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INÍCIO DO SÉCULO

No documento Design inclusivo na cidade (páginas 91-97)

2.2.4

No fi nal do século XX, Portugal assiste a mudanças sociais e culturais assentes no crescimento da sociedade de consumo e da evolução tecnológica. Em Portugal, an- tes da Expo 98 e de outros projetos que se lhe seguirão, ocorrerão outras iniciati- vas cujo intuito é o de intervir no espaço urbano e, assim, contribuir para a resolu- ção de problemas já existentes ou emergentes nas cidades portuguesas. O projeto Expo 98 no fi nal dos anos 90 do século passado, destaca-se nesse sentido pela sua importância na reconversão e reinvenção urbanas com consequências abrangen- tes e muito positivas, quer no âmbito da própria qualidade do espaço público, quer no da valorização ambiental. Este projeto permitiu a reabilitação de uma área portuária, depositária de lixo industrial, transformando-a num espaço citadino útil, com múltiplas infraestruturas comerciais, culturais, uma área habitacional apoiada por diversos e transportes. Este evento representa, pela primeira vez, uma abordagem ecológica que jogava bem com o desígnio regenerador da intervenção urbana . Contando com a presença constante de E.U., destacou-se a importância do desenho urbano, pensado para as pessoas, com um espaço pedonal largo, em detrimento do espaço destinado aos carros. Nesse contexto o E.U. de descanso aparece colocado na continuação do rio com o propósito de permitir a demorada contemplação da paisagem. Os equipamentos de descanso, em betão, foram pin- tados de branco com riscas azuis, amarelas e vermelhas. Projetados, numa parceria entre o Arquiteto João Luís Carrilho da Graça e a empresa Secil Prebetão (Figura 11), especifi camente para este espaço, criam desde então a identidade positiva deste lugar, em que função, forma e cores constituem um todo coerente.

Existem ainda outros equipamentos de descanso, neste espaço público, como é o caso dos bancos do Arquiteto Álvaro Siza Vieira, colocados apenas em zonas com água, onde o solo é equipado com deck. Os bancos são constituídos por uma consola de ferro com ripas de madeira largas e onduladas, para encosto e assento. A utilização da ondulação no assento torna-se um delimitador do espaço desse equipamento.

Todos esses e outros equipamentos interagem com a dinâmica ambiental e huma- na, contribuindo para prolongar a relação que se estabelece entre fruidor e espaço próximo+paisagem e entre fruidor e fruidor.

A Expo 98 inaugurou uma nova forma de ver e viver a cidade, constituindo-se como exemplo para projetos de reabilitação, requalifi cação e reconversão de áreas urbanas em Portugal, abrindo, assim, caminho a novos programas de requalifi ca-

ção urbana com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das cidades.43

As cidades portuguesas evoluíram, pois, através de iniciativas municipais, mas tam- bém, e muito particularmente, de eventos urbanos de grande envergadura, como foram os casos da Expo 98, com a revitalização e reconversão da zona portuária, em Lisboa e do Porto - 2001, Capital Europeia da Cultura, programa de “renovação/ reconversão de vários equipamentos culturais essenciais à cidade, vinte e seis ruas e outros espaços públicos concebidos de modo harmonioso e coerente, e dotados de modernas infraestruturas, mobiliário urbano e árvores que os humanizam….” 44(Figura 12) e ainda o Euro 2004, que possibilitou a

construção de novos equipamentos desportivos e a reestruturação e reconfi gura- ção e acessibilidades da malha urbana de oito cidades portuguesas.

43 Silva, Ana , Carvalho, Paulo, Política de cidades, requalifi cação urbana e património – o caso do Polis de Leiria, in Cadernos de Geografi a nº 30/31, Coimbra, FLUC, 2011-2012, pp. 257-268.

No âmbito nacional, embora anteriormente tenha existido outro programa urba- nístico como o PROSIURB (programa de apoio fi nanceiro a cidades da periferia de Lisboa e Porto), a política com foco na urbe foi assumida como prioridade

entre 2000 e 2006,45 na sequência de iniciativas nacionais e internacionais. Um

dos mais signifi cativos foi, no âmbito do território nacional, o denominado Plano POLIS. Este projeto teve como principais objetivos: a requalifi cação urbana com foco na valorização ambiental; a promoção e revitalização das cidades; a melhoria da qualidade ambiental urbano, ao valorizar elementos como as frentes ribeiri- nhas; aumento do espaço verde e das áreas pedonais com a diminuição do tráfego

automóvel dentro da urbe apoiando iniciativas para que tal aconteça.46 Nos proces-

sos de requalifi cação, reabilitação e por vezes reconversão de áreas urbanas foram desenhadas soluções que atribuiram uma nova função a esses espaços de acordo com as suas especifi cações em que o design foi convocado e participou com soluções técnicas, estéticas e de inclusão social.47 Paralelamente a este programa outros existiram como o

