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A defesa da vida humana e a Lei Natural

3.2 O princípio de defesa da vida em caso de anencefalia fetal

3.2.2 A defesa da vida humana e a Lei Natural

A compreensão hodierna que se tem da palavra “lei” está, de certa maneira, carregada de representações negativas, pois nos traz a ideia de coerção, de obrigação, de sanção, de submissão. Seguindo essa perspectiva, a ideia de “lei” pode gerar uma sensação de desconforto! Nesse sentido, pode-se dizer que tal palavra conota primeiramente a ideia de dever e não de direito.

Quando se fala de lei natural está se fazendo referência, primeiramente ao dever que não vem do exterior, mas de dentro de cada sujeito que age. Trata-se da lei do ser, ou ainda, daquilo que tem sentido para o ser humano. Desse modo, não se refere a uma submissão ou a uma obediência cega, mas de uma adesão consciente, de uma vontade do ser em busca de sua própria perfeição.

Portanto, na busca de um primeiro sentido da palavra “natureza”, pode-se dizer que existe uma relação estreita com o conceito de liberdade. A moral verificada aqui é personalista, pois deve ser entendida como a expressão da pessoa livre que gera de maneira autônoma sua vida e sua sobrevivência.

      

418 DI VINCENZO, A. “Responsabilidade Moral.” In: LEONE, Salvino; PRIVITERA, Salvatore e TEIXEIRA DA CUNHA, Jorge. Op. cit., p. 1000.

Exige, portanto, a dignidade do homem que ele proceda segundo a própria consciência e por livre decisão, ou seja, movido e determinado pessoalmente desde dentro e não levado por cegos impulsos interiores ou por mera coação externa.419

Todos os seres humanos são chamados por Deus à liberdade. E tal vocação já é algo intrínseco à natureza humana, de modo que ser livre e ser homem, trata-se de uma mesma coisa:

A liberdade da pessoa é como que naturalmente orientada para a realização da pessoa (...). Liberdade e natureza fundam a pessoa, que se situa eticamente na dialética desses dois termos. Nesse sentido, a lei natural equivale à lei interior do ser humano, fixando para a liberdade o programa que ela terá de realizar com criatividade.420

A ideia de natureza ainda introduz no sujeito que age a dimensão de similitude com outra pessoa, ou ainda, a ideia de igualdade fundamental de todos os seres humanos nos conduzindo à universalidade do valor da pessoa. A lei natural está em plena coerência com o sentido da dignidade da pessoa.

O conceito de lei natural faz ver esse nexo da semelhança e da igualdade dos seres humanos, e está a serviço da plena humanidade de toda pessoa humana. A lei natural exprime a ordem fundamental das relações humanas sem a qual a comunidade dos seres humanos não pode sobreviver.421

A lei natural exprime uma ordem, que visa o próprio bem do ser humano e essa ordem é objetiva precedendo a subjetividade humana em que se situa sua liberdade. Não se trata de inventar uma nova lei natural, mas de descobri-la, mediante a reta razão, presente intrinsecamente em cada pessoa. Portanto, “é a lei da natureza humana conhecida racionalmente pelo homem, independentemente de qualquer revelação sobrenatural.”422

O fundamento da moralidade do ato está no agir segundo a lei natural e agir segundo a lei natural é agir segundo a reta razão. “A reta razão é o instrumento da moralidade e da normatividade ética.”423 E para que o ser humano exerça seu discernimento com sua razão é

preciso discipliná-lo. Deste modo, faz-se necessário a busca pelo bem e pela verdade como também a prática das virtudes como formas de educar a consciência para um apurado

       419 GS 17.

420 DESCLOS, Jean. O resplendor da verdadeira liberdade. Anotações sobre a Veritatis splendor. São Paulo: Paulinas,1998, p. 95.

