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3 OS DIREITOS DAS MULHERES SÃO DIREITOS HUMANOS

3.3 O sistema normativo global de proteção aos Direitos Humanos e as

3.3.2 Declaração e Programa de Ação da Conferência Mundial sobre Direitos

Após a Década das Mulheres, a Organização das Nações Unidas realizou três outras conferências mundiais sobre as mulheres: Copenhague (1980); Nairóbi (1985); e Pequim (1995). E, em junho de 1993, as Nações Unidas realizaram, em Viena, a Conferência Mundial de Direitos Humanos, da qual resultaram uma Declaração e um Programa de Ação, que reafirmaram os princípios enunciados na Carta das Nações Unidas (de 1945) e na Declaração Universal dos Direitos Humanos (de 1948). Ademais, como resultado dessa Conferência, surgiu a Declaração de Viena para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

Todos esses documentos consagram os direitos das mulheres como direitos humanos e resultam da pressão de numerosos movimentos internacionais e nacionais de mulheres, organizados em torno do lema “os direitos das mulheres são direitos humanos”, que denunciavam o fato de que as mulheres ainda não gozavam dos direitos que lhes eram devidos como seres humanos.

A Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres foi adotada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 20 de dezembro de 1993 (A/RES/48/104) e foi o primeiro documento internacional de direitos humanos focado exclusivamente na violência contra a mulher. Reconhece que a violência contra a mulher é uma manifestação da histórica desigualdade de relações de poder entre mulheres e homens, nas quais as mulheres são especialmente vulneráveis, constituindo um obstáculo para a implementação da igualdade, do desenvolvimento e da paz. Para Azambuja e Nogueira (2008, pp. 104-105), a relevância da Declaração reside no fato de, pela primeira vez, ter sido explicitada uma classificação das diferentes formas de violência:

1) Violência praticada por outros membros da família (abrangendo as agressões físicas e psicológicas, as sevícias sexuais infligidas às crianças do sexo feminino, violação conjugal, mutilações genitais e outras práticas tradicionais, bem como exploração econômica);

2) Diversos tipos de violência ocorridos no contexto das comunidades locais (violação, intimidação sexual e intimidação no local de trabalho, ensino ou outras instituições, proxenetismo e prostituição forçada);

3) Violência perpetrada ou tolerada pelo próprio Estado (seja por negligência ou falta de respostas dos serviços institucionais) (AZAMBUJA; NOGUEIRA, 2008, p. 104-105).

A Declaração e o Programa de Ação da Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, por sua vez, reconhecem que os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados, tendo origem na dignidade e no valor inerente à pessoa humana, sujeito central e principal beneficiária dos direitos humanos e liberdades fundamentais. Os direitos humanos e as liberdades fundamentais são, consoante tais documentos, direitos naturais de todos os seres humanos, cuja proteção e promoção são responsabilidades primordiais dos Governos.

Enfatizando as responsabilidades de todos os Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, de desenvolver e estimular o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais de todas as pessoas sem distinção de raça, sexo, idioma ou religião, a Declaração e o Programa de Ação de Viena manifestam preocupação com as diversas formas de discriminação e violência às quais as mulheres continuam expostas em todo o mundo.

Dispõem que os direitos humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis e constituem parte integral e indivisível dos direitos humanos universais, constituindo objetivos prioritários da comunidade internacional a plena participação das mulheres, em condições de igualdade, na vida política, civil, econômica, social e cultural nos níveis nacional, regional e internacional, e a erradicação de todas as formas de discriminação com base no sexo.

Nesse sentido, os direitos humanos das mulheres devem ser parte integrante das atividades das Nações Unidas na área dos direitos humanos, que devem incluir a promoção de todos os instrumentos de direitos humanos relacionados à mulher. E todos os Governos, instituições governamentais e não-governamentais são, por isso, instados a intensificarem seus esforços em prol da proteção e promoção dos direitos humanos da mulher e da menina.

A declaração e o programa de ação expressam consternação diante da persistência, em diferentes partes do mundo, de violações flagrantes e sistemáticas que constituem sérios obstáculos ao pleno exercício de todos os direitos humanos. Essas violações e obstáculos incluem, além da tortura e de tratamentos ou punições desumanos e degradantes, execuções sumárias e arbitrárias, desaparecimentos, detenções arbitrárias, todas as formas de racismo, discriminação racial e apartheid, ocupação estrangeira e dominação externa, xenofobia, pobreza, fome e outras formas de negação dos direitos econômicos, sociais e culturais, intolerância religiosa, terrorismo, discriminação contra as mulheres e ausência do Estado de Direito.

Declaram que a violência e todas as formas de abuso e exploração sexual, incluindo o preconceito cultural e o tráfico internacional de pessoas, são incompatíveis com a dignidade e o valor da pessoa humana e devem ser eliminados, o que somente poderá ser

possível por meio de medidas legislativas, ações nacionais e cooperação internacional nas áreas do desenvolvimento econômico e social, da educação, da maternidade segura e assistência à saúde e apoio social.

Por esse motivo, instam firmemente que as mulheres tenham acesso pleno e igual a todos os direitos humanos e que isto seja uma prioridade para os Governos e para as Nações Unidas, sendo enfatizada a importância da integração e plena participação das mulheres como agentes e beneficiárias do processo de desenvolvimento e reiterados os objetivos estabelecidos em relação à adoção de medidas globais em favor das mulheres, visando ao desenvolvimento sustentável e eqüitativo previsto na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e no capítulo 24 da Agenda 21 adotada pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 2 a 14 de junho de 1992).

Enfatizam particularmente a importância de se trabalhar no sentido de eliminar todas as formas de violência contra as mulheres na vida pública e privada, de eliminar todas as formas de assédio sexual, exploração e tráfico de mulheres, de eliminar preconceitos sexuais na administração da justiça e de erradicar quaisquer conflitos que possam surgir entre os direitos da mulher e as conseqüências nocivas de determinadas práticas tradicionais ou costumeiras, do preconceito cultural e do extremismo religioso.

Reconhecem que as violações dos direitos humanos da mulher em situações de conflito armado são violações de princípios fundamentais dos instrumentos internacionais de direitos humanos e do direito humanitário; e que todas as violações desse tipo, incluindo particularmente assassinatos, estupros sistemáticos, escravidão sexual e gravidez forçada, exigem uma resposta particularmente eficaz.

A Declaração e o Programa de Ação de Viena instam vigorosamente a erradicação de todas as formas de discriminação contra a mulher, tanto abertas quanto veladas, bem como solicitam aos Estados, que ainda não o fizeram, que ratifiquem a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher. Defendem, ainda, a adoção de formas e meios para solucionar a questão do número elevado de reservas à mencionada convenção. Reconhecem que deve ser estimulado o treinamento de funcionários das Nações Unidas especializados em direitos humanos e ajuda humanitária para ajudá-los a reconhecer e fazer frente a abusos de direitos humanos e desempenhar suas tarefas sem preconceitos sexuais (recomendação esta que, análoga e extensivamente, também se aplica aos órgãos e agentes nacionais dos Estados que subscreveram a Declaração e o Programa de Ação de Viena).

3.3.3 Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher (Pequim,