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Estratégias de Inovação e Tensões Ambidestras da Empresa

5 CASOS ESTUDADOS

5.1.1 Estratégias de Inovação e Tensões Ambidestras da Empresa

A entrevista foi realizada na sede do grupo em Mogi Mirim e contou com a participação do empresário da Empresa 1 e da gerente agrônoma responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento. Inicialmente, o executivo mostrou as instalações da empresa e explicou o processo de fabricação do fertilizante orgânico ocorrido na técnica de compostagem com resíduos orgânicos (restos de alimentos,

restos de plantas e gramas, casca de frutas, ossos, ovos, papéis, entre outros) provenientes da coleta seletiva do município.

Em seguida, expôs o método de compostagem de um projeto em andamento feito em parceria com a multinacional Basf que utiliza sacos processados de coleta de resíduos orgânicos residenciais para a produção do fertilizante orgânico.

Também foi apresentado a linha de produtos e o diferencial dos materiais desenvolvidos, particularmente a solubilidade deles, que influenciam de forma relevante no desenvolvimento das plantas, como citado na seção anterior.

A seguir, foi realizada a apresentação detalhada do projeto piloto de compostagem de resíduos sólidos orgânicos gerados por 1.770 residências de Mogi Mirim em programa de coleta seletiva domiciliar com sacos compostáveis da Basf.

E, durante a entrevista foi apresentado o portfólio atual de projetos que permitiu a observância de algumas características da abordagem do tema da inovação pelo empreendedor, pautado sempre na crença da sustentabilidade e preservação do meio ambiente. Os projetos em andamento apresentados foram:

 Projeto de sacos compostáveis em empresa de São Paulo (não foi fornecido o nome) utilizando resíduos do restaurante industrial da multinacional;

 Projeto de sacos compostáveis Ecovio da Basf com coleta seletiva no município de Mogi Mirim;

 Projeto de desenvolvimento de tubetes (recipiente para armazenar mudas) compostáveis enriquecido com adubo orgânico, permitindo o plantio das mudas neste reservatório que também pode prover nutrientes ao desenvolvimento de vegetais, aumentando a produtividade de mudas;

 Projeto de elaboração de fertilizante orgânico de alta solubilidade;

 Projeto de desenvolvimento de tratamento de resíduos de restaurantes com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)10.

Contudo, tais projetos não foram estruturados em função de um planejamento estratégico, o qual não existe, segundo resposta do próprio empresário. Desta

10 A FINEP é uma empresa pública ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia com a finalidade de financiar estudos e projetos desta área.

forma, as iniciativas são derivadas de ações empreendedoras que reconhecem e exploram oportunidades (GOMES, 2013) decorrentes de solicitações de apoio a pesquisas de outras empresas para testar a compostagem dos materiais, de desenvolvimento de novos fertilizantes e de iniciativas para tratamento de resíduos sólidos. E a decisão de participar de tais projetos, nas palavras do empresário, se dá porque “a gente não deixa escapar oportunidade. É pelo desafio. A gente nunca tinha feito”.

Outro ponto que se pode destacar é a crença na sustentabilidade como um aspecto marcante para este executivo, tanto que orienta suas decisões empresariais. O empreendedor deixa claro, em diversos trechos da entrevista, que o desenvolvimento de novas soluções que contribuam para a sustentabilidade conta com o seu apoio. Tanto que compartilha a visão de que é necessário contribuir com a busca da eficiência energética do ciclo de carbono, procurando devolver à natureza o “alimento” que ela mesma produziu. Para tanto, busca reduzir a utilização de energia no seu processo de produção, já que isso aumentaria o déficit energético do ciclo de carbono; por esta razão que a empresa optou por não utilizar trituradores no seu processo de compostagem.

Neste caminho, o gestor sempre investe em desenvolvimento tecnológico, pois entende que o aspecto econômico será consequência da qualidade do produto (“quando o produto dá resultado, ele se vende”). Isso denota as características de um espírito empreendedor orientado à inovação e que incorre em mais riscos.

Tanto que um exemplo concreto foi o caso da Empresa 1B de substratos orgânicos em Jaguariaíva, no Paraná (PR), que nasceu há 12 anos a partir de uma oportunidade para tratar um milhão de toneladas de passivos ambientais. Quando questionado sobre porque decidiu abrir uma empresa separada e não incorporada à Empresa 1A, o empreendedor explicou que não sabia se havia viabilidade comercial em função da matéria-prima existente, mas queria resolver a questão proposta. Assim, preferiu manter estruturas segregadas e criar uma nova marca para evitar o risco de comprometimento sobre a reputação da marca da Empresa 1A. Pois, segundo o executivo, não havia conhecimento quanto a substratos e isso representava um alto risco, pois estava clara a falta de competência técnica, logística, financeira e humana. Entretanto, alinhado mais à convicção do empresário

e na sua possiblidade de diversificação e complementação do portfólio de produtos, para que contribuíssem com soluções sustentáveis ao meio ambiente, e menos com uma perspectiva de crescimento do grupo, foi deflagrado um contexto de tensões ambidestras.

Pois, a criação do substrato orgânico e as correspondentes técnicas de manejo adequado do produto para obter os resultados esperados foram feitos pela estrutura da Empresa 1A. Ou seja, apesar da segregação jurídica e física da estrutura operacional da Empresa 1B, o desenvolvimento do projeto foi realizado com os recursos das atividades de P&D existentes no grupo.

Em decorrência das dificuldades do ineditismo do produto, a elaboração do substrato levou 6 anos e como não havia conhecimento técnico para desenvolver um substrato orgânico, houve muita experimentação e tentativas. Nas palavras do empreendedor, houve a aplicação de muita percepção para desenvolvê-lo.

E apesar da Empresa 1A não possuir uma área formal de pesquisa e desenvolvimento, há quatro pessoas dedicadas para tais tarefas e houve investimento nesta área, basta saber que existe um especialista recém-contratado para se dedicar integralmente no desenvolvimento de novos produtos (DNP) dentro da filosofia e cultura da empresa.

Ademais, a maior parte dos projetos de inovação é realizada em parceria com clientes, especialistas associados e parceiros como a Universidade Federal de São Carlos. E também há uma área de P&D de produtos que atua prioritariamente na coordenação dos projetos.

No entanto, para impulsionar o desenvolvimento de novos produtos, foi instituído há um ano um programa de incentivo que concede um percentual da venda de novos produtos por um período de 10 anos ao pesquisador. Isso promove maior adesão deste cientista as processo de vendas, assessorando-o tecnicamente. Afinal, a principal motivação declarada pelo empresário para conceder tal incentivo é evitar a acomodação dos funcionários e promover continuamente a busca pela melhoria de produtos e solução de problemas via inovação.

5.1.2 Análise das Mudanças na Arquitetura Organizacional da