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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 INOVAÇÃO – CONCEITO E DEFINIÇÃO

2.1.3 Demais Classificações da Inovação

As inovações também podem ser classificadas quanto ao impacto em sustentadoras ou disruptivas, conforme sugerido pelo Manual de Oslo (OCDE, 2005). As inovações sustentadoras correspondem à melhoria do desempenho de um produto já conhecido por um mercado também conhecido, de acordo com as características tecnológicas valorizadas pelos clientes mais rentáveis (CARVALHO, 2009). Na visão de Christensen e Raynor (2003), tal inovação busca manter a dianteira em relação à concorrência por meio de um desempenho superior. As empresas renomadas tendem a vencer a competição por dispor de mais recursos para enfrentar a concorrência na busca de maiores margens de lucro e sustentação de sua posição no mercado.

Em contraste, a inovação de ruptura implica na criação de novos mercados, trazendo novos atributos de valor (CARVALHO, 2009), e não significa, necessariamente, produtos melhores. Em vez disso, rompem e redefinem os modelos vigentes, lançando novos produtos e serviços que sejam, eventualmente, mais simples, convenientes e econômicos conquistando, desta forma, novos clientes e mercados. Após a difusão bem sucedida da inovação disruptiva, o produto entra num ciclo de aperfeiçoamento ou de sustentação (CHRISTENSEN e RAYNOR, 2003; UTTERBACK e ABERNATHY, 1975). Além disso, há vários estímulos ou fontes capazes de gerar a inovação disruptiva (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008):

 novos mercados não previstos, como o mercado de SMS (serviços de mensagens de texto por celular) no lançamento da telefonia móvel;

 novas políticas, como dois sistemas de governo existentes dentro de um mesmo país, a China;

 mudanças no comportamento social, como a sustentabilidade socioambiental e a obesidade versus a indústria de fast-food;

 novos modelos de negócio, como a Amazon.com;  entre outros.

Todavia, nem sempre uma inovação disruptiva é percebida no momento do seu lançamento, o que dificulta a coleta de dados sobre este tema dentro de um período determinado por uma pesquisa (OCDE, 2005).

Portanto, para o escopo desta tese é importante estabelecer o entendimento adotado sobre os conceitos relativos ao grau de novidade e impacto da inovação, que aparentemente são sobrepostos. Logo, a proposta adotada neste trabalho é que o grau de inovação (incremental ou radical) é um conceito mais vinculado à organização, e não somente a ela, enquanto o impacto da inovação (sustentadora ou disruptiva) estaria mais atrelado ao mercado, conforme apresentado na Figura 4.

Figura 4 – Visão da Organização versus Visão do Mercado em relação à inovação. Elaborado pelo autor.

Isto posto, uma situação de inovação radical para a organização, mas sustentadora na visão de mercado pode ser o lançamento de uma nova linha de produtos de higiene pessoal com uma proposta de consumo responsável com menos desperdício

na linha de produção e sendo, ao mesmo tempo, sustentável ambientalmente. Neste caso, poderá haver enormes impactos à empresa, pois ela precisará incorporar culturalmente tais conceitos (para evitar a dissonância entre discurso e prática perante o consumidor), ajustando a cadeia de suprimentos e processos de manufatura, desenvolvendo o produto e sua embalagem com novas tecnologias e conhecimentos, conforme os conceitos propostos. Contudo, para o mercado isso pode ser visto somente como mais uma linha de produtos de higiene pessoal, apesar de alguns segmentos valorizarem a proposta.

Já na situação de inovação incremental e disruptiva pode-se citar o caso dos aplicativos de jogos para celular. Jogos de computador já eram disponíveis para

desktops e consoles de videogame, porém ao disponibilizá-los para dispositivos

móveis (como celular e tablets), criou-se um mercado bilionário de desenvolvimento de jogos. Deste modo, isto estaria alinhado com o conceito de inovação de arquitetura proposta por Henderson e Clark (1990).

No caso, das duas últimas categorias de inovação já há uma maior convergência conceitual, sendo ambas racionalmente mais aceitas. As inovações radicais e disruptivas podem ser ilustradas com o clássico caso da fotocopiadora desenvolvida pela Xerox, já citado previamente. E, por fim, para as inovações incrementais e sustentadoras há diversos exemplos decorrentes de melhorias de produtos. Assim, na visão da companhia, pode haver inovações radicais ou incrementais, sem que sejam necessariamente disruptivas ou sustentadoras para o mercado, respectivamente.

Desta forma, e voltando ao propósito da tese, o foco do trabalho está na organização e, portanto, são analisados eventos de inovação e seu grau de novidade, desde as inovações incrementais até as inovações radicais. Isso porque tais eventos, e em função de sua relevância (grau de novidade), ao ocorrerem ao longo da trajetória das companhias, podem impactar a arquitetura organizacional para desenvolverem inovação.

Por fim, o conceito de inovação aberta (open innovation) tem merecido destaque devido à quebra de alguns paradigmas quanto ao desenvolvimento de inovações, sendo alavancada em função da globalização, evitando altos dispêndios em P&D e proporcionando maior mobilidade de profissionais qualificados e do uso da Internet e

redes sociais para produção de conhecimento. Para Chesbrough (2003), o modelo da inovação aberta ocorre quando a empresa comercializa (para o mercado ou para outras empresas) tanto as próprias inovações quanto as obtidas por outras empresas ou instituições de pesquisa. Já, a inovação fechada consiste na criação, desenvolvimento e comercialização das próprias ideias pela empresa. Para exemplificar o caso de open innovation, recentemente a empresa de telecomunicações Oi lançou uma campanha para selecionar projetos de aplicativos para celular que fossem úteis para os turistas, no qual o prêmio dado às melhores ideias chegava a R$200.000,006. Assim, a viabilização do modelo de inovação aberta implica, na visão de Chesbrough (2007), em um modelo de negócios aberto (open business model), pois o propósito de um modelo de negócio é permitir à empresa criar valor e capturar parte deste valor, independentemente se a criação é interna ou não.

Novamente, as inovações aberta e fechada são os extremos de um continuum do grau de abertura do processo de inovação das empresas. Isso porque é possível codesenvolver novas tecnologias e inovações por meio da associação com fornecedores (como fazem os fabricantes de geladeiras com seus fornecedores de compressores) ou universidades e centros de pesquisa (como fazem os fabricantes de compressores para buscar maior eficiência energética dos seus produtos).

Toda esta discussão visou ilustrar que tanto as tipologias de inovação, assim como os modelos criados pelos autores, devem exigir processos e modelos de negócios singulares em função do tipo de inovação que se deseja desenvolver.