PER (Programa Especial de Realojamento), o PROCOM (Programa de Moderniza- ção do Comércio). Este último orientado para o ordenamento do territorio nacio- nal, priviligiava os municípios de maior dimensão, tendo como orientações gerar melhores condições urbanas que favoreçam o comércio local, incidem na pedonização, alargamento de passeios ou melhoria da pavimentação, colocação ou substituição de mobiliário urbano e vegetação e reforço ou modernização da iluminação pública. 48

Encontramos ainda, nos dias de hoje, em Portugal, algum E.U. produzido por em- presas espanholas, e isso deve-se ao factor económico, de peso reconhecido em tempo de decisões. Em contrapartida, encontramos também algumas empresas

45 Fernandes, José Alberto Rio, O Planeamento Urbano e a coesão social: A perspetiva Europeia e o Caso de Portugal, Revista Cidades, volume 3, n.5, 2006, pp. 11-36.

46 Programa POLIS, http://www.dgterritorio.pt/a_dgt/outras_estruturas/programa_polis/

47 Paiva, Bartolomeu Adalberto Figueiredo, Design e Urbanidade, CumpliCidades do Programa Pólis, Tese doutora- mento, 2012, p.110.

48 Fernandes, José Alberto Rio, O Planeamento Urbano e a coesão social: A perspetiva Europeia e o Caso de Portugal, Revista Cidades, volume 3, n.5, 2006, p.22

nacionais, como por exemplo, a LARUS, que exportam E.U. para outros mercados.

Na aplicação de design a E.U. de descanso verifi ca-se o recurso a novos materiais, originando novos modelos, mas salienta-se a predominância de E.U. de descanso construídos em ripas de madeira e consola de ferro, em que o factor ergonomia é preocupação fundamental. Os materiais utilizados no desenvolvimento do E.U. são variados e, de entre eles, destacam-se o vidro, o aço, o alumínio e os plásticos, que, contudo, apresentam algumas limitações a nível funcional, por um lado, de- vido às suas características físicas próprias, obrigam ao uso de sistemas de ligação

com recurso a diversos componentes, tanto em técnica como de fabrico.49

Constatamos assim que, em meados do século XX, fruto da evolução industrial dos anos 60 e 70, que, por sua vez, resultou na investida das empresas na criação dos próprios produtos, se assistiu a um incremento da procura de designers por- tugueses, nomeadamente no sector do E.U.. Associado a esse fenómeno assistiu-se igualmente ao crescimento da estandardização de processos de produção diversos, aliados por norma a tecnologias e materiais não diferenciados, entre empresas

concorrentes.50

É, pois, a partir do fi nal dos anos 90 e início do novo milénio, que são criados programas específi cos com foco na requalifi cação e revitalização das áreas urbanas, São os casos já referidos dos Programas POLIS, PROCM, POR- TO2001. Nestes programas, dá-se relevância à organização urbana e à preocupação

49 Inácio, Carla Cristina Dias, As novas potencialidades do betão como material arquitetónico, aplicação a um sistema prefrabicado de mobiliário urbano, Dissertação de Mestrado, FEUP, Porto, 2005, p.2.

50 Costa, Daciano, op. cit, pp. 35-36. «No sector do mobiliário e equipamentos, coabitam empresas de níveis tec- nológicos e recursos fi nanceiros muito diferenciados. Algumas empresas fabricam apenas modelos sob patentes estrangeiras, outras apenas comercializam modelos importados, mas também, persistem as empresas que não se deixam impressionar pelo maior prestígio do design europeu e continuam uma política de design português. As- sim falar-se de um designer português, muito se deve e será justo dizê-lo a esses empresários que compreendem ser condição de melhores negócios, oferecer um produto culturalmente mais genuíno e não infl uenciado por mercados onde domina um certo espírito conservador e meramente mercantilista. Estes empresários compreen- dem ainda que copiar um modelo e mesmo licenciar um modelo estrangeiro, não é mais barato nem mais rápido, é com certeza um mau negócio, quando se pensa no grande mercado europeu unifi cado, onde a internacionali- zação dos produtos só está garantida se se mantiver a originalidade das culturas das regiões».

estética, papéis a desempenhar por equipas de designers e arquitetos, profi ssionais habilitados a dar uma resposta técnica, estética e cientifi camente adequada aos desafi os que advém destes programas. Portugal apresenta-se como um país que tem ainda uma fi losofi a empresarial muitas vezes alheada de processos de palenamento a médio e longo prazo. Numa espécie de corrida do tipo “em busca do tempo perdido”, o plágio, como conceção errónea de garantias de competitividade e lucro, continua a fazer dispensar, em grande parte dos casos, a intervenção de profi ssionais de design realmente integrados nas estruturas sistémicas das empresas.51 Atualmente

o país conta com vários fabricantes nacionais que optam pela produção de mo- delos com as mesmas características, materiais, funções e preços médios, entre si equivalentes, levando à não distinção entre os pares.

INCLUSIVIDADE E IDENTIDADE COMO FACTORES DE

No documento Design inclusivo na cidade (páginas 91-97)