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4 A LEI MARIA DA PENHA: advento e principais inovações

4.5 Principais inovações trazidas pela Lei Maria da Penha

4.5.8 Medidas protetivas de urgência

Os artigos 22, 23 e 24 da Lei Maria da Penha elencam um conjunto de medidas inéditas com vistas a assegurar à mulher o direito a uma vida livre de violência. São as chamadas medidas protetivas de urgência, que podem ser concedidas pelo juiz ex officio, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. O pedido da ofendida pela adoção de tais medidas prescinde do acompanhamento de advogado, de acordo com o art. 27 da Lei, em decorrência da situação de urgência. As mesmas correspondem ao poder geral de cautela (art. 798, do Código de Processo Civil), segundo o qual, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação. Recebido o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas: I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência; II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso; III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis. Segundo Dias:

Uma das grandes novidades da Lei Maria da Penha é admitir que medidas protetivas de urgência do âmbito do Direito das Famílias sejam requeridas pela vítima perante a autoridade policial. A vítima, ao registrar a ocorrência da prática de violência doméstica, pode requerer separação de corpos, alimentos, vedação de o agressor aproximar-se da vítima e de seus familiares ou que seja ele proibido de freqüentar determinados lugares. Essas providências podem ser requeridas pela parte pessoalmente na polícia. Requerida a aplicação de quaisquer dessas medidas protetivas, a autoridade policial deverá formar expediente a ser encaminhado ao juiz (art. 12, III) (DIAS, 2007, p. 80).

As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos na Lei Maria da Penha forem ameaçados ou violados. A aplicação cumulativa das medidas protetivas de urgência justifica-se pelo fato de, em algumas situações, ser insuficiente, para a garantia da integridade da mulher, a aplicação de apenas uma. Além disso, a alteração da situação fática poderá recomendar a aplicação de outras medidas protetivas (rebus sic stantibus), as quais poderão ser concedidas de ofício pelo juiz.

Também, tendo a vista a proteção da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ela deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público. E mais: a ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor. Dessa maneira, é reconhecido, o direito à informação da vítima, devendo ser assegurada a ela a possibilidade de acompanhar todos os atos processuais, evitando-se que ela seja tomada de surpresa, sem chance de se acautelar, mormente quando da soltura do agressor. Por essa razão, a notificação deve ser pessoal, sob pena de não atingir os objetivos da lei. Consoante a dicção legal:

Art. 22 - Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos do Estatuto do Desarmamento; II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios (BRASIL, 2006, p. 1).

O elenco de medidas trazido pelo artigo 22 não é exaustivo. Tais medidas limitam a ação do(a) autor(a) das agressões, buscando assegurar a integridade da mulher em situação de violência. As medidas referidas no mesmo não impedem a aplicação de outras previstas na

legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público. O juiz poderá, ainda, quando necessário, e sem prejuízo de outras medidas:

Art. 23 – [...] I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor; III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; IV - determinar a separação de corpos (BRASIL, 2006, p.1).

O juiz poderá determinar, liminarmente, para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, as seguintes medidas, entre outras:

Art. 24 – [...] I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida (BRASIL, 2006, p.1).

Percebe-se, assim, que as medidas protetivas de urgência inovam por constituírem ações voltadas à oferta de condições à vítima de prosseguir com a demanda judicial, de exercer o direito de ir e vir, de permanecer trabalhando e/ou no seu lar, enfim, de continuar vivendo. Buscam evitar que a mulher em situação de violência tenha que sacrificar a rotina de vida e/ou a relação com familiares e/ou amigos.