população migrante, a implementação de alguma política pública inclusiva.

A justificativa de avaliar outras medidas é respaldada no parecer de Costa (2013) com os seguintes dizeres:

Diante da uma sociedade complexa e diversificada, marcada pelo multicultura- lismo e pela globalização, as políticas públicas devem ser implementadas com a finalidade de se promover a efetivação de direitos. Desse modo, o Estado de bem- -estar é conquistado ao longo do lento processo histórico no qual se afirmaram os direitos sociais, conduzindo-se para a busca do desenvolvimento e a garantia de um conjunto de direitos da população em geral (COSTA, 2013).

Para buscar uma resposta a essa problematização, entende-se como uma solução adequada à utilização de ações afirmativas. E neste caso específico, faz- -se necessário ao Estado brasileiro promover condutas discriminantes positivas com relação ao migrante para integrá-lo ao mercado de trabalho e, consequen- temente, à sociedade.

Conforme preceitua Masson (2016), para se adquirir a igualdade subs- tancial numa sociedade, as ações afirmativas são consideradas instrumentos para possibilitar a inclusão social, arrefecendo, portanto, as discriminações negativas.

Tratam-se de práticas ou políticas estatais que visam a dar um tratamento diferençado aos grupos vulneráveis, de maneira que o Estado passa a levar em consideração a raça, a origem, a cor, a nacionalidade, dentre outros critérios ou requisitos para as definições dessas políticas públicas.

Mais explicitamente, Masson (2016) alerta para o fato de se observar a razoabilidade e a proporcionalidade dessas medidas para não haver favoritis- mos exacerbados. Isso porque deve haver um equilíbrio para possibilitar o rompimento do isolamento social de determinado grupo (MASSON, 2016).

Lembrando sempre que essas ações têm viés transitório e uma vez sanado o problema da inclusão, com as medidas públicas adotadas, aquelas devem ser diminuídas e, ao final, extintas (MASSON, 2016).

Neste contexto, Ramos (2017) afirma ser preciso que o Estado fomente polí- ticas de tratamento diferenciado aos diferentes a fim de eliminar a discriminação injusta para poder promover a inclusão de grupos vulneráveis, preceituando da seguinte maneira:

As ações afirmativas consistem em um conjunto de diversas medidas, adotadas temporariamente e com foco determinado, que visa compensar a existência de uma situação de discriminação que políticas generalistas não conseguem eliminar, e objetivam a concretização do acesso a bens e direitos diversos (como trabalho, edu- cação, participação política etc.) (RAMOS, 2017).

Como se verifica, cabe ao Estado brasileiro aferir o direito ao trabalho em um exame conjunto com a lei em questão, com a Carta Magna, com a Con- venção de Genebra que é o estatuto do refugiado, ratificado pelo Brasil em 195779 e o pacto de direitos econômicos, sociais e culturais do ano de 1966.

Principalmente, pelo fato de que a Lei 13.445/17 dispõe claramente ao explicitar em seu artigo 2 que ela não prejudica a aplicação de normas internas e externas relativas aos refugiados, aos asilados, aos agentes e pessoal diplomá- tico e/ou consular, além de outros funcionários de organização internacional e seus familiares. 

Constata-se, ainda, que não se pode perder de vista, que nos relatos de Ramos (2017), o pacto de direitos econômicos, sociais e culturais prevê o direito do trabalho como espécie de direitos humanos de segunda dimensão e, portanto, direito que, normalmente, exige uma prestação positiva por parte do Estado.

Além disso, é importante ter como parâmetro a visão exposta por Alexandre de Morais no sentido de que o Estado de Direito se firma pela garantia dos direi- tos fundamentais, como é o caso do direito do trabalho, explicitado a seguir:

‘O Estado de Direito’ caracteriza-se por apresentar as seguintes premissas: (1) pri- mazia da lei, (2) sistema hierárquico de normas que preserva a segurança jurí- dica e que se concretiza na diferente natureza das distintas normas e em seu cor- respondente âmbito de validade; (3) observância obrigatória da legalidade pela administração pública; (4) separação de poderes como garantia da liberdade ou controle de possíveis abusos; (5) reconhecimento da personalidade jurídica do Estado que mantém relações jurídicas com os cidadãos; (6) reconhecimento e garantia dos direitos fundamentais incorporados à ordem constitucional; (7) em alguns casos, a

79 Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto- -42121-21-agosto-1957-457253-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 2 mai. 2018.

existência de controle de constitucionalidade das leis como garantia ante o despotismo do Legislativo (MORAIS, 2017).

Feitas estas considerações acima e baseando-se na mudança da Lei de Migração no Brasil com suas perspectivas e, em razão da grave violação aos direitos humanos dos trabalhadores migrantes no Brasil, esta pesquisa torna- -se um instrumento importante com relação à necessidade de diagnosticar a situação em que essas pessoas se encontram no Brasil e como seria possí- vel garantir a eles, como migrantes, a efetiva aplicação do direito ao trabalho digno; direito esse reforçado pela novel lei.

Corroborando com esta linha de raciocínio, Delgado (2006) menciona que a dignidade é um requisito de qualidade referente à condição humana, cabendo, portanto, ao Estado preservá-la na sociedade e nas relações laborais. Nesse sentido, observa-se que o trabalho deve ser prestado em condições dignas, respeitando-se o “patamar civilizatório mínimo” para alcançar esse valor, dado que não se trata de direito a qualquer trabalho, mas ao traba- lho considerado e classificado como digno (DELGADO (2006)). Assim, é preciso tentar achar um meio de possibilitar que os migrantes no Brasil tenham um tratamento mais salutar e isso perpassa pelo alcance e efetivação do direito ao trabalho digno.

Ora, é sabido, de acordo com Delgado (2015), que direito do trabalho é um feixe dos direitos humanos, aonde este ganha espaço e evolui. Pelo simples fato de que é através do trabalho humano, segundo Delgado (2015), que o indivíduo consegue se inserir na sociedade e, consequentemente, no sistema capitalista.

A ideia presente nesta argumentação de Delgado serve como um norte à pesquisa proposta, que se fundamenta em analisar as condições reais do migrante no Brasil. Ainda mais, quando se leva em conta, que conforme Gil (2017), tais condições devem passar pelo caminho da humanização do direito internacional, independentemente desse indivíduo ser nacional e/ou estran-