421 Idem, p. 96.

422 FRANCO MONTORO, André. Introdução à Ciência do Direito. 27ª edição, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 307.

discernimento: “Só a virtude pode nos garantir que nossa consciência não queira justificar nossos comportamentos defeituosos ou nossos pecados.”424

No entanto, a origem e o desenvolvimento da consciência requerem processos educativos que vão atuar na base da formação da personalidade humana, tais como, o processo de prenomia (0-6 anos de idade), de heteronomia (7-8 anos), socionomia (9-12 anos) e de autonomia (13 anos em diante).425

A etapa de prenomia constitui-se tão relevante na vida da criança, visto que é decisiva na configuração do sujeito moral. Não se trata de uma ausência de moralidade (como sugere o termo “anomia”), mas trata-se de uma etapa “pré-moral” caracterizada a partir da instintividade, mas também pelos controles ou disciplinas e sanções do comportamento, tais como prazer ou dor. A etapa seguinte é a da heteronomia em que consiste a forma de moral imposta pela família, pela escola e pela sociedade ao sujeito de fora para dentro. A etapa socionomia é aquela em que o comportamento é delineado a partir do grupo no qual o sujeito também faz parte. Portanto, neste momento, os critérios éticos se configuram através das relações com os outros na sociedade. É, ao mesmo tempo, uma ética “externa” e “interna”, visto que provém do grupo, no qual também está o sujeito como fator de decisão. Finalmente, a etapa da autonomia, caracterizada pela “moral interna”, é aquela em que as normas que governam o comportamento moral procedem do interior do sujeito. Nesta etapa tem consolidada ou interiorizada as etapas anteriores.

Portanto, partindo desses processos formativos da personalidade humana, pode-se definir a consciência moral como “a norma interiorizada da moralidade.”426

Como se pode ver, a primeira conotação da lei natural é positiva: fazer o bem. Portanto, é preciso evitar apresentá-la só na perspectiva das proibições, conforme a segunda vertente da mesma: evitar o mal.

A lei natural ainda pode ser compreendida como um apelo à razão. O ser humano é chamado a refletir e a questionar seriamente no sentido de sua conduta, na validade racional de suas decisões, na sua conformidade ao verdadeiro bem de todo ser humano. É colocado diante de um dever de inteligência. Falar, portanto, de lei natural é falar de uma reconciliação entre a fé e a razão, visto que, seja a lei natural, seja a lei sobrenatural ou divina, ambas têm sua origem em Deus.427

      

424 ÁNGEL FUENTES, Miguel. As Verdades Roubadas. 1ª edição em português, São Paulo: IVEPRESS, 2007, p. 259.

425 VIDAL, Marciano. Para conhecer a Ética Cristã. São Paulo: Paulinas, 1993, pp. 79 e 96-99. 426 Idem, p. 83.

A razão à procura do bem, eis o instrumento que é preciso utilizar, disciplinar, aperfeiçoar, de maneira que os sujeitos éticos que somos nós descubram juntos, os caminhos da plena humanidade.428

É dentro desta perspectiva que se pode falar da lei natural numa relação de sintonia com a reta consciência no sentido de que esta é ponto de referência para aquela. É no interior da consciência de todos os homens de boa vontade, isto é, de consciência sã, que ressoa a lei do amor: “Eles mostram a obra da lei gravada em seus corações, dando disto testemunho sua consciência e seus pensamentos que alternadamente se acusam ou defendem (Rm 2,15).”

O Apóstolo Paulo quem escreveu a carta aos Romanos tinha a intenção de anunciar a todos, pagãos e judeus, o evangelho que conduz à verdadeira vida:

A vós todos que estais em Roma, amados de Deus e chamados à santidade, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Em primeiro lugar, dou graças ao meu Deus mediante Jesus Cristo, por todos vós, porque vossa fé é celebrada em todo o mundo.429

Deste modo, Paulo compreendia que, se quisesse fazer chegar esse evangelho da vida aos mais diferentes lugares do mundo, não podia se apoiar no sistema hebraico de tantas leis impostas para promover uma reconciliação entre judeus e pagãos. Portanto, o Apóstolo não pensa na multidão das leis, mas no seu conteúdo essencial resumindo-a no amor a Deus e ao próximo: “Pois toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás a teu próximo como a ti mesmo (Gl 5,14).” Paulo pensa naquela lei que é comum a todos os seres humanos e que já está intrinsecamente gravada nas consciências: a lei do genuíno amor.

