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find that we have designed for the majority after all.”

No documento Design inclusivo na cidade (páginas 118-125)

Márius Quintana Creus101 indica-nos três critérios para a elaboração de E.U., são

elas: a funcionalidade (do elemento e do espaço onde se insere); a racionalidade (da sua construção e da sua forma); e a emoção (que desperta sensações no in- divíduo). Este último critério mostra justamente a ligação entre o valor de uso e o valor artístico, pois disso depende a sua melhor relação com o espaço onde se encontra inserido.

Na opinião de Jorge Boueri,102 há outros dois pontos fundamentais para a conce-

ção de E.U.: o primeiro a frequência de uso do mesmo e o segundo o agrupamento por funcionalidade (deve organizar os equipamentos relacionados à actividade e afi ns de modo a que fi quem próximos uns dos outros). O autor refere que a inte- ração entre o E.U. compreende a sequência de uso e a intensidade de fl uxo, pelo que a instalação deste tipo de equipamento deve ter em conta a ordem normal de operação dos mesmos. Em relação ao fl uxo, é importante que o equipamento urbano seja colocado segundo critérios de proximidade e acessibilidade para que tenha um melhor desempenho.

Já José Carlos Vaz103

destaca a existência de diverssa formas de execução de um projeto de intervenção no espaço público sublinhando a relação entre “o tratamento estético e funcional de edifi cações, equipamento urbano e elementos publicitários”.

100 Papanek, Victor, Design for Human Scale, New York, Van Nostrand Reinhold, 1983, pp. 67-68. Tradução livre: Qua- se todos nós somos adolescentes, adultos e idosos. Todos nós necessitamos dos serviços e da ajuda dos professores, médicos, dentistas e hospitais. Todos nós pertencemos a grupos de necessidades especiais. ... Se, então, agrupar- mos todas as aparentemente reduzidas minorias das últimas páginas, se combinarmos todas essas necessidades “especiais”, damo-nos conta que, afi nal, projetamos para a maioria de nós.

101 Creus, Márius Quintana, Espacios, muebles y elementos urbanos. Em: Serra, J. Elementos urbanos: mobiliário y microarquitectura /urban elements: furniture and microarchitecture. Barcelona: Gustavo Gili, 1996, pp. 6-14. 102 Boueri, Jorge, Projeto e Dimensionamento dos espaços da habitação – Espaços e Actividades, 2007.

103 Vaz, José Carlos, (1995). Vida nova para o centro da cidade. BNDES. Dicas Instituto Polis. São Paulo. Secção Desen- volvi- mento Urbano, 1995, p.2. Disponível em: <http://federativo.bndes.gov.br/dicas/D031.htm>. Visualizado o em: 06 Julho 2011.

Figura 14 - Quadro sobre as atividades no espaço público. Fonte. Life between the buildings, using public space, Jan Gehl, 2010.

O projeto e a implementação do equipamento urbano no espaço público poderão

trazer oportunidades para melhorar as interações humanas104 facilitando a “convi-

vência social e o intercâmbio de experiências individuais e coletivas”.105 Na opinião de Jan Gehl

e L.Gemzoe,106 no trabalho La humanización del espacio urbano, a inexistência de sítios

onde as pessoas se possam sentar tem como consequência a desertifi cação e o abandono de um local. Desta forma, podemos dizer que a função aponta para um nível de interação entre o projeto do objeto e o utente ou o meio no qual estará inserido.107

Os princípios de planeamento de uma cidade (o conforto, a segurança e a atrati- vidade), referidos por Gehl, discutem a importância entre a distribuição das fun- ções das cidades, para integrar e promover experiências diferenciadas às pessoas, proporcionando o aumento da sua permanência nos locais públicos, com vista à melhoria das suas condições de vida e salubridade psicossociais. (Figura 14)

“If spaces make it attractive to walk, stand, sit, see, hear, and talk this is

in itself an important quality.”

108

O espaço público deve ser pensado como um produto social em constante muta- ção, onde se sobrepõem e justapõem características diferentes constantemente. O

104 Francis, Mark, Urban Open Spaces, em: ZUBE, E., MOORE, G. (orgs.). Advances in Environment, Behavior and Design, vol. 1, 1991, pp. 71-106.

105 Montenegro, Glielson, A produção do mobiliário urbano em espaços públicos: o desenho do mobiliário urbano nos projetos de reordenamento das orlas do RN, 2005, p. 43. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal). Disponível em: <http://bdtd.ibict.br/> Visualizado a: 29 Julho 2011.

