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DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

No documento Design inclusivo na cidade (páginas 46-49)

1.1.2

Na génese da premente necessidade de se proceder à revisão dos modelos pelos quais o E.U. de descanso é hoje projetado, encontram-se diferentes factores, na sua maioria relacionados com alterações complexas das tendências de evolução das sociedades.

A população nos centros urbanos tem-se registado demografi camente decrescen- te, em grande parte devido ao aumento do envelhecimento, à desorganização do espaço público, ao aumento das barreiras urbanísticas, às novas exigências de in- clusão de indivíduos com mobilidade reduzida, à defi citária sinalética informativa, à existência de edifi cação antiga e degradada, ou à morfologia de malha apertada . Como consequência, em detrimento da reabilitação dos grandes centros urbanos, nos últimos anos, tem-se assistido à aposta alternativa na construção de nova habi-

tação em zonas periféricas, na sua maioria, de forma desorganizada e desregrada.3

Por outro lado, assiste-se à predominância por vezes exagerada da padronização do E.U., causada pela normalização de produtos nem sempre adequados às ca- racterísticas dos espaços de implantação, nem às necessidades específi cas da sua população.

Ambos os grupos de factores – alterações sociais complexas e aplicação de E.U. desadequado do contexto - contribuem para a gradual perca da percepção de

3 “[...] processo de crescimento acentuado das populações das cidades, pode-se citar poluição, falta de infraestru- turas básicas, aumento da criminalidade, difi culdades de locomoção, entre inúmeras outras complicações que ten- dem a piorar na ausência de medidas públicas e particulares convergentes [...]” (Jereissati, Lucas Campos, 2015. O Direito a Cidades Sustentáveis, Sua Fundamentalidade e o Ativismo Judicial.)..

identidade do lugar, quer na perspetiva simbólica e cultural quer na perspetiva da fruição do espaço público como promotor de bem estar, de inclusividade e de socialização.

Nesse contexto, considera-se relevante aprofundar a refl exão sobre possíveis so- luções que maximizem a qualidade do design de E.U de descanso, seja na sua di- mensão de inclusividade seja enquanto objeto de identifi cação da urbe e dos seus habitantes.

O enquadramento do tema no campo do design, permite a exploração e materia- lização das problemáticas a si associadas, através do projeto. Nesta linha de pen- samento, a metodologia de design avança no sentido de facilitar processos de mudança, afastando-se da tradicional prática, baseada no conhecimento intuitivo ou informal das necessidades e preferências pessoais.4 É assim hoje assumido que a participação dos utilizadores no processo

de design não só é desejável como fundamental, na medida em potencia as hipó- tese de encontro de soluções mais adequadas, focadas no colmatar de necessidades específi cas, recorrendo-se para isso a métodos e ferramentas direcionados para

facilitar um diálogo mais efetivo entre os projetistas e os utilizadores.5

Sendo a cidade um espaço de todos os que a habitam, visitam e vivenciam, é em si um espaço heterogéneo, carecendo para a sua intervenção de uma compreensão abrangente dos factores que nela interfi ram. Torna-se assim necessária a sua des-

construção numa “visão sistémica”,6 que incida nos muitos elementos, estruturas e

relações que condicionam e redefi nem constantemente o funcionamento do seu todo, do qual faz parte indissociável o E.U. de descanso, de forma decisiva. Assim,

4 Águas, Sofi a, Do design ao co-design Uma oportunidade de design participativo na transformação do espaço pú- blico. 2012, p.59.

5 Norman, D. A., Emotional Design: Why We Love (or Hate) Everyday Things. New York: Basic Books. 2004. 6 Brandão, Pedro, A identidade dos Lugares e a sua Representação Coletiva. 2000, p.57.

torna-se incontornável a refl exão em torno da temática da inclusividade e identi- dade enquanto elementos fundamentais do desenho da cidade. Para cumprimento desse desígnio, é fundamental enquadrar-se esses pressupostos desde a origem do

processo projetivo,7 por forma a que as soluções de E.U. se adeqúem às suas reais

funções, as quais não podem ser dissociadas da atenção às necessidades específi cas

dos seus utilizadores8, bem como da identifi cação cultural do seu lugar de implan-

tação.

Assim, para o projeto de E.U. a necessidade da existência da equação: Funcionali- dade / Inclusividade + Forma Urbana / Identidade, é fundamental. No entanto, a qualifi cação e quantifi cação dessa equação é complexa, pelo facto de, como já refe- rido, a cidade dos dias de hoje assistir a um rápido crescimento da população mais idosa, o que signifi ca o inerente aumento do índice e de incapacidades físicas da população, pelo que é necessário que exista um compromisso realmente assumido entre o design, a integração da noção de inclusividade no processo de projeto e a compreensão e respeito pelo conceito de cidade e das suas variáveis intrínsecas.

Ao referir-se o tema inclusividade deve ter-se presente que o mesmo não se aplica unicamente a indivíduos portadores de alguma limitação física, o que seria am- plamente redutor, mas antes signifi ca que o design inclusivo deve englobar todos

os indivíduos, sem exceção.9 Assim, o design inclusivo surge intimamente ligado

7 “[...] o espaço não é mais entendido como um objeto isolado, mas integrado aos demais aspetos da realidade urbana. Procura-se, porém, investigá-lo, como já foi colocado, pelas suas relações com outros planos analíticos. É nesse momento que entram em cena contribuições de outras áreas de conhecimento até então desvinculadas da abordagem físico espacial. (Kohlsdorf, Maria Elaine. Breve história do espaço urbano como campo disciplinar. In: Farret, Ricardo Libanez (et al.) O Espaço da Cidade. Contribuição à Análise Urbana. São Paulo. Projeto. 1985. p. 41).

8 As cidades contemporâneas são “profundamente heterogéneas, refl ectindo uma sociedade complexa de indiví- duos com aspirações e com práticas múltiplas. Colocam problemas de urbanismo muito diferentes que necessitam de soluções adaptadas a contextos variados. [...]” (Archer, F., Novos Princípios do Urbanismo seguido de Novos Compromissos Urbanos - um léxico, 2010, p.105).

9 Em 2005 o British Standards Institute defi ne como Design Inclusivo. “The design of mainstream products and/or services that are accessible to, and usable by, as many people as reasonably possible... without the need for special

às questões de acessibilidade, conforto e usabilidade, na criação de objetos ou in- terfaces integradores, usufruíveis por Todos. Ou seja, deve constituir-se como um design não discriminatório.

No documento Design inclusivo na cidade (páginas 46-49)