Porque não são os que ouvem a lei que são justos perante Deus, mas os que cumprem a Lei é que serão justificados. Quanto então os gentios, não tendo lei, fazem naturalmente o que é prescrito pela Lei, eles, não tendo lei, para si mesmos são Lei (Rm 2,13-14).

A mesma ideia central presente no texto de Rm 2,15 - “a lei gravada em seus corações” - também se encontra expressamente na Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II - Gaudim et spes – Sobre a Igreja no mundo contemporâneo:

No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a sim mesmo mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em       

428 DESCLOS, Jean. Op. cit., p. 98. 429 Idem 1,7-8.

obedecer-lhe, e por ela é que será julgado. A consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser. Graças à consciência, revela-se de modo admirável aquela lei que se realiza no amor de Deus e do próximo. Pela fidelidade à voz da consciência, os cristãos estão unidos aos demais homens, no dever de buscar a verdade e de nela resolver tantos problemas morais que surgem na vida individual e social. Quanto mais, portanto, prevalecer a reta consciência, tanto mais as pessoas e os grupos estarão longe da arbitrariedade cega e procurarão conformar-se com as normas objetivas da moralidade.430

Essa citação está em perfeita concordância com os evangelhos como se pode conferir em algumas citações:

Ele respondeu: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo com a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas (Mt 22,37-40).

E ainda: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 15,12).”

A pregação de Jesus sobre o Reino de Deus como manifestação do amor misericordioso do Pai também implica em uma consequência ética entendida na maneira de construir o mundo e as relações humanas, pois em seu ensinamento, sobretudo o sermão da montanha, síntese de seu ensinamento moral, Jesus retoma a regra de outro: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas (Mt 7,12.”

Tanto os hebreus quanto todos os outros povos estão debaixo da mesma lei, sob o mesmo juízo, segundo a escuta autêntica de suas consciências, todos são chamados a promover e defender a vida, sobretudo a dos mais indefesos como é o caso dos nascituros, na atenção à lei do amor que ressoa na própria consciência.431

A íntima relação que existe entre lei natural e consciência nos leva à afirmação, segundo o Catecismo da Igreja Católica:

A consciência moral é um julgamento da razão pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral de um ato concreto que vai planejar, está a ponto de executar ou que já praticou. Em tudo o que diz e faz, o homem é obrigado a seguir fielmente o que sabe ser justo e correto. É pelo       

430 GS 16.

julgamento de sua consciência que o homem percebe e reconhece as prescrições da lei divina.432

A consciência inclui a capacidade humana de desejar e saber o que é bom e verdadeiro como também a de fazer um julgamento acerca de quais ações poderá alcançar esse objetivo.

A consciência é a sede da moralidade, porque é o lugar de apelo moral. A maior dignidade da consciência moral consiste em definir a bondade ou a maldade do sujeito que age responsavelmente. Agir segundo a consciência é o selo moral definitivo que a pessoa imprime em sua própria práxis.433

Portanto, a consciência funciona como uma espécie de ferramenta que guia para a ação correta. Por esse motivo, o Concílio Vaticano II diz que a consciência sempre está nos chamando para fazer o bem e evitar o mal, enquanto nos instiga a fazer julgamentos a respeito de determinadas ações: “faça isto, evite aquilo”. Segundo este referido documento magisterial a dignidade humana consiste na observação dessa lei e que cada pessoa será julgada por ela434, pois “a consciênciaé o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser.”435