106 Gehl, Jan e Gemzoe, L. (2000). Novos espaços urbanos. Tradução de Carla Zollinger, Editorial Gustavo Gili, SA., Barcelona, Espanha, 2000, p. 169.

107 Brancaglion, Ricardo Luiz, Equipamentos urbanos, design e identidade sócio-cultural: análise e proposta para a ci- dade do núcleo Bandeirante no DF. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília), 2006. Disponí- vel em: <http://repositorio.bce.unb.br/handle/10482/3756>. Visualizado a: 05 Julho 2011.

108 Gehl, Jan, Life between the buildings, using public space, 2010, p. 131. Tradução livre: Se os espaços forem atra- tivos para andar, permanecer, ver, ouvir e comunicar, isso é, em si mesmo uma qualidade importante.

Figura 15 - Quadro com os doze critérios de Gehl na prespetiva do utilizador. Fon- te: Life between the buildings, using public space, Jan Gehl, 2010

lugar concretiza as relações em tempos diferenciados, instigando à produção de memória como fruto da identifi cação individual do utilizador. As relações entre

os indivíduos e os espaços são formadas pela perceção física e psicológica. Gehl109

afi rma que as atividades nos espaços públicos podem ser divididas em três cate- gorias:

a. Atividades necessárias: são atividades obrigatórias do quo-

tidiano, como exemplo o ato de caminhar (ir para o traba- lho, fazer compras, esperar pelo transporte, etc.). Estas ati- vidades são infl uenciadas pela qualidade do ambiente físico;

b. Atividades opcionais: derivam do desejo individual de o fa-

zer, sendo infl uenciadas pela vontade pessoal. Estas ativida-

des são afetadas pelas condições físicas externas aos lugares;

c. Atividades sociais ou resultantes: são aquelas que resultam da pre-

sença de outras pessoas nos espaços acessíveis. Acontecem de forma espontânea entre os indivíduos que frequentam o mesmo espaço.

O trabalho de Gehl indica-nos, que quanto mais tempo os indivíduos permane- cem nos espaços públicos, maior é o número de ligações entre si, estimulando o contacto e a integração social. Assim, a teoria de Gehl justifi ca a necessidade da uti- lização do espaço público como motor da atividade e da interação intergeracional que favorecem a vida social e cultural coletiva.

Gehl110 associa o caminhar e a vivência na cidade como ponto de partida para os

indivíduos perceberem o que se encontra ao seu redor, percecionando e criticando os pontos positivos e negativos do planeamento e da apropriação do espaço. Des- ta forma, torna-se importante que a qualidade do E.U., o tipo de material usado, o contexto físico, social e cultural do espaço passem a infl uenciar estas escolhas.

109 Gehl, Jan, La hhumanización del espacio urbano - la vida social entre los edifi cios. Barcelona, Editora Reverté, 2009, p. 17.

Como tal, o supracitado autor enumera, numa tabela doze critérios, na perspetiva do utilizador, para a elaboração de um espaço atrativo. Estes critérios são agrupa- dos em três bases: a proteção, o conforto e a atratividade (Figura 15).

Com estes critérios deduzimos assim também que, além do estímulo da atividade física, a inclusão do utilizador nas questões sociais, económicas, culturais e civis tem como resultado a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos.

Nesta perspetiva, o desenho aplicado ao E.U. deve atender a questões funcionais, simbólicas, históricas e culturais do ambiente.

Sendo assim, o E.U., para além de corresponder às funções para as quais se destina, afeta o uso do espaço público na medida em que pode levar à criação de novas possibilidades de uso do espaço, assim como o inverso, impedir ou diminuir esse uso. Segundo Ricardo Luiz Brancaglion e João Batista Guedes, a existência do E.U. está condicionada às funções para que este foi projetado.

Podemos mais uma vez inferir que, para projetar E.U. adequado, o designer deverá considerar, além do contexto do espaço público onde aquele se irá inserir, o uten- te e as suas necessidades. Pelo que o E.U. terá de ser estudado e projetado desde o início de um modo inclusivo (aos níveis da escolha da forma, da função e dos materiais) e contextualizada, com o propósito de contribuir para a construção de espaços adequados, inclusivos e de qualidade, das pessoas e para as pessoas. (Fi- gura 16 e 17)

Figura 16 - Penha de França, Lisboa. Figura 17 - Penha de França, Lisboa.

EQUIPAMENTO URBANO COMO AGENTE DA

No documento Design inclusivo na cidade (páginas 118-125)