Márius Quintana Creus101 indica-nos três critérios para a elaboração de E.U., são
elas: a funcionalidade (do elemento e do espaço onde se insere); a racionalidade (da sua construção e da sua forma); e a emoção (que desperta sensações no in- divíduo). Este último critério mostra justamente a ligação entre o valor de uso e o valor artístico, pois disso depende a sua melhor relação com o espaço onde se encontra inserido.
Na opinião de Jorge Boueri,102 há outros dois pontos fundamentais para a conce-
ção de E.U.: o primeiro a frequência de uso do mesmo e o segundo o agrupamento por funcionalidade (deve organizar os equipamentos relacionados à actividade e afi ns de modo a que fi quem próximos uns dos outros). O autor refere que a inte- ração entre o E.U. compreende a sequência de uso e a intensidade de fl uxo, pelo que a instalação deste tipo de equipamento deve ter em conta a ordem normal de operação dos mesmos. Em relação ao fl uxo, é importante que o equipamento urbano seja colocado segundo critérios de proximidade e acessibilidade para que tenha um melhor desempenho.
Já José Carlos Vaz103
destaca a existência de diverssa formas de execução de um projeto de intervenção no espaço público sublinhando a relação entre “o tratamento estético e funcional de edifi cações, equipamento urbano e elementos publicitários”.
100 Papanek, Victor, Design for Human Scale, New York, Van Nostrand Reinhold, 1983, pp. 67-68. Tradução livre: Qua- se todos nós somos adolescentes, adultos e idosos. Todos nós necessitamos dos serviços e da ajuda dos professores, médicos, dentistas e hospitais. Todos nós pertencemos a grupos de necessidades especiais. ... Se, então, agrupar- mos todas as aparentemente reduzidas minorias das últimas páginas, se combinarmos todas essas necessidades “especiais”, damo-nos conta que, afi nal, projetamos para a maioria de nós.
101 Creus, Márius Quintana, Espacios, muebles y elementos urbanos. Em: Serra, J. Elementos urbanos: mobiliário y microarquitectura /urban elements: furniture and microarchitecture. Barcelona: Gustavo Gili, 1996, pp. 6-14. 102 Boueri, Jorge, Projeto e Dimensionamento dos espaços da habitação – Espaços e Actividades, 2007.
103 Vaz, José Carlos, (1995). Vida nova para o centro da cidade. BNDES. Dicas Instituto Polis. São Paulo. Secção Desen- volvi- mento Urbano, 1995, p.2. Disponível em: <http://federativo.bndes.gov.br/dicas/D031.htm>. Visualizado o em: 06 Julho 2011.
Figura 14 - Quadro sobre as atividades no espaço público. Fonte. Life between the buildings, using public space, Jan Gehl, 2010.
O projeto e a implementação do equipamento urbano no espaço público poderão
trazer oportunidades para melhorar as interações humanas104 facilitando a “convi-
vência social e o intercâmbio de experiências individuais e coletivas”.105 Na opinião de Jan Gehl
e L.Gemzoe,106 no trabalho La humanización del espacio urbano, a inexistência de sítios
onde as pessoas se possam sentar tem como consequência a desertifi cação e o abandono de um local. Desta forma, podemos dizer que a função aponta para um nível de interação entre o projeto do objeto e o utente ou o meio no qual estará inserido.107
Os princípios de planeamento de uma cidade (o conforto, a segurança e a atrati- vidade), referidos por Gehl, discutem a importância entre a distribuição das fun- ções das cidades, para integrar e promover experiências diferenciadas às pessoas, proporcionando o aumento da sua permanência nos locais públicos, com vista à melhoria das suas condições de vida e salubridade psicossociais. (Figura 14)
“If spaces make it attractive to walk, stand, sit, see, hear, and talk this is
in itself an important quality.”
108O espaço público deve ser pensado como um produto social em constante muta- ção, onde se sobrepõem e justapõem características diferentes constantemente. O
104 Francis, Mark, Urban Open Spaces, em: ZUBE, E., MOORE, G. (orgs.). Advances in Environment, Behavior and Design, vol. 1, 1991, pp. 71-106.
105 Montenegro, Glielson, A produção do mobiliário urbano em espaços públicos: o desenho do mobiliário urbano nos projetos de reordenamento das orlas do RN, 2005, p. 43. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal). Disponível em: <http://bdtd.ibict.br/> Visualizado a: 29 Julho 2011.
106 Gehl, Jan e Gemzoe, L. (2000). Novos espaços urbanos. Tradução de Carla Zollinger, Editorial Gustavo Gili, SA., Barcelona, Espanha, 2000, p. 169.
107 Brancaglion, Ricardo Luiz, Equipamentos urbanos, design e identidade sócio-cultural: análise e proposta para a ci- dade do núcleo Bandeirante no DF. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília), 2006. Disponí- vel em: <http://repositorio.bce.unb.br/handle/10482/3756>. Visualizado a: 05 Julho 2011.
108 Gehl, Jan, Life between the buildings, using public space, 2010, p. 131. Tradução livre: Se os espaços forem atra- tivos para andar, permanecer, ver, ouvir e comunicar, isso é, em si mesmo uma qualidade importante.
Figura 15 - Quadro com os doze critérios de Gehl na prespetiva do utilizador. Fon- te: Life between the buildings, using public space, Jan Gehl, 2010
lugar concretiza as relações em tempos diferenciados, instigando à produção de memória como fruto da identifi cação individual do utilizador. As relações entre
os indivíduos e os espaços são formadas pela perceção física e psicológica. Gehl109
afi rma que as atividades nos espaços públicos podem ser divididas em três cate- gorias:
a. Atividades necessárias: são atividades obrigatórias do quo-
tidiano, como exemplo o ato de caminhar (ir para o traba- lho, fazer compras, esperar pelo transporte, etc.). Estas ati- vidades são infl uenciadas pela qualidade do ambiente físico;
b. Atividades opcionais: derivam do desejo individual de o fa-
zer, sendo infl uenciadas pela vontade pessoal. Estas ativida-
des são afetadas pelas condições físicas externas aos lugares;
c. Atividades sociais ou resultantes: são aquelas que resultam da pre-
sença de outras pessoas nos espaços acessíveis. Acontecem de forma espontânea entre os indivíduos que frequentam o mesmo espaço.
O trabalho de Gehl indica-nos, que quanto mais tempo os indivíduos permane- cem nos espaços públicos, maior é o número de ligações entre si, estimulando o contacto e a integração social. Assim, a teoria de Gehl justifi ca a necessidade da uti- lização do espaço público como motor da atividade e da interação intergeracional que favorecem a vida social e cultural coletiva.
Gehl110 associa o caminhar e a vivência na cidade como ponto de partida para os
indivíduos perceberem o que se encontra ao seu redor, percecionando e criticando os pontos positivos e negativos do planeamento e da apropriação do espaço. Des- ta forma, torna-se importante que a qualidade do E.U., o tipo de material usado, o contexto físico, social e cultural do espaço passem a infl uenciar estas escolhas.
109 Gehl, Jan, La hhumanización del espacio urbano - la vida social entre los edifi cios. Barcelona, Editora Reverté, 2009, p. 17.
Como tal, o supracitado autor enumera, numa tabela doze critérios, na perspetiva do utilizador, para a elaboração de um espaço atrativo. Estes critérios são agrupa- dos em três bases: a proteção, o conforto e a atratividade (Figura 15).
Com estes critérios deduzimos assim também que, além do estímulo da atividade física, a inclusão do utilizador nas questões sociais, económicas, culturais e civis tem como resultado a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos.
Nesta perspetiva, o desenho aplicado ao E.U. deve atender a questões funcionais, simbólicas, históricas e culturais do ambiente.
Sendo assim, o E.U., para além de corresponder às funções para as quais se destina, afeta o uso do espaço público na medida em que pode levar à criação de novas possibilidades de uso do espaço, assim como o inverso, impedir ou diminuir esse uso. Segundo Ricardo Luiz Brancaglion e João Batista Guedes, a existência do E.U. está condicionada às funções para que este foi projetado.
Podemos mais uma vez inferir que, para projetar E.U. adequado, o designer deverá considerar, além do contexto do espaço público onde aquele se irá inserir, o uten- te e as suas necessidades. Pelo que o E.U. terá de ser estudado e projetado desde o início de um modo inclusivo (aos níveis da escolha da forma, da função e dos materiais) e contextualizada, com o propósito de contribuir para a construção de espaços adequados, inclusivos e de qualidade, das pessoas e para as pessoas. (Fi- gura 16 e 17)
Figura 16 - Penha de França, Lisboa. Figura 17 - Penha de França, Lisboa.