Nesse sentido, a consciência pode ser descrita em três dimensões fundamentais: a primeira é a convicção interior de que se deve fazer o bem e evitar o mal. O fato de haver a discussão entre os seres humanos sobre o que é certo e o que é errado reflete o desejo de escolher e de fazer a coisa certa. A segunda dimensão da consciência é o esforço em descobrir o caminho certo para a prática do que é correto. É a etapa da necessidade de se buscar uma sadia formação da consciência. E por fim, após buscar a verdade, chega-se a um ponto em que deve ser tomada uma decisão específica. Nesse caso, é importante a consideração de que seguir a própria consciência não significa fazer o que se quer fazer, mas fazer ou tomar uma decisão perante o problema que se encontra, após ter feito o possível para se buscar a verdade discernindo o que é certo e o que é errado.436

A Pontifícia Academia para a Vida, nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2007, organizou um congresso internacional no Vaticano, para refletir sobre o seguinte tema – “A consciência cristã em favor do direito à vida.” Tal tema “subentende a convicção de que a primeira e a mais sólida defesa da vida humana e da sua promoção social está depositada na consciência viva do seu

       432 CaIC 1778.

433 VIDAL, Marciano. Op. cit., p. 83.

434 Cf. R. OVERBERG, Kenneth. Consciência em conflito. Como fazer escolhas morais. São Paulo: Paulus, 1999, p. 72.

435 GS 16.

valor.”437A intenção deste estudo é desenvolver uma reflexão sobre a formação da consciência

e sobre as responsabilidades que derivam dela destacando que o primeiro dentre os valores sociais fundamentais é o de defesa da vida e, portanto, o dever em garantir esse direito para cada ser humano, durante a sua existência terrena, desde o momento da concepção até à morte natural.

Para que o homem possa orientar-se segundo os juízos da sua consciência moral, para agir sempre em vista de realizar o bem na verdade, é necessário que ele cuide da sua formação permanente com toda a determinação, alimentando esta formação com os valores que correspondem à dignidade da pessoa humana, à justiça e ao bem comum, como o Santo Padre recordou no discurso que dirigiu à Pontifícia Academia para a Vida: “A formação de uma consciência autêntica (...) constitui hoje em dia um empreendimento difícil e delicado, mas imprescindível”.438

O homem pode se deparar diante de situações que o dificulta no exercício de seu juízo moral, “mas deverá sempre procurar o que é justo e bom e discernir a vontade de Deus expressa na lei divina.”439 A consciência, para o exercício correto da razão, deve ser educada a buscar o

conhecimento e a prática da lei interior, pois se ela estiver na ignorância correrá o risco de fazer juízos errôneos sobre atos a praticar ou já praticados. Portanto, “chamamos de prudente o homem que faz suas opções de acordo com este juízo.”440

Um princípio moral fundamental da consciência é o desejo e o conhecimento do bem que todos os seres humanos procuram como uma necessidade natural. Deus fez o homem capaz de desejar o que é bom e verdadeiro. Mas se pode perguntar: se todos têm a capacidade de desejar o bem e praticá-lo como uma lei naturalmente presente no coração humano, como é que tantas pessoas, inclusive os cristãos, que também possuem a revelação da lei divina, podem fazer más escolhas como também más obras, como por exemplo, se posicionar contra a vida humana e, sobretudo, contra a vida humana de um inocente que ainda não nasceu?

Tentando responder a esta indagação pode-se dizer que, algumas pessoas, mesmo sabendo qual é o bem, preferem escolher a prática do mal. Ou ainda, porque essa capacidade de desejar e conhecer o bem não foi cultivada desde os primeiros anos, seja por aqueles que foram responsáveis pela educação, enquanto crianças, seja por causa de si mesmos, pois “a       

437 PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA. “A Consciência cristã em favor do direito à vida.” Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_academies/acdlife/documents/rc_pont- acd_life_doc_20070212_diritto-vita_po.html. Acesso em: 09/11/2011, 11:17.

438 Ibidem. 439 CaIC 1787. 440 Idem 1780.

consciência deve ser educada e o juízo moral esclarecido. Uma consciência bem formada é reta e verídica.”441

O próprio ambiente sociocultural pode se tornar o principal fator que afeta a capacidade de desejar o que é certo.442 Por este motivo, “a educação da consciência é indispensável aos seres humanos submetidos a influências negativas e tentados pelo pecado a preferir seu julgamento próprio e a recusar os ensinamentos autorizados.” Isto só evidencia a necessidade de que “a educação da consciência é uma tarefa de toda a vida.”443

Neste mesmo horizonte de reflexão sobre a consciência como capaz de fazer julgamento entre o bem e o mal, porque possui em si mesma a presença de uma lei natural inscrita por Deus em seu próprio coração, pode-se dizer que ela cumpre um tríplice ofício no interior de cada ser humano:

1º É a testemunha do que estamos fazendo ou temos feito, da bondade ou malícia do que obramos. Neste sentido diz São Paulo em Rm 9,1: A minha consciência me dá testemunho pelo Espírito Santo.

2º É o juiz de nossos atos: ela nos aprova quando o que obramos é bom, e nos condena (remorsos de consciência) quando obramos ou estamos obrando o mal. A isto faz referência São Paulo ao escrever em 2 Cor 1,12: A razão de nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência.

3º É nosso pedagogo, como a chamava Orígenes: descobrindo-nos e indicando-nos o caminho do bom obrar. Deste modo pode dizer o Apóstolo em Rm 14,5: Cada um proceda segundo sua convicção.444

Fazendo uma espécie de leitura na própria natureza humana descobre-se que a primeira inclinação humana é a de preservação da vida.445 A vida tem para o ser humano o seu valor máximo, e por este motivo, compreende-se grandes esforços investidos nela, tais como a busca por felicidade, a realização como pessoa, a vivência em família, em comunidade, sociedade etc. Portanto, pode-se elencar quatro pilares sobre as quais a vida do homem deve ser preservada: o cuidado de si mesmo, o respeito dos outros, o equilíbrio da natureza e o cultivo da transcendência. Estas dimensões do ser humano são como fios que

       441 Idem 1783.

442 Cf. J. O’NEIL, Kevin e BLACK, Peter. Manual prático de Moral. Guia para a vida do católico. Aparecida- SP: Santuário, 2007, p. 76.

443 CaIC 1784.

444 ÁNGEL FUENTES, Miguel. As Verdades Roubadas, p. 246. 445 Cf. Idem, pp. 188-189.

servem de sustentação da própria vida do homem: uma espécie de fios que vão tecer uma rede sobre a qual se assenta a vida.446

Segundo o estudo feito sobre a lei natural pela Comissão Teológica Internacional, existem três conjuntos de dinamismos naturais, que são inerentes à pessoa humana:

O primeiro, que é comum a todo ser substancial, compreende essencialmente a inclinação a conservar e a desenvolver a sua existência. O segundo, que é comum a todos os seres vivos, abrange a inclinação a se reproduzir para perpetuar a espécie. O terceiro, que é próprio como ser racional, comporta a inclinação a conhecer a verdade sobre Deus assim como para viver em sociedade.447

A partir desses dinamismos naturais, brota o preceito de proteger e desenvolver a vida humana, como primeira inclinação compartilhada com todos os outros seres humanos, uma vez que se trata de uma reação muito espontânea de fuga, de defesa da integridade da vida, de lutar pela sobrevivência, quando a pessoa humana se sente ameaçada em sua existência.448

Assim, a Igreja no desempenho de sua missão nesse mundo, reconhece que o

“Evangelho da Vida, recebido do seu Senhor, encontra um eco profundo e persuasivo no coração de cada pessoa, crente e até não-crente.”449

... todo homem sinceramente aberto à verdade e ao bem pode, pela luz da razão e com o secreto influxo da graça, chegar a reconhecer, na lei natural inscrita no coração (cf. Rm 2,14-15), o valor sagrado da vida humana desde o seu início até ao seu termo, e afirmar o direito que todo ser humano tem de ver plenamente respeitado este seu bem primário.450

A formação da consciência de que a partir da concepção já existe uma vida humana, levará a uma prática de respeito e de proteção ao nascituro. Portanto, é necessário e urgente o reconhecimento de que é natural ao ser humano a preservação da vida como uma lei